quarta-feira, dezembro 28, 2011

Pedaços.




Tornou-se pedaço, sem que eu quisesse. Nem pensasse. Rompeu o limiar do prazer e tornou-se dor num piscar de olhos. Mas é só apertar os olhos e puxar da lembrança pra conseguir abstrair prazer, de novo.

Tornou-se um tipo de amor, daqueles mais vagabundos que possam existir. Amor com cheiro de cio. De pele. De acidez pronunciada. De dentes arrancando as vestes. De línguas que se entrelaçam num desespero poético. De dedos. De ponto de ebulição baixo; apenas um trisco na coxa ou um leve pousar de uma mão na outra já ferve - lembra daquela febre? O volante do teu carro, tenho certeza que sim. Mas, é fato: naquele dia quase sublimei...

Tornou-se parte, terço, metade... não sei. Mas, pensando bem, tava na cara: um corpo nu roçando o outro não podia dar n'outra coisa: pedaços dos dois se desprendem e, num crossing-over invisível, se colam (um) no outro, para se perderem de novo. Se, por acordo, nenhum sentimento alcança, da intimidade não se escapa. Relaxa, agora, digo eu. E sigo te usando na mesma proporção que me usas. Não como uma roupa qualquer, mas como aquela sua box cor de vinho (que tem tudo a ver com meu espartilho preto). Isso aí na sua cabeça, é só minha intensidade te reverberando e te confundindo. Na realidade, é só aquilo mesmo que a gente já tinha acertado. Só vontade. Muita. Só isso. Mesmo.

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, dezembro 27, 2011

Sobre pecados, excessos e não-saberes.


"... que não há pecado no exagero de saber amar..."  (Chimarruts)

Nunca houve... Pecado é falta, e falta nem combina com exagero. Quem não sabe lidar com determinadas doses de determinadas coisas acaba tachando de "excesso" até os respingos... mas, o que é o excesso? O que se derrama de mim? O que respinga em um corpo medroso? Ou o volume que você quer enxergar? O que há em mim transborda porque eu ainda tenho que aprender como não me trazer à tona... Como viver menos à flor da pele... Como não entornar emoções e sentimentos pelos poros. Transborda porque eu ainda tenho que aprender a me conter...

~ Mari Teixeira ~

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Happiness.


Felicidade que é felicidade, independe de terceiros.
Mas se um terceiro quiser fomentá-la, quem é que vai se opor?

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, dezembro 20, 2011

Resumo.



Tem gente que vive pra resumir. Os amigos, o cardápio do almoço, as relações. A conversa, os acordes de uma música, a vida. E de resumos, bastam os que os professores pedem... Basta o sermão do padre da igreja da esquina... Basta o 'não' da mãe, sem seu respectivo porquê... Eu quero é uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado, uma partitura de arranjos mil...  Um 'não' bem explicado, um buffet bem recheado e um professor que não peça resumos... Quero discussões calorosas e demoradas - e beijos, e sexo, idem. Quero o que congela a espinha, o que incendeia a epiderme, o que dá medo de encarar, o que dá trabalho pra construir... O que torna a vida válida. Mas isso é só um resumo de quem desistiu de resumir a vida a determinadas mediocridades. De quem agora se resume [apenas] em viver. 

Mari Teixeira

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Vem cá, Luísa...

  
Vem cá, Luísa. Deixa eu te falar. Sinto muito todas as vezes que tenho que dar essa notícia a alguém. Sinto de verdade, mas tenho que dizer: tu já tá apaixonada e, por tabela, fudida. Já era, gata. Agora, ou tu arranca o coração do peito e morre logo, ou deixa ele taquicárdico pra morrer do mesmo jeito, mas em vida - e eu, particularmente, prefiro a segunda opção. Agora não tem mais jeito, então, curte essa porra dessa paixão. A gente nunca sabe no que vai dar mesmo. Talvez tu chore, talvez ria. Talvez construa um baú no fundo mais fundo do seu íntimo e a esconda dos outros e de si mesma, talvez retalhe-a pra juntar cada pedacinho mais tarde, talvez gaste metade do salário ligando pro celular dele só pra ouvir um "alô". Talvez sonhe com ele todas as noites, talvez se bata com ele na esquina da sua casa com a namorada nova, talvez encontre ele todos os dias na fila da padaria, ou só de mês em mês. Talvez ele venha a se fazer seu, ou talvez nunca passe perto da sua pertença. Mas, enquanto o talvez existir e insistir em permanecer, delicie-se... Lambe os dedos; 'a vida é tão rara', meu amor (já afirmou Lenine, numa melodia divina); não pode ser desperdiçada assim. Um dia, correspondida ou não, vai passar. Aproveita: tem gente usando droga, gastando horrores com terapeuta, fazendo macumba e plantando bananeira pra alcançar esse nirvana, e tu correndo disso? Eu sei que dá medo, que a gente acha que é dopamina demais pra uma vida só, mas bota uma coisa na tua cabeça: viver dói, mas compensa. Muito.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Eu abro.


Eu abro mão das justificativas pra ficar comigo mesma. De coisas ditas valiosas por me valorizar muito mais que a elas. Abro mão de quem 'diz' que me ama por me amar mais. Abro mão do medo do futuro pra viver momentos. Abro mão dos rótulos e fico nua, sem a mínima vergonha, só pra ser eu mesma. Eu abro mão da minha zona de conforto pra dormir num chão duro e gelado. Abro mão de um telhado, e converto meu teto num espetáculo que só os corajosos são dignos de assistir; tenho a lua e as estrelas ao meu alcance. E se o sol me queimar, eu me assopro. Se a chuva me molhar, eu me seco. Se o vento me levar, eu faço a curva e volto.  Ou, de repente, fico por lá. Eu abro mão da razão e fico com a felicidade.  Depois, feliz, construo outras novamente. Eu abro mão de tudo e me abro. Pra vida.

~ Mari Teixeira ~ 

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Você vai ver.


Você vai saber quando chegar a hora. Quando estiver pronta para tal. Vai se sentir, enfim, forte. Vai enxergar uma luzinha lá dentro, que não mais ofuscará sua visão. Vai brotar uma força imensa, e você vai chutar aquela pedra enorme de criptonita pra bem longe. E depois,como quem não quer nada, vai se aproximar dela e vai entender que não era aquela coisa verde a causa de tanta dificuldade em digerir a vida. Quando olhar pra trás, vai sorrir - nervosa, sem-graça ou feliz. Vai chorar também; a hora chega, mas ninguém vira um x-men por causa disso. Não se trata de mudança, mas de descobrimento. De novas posturas e atitudes. As coisas vão doer menos,  do mesmo jeito, ou mais ainda; a diferença vai estar no jeito que você vai encará-la, na dose de analgésico que você vai se submeter, no tempo de repouso que você vai se dar. Você vai saber quando chegar a hora, acredite. Não vai  precisar nem de despertador. Nem de tampões de ouvido.Você vai se levantar, vai passar uma base FPS 15 na cara e um batom magenta na boca. Vai entregar seus cabelos ao vento e jogar com a vida da mesma forma que ela joga com você. Vai dar, enfim, valor à coisas que você considerava banais. Vai parar de agigantar outras e vai minimizar o que já foi agigantado, um dia. Vai entender a dualidade da vida e aceitá-la, saboreando alguns momentos, cuspindo outros e deglutindo a minoria. Quando chegar a hora, você vai saber. Você vai ver...

Mari Teixeira

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Solidão.



"Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de
arrumar o armário..." ♫

(Ana Carolina)

As madrugadas têm sido quentes, mas amanhecem gélidas. De vento frio e de ausência. As tardes desta primavera, abafadas, e eu ainda tenho um armário todo pra arrumar. A solidão, esta senhora que eu não conhecia, e a quem há pouco fui apresentada, não tem nada de simpática. É pessoa de tez enrugada, voz áspera, raras palavras e um leve descaso no jeito no olhar. Deito na cama, e enxergo o espelho do meu guarda-roupa trincado. Lembro nos sete anos de azar que o moço do frete há de carregar - junto com as outras mudanças. Penso em máquinas-do-tempo, em teletransporte, em telepatia, em  mandar outro SMS dizendo que eu tô morrendo de vontade dele, e que é só isso mesmo - vontade, química, tesão. Que é pra ele bater na minha porta nessa noite, ou me ligar, ou sei lá, pra matar meu desejo, e que eu juro que não prendê-lo por mais esse desejocídio, até porque eu ainda quero assistir (de pé, ou deitada, ou como você quiser) a mais outros episódios do gênero - desde que sejamos os protagonistas. Serei, mais uma vez, testemunha e cúmplice, e é estranho, mas sei lidar bem com isso; talvez seja o mínimo que uma vida recheada de antíteses e paradoxos poderia me proporcionar.  Só que aí, o tempo não passa, e logo percebo que nada disso existe - inclusive os créditos do meu celular. Sem SMS, teletransporte, telepatias e máquinas do tempo, não me resta outra alternativa, senão ser minha  companhia. E quando ficar sozinha consigo é a única opção, vale quase tudo. Eu disse quase...

Mari Teixeira

segunda-feira, novembro 28, 2011

Equívoco.



Já consigo ouvir aquelas músicas sem sentir você nelas. Hoje, você mal se restringe à minha memória. Jaz trancado na gavetinha dos equívocos. Do meu coração, entre sístoles e diástoles, já foi embora, mas não faz tanto tempo.  Sem dor, nem nostalgia, nem estrago, nem tremor. Sem arrependimentos, mas também, sem vontades, nem expectativas. Sem sabor, sem nada. Mais morno e insosso, impossível. Você, que circulou meu corpo inteiro - literal e metaforicamente - não soube nem virar saudade. Ou não fez questão. Da mesmíssima forma que eu não sei porque deixei você entrar e não fiz mais questão de lhe manter. É estranho esse poder que a gente tem de se matar dentro do outro, e depois abandonar o cadáver fétido esperando que os receptores olfativos, ainda congestionados de paixão, emitam sinais póstumos acerca do fim... É estranha essa mania que a gente cultiva no quintal da alma de tentar caber onde nem o outro se cabe... Mas eu, eu retoco meu batom toda horinha, mesmo se acontecer de borrar de novo na próxima esquina. Sem traumas, nem medos, também; se a água não lavar ou não levar, o tempo se encarregará.

 Mari Teixeira

quarta-feira, novembro 23, 2011

Guerra.



Talvez a maior batalha travada na vida não seja entre
o bem e o mal, mas, sim, entre o querer e o não dever...


Mari Teixeira

segunda-feira, novembro 21, 2011

Navegar.




Quando a vida estagna, criam-se escaras na alma. Então, ou a gente continua parado, ou avança para mar aberto e arrisca - e vê no que vai dar. Levantam-se as velas novamente, mesmo que a gente se encontre em meio a um oceano infinito. Sem bússola nem GPS. Sem você, que sempre foi meu bote salva-vidas. Mesmo sem saber nadar. Mesmo que não se enxergue nada além de água e céu. Que não se sinta nada além de brisa na cara, cisco no olho, cabelo bagunçado, um tantinho de frio, uma vontade de voar... Nada de ficar esperando que os ventos mudem de direção; é preciso mudar a posição das velas. E navegar.

 Mari Teixeira

quinta-feira, novembro 17, 2011

É por aí...


Melhor que ter um cafa pra chamar de seu,
é ter um pra te chamar de (minha) cafa...


P.S. (Uma vela e uma ave-Maria pra Nossa Senhora da Bicicletinha... )
 
Mari Teixeira

quarta-feira, novembro 16, 2011

Sem culpas.


Ultimamente, eu ando pensando de menos. Mas, continuo sentindo demais. Vivendo mais. E falando demais, também. É, eu falo demais, eu sei. Eu não devia, mais falo. Eu não tenho culpa se as coisas dentro de mim têm um ponto de ebulição muito baixo; não tenho culpa se tudo toma uma proporção ultra-maior do que é ou possa vir a ser. Não tenho culpa se a música faz tanto estrago aqui dentro, se meu coração não tem mais aquele poder de regenerar-se qual o rabo de uma lagartixa e tá mais pra um fígado cirrótico, se o meu rosto, vez em quando, fica pálido ou cianótico, se eu faltei as aulas de teatro no colégio, se eu só sei me representar... Não, eu não tenho culpa se a minha modalidade de perdão é diferente das demais, se eu insisto em não sofrer de amnésia, se eu perdi alguns medos pelo caminho, se eu só como porcaria e não engordo, se viver se tornou meu mais novo hobby... se eu preciso atingir um limiar de saturação pra poder expulsar certas coisas - e pessoas - da minha vida. Vou me levando assim. Sem culpas. Simplesmente, porque elas resolveram tirar férias do meu vocabulário. E estou a ponto de demiti-las...

Mari Teixeira

terça-feira, novembro 15, 2011

Sobre saudade, incógnitas e comprimidos.



Há pouco, aprendi a engolir comprimidos. Agora é  hora de aprender a engolir a saudade que, se um dia já teve gosto de esperança, hoje tem o mais incógnito sabor que possa existir... É hora de digerir as expectativas. Dissolver as lembranças - se é que isso é possível. É hora de arranhar as músicas. Recortar os números do seu celular e guardá-los naquele bolso furado da minha calça jeans preferida. Retirar o reflexo do seu sorriso do meu. Ofuscar o brilho-esmeralda do seu olhar. Deletar o timbre da sua voz do meu pensamento. Estancar as lágrimas. Ligar pro cupido e perguntar se ele aceita devolução. E se ele, porventura, não aceitar, arrancar meu coração do peito e esquecê-lo numa esquina qualquer do mesmo jeitinho que você se esqueceu em mim... E também, passar a pensar em você do mesmo jeitinho que você pensa em mim. Se não dá pra ser à altura, meu anjo, então não dá...

Mari Teixeira

domingo, novembro 13, 2011

Anota aí...

 
Somos todos volúveis, meu caro.
Mas em intensidades e
circunstâncias diferentes.

Mari Teixeira

sábado, novembro 12, 2011

Uma droga.



Envolvente. Viciante. Instantâneo. Como o tal crack. E, de fato, não se pode negar: é craque na arte em questão. Não é apaixonante por puro charme, não por falta de opção ou competência. Não te faz voar, nem te dói; não te causa borboletas no estômago, nem devaneios. Não dá tempo. Mas, enquanto isso, te ferve. O sangue. A pele. Todos os fluidos. Eriça os pêlos e a auto-estima. Isso tudo tinha tudo pra ser tudo. Porém, ao final das contas, é como uma droga: quando entra em você, bagunça as coisas por um certo período, te arranca de si, e, de repente, passa. É só aquilo, naquela hora. E só. Só fica uma coisa: a vontade (de mais algumas horas)...

Mari Teixeira

quinta-feira, novembro 10, 2011

Só se vive uma vez.



Só se vive uma vez. O único chavão nessa vida que faz algum sentido pra mim. Uma verdade que a gente ignora sem motivo aparente. Ou por alimentar um otimismo desmedido, ou por achar que se vive pra sempre, ou porque ninguém nunca para pra pensar nisso mesmo. Só se vive uma vez. Mesmo que você acredite em reencarnação: essa sua vida de agora é única. Se você é cristão, então, piorou: você só tem essa. E se você não acredita em nada: aí que você não pode perder tempo mesmo. Corra. E grave: você só vive uma vez.

Mari Teixeira

segunda-feira, novembro 07, 2011

Perdeu.


"...Um dia pretendo tentar descobrir
Por que é mais forte quem sabe mentir..."
(Renato Russo)


Eu não pedi certezas, nem planos, nem beijos além daqueles que você pôde me dar. Não pedi serenatas, nem romantismo, nem frases prontas, e muito menos que você descesse do céu pra mim. Não exigi respostas a curto prazo. Engoli minhas dúvidas junto com minha saliva centenas de vezes. Sufoquei minhas emoções no travesseiro já surrado do meu quarto empoeirado. Coletei minhas lágrimas no jarro de flores da sala. Travesti a saudade em vontade, e dela me alimentei por muito tempo. Encaixei você entre pautas e notas das minhas partituras preferidas. Me entreguei. Só não me embalei de presente porque não encontrei uma embalagem à altura daquilo que acreditei existir entre nós; e mesmo assim, sem laço de  fita nem brilho, eu li no seu olhar um gostar que hoje não sei mais se foi uma leitura tendenciosa de minha parte, ou se aquele foi mais um momento esplendoroso de você treinar o seu dom da representar. Como numa roleta russa inimaginável, apertei o gatilho. Confiei por querer confiar - lúcida e ciente de tudo. Confiei depois de ter enxergado nos seus olhos uma certeza que, na verdade, era minha. Só requeri lealdade e, justamente, a única coisa que eu pedi, você me negou. Saio da arena com os olhos marejados, o coração arranhado e de mãos lavadas: fui eu mesma o tempo inteiro. Agora, anota aí no post it do seu monitor de vinte polegadas, pra você não esquecer: eu não te perco; eu nunca te tive. Saio exatamente como entrei. Você me teve, mas não percebeu. Você sim, meu anjo... você me perdeu...

Mari Teixeira

sábado, novembro 05, 2011

Na fossa.



Vai, Zé. Curte a porra da fossa.  Chora, ouve Wally na voz de Adriana, come chocolate, fuma um Marlboro, bebe um Campari, vai à igreja ou ao terreiro, liga pra alguém e desaba(fa) ... amanhã levanta, se ergue. Postura! Barriga pra dentro, peito pra fora, lava a cara , faz a barba e passa um pouco do pó da sua mãe pra esconder essas olheiras horríveis. Pronto! Não foi você mesmo quem me ensinou? "Vinte e quatro horas, amiga... eu só me permito chorar vinte e quatro horas". Pois é, chora. Você ainda tá dentro do prazo. Fica todo mundo aí tentando te forçar a ser forte, numa redundância sem fim, sendo que você é forte, caramba! Somos...

(P.S. Postado por mim no facebook dia 04/11/11, no mural de um amigo).

Mari Teixeira

sexta-feira, novembro 04, 2011

Dona.


Só se entregue a alguma situação se você se tiver.  Se, realmente, for senhor(a) de si. Pois, tendo a si, caso você se esqueça, terá o direito de voltar pra se buscar - ao contrário: caso não se tenha, você será incapaz de atinar que se deixou em alguma lugar.  Torça pra que a razão do seu esquecimento saiba cuidar de você enquanto você se dá conta que se falta. Mas, antes, torça pra que você se dê conta - o mais rápido possível. Ou que a razão perceba a sua distração, e te lembre antes mesmo que você bata a porta e saia. E que seu reencontro consigo seja leve. Que, caso seja turbulento, você crie outra certeza dentro de você, além daquela primeira:  tudo passa (se você deixar passar...). Deseje mesmo que a contabilidade final seja positiva, mas, se de repente não for, que você saiba lidar com as inexatidões que a vida distribui aleatoriamente por aí, ao mesmo tempo que tenha sabedoria suficiente pra mudar vírgulas, pontos ou números de lugar, bem como completar o sinal de menos com um tracinho vertical. Esteja pronto(a) pra se deparar tanto com a vontade de voltar quanto com a de nem sequer olhar pra trás; com o transbordar ou com vazio. Certifique-se de ter um estepe de si, caso não se ache mais - isso pode acontecer. Reivente-se. E cuide de olhar pra frente, de fazer acontecer o que é possível,  a partir daí. Ainda bem que nada nessa vida é em vão... nem pode ser... .

Mari Teixeira

quinta-feira, novembro 03, 2011

Trinta.


Quase trinta dias. Menos de trinta horas. De saudade, já não morro mais. Já nem cabe. Os últimos trinta minutos voaram como se fossem trinta segundos. E por falar em voar, penso em você trinta vezes seguidas por dia. Mas, quando penso no logo,  o tempo me pirraça passando a trinta por hora. Nesses quase trinta anos, você foi uma das poucas melhores coisas que me aconteceu. E me acontece...

Mari Teixeira

domingo, outubro 30, 2011

Rompante.



Eu não decido as coisas da noite pro dia. É que eu penso à longo prazo. Rumino os fatos, analiso as circunstâncias, contabilizo os prós e os contras, reúno pequenas certezas e construo uma só... Aí, quando eu decido, todo mundo acha que é rompante. Não é. Eu apenas rompo de uma só vez com quem vai me rompendo aos poucos. Com quem irrompe sentimentos lá do fundo de mim, e depois, resolve não cuidar...

~ Mari Teixeira ~

sexta-feira, outubro 28, 2011

P.S. (Ainda amo os seus pronomes possessivos).



Então, fica assim: sem juras ou promessas. Só eu e você. E eu em você. E você em mim. Não sai mais [sinto, também, mas não tenho medo]. Isso parece nos bastar. Mas eu sinto sua falta - sua ausência física me estrangula a alma. Não tem dor. Mentira; tem sim, mas nada que atrapalhe a vida ou roube minha felicidade - ela independe de você, mas você sabe potencializá-la como ninguém. Só uns beliscõezinhos de desejo, outras pontadinhas de saudade... Sobrevivo. Fico tentando entender por que tudo tem sido tão superlativo. Por que me sinto tão perto, se os quilômetros insistem em gritar o contrário. Por que você. Existe um não-querer batendo na porta, mas a vontade se nega em abri-la. Existem sementes de eternidade que você plantou em mim, e já sinto um florescer. A possibilidade do fruto me alegra. E penso que ele tem tudo pra vir. Por fim, permito-me duas exceções. Juro: se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo; você vai comigo até o [meu] fim. Prometo: não arrancarei do seu coração o meu título de Sua, e tampouco apagarei do meu o seu título de Meu. Ainda amo seus pronomes possessivos...

Mari Teixeira

quarta-feira, outubro 26, 2011

Que eu veja.



Não confunda o avanço da oftalmologia com a obrigação de ficar sentado, observando a vida passar à distância. Ela, todos os dias, vai te distribuir cartas com vários ângulos; você escolhe por qual ótica deseja enxergá-la. Talvez você precise de óculos, mas, na maioria das vezes, não. A verdade é que vai depender muito mais da sua força de vontade do que do seu globo ocular em si. Vai depender muito mais da sua disposição em levantar da cadeira de balanço e caminhar em direção à sua própria vida, do que de algum colírio ou transplante de córneas. À priori, incomoda o dilatar das pupilas; é luminosidade demais pra quem esteve tanto tempo adormecido. Mas, passado o efeito inicial, o preço de desembaçar a visão é  inimaginável, sobretudo pra quem usou lentes erradas ou foi cego por uma vida inteira...

Mari Teixeira

segunda-feira, outubro 24, 2011

Quando o nada é tudo.



Quando não se precisa reler nada pra poder se lembrar. Nada de "efeitos-borboleta". Nada precisa acontecer pra que a gente [re]aconteça. Simplesmente porque o que cai  no tempo passa a existir pra sempre, independente da dimensão na qual resolve se arquivar.  Nas notas daquela música, nos nossos pormenores. Na saudade, no abraço apertado. No instante de tempo paralisado, no espaço que permanece intacto, na memória que congestiona. Nada, absolutamente nada precisa servir de bóia pra trazer tudo à tona. Simplesmente porque determinadas coisas não conseguem ficar inertes lá, em algum lugar do pretérito - estão vivas e são intensas demais pra se submeterem à ele. Simplesmente porque são coisas que trazem consigo a magia de se reinaugurar todos os dias. Uma vez concretizadas, são incapazes de retornarem ao estado abstrato. E transformam aquela saudade do que nunca foi em uma saudade que sempre será, mesmo quando - ou SE - deixar de ser.

Mari Teixeira

terça-feira, outubro 18, 2011

E a dúvida (de novo) faz parte.




Lembro de já ter precisado de promessas pra poder continuar. De certezas, garantias. Pra me denominar feliz, ávida, forte, íntegra e mais um bando de rótulos que só servem pra quem faz questão de andar com eles colados na cara. Eu fazia questão. Das promessas e dos rótulos.  O que não valeu de nada, já que ficar sentada "no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando as coisas chegarem" só atrofia a musculatura. É que rótulos rasgam e promessas se quebram. Hoje é a incerteza que me faz levantar todos os dias, bem cedo, desse trono. É a dúvida que me dá a certeza do que me reservaria uma desgraça chamada acomodação. É ela, a famosa imprecisão, que me leva a entender que apesar de princesa, tenho que levantar a barra do meu vestido de tule e paetês, e ir à luta. E, de novo, confirmo aquela premissa: a dúvida faz parte. Só não desço do meu salto onze. Afinal, classe é tudo. Até na guerra. Ou, principalmente, nela.

Mari Teixeira

domingo, outubro 16, 2011

Ainda bem.




É como se não tivesse ido. Só tivesse sido. Não, ainda é. É como se continuasse aqui, do lado, fora, dentro; por sobre e sob... É como se as almas tivessem colidido, em câmera lenta. É como se elas tivessem, em algum ponto, se fundido. Um susto; almas não costumam se tocar por aí, assim, em qualquer esquina; têm que atravessar a fronteira entre os corpos e o cerne do sentir pra poderem alcançarem-se.  É como se fosse um filme e o botão do play apertado pra sempre. Como se fosse uma música no repeat. Como se o ontem se negasse em deixar de ser hoje por não saber o que o amanhã lhe reserva. Como se o ontem conseguisse realizar a façanha de se reinaugurar todos os dias. Como se a mente fosse a única dimensão na qual o tempo fosse capaz de parar. E é. Ainda bem.

sexta-feira, outubro 14, 2011

Sonhos.


Eu poderia muito bem acreditar que são apenas algumas letras e duas reticências num visor iluminado de um aparelho eletrônico qualquer. E é exatamente isso que eu vou fazer. Já estou fazendo. Na parte da dúvida que me cabe, fico com o que ficou, de fato. Fico com o que é. Com o que não consegue deixar de ser. Fico com o que insiste em não entrar pela porta do pretérito. Com o que, caso um dia entre,  seja imperfeito no modo, apesar de ter sido tão perfeito na prática. Engulo um pedaço razoável da razão. Mas sem deixar de lado o sonho. Porque nós somos feitos deles... E disso [também] não esqueço mais...

quinta-feira, outubro 13, 2011

Depois.



Adaptando Biquíni Cavadão...

                "Quanto tempo será que demora
                 o depois pra passar?..." ♫

quarta-feira, outubro 12, 2011

Tão eu.



Eu fui, sem sombra de dúvidas, a melhor pessoa que conheci nos últimos tempos. Quem bem soubesse,  não hesitaria em promover o mais rápido possível esse encontro consigo. Quem bem soubesse, não teria medo de si próprio. Não há porquê ter. Não sei porque tive, durante tanto tempo. Não sei porque me ensinaram a ter, e nem porque me apliquei tanto nessa lição. Pensei que eles tivessem medo de mim, não sei. Mas depois, quando analisei com mais calma, acho que, no mínimo, essas pessoas tinham mais medo que eu me encontrasse do que eles mesmos tinham de mim.  Medo, logo de mim? Tão cabeça no lugar, tão escrupulosa, tão cautelosa, tão linda, tão do bem...! Tão pra frente, tão capaz, tão inteligente, tão sentimental... tão eu! Por que eles falam tanto de amor ao próximo e não insistem no amor-próprio? Quando a gente se ama primeiro, tudo fica menos difícil -  e mais leve. O conselho mais perfeito que ouvi nessa vida, e que ousei seguir - mesmo morrendo me medo de engasgar - veio de Caio Fernando: "Engole teu coração e se ama por dentro." Engoli. Não engasguei. Ao contrário - muita gente que engasgou comigo. Me amei. Eu me amo. E sou [altamente] correspondida...


terça-feira, outubro 11, 2011

Pra você.


"Agora é o domínio de agora.
E enquanto dura a improvisação eu nasço.
E eis que depois de uma tarde de “quem sou eu”
e de acordar à uma hora da madrugada
ainda em desespero
- eis que às três horas da madrugada acordei
e encontrei-me.
Fui ao encontro de mim.
Calma, alegre, plenitude sem fulminação.
Simplesmente eu sou eu.
E você é você.
É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um ”isto”.
Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama.
Não: tu olhas para ti e te amas.
É o que está certo.
O que te escrevo continua
e estou enfeitiçada.”

(Água Viva - Clarice Lispector)

sexta-feira, outubro 07, 2011

Protocolo.





Tenho medo do meu sorriso, quando ele te encontrar. Tenho medo que ele te toque, e que meus olhos te roubem, e que, sumindo da visão alheia, todos me acusem de não saber controlar essa minha sinestesia. Tenho medo, pois já sinto teu cheiro na tua voz e, quando sentí-lo de fato, temo o impulso de experimentar o teu gosto; temo sim, a súbita vontade de levá-lo à língua, validando o que o olfato, outrora, já me revelara.  Eu temo o indizível escondido sob a sensibilidade do teu tato. Temo o efeito de todos os teus sentidos sobre os meus. Temo o peso deles. O arrepiar dos pêlos. O rubor da face e dos meus insterstícios. O dilatar das pupilas e das cavidades. O quanto além esse dilatar pode permitir que me enxergues - se é que ainda há segredos meus ainda não desvelados a ti. Temo os desfalecer das pálpebras, o choque dos fluidos; de todos eles... Mas temo tudo isso apenas por protocolo. Porque convém temer, ao invés de tremer...

terça-feira, outubro 04, 2011

Pra poder viver.


Já fui assim. Já esperei o coma de uma vida inteira. Não dá mais. É lindo, mas doído. Sofre bem mais quem a assiste, do que o inconsciente em si. Em sua mente vaga o nada - não há o que doer, nem do que padecer; não há o que perder, se já não se tem. Não ter passado para o outro lado [ainda] lhe é lucro. Se pudesse gritar, pediria pra não morrer. Ela, no lugar dele, imploraria pra poder viver. Mas, há que se pensar nas outras possibilidades... a vida - a nossa vida - tem que continuar. Se ele acordar um dia, que tente de novo, o tanto quanto ela lutou pra trazê-lo de volta à vida. Levanta da beira da cama. É hora de viver.

domingo, outubro 02, 2011

O mundo gira. Até demais.


Mundo, mundo, mundo... você gira demais!  E a vida da gente gira com você. A gente finge que não sabe por não perceber. Se não nos ensinassem isso nas aulas de geografia, talvez nunca saberíamos. Parece  que estamos sempre estáticos, ainda que os dias, as noites e as próprias voltas que a vida dá nos demonstrem o contrário. Ninguém quer acreditar nesse jeito parafuso de ser que você escolheu pra si, e  nem que ele interfere na vida da gente muito mais do que propriamente na sua. É ilógico: a dinâmica da vida aponta pra frente. Um universo tão infinito ao seu redor, e você aí, girando em torno de si e de uma estrela que nem te dá bola. Eu te entendo; a gente costuma ter atração por quem consegue fazer nosso termômetro interior subir, e também faz parte que parte do nosso mundo gire em torno da gente mesmo - isso se chama amor-próprio. Mas, isso não te dá o direito de girar, girar e parar no ponto da nossa vida que você bem quiser. Isso  não te dá o direito de não pedir permissão pra trazer o que já foi à tona. Mas, acredite: não vou te pedir pra parar de girar. Não vou te negar à sua natureza como neguei a minha durante tanto tempo. Como neguei-a a mim. Gira, pode girar. Só toma cuidado onde você para. Tenho medo de parar com você. 

sexta-feira, setembro 30, 2011

Looping em queda livre.





O primeiro looping é que nem o primeiro sutiã e o primeiro beijo: a gente nunca esquece. E, presumo, que a primeira queda livre, também não...

Meu primeiro sutiã era lindo! Não tinha bojo, mas eu tinha peito suficiente pra caber dentro dele sem problemas. Não tinha, claro, porque isso é coisa contemporânea. Hoje, todos os meus sutiãs têm, e eu tenho menos peito pra caber neles; mas, muito, muito mais peito pra enfrentar a vida.

O primeiro beijo foi confuso, inesperado, mas gostoso - como o dono do beijo. E eu quis repetir várias vezes. Todos tão bons quanto o primeiro. Mas o último do primeiro, foi o melhor de todos os primeiros. E eu prefiro não detalhar mais.

O primeiro looping não só vira sua cabeça, mas você inteirinha. Entontece, mas também faz a gente voltar a alguns pontos da nossa vida com a lucidez e a maturidade que a gente dava tudo pra ter tido lá atrás. São 360 graus literais. Um giro completo de um compasso. Uma volta inteira em torno de si. Mexe com todas as suas sinapses, com o que passou, com o que ainda pode ser, e com todo o controle interior que você achava que possuía. Desperta suas necessidades, te destoa da realidade e te faz prescindir de muita coisa que você julgou essencial por uma vida toda mas que,  na verdade, só foi durante o tempo que você acreditou que era.

E a primeira queda livre... bem, ainda estou nela. Por enquanto, posso dizer que é uma delícia. A sensação de perigo é constante, mas se minimiza e quase some diante da sensação de liberdade que o vento, sustentando meu corpo, me proporciona. Nessa viagem somos só nós dois: o vento e eu. Ele me balança, mas não me causa náuseas. Quando chegar lá em baixo - se é que  lá em baixo existe - juro que volto aqui pra contar.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Vontade.


- Vontade de você...
- De mim?
- É... de você.
- Também te quero...
- E tem vontade também?
- Como assim? Não é a mesma coisa?...
- Nem tudo que a gente quer, a gente quer por vontade; pode ser por conveniência, por capricho, por necessidade...

Ela parou e pensou. Depois de alguns segundos, continuou:

- Então... não sei...
- Não?
- Não. É muito mais que apenas uma intenção. Se fosse vontade, já teria passado e voltado um milhão de vezes. Mas não passa. Não é sequer intermitente. É um troço que nem pra isso serve. É uma coisa que me leva até você e que eu nem ouso tentar definir, porque estou dentro dela, e não consigo enxergar essa coisa por fora pra poder ter certeza do que é. É algo que simplesmente me puxa pra você, como se fôssemos  ímãs: dois corações de naturezas completamente opostas, mas de essência mesma. Duas almas ligadas pela débil linha de uma distância que só é concreta pra quem não entende que sempre estivemos um no outro, mesmo quando nem nós sabíamos disso... Pode até ter um quê de vontade, uma pitada de querer mas, né só isso, não.

Ele silenciou e sorriu. E disse:

- Pode ser...  mas, por outro lado, que importa? Tem um mundo imenso lá fora esperando a gente, e a gente aqui, preocupado com essa bobeira de definição que na verdade, não define nada.  No final das contas, meu anjo, voltamos ao ponto de partida: a única coisa capaz de definir alguma coisa aqui são as nossas vontades. Todas elas...
- Você...! (risos)... Sempre rompendo com meus argumentos...
- Pra que argumentar, meu bem, se a gente pode sentir?...


sábado, setembro 24, 2011

O gostoso da vida.


Que a primavera me traga, além de flores, frutos...
Pois o aroma complementa o sabor, mas não se sobrepõe à ele.
E a visão, por mais beleza que possa descobrir nos mistérios visíveis, é vã, diante da completude que  o paladar consegue proporcionar. Não é a barriga cheia que sacia, mas a delícia que percorre as papilas gustativas. O deglutir é consequência do prazer. Do gostoso da vida. 

segunda-feira, setembro 19, 2011

Bem lá dentro.



Você me veio como aquela gota d'agua que respinga da última folha do mais alto carvalho, bem no meio da  testa, num dia qualquer de inverno. Chegou repuxando meus lábios leve e espontaneamente, muito tempo depois de ter me arrancado gargalhadas históricas. Chegou quando eu já achava que sorrir era mais uma das coisas que Deus havia reservado pra minha outra encarnação. Chegou devagarzinho, mas rompendo o hiato que, sem razão, havia se estabelecido entre nós; chegou pra lembrar que a gente era maior do que ele e, por cima dele, criou um ditongo lindo. Você me veio, e eu me lembro de não ter querido olhar. De ter pedido, cabisbaixa, pra que você se retirasse junto com seu olhar, não porque me pesasse, mas por me fazer levitar - e eu tenho medo de altura, ao contrário de você. Seus olhos certos, certeiros, que me pediam a mim. Pedi por medo de despencar e sangrar até morrer, até lembrar que é sangrando que a gente mensura o tamanho da vida que há em nós. Pedi porque olhei pra baixo e vi que você não estava lá pra me segurar, mas, daí, olhei pro lado e  me perdi no desenho do ajuste das nossas mãos e na sombra do encaixe dos nossos corpos. Eu pedia como quem pudesse impedir a entrada de algo que já estava dentro. Mas, acho que pedi um pouco tarde demais, porque agora você cresceu tanto, que não passa mais pela portinha do meu coração.

domingo, setembro 18, 2011

A voz.


É estranho quando só a voz te basta...
O resto pode até ser excesso, mas nunca supérfluo.
Necessidade travestida em vontade.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Contaminação.



Contaminei todas as minhas músicas com você. Foi sem querer. Era a única coisa casta que ainda me restava, conquanto tudo que me circundava e em mim habitava já havia sido tomado pela sintonia dos teus acordes que me acordaram pra vida. Era a única coisa que me acalmava, mas que, agora,  só me excita, me provoca. Nem  minhas fronhas brancas escaparam, nem os livros da biblioteca da faculdade, nem o espelho do meu quarto. Nem eu. Agora elas só sabem te tocar. E me intoxicar.

terça-feira, setembro 13, 2011

Amizade entre homem e mulher: existe?


Existe. Desde que exista antipatia física suficiente entre vocês pra impedir qualquer tipo de aproximação além da epiderme. Desde que a sua carência seja bem menor (mas bem menor meeeeesmo!) do que essa antipatia física. Desde que ele não tenha barriga de tanquinho, pernas torneadas e bíceps generosos, e mesmo ele não tendo nada disso, você não o ache lindo de morrer. Desde que não exista nenhuma (entendeu? Nenhumazinha...!) superfície de contato complementar nas superfícies dos seus corpos, que permita qualquer tipo de encaixe. Desde que o cheiro dele não lhe cause torpor e que não exista o mínimo de magnetismo entre os olhares de vocês. Desde que seu toque seja isento de eletricidade e sua voz entre por um de seus ouvidos e saia pelo outro, sem que ocorra qualquer absorção da mesma com consequentes alterações físicas denunciadoras de que as coisas podem estar se transformando. Desde que a figura dele não se adsorva em seu pensamento - e, em hipótese alguma, alcance a sua imaginação. Desde que ele não use cueca box, nem barba de três dias ou detenha o dom de te despir com apenas um olhar. Porque aí, minha amiga, a coisa deixa de ser amizade e passa a ser tentação. E aí, complica mesmo; porque, até a última super heroína que eu conheci, fugiu com o Superman...

segunda-feira, setembro 12, 2011

domingo, setembro 11, 2011

Um pouco sobre muita coisa.



Não existem verdades eternas. Nem certezas absolutas. Existem as "nossas verdades" - que podem ser mentiras para os outros. Não somos amigos de ninguém, nem os temos: apenas estamos amigos dos outros. Por mais que eles vivam dentro da gente ou sejam na gente, a vulnerabilidade da natureza humana tem o poder de reverter a ordem de todas as coisas que estiverem sujeitas a ela. De repente, uma vida inteira pode mudar em um segundo; e de acreditar nisso, temos fugido o tempo todo. Como disse um amigo meu, a dúvida faz parte (e na hora eu o odiei, mas depois que li em algum lugar que certeza é pra gente que não ama o suficiente, entendi).

Fé não é coisa que se deva ter somente lá na igreja; é coisa que a gente tem que trazer pra vida aqui fora também. Eu, particularmente, não tenho muita fé nos seres humanos, mas minha susceptibilidade me empurra pra eles, e eu me permito envolver, na grande maioria das vezes. A gente bate o olho e às vezes acerta. Ou bate de frente e descobre: "ops! Foi engano". Ou percebe que a pessoa que a gente julgou maravilhosa não era bem como a gente queria que fosse... e que a pessoa do equívoco é mais uma nessa vida a se chamar surpresa - e como elas são boas!


Relacionamentos começam e terminam, tal qual aqueles que os realizam (e idealizam): os meros humanos; mas, sim: a gente sempre espera reciprocidade - à altura!  Porque também somos humanos - à altura daqueles que nos decepcionam também. Fugimos das decepções como o diabo foge da cruz? Sempre. É lógico. É óbvio. Quase ninguém gosta de perceber que foi feito de otário, mesmo que por um ínfimo espaço de tempo  (embora existam os que são otários o suficiente pra não perceber que estão sendo feitos de otários, e os que sabem, mas preferem fingir que não sabem). Mas o pior de tudo é saber que a qualquer momento a gente pode fazer parte de uma das duas categorias anteriormente citadas...

Quem disse que a vida não era uma viagem arriscada, como todas aquelas que a gente faz pelas estradas físicas da vida? Quem foi que disse que não existem vários caminhos - e que você tem o poder de escolher qual deve seguir? Sua mãe? Seu pai? Puta sacanagem eles fizeram com você! Comigo... Mas, ainda bem que a gente cresce - e amadurece (ou ao menos eu espero que isso aconteça necessariamente nessa ordem, porque a ordem inversa traz mais sofrimento do que se possa imaginar...). Não é fácil ser humano, ao mesmo tempo que é a experiência mais deliciosa que uma alma pode ter (puxa!... senti uma profunda pena dos anjos agora!!!). Quem disse que era, nunca conseguiu se reconhecer um, e - é triste dizer - mas, talvez morra sem descobrir isso. É preciso coragem para conhecer-se, desnudar-se, pra depois poder arrancar as ervas daninhas. Pra plantar mais algumas margaridas, mudar  de jardim, ou, simplesmente, aceitá-lo.  Se a gente sempre se colocasse no lugar do outro, talvez o mundo fosse um outro lugar...

quinta-feira, setembro 08, 2011

Ser em mim.



E não tarda, logo chega a hora em que o vazio se instala aqui de novo. Teu efeito perdura por um tempo tão irrisório comparado à intensidade dele! E, quando penso em comer-te pra poder saciar-me novamente, dou-me conta que é sendo [tua] comida que me satisfaço. É sorvendo teu gosto em mim que me fortaleço. É velando teu olhar que encontro deleite. Você me vem e me [pre]enche de sorrisos e olhares, de pronomes possessivos e verbos subjuntivos, e eu, rasa, satisfaço-me e derramo-me, desfazendo o turgor de outrora . Você me envolve de mistérios, e me mantém refém da espera, atrasa meu sono e antecipa meu despertar. Consegue me dar um dia de presente, sem sequer deter o poder sobre ele. Retira-me do tempo de tal forma, que eu nem percebo e o dia já amanheceu. É presente mesmo na completa ausência. Me pede calma ao mesmo tempo que me faz perdê-la, mas finge que não sabe que é o meu ansiolítico; o único capaz de realizá-la em mim. Fomenta minha intensidade e minhas necessidades. Canta sem saber a letra e ainda assim me encanta. Ludibria meu tédio, mesmo quando a rotina me toma. E não sabe fazer outra coisa, senão ser em mim. Só ser em mim.

terça-feira, setembro 06, 2011

Não para.


As semanas podem ser cheias, os dias sem espaço, as horas sem atraso, a rotação do planeta parar... O tempo pode correr e  buzinar no meu ouvido pra que eu saia da sua frente, o relógio andar em sentido anti-horário e o sol se pôr bem devagarzinho... Posso estar extremamente atarefada, absurdamente cansada, completamente rodeada de pessoas, submersa no sono mais profundo que possa existir... mas nada - absolutamente nada- muda a intensidade e a velocidade com que todas essas coisas têm acontecido dentro de mim.  Eu posso até fingir que elas desaceleram diante das circunstâncias supracitadas, mas lá no fundo continuam caminhando em velocidade supersônica. A saudade que o diga...

sexta-feira, setembro 02, 2011

Posso errar?


Dia desses, me peguei com uma puta vontade de "errar", só pra ver como é que é. Errar uns "erros" convencionados por gente que só quer manipular a natureza humana. Era um vontade quase igual àquela que (s)urge às 4 da madrugada, chovendo horrores, quando vc tá gripada, sem carro, sem grana, e com um desejo absurdo de tomar aquele sorvete de passas ao rum da Kibom que custa os olhos da cara. Uma necessidade de partilhar da mesma condição dos pobres mortais errantes. De experimentar a humanidade em todas as suas nuances. Pensei em premeditar o 'erro', pra poder escolher certo, mas, pensei tanto, que desisti. Não que eu nunca tenha errado nessa vida, não é isso. Errei sim, mas nada tão histórico e nem tão digno de ser contado numa roda de amigos num sábado à tarde, na porta de casa. Nada tão ridículo ao ponto de ouvir o côro uníssono deles bradando: 'louca'! Nada que rendesse boas gargalhadas. Nada tão emocionante que tenha me roubado o sono ou custado uma surra. Nada que tenha me feito sentir mais viva ou que tenha me rendido aprendizados e experiências imprescindíveis.

Não tão raramente, ainda me bate uma vontade louca de 'errar'. Quase uma necessidade. Só pra ver como é que é. Nada absurdo, que coloque em risco o meu valor maior: a vida. Na verdade, é justamente pelo apreço que nutro pela minha que eu acho que mereço experenciá-la na plenitude dos "erros" e acertos.

"O certo ou o "certo" pode até ser bom. Mas às vezes
merecemos aposentar régua e compasso."
(Leila Ferreira)

terça-feira, agosto 30, 2011

Já era.



Veja que sorte a minha: você tem sabor agridoce. O meu preferido. Não dá pra enjoar nunca. Você destila acidez, por isso, me faz salivar por todos os cantos de mim. Incita os meus reflexos mais involuntários - os mais imprevisíveis; os mais inimagináveis...

É, você arde. Gela também, mas quando isso acontece, eu esquento. Mais ainda. Você me dói uma dor de prazer que só quem já sentiu pode compreender. Uma dor de parto às avessas; é você entrando em mim.Você me dói, mas quando quer, me analgesia. Me atiça os sentidos, mas não me rouba de mim em nenhum momento. Não consigo ser outro alguém, senão eu mesma, quando estou contigo. Você permite que eu me perca em mim, mas nunca de mim. Um cuidado que denota um sentimento que, como você mesmo disse, é antigo e profundo; e eu completo: independe dos nossos hormônios. Porque... lembra? Já era...

segunda-feira, agosto 29, 2011

Natural.




Tão simples! Tão inesperado... Tão espontâneo...
É, tem razão... o natural é muito mais bonito...

sábado, agosto 27, 2011

Alento.


A coisa mais alentadora do mundo é a certeza.
A mais enternecedora, a verdade.
A mais gratificante, a sinceridade.
A mais deliciosa, a paixão.
A mais dilacerante, a saudade.
A mais relaxante, o sexo.
A mais terna, o amor.
A mais perfeita, a música.
A mais leve, a paz.
A mais inexplicável... você.


quinta-feira, agosto 25, 2011

Bom demais.



Eu já sabia que você não tinha medo de altura. Mas não sabia que você tinha uma escada tão imensa, que alcançasse o céu... Eu bem sei de seus receios, mas você consegue me surpreender todas as vezes que sobe cada degrau dessa sua escada, enfrenta a gravidade, irrompe as nuvens, recorta pedacinhos dele e me oferta da forma mais fofa da Via Láctea. O que eu não sei é se você tem a intenção de me proporcionar tanta felicidade e se consegue mensurar a intensidade disso tudo em mim. Mas sinto na sua voz que você se compraz nela e eu me comprazo em você como num ciclo que gira, gira e pode ou não tangenciar. Do que depende, não sei. Só sei que é bom demais. Que eu tô feliz. E que vale muito. Só isso que eu sei.