quarta-feira, dezembro 31, 2008

Cortar o tempo



"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,a que se deu o nome de ano,foi um indivíduo genial.Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente..."

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, dezembro 30, 2008

Feliz 31 de dezembro de 2008!

Amanhã é o último dia do ano. Diferentemente dos outros últimos dias do ano pelos quais passei, parece-me que amanhã será um dia como outro qualquer. E de fato, o é. Sem maiores floreios, sem pompas, plumas ou paetês, assim como foi o Natal.

Tem aprendido que não existem datas especiais de calendário; quem faz uma data ser especial, somos nós. É a aura criada, o ambiente, a galera, o papo, a música. Andei cansada de criar expectativas em cima desses "eventos". Resolvi viver um dia de cada vez (acho que já falei isso aqui). Por isso, não lhes desejo uma feliz ano novo; desejo-lhes uma boa noite de sono, tranquila, cheia de paz. E amanhã, quando acordar, desejar-lhes-ei um bom dia.

Cada dia que se vai em minha vida tem sido de grande aprendizado; tenho aprendido a ser feliz quando dá, mas eu choro também quando não é possível sorrir. Permito-me ter raiva, nojo, medo, mas tento cuidar para que esse direito não me arraste à crueldade. Não pergunto mais a Deus o porquê de eu estar passando por isso ou aquilo; não julgo como castigo ou coisas parecidas. Já entendi que tudo que Ele permite, de uma forma ou de outra, tem uma finalidade: crescimento humanístico, maturidade, adaptabilidade... Olhando pra tanta gente, percebo que nunca passei por sofrimentos horrorosos, capazes de tirar a paz da alma. Também não me julgo imune à esse tipo de acontecimento. Se um dia acontecer, espero ter serenidade e fé suficientes para manter-me, ao menos, de joelhos, aos pés do Senhor.

Descobri que a vida é tão curta... e ao mesmo tempo tão bela! Por isso tenho me deliciado com cada pedacinho do tempo que me é dado, mesmo quando passo 16hs por dia na universidade, ou quando estou estudando que nem condenada pelas madrugadas adentro. Quero fazer a felicidade acontecer dentro de mim primeiro... E no mais, quero desejar-lhes um lindo 31 de dezembro de 2008!


Paz e bem!
Mari

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Feitos de areia...


Doeu. Doeu lá dentro, sabia? Não posso dizer que a dor tenha sido igual, afinal, o alvo da flecha foi você. Mas se, de alguma forma eu tenho você em mim, e você me tem dentro de você, eu acabo sendo atingida também.

Na hora, bateu um misto de dor e agonia. Dor porque você tava sentindo e eu também. Agonia porque eu não podia fazer nada para aliviar a sua dor, e nem a minha. Porque, por mais que eu quisesse eu não conseguia deixar de sentir aquele aperto no peito que eu senti ontem e que, eu confesso, ainda existem resquícios. Na verdade, eu não queria parar a dor. Eu queria era voltar no tempo e pedir pra aquela onda não molhar aquele castelo de areia. Queria ter ido lá, pessoalmente. Mas aí eu me lembrei que eu também sou meio que de areia; eu não posso chegar muito perto do mar. Lembrei que, por várias vezes, eu vi a onda chegar muito, mas muito perto! Diante do medo de ser tocada por ela durante picos de maré, por inúmeras vezes, me arrastei pra trás. O mar é encantador! Mas, isso não justifica nada.

Eu acho que lá no fundo a gente é tudo feito de areia mesmo. Nem precisam ondas sinistras, tsnunamis. Um ventinho, uma brisinha e já era. Podia ter sido o meu castelo; podia ter sido o dele, o dela. Essa fragilidade da qual somos feitos não nos dá direito a ultimatos. Do contrário, estaríamos todos destruídos em poucos anos. É justamente essa textura de areia que nos permite versatilidade, permite mudar, fazer diferente. Eu acho que esse castelo tem o direito de ser reconstruído. Afinal, não existia apenas uma estrutura externa; lá dentro, um mundo de sonhos já estava sendo construído. E pessoas podem até ser de areia. Mas sonhos e sentimentos, não são, não.

domingo, dezembro 21, 2008

Existe um tempo pra cada coisa...


Existe um tempo pra cada coisa. Não se pode colher caju em junho, tampouco milho em dezembro. A natureza, ora silenciosamente, ora estrondosamente, prepara todos os detalhes para que cajus e milhos tornem-se maduros o suficiente para serem colhidos na época certa. Caso sejam colhidos antes da hora certa, ainda estarão verdes; se a colheita atrasar, estarão maduros demais. Frutas verdes tendem a ser azedas demais; frutas maduras demais tendem a se espatifar no chão...
Paz e bem!
Mary

sexta-feira, dezembro 19, 2008

A graça de ser só

Um dos temas que mais incomodam a sociedade em geral (inclusive alguns cristãos católicos), é a existência do celibato dos padres e irmãs consagradas da Igreja Católica Apostólica Romana. Particularmente, não consigo entender tal incômodo (afinal, os abstinentes de casamento e sexo não são essas pessoas, e sim os padres e as freiras). Confesso que diante das dúvidas e posturas de perplexidade de algumas pessoas, já tentei explicar o motivo do celibato proposto pela Igreja a seus sacerdotes e consagradas, mas para a grande maioria não é fácil compreender, tampouco aceitar. Hoje me deparei com um texto do Pe. Fábio cujo teor é exatamente esse: o celibato. Nunca tinha lido algo tão perfeito! É a alma de um jovem celibatário falando... ninguém melhor que alguém que vive o celibato para falar dele! Transcrevo-o aqui, na íntegra. É um pouco grande, mas vale a pena lê-lo por inteiro. Transcrevo-o, não na intenção de que você o aceite, mas para que você (talvez) compreenda que "...há aqueles que se tornaram eunucos por causa do Reino dos Céus." (Mt 19, 12b).


A graça de ser só

Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.

Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar. Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do "pode ou não pode".

A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar, não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.

Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.

Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em "propriedade privada". Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.

Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.

Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo de mais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções."

Pe. Fábio de Melo (12/12/2008)

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Sobre o Natal... e sobre o Amor

Natal às portas. Sensibilidades afloradas. A bandeira do "amor ao próximo", que ficou à meio pau durante todo o ano, começa a ser estiada mais alta. Ultimamente tenho me percebido mais cristã, e menos religiosa. Isso tem me conduzido a pautar a minha vida muito mais naquilo que Deus sabe e cobra de mim, do que naquilo que ditam, sem justificativa aparente. Ando me sentindo bem melhor e mais livre assim.

De uns tempos pra cá surgiu dentro de mim a certeza de que Deus quer o amor, acima de tudo. E que esse amor é minha moeda de expiação pelos meus erros. Não estou aqui querendo dizer que ando amando horrores por aí; aliás, tem sido bem difícil! Lembro-me agora de um discurso do Pe. Fábio, muito sábio. Ele dizia que a gente prega tanto esse jargão do "amar ao próximo", mas a gente não facilita o amar do outro, e o outro, por sua vez, não facilita o nosso amar. A gente quer que o outro nos ame com nossas grosserias, com a nossa estupidez, com nossa insensatez, com a nossa frieza, nosso desprezo... a gente exige tanto do outro, que chega uma hora que ele se cansa, e desiste do amor, desiste de amar. A gente esquece que ainda somos criaturas humanas, mesmo participando dos mistérios divinos Ainda vivemos na terra, ainda bate aqui um coração, ainda existe a necessidade de reciprocidade, e seria tão bom se todos nós entendêssemos isso e nos pusséssemos a ser mais dóceis, mais sorridentes, mais amáveis, mais compreensivos, menos donos da verdade, menos juízes...

Amar não é sentir o coração pulsar mais forte; isso é paixão, atração física ou sei lá o quê... e pode vir ou não a se transformar em amor. O amor é mais constante, mais sólido. É ato voluntário e sublime; não podia existir para estar à mercê de hormônios. Amar é se colocar ao dispor do outro. ... Amar é não ter reservas... amar é apanhar a caneta que cai no chão, é devolver o troco errado ao caixa da padaria, é ajudar a velhinha a descer as escadas da porta do banco. É velar o sono de um doente. É partilhar, é acreditar, é confiar... Amar não se resume apenas a grandes gestos, como tanta gente pensa. Pode ser um misto dos dois, dos pequenos e dos grandes, como fez Jesus. Acho que a gente começa com os pequenos. Começa nascendo num estábulo pra depois ter coragem de morrer numa cruz...

Paz e bem!
Feliz Natal!
Mary

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Fim de ano

Todo fim de ano é assim. Fico nostálgica, melancólica, saudosa. Esse ano, menos do que os outros, mas acho que é pelo fato de eu estar afundada em coisas pra fazer; sobra pouco tempo pra pensar nessas coisas. As luzes de natal, as ornamentações, o presépio... tudo isso me traz à tona uma gama de recordações absurdamente estraçalhantes. Lembro de tempos bons que ficaram no passado; da época de criança, da inocência, da crença em papai-noel; de quando a minha família existia! Lembro muito de quem não está mais aqui; e bate a incerteza de que ano que vem alguém pode vir a estar a pensar o mesmo de mim... Bate um medo estranho... irreal, mas tão presente! Uma sensação de fim se mistura à de recomeço!... E assim eu vou me preparando para ver chegar o dia mais triste do ano.

Não deveria ser assim, afinal, Jesus vai nascer! Mas minha tristeza não tem nada haver com Ele. Tem haver com a superficialidade que paira sobre essa festa tão especial. Fora o consumismo descontrolado (que foi o tema do meu post de Natal do ano passado), dói muito ver tanto egoísmo, tanta hipocrisia, tanta falsidade e , sobretudo, tanta maldade. As pessoas se maltratam, se ofendem e se magoam durante todo o ano, e bem no dia de Natal resolvem colocar suas lindas máscaras, levantando a plaquinha da "confraternização universal". Mas é só começar janeiro, para os belos discursos de "paz e amor" serem novamente empacotados juntos com a fantasia de ovelhinha e os arranjos de natal...

Quero que esse Natal seja diferente de todos os outros que eu tive. Quero fazer o real sentido do Natal acontecer na minha vida. Quem sabe a partir deste, eu possa enxergá-lo de uma forma menos humana e mais divina...


Paz e bem!
Mari

domingo, dezembro 07, 2008

Já não existe...



Tudo aquilo já não existe. Nem subexiste. Cá dentro de mim, implosão. Uma ou duas vigas permanecem intactas, sustentadas, provavelmente, pelo Deus que mora em mim. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Ninguém imagina que parte de sua vida pode afundar dessa forma. Passo em frente à casa. Sinto saudades. É minha alma dizendo pra onde ela queria voltar. Restou tão pouco de tudo, que as coisas ficaram insustentáveis. O cansaço oxidou os metais, a intolerância desgastou o que sobrou; a estrutura não resistiu. E ruiu. Reconstruir, agora, quase impossível.


Tudo ruiu. Ficou no passado. Eu posso voltar lá. Paro em frente ao portão enferrujado. Fico parada olhando. Fecho os olhos. São mil recordações. Choro. E, embora nada fosse perfeito, era tudo tão meu! Eu acreditava naquilo tudo! Do jeitinho que era! Consigo ver os canteiros de grama verde, a bola de vôlei no canto da varanda, o carro parado vazando óleo. Os pés de graxa, as folhas secas espalhadas pelo chão. No chão da sala, carrinhos e bonecas. O sofá rasgado. A parede descascada. A TV ligada na rede Manchete. Inhambu quentinho nas manhãs de domingo. O guarda-roupa sem uma porta. A fechadura quebrada. Um crucifixo de metal na parede. Um relógio parado às 10hs. A geladeira amarela, o fogão de duas bocas. O balanço no quintal. E choro de novo.

Penso comigo: era tudo tão superficial assim mesmo? Sempre?... Não encontro respostas. Elas surgiram desde antes de eu nascer. Ouço um eco dizendo que faltou cuidado. Abro os olhos. Só vejo sujeira. Não enxergo mais o cimento da garagem; as folhas secas não deixam. Muito pó na varanda. No mesmo lugar onde repousava a bola de vôlei. Lá dentro, imagino apenas bagunça e vazio. O crucifixo, empoeirado e solitário. Não existem mais carrinhos nem bonecas na sala. A mesa da cozinha praticamente jaz, assim como todas as coisas que permanecem ali. Mas o relógio, com certeza, continua parado nas 10hs. Sem gritos. Sem risos. Sem vida. Apenas um buraco na parede da sala. Este, não existia... quem o teria feito? O tempo, talvez...

Paz e bem!
Mari

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Meu caso de amor...

Em um de seus livros, Rubem Alves cita a frase que Robert Frost escolheu para ser colocada em sua lápide:

"Ele teve um caso de amor com a vida."

Achei fascinante! Viver apaixonado pela vida é o segredo da felicidade. Eu poderia muito bem plagiar Robert Frost porque, apesar das intempéries que fazem parte do processo de viver, sou intensamente apaixonada por essa coisa de viver, de estar viva, e, confesso: não desejaria nunca pôr fim ao espetáculo mais maravilhoso do mundo. Mas, como partir é inevitável, gostaria que escrevessem na minha lápide:


"Ela teve um caso de amor com a vida, com a música e com as palavras..."


Paz e bem!
Mari

segunda-feira, dezembro 01, 2008

No vácuo...



Tudo que é vazio demais corre o risco de transbordar de alguma forma. Parece paradoxo, mas não passa de mais um contrário da vida. Muita gente não sabe, mas os vazios são terríveis; deles surgem a grande maioria dos nossos traumas e carências. Sem contar que eles aumentam o nosso potencial de vulnerabilidade. Porque tudo que é vazio demais tende à encher-se; e na grande maioria das vezes, também demais. E por isso derrama, escapa, transborda... e esse verter acaba levando um pouco da gente. Em pouco tempo, estamos vazios de novo. Vazios das coisas e vazios da gente. Pra recomeçar um ciclo sem fim...

Mari

quarta-feira, novembro 26, 2008

Ostra feliz não faz pérola

Há umas 2 semanas estive em uma livraria recém-inaugurada aqui na minha cidade e me deparei com um livro de Rubem Alves que há muito tinha ouvido falar, mas nunca tinha tido oportunidade de comprá-lo. Chama-se "Ostra feliz não faz pérola". Não hesitei em estourar o limite do cartão de crédito e levá-lo pra casa. Eu o elegi meu livro de cabeceira e, todos os dias antes de dormir, leio algumas páginas. De pouquinho em pouquinho, já estou quase na metade do livro.


O livro superou minhas expectativas. Pensei que nessa obra Rubem falaria sobre o sofrimento em si, em todas as suas formas e nuances, fragmentando o tema central em cápítulos específicos e sequenciais. Mas, para a minha surpresa, me deparei com um livro cheio de mini-crônicas, ora engraçadas, ora reflexivas... cada uma transbordante de singularidade e sabedoria inigualáveis.


"A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: 'preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas...' Ostras felizes não fazem pérolas... Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucara. Pra me livrar da dor, escrevi."

Rubem Alves
(em seu discurso de apresentação do livro "Ostra feliz não faz pérola")


O princípio dos meus escritos é o mesmo: escrevo para aliviar a dor ou para abrandar o desejo de desvendar certos comportamentos e atos que, em seu prefácio, Rubem Alves chama de curiosidade. Escrevo na esperança de metamorfizar minhas dores em beleza, porque assim torna-se menos duro levar a vida. E quando não é possível essa conversão do doído no belo, eu me contento em apenas esvaziar-se de mim mesma...

Quem já teve a sensibilidade de ler o texto de abertura do meu blog percebeu que, antes mesmo que eu pudesse confirmar essa verdade, eu já a havia enxergado a partir de Clarice:

"Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..."

Se eu pudesse materializar meus vocábulos, transforma-los-ia em pérolas, cada uma, fruto de uma lágrima rolada, de um tropeço aqui ou da cara quebrada ali adiante, fruto da roupa encharcada após uma tempestade ou do cabelo bagunçado pós-ventania. Se eu pudesse materializar cada sinal de pontuação, converteria as vírgulas em pequenas silêncios, as exclamações em decepções, as interrogações em momentos de dúvida e confusão, e os pontos finais em longos momentos de espera intermitentes.

No dia em que a humanidade sucumbir à verdade exposta por Rubem Alves no prefácio do seu livro, as dores e os incômodos passarão de dores e incômodos à pérolas... Pra gente, a pérola sintetizada pela ostra pode até ser sinônimo apenas de beleza. Mas para a ostra, tenho certeza, a pérola é muito mais do que isso: é objeto de resolução e crescimento pessoal.

Paz e bem!
Mary

domingo, novembro 23, 2008

Faz parte...



"O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia." (Martha Medeiros)


A morbidez me irrita, me deprime. Os extremos das emoções é que fazem a vida valer a pena. Aquela noite passada em claro em meio à lágrimas, aquela explosão da aprovação no vestibular, a depressão pelo término do namoro e a alegria de ter dado a volta por cima, a febre e o delírio, o grito e a dor, a gargalhada de doer a barriga, os banhos de chuva, as paixões enloquecedoras, dignas de fazerem perder a cabeça, tudo isso é que faz a vida valer a pena. Sofrer faz parte, chorar faz parte, achar que vai morrer de tanta dor também faz parte, levar um fora, idem... decepcionar-se faz parte, rir de si mesmo também... arrepender-se... principalmente! Cair faz parte (é fundamental... só assim a gente consegue exercitar a musculatura que nos impulsiona a levantar, sacudir a poeira e, enfim, dar a volta por cima). Enlouquecer às vezes é bom; fugir um pouco do padrão de normalidade; se submeter a determinadas sensações e sentimentos. E fazer valer a pena. Mas, se mesmo achando que ia valer, não valeu, não faz mal; porque tudo passa, sabe? E depois que passa, o mais legal é a gente rir e concluir que, apesar de todos os pesares, apesar da gente ter achado que não valeu a pena, a vida grita o contrário, grita que valeu sim, e muito, porque, embora pareça que em alguns momentos ela se contradiz, isso não é verdade; ela só quer nos ensinar a viver de verdade.


Paz e bem!
Mary

sábado, novembro 22, 2008

Feliz Dia do Músico!!!


Já parou pra pensar no porquê de Deus ter nos feito musicistas? Ter nos dotado de um dom singular, riquíssimo, lindo e que demanda tantas outras consequências, como a sensibilidade e a vulnerabilidade um pouco exageradas? Deus nos fez sensíveis a fim de poder percebermos a necessidade do outro, desvelada em algumas emoções introspectivas. Infeliz (ou felizmente, não sei), a vulnerabilidade vem por tabela, porque quando nos desdobramos a fim de abstrair a alma do outro, acabamos expondo a nossa. Por isso a maioria dos músicos são assim: ora melancólicos, ora palhaços, ora poetas, ora silenciosos, sempre transbordantes e, porque não dizer, tantas vezes loucos! Por isso essa emoção à flor da pele, esse pavio curto, esse riso fora da hora, esse choro sem quê sem pra quê...

Eu me descobri musicista quando percebi que a música entrava e ressoava de forma diferente em mim. Nem sei explicar direito. Dentro de mim as ondas sonoras tomam cor e textura, e se entranham na minha carne de forma que, no meio da canção por mim ouvida ou interpretada, já não sou um corpo sozinho, mas um corpo musicado, sonoro; e ao final da execução, carrego comigo cada nota, cada tom, cada dissonância e toda ressonância da melodia, que na verdade, fica agora como parte de mim. Pra sempre.

Músicos são poetas, são portadores de sons e rimas, de arranjos e emoções. Já disse em algum lugar, e aqui repito: a música é a obra-prima mais linda criada por Deus, depois da vida. Tenho que acreditar nisso, pois só um ser tão perfeito seria capaz de criar uma arte tão perfeita. Pena que essa perfeição esteja sendo destruída por pseudo-artistas que andam por ai "pornografando" notas musicais e chamando-as de músicas... Talvez porque o inimigo de Deus tenha noção do poder que ela emite, e tem feito dela uma arma eficaz para destruir a dignidade dos filhos de Deus.

No mais, queria desejar um Feliz Dia dos Músicos para todos aqueles que desenvolveram o dom de ser musicista, e também para aqueles que não tiveram oportunidade. Queria agradecer à Deus por ser Musicista, e por me rodear deles. E que Ele nos preserve de toda inveja, vaidade e maldade daqueles que queiram, de alguma forma, nos destruir. Amém!


Paz e bem!
Mari

terça-feira, novembro 18, 2008

Eu vou pra final...

Final. Interessante como a mesma palavra pode ter significados diferentes. Não me recordo bem essa matéria da gramática, mas acho que são chamadas homônimas: possuem a mesma grafia, mas o significado é diferente. Eu vou pra final. Se fosse na copa do mundo seria maravilhoso! Mas eu vou pra final de Química Geral mesmo... Nem sei porque tô escrevendo esse post; talvez seja uma forma de tentar justificar pra mim mesma meu desempenho, especialmente nessa II unidade (embolou tudo... aff!!!). Eu falo pra os outros pararem de se cobrar, mas eu faço exatamente o contrário...

Mas é que eu nunca fui pra uma final. Nunca fiquei de recuperação no colégio. Nunca fui CDF também. Sempre esforçada. E ultimamente tenho me esforçado mais ainda, tenho chegado ao meu limite, e mesmo assim vou pra final. Isso é que me deixa arrasada. Nossa, Deus sabe como eu tenho estudado, tenho perdido noites, horários de almoço, fins de semanas inteiros, mas nem sempre dou conta da matéria gigante (é muita coisa)! Dizem por aí que tudo tem sua primeira vez, e acho que a minha chegou. Talvez seja apenas uma forma de ir me acostumando com as os finais que a vida me reserva. De repente é a vida querendo me dizer que eu não sou infalível nem perfeita e muito menos infinita...


Paz e bem!
Mari

domingo, novembro 16, 2008

Interesse


É sobre essa coisa de estar com outra pessoa. Estar independente do grau de relação: pode ser rolo, amizade, namoro, casamento, coleguismo ou sei lá o quê. Tenho me batido com muita gente pela vida afora. Há alguns anos eu vivia da sala da minha faculdade pra casa, da minha casa pra igreja e refazia o percusso diariamente. Hoje eu posso dizer que conheço muita gente, pois frequento muitos ambientes. Mas, de fato, não as conheço.

É também sobre essa coisa de estar com a pessoa, não porque você se sente bem, mas porque ela te oferece algo além da amizade, da companhia, do amor. Tipo carro, dinheiro, status, sexo...

Nem duvido que esse tipo de gente venha a ser feliz. Talvez só mude o foco; condicionou a felicidade à coisa, e não à pessoa. Até aí, menos mal. Quer viver de ilusão, problema! Porque um dia carro quebra, dinheiro acaba, os hormônios cessam... e no mínimo, o que vai acontecer é você ir atrás de outro carro, mais dinheiro, mais sexo... Mas brincar com o outro eu não admito. Fazer o outro de chofer, caixa eletrônico, meio de ascensão social e máquina de prazer é que não dá. Será que se é tão inferior assim que não pode conquistar as coisas pra si mesmo? Será que é preciso viver à sombra do outro pra se conseguir vencer na vida? Pessoas interesseiras são, por tabela, egoístas e individualistas. E eu, quero distância delas.


Paz e bem!
Mary

quarta-feira, novembro 12, 2008

... pra (quase) sempre!

Lá vou eu de novo com essa minha mania de querer eternizar as coisas. Ninguém pode prever eternidade alguma porque ninguém tem poder de controlar nada. Será que, embora eu tenha consciência que esse lance de eternidade compete apenas a Deus e às coisas relacionadas à alma, eu não vou aprender nunca?

Quando a alma é a feitora de alguma coisa, aí sim presume-se eternidade, mas mesmo assim sem 100% de certeza, pois, ao mesmo tempo que nossa alma tende à eternidade, ela ainda está presa à esse corpo aqui, e isso a limita de alguma forma.

Hoje, quando eu olho pra trás, percebo que tanta coisa foi construída superficialmente, tanta coisa foi entranhada na matéria, tanta coisa que não passou de tanta coisa que passou. Tanta coisa que podia ter sido diferente, mas porque não teve a alma como base, não foi à frente, desabou, evaporou, acabou. Foi tanta coisa efêmera, que parece que nada nem existiu um dia. E o pior de tudo é que nem dói pensar nisso. Dá é alívio perceber que meus olhos foram abertos, talvez não a tempo, mas num tempo no qual ainda dá pra cuidar das feridas, antes que a eternidade me chegue de uma vez.

Paz e bem!
Mari

sábado, novembro 08, 2008

Meu querido blog...

Uma agenda, várias canetas coloridas, cola, recortes de revista, fotos, papéis de bala, ingressos de shows, adesivos, um cadeadinho, uma chave... e alguns segredos. Que se a gente for olhar hoje, nem eram tãããão secretos, mas não importa. Eram segredos, e pronto. Um conjunto de segredos espalhados em meio a algumas páginas que na verdade, eram mais retalhos da história de uma vida do que exatamente segredos.

"Hoje eu conheci fulano; ele é lindo!"...; "Passei pela rua tal e adivinha quem estava lá?; Cicrano...;"Hoje estou triste, não sei porquê..."; A festa foi maravilhosa!"; "Tô feliz pra caramba!". Não era assim que a gente iniciava ou terminava um post no nosso querido diário? Trancado e absolutamente sigiloso, só nossas amigas mais íntimas tinha acesso. Ele era lido e relido quase que diariamente, e era interessante, porque trazia à tona instantaneamente todas as emoções outrora vividas.

O fora daquele menino lindo, a bronca da mãe porque chegou tarde em casa, a viagem para a praia nas férias, o primeiro beijo e a primeira menstruação. Aquela paixão secreta (e a paixão secreta de uma dúzia de amigas), a festa de aniversário inesquecível, a nota baixa no colégio, enfim... tudo isso era postado e catalogado diarimente naquela agenda da Capricho ou da Xok (que eram caríssimas), mas que a gente fazia tudo pra ter uma (porque todas as meninas da sala tinham também)!!!

E hoje, me peguei pensando que as meninas de hoje não fazem mais isso. Primeiro porque essa geração não é muito adepta à leitura e muito menos à escrita; e por outro lado percebo que, com o advento da Internet, essa quebra de tradição (se assim podemos chamar) veio acompanhada de uma explicitação demasiada das vidas de cada um. Orkuts, blogs, flogs e msn... todo mundo tem. Todo mundo se expõe o quanto pode. Fotos, frases, textos, recados... até bonequinho pra demonstrar nosso estado de espírito já tem!!! As páginas de papel são agora home pages; o cadeadinho cor de rosa dos "queridos diários" foram substituídos por senhas que, por mais que pareçam ser mais seguras, não são; acredito que meu diário estava bem mais seguro no fundo do meu guarda-roupa do que a senha do meu orkut está hoje...

E continuei pensando. Nos blogs, flogs. No quanto a gente se expõe quando a gente expõe o que pensa, ou quando posta uma foto pessoal. No quanto a gente se vulnerabiliza para os outros e permite (mesmo sem intenção) que os outros interpretem o que lêem e vêem da forma que queiram. Fiquei pensando em como o passar do tempo era irônico; de pensar que há 15 anos meu diário, meus pensamentos, minhas tristezas e alegrias eram pra poucos...

Hoje quem lê meu blog, quem vê meu orkut consegue ter uma noção de quem eu sou, de como eu sou; e eu não sei até que ponto isso é bom. Não sei se o custo compensa o benefício. Artista é assim; traz consigo a emoção à flor da pele. Um descuido, e ela escapa... no meu caso em forma de palavras... Só hoje me dei conta que meus textos, que simbolizam minha essência, minha cara, minha vida, meu cotidiano, estão expostos para o mundo inteiro através da web. Estão expostos pra gente que nem merece me ver assim, tão nua. Até porque a nudez de minha alma compete apenas àqueles que me são íntimos e àqueles a quem eu convido passar por aki, e estes são poucos...

O blog é uma extensão de mim. Por isso, não sei até quando continuarei a postar. Tenho que sedimentar esse sentimento que me veio no dia de hoje. Não sei qual vai ser o resultado, o qual culminará com a permanência do blog ou não. Por enquanto, as postagens continuam no mesmo ritmo. Não pararei de escrever; mas, pretendo colocar um sistema de privacidade aqui.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Por que eu sou assim?


"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos." (Clarice Lispector)

domingo, novembro 02, 2008

Já não se fazem mais homens como antigamente...

É impressionante como depois de uma certa idade o conceito feminino de HOMEM muda tão drasticamente. Quando somos crianças, os homens se resumem ao nosso pai. Ele é a primeira e até então única referência masculina que temos nessa idade. O pai é aquele que protege, que dá presente, é quem põe pra dormir, quem leva pra tomar sorvete, quem briga... é a partir dele que a gente constrói a nossa primeira noção de figura masculina.

Passa mais um tempinho e aí a gente entra na adolescência. A maturidade biológica leva, naturalmente, à explosão hormonal que culmina com as primeiras nuances de atração entre meninos e meninas; no alto dos meus 12 anos, meu tipo preferido perpassava pelos meninos (entre 12 a 18 anos), de preferência muito bonitos, e que estivessem dispostos a "ficar": subentenda-se, apenas beijar na boca (nada além; embora a atual geração tenha antecipado determinadas coisas...). Sabe-se, portanto, que as meninas tem um amadurecimento emocional e psicológico mais acelerado do que os meninos; e então, a partir dos 18 não tem muito jeito: a gente (em sua grande maioria) começa a criar intolerância certos tipos de comportamento dos "meninos" de 18, que acabam soando como infantilidades tardias. Essas infantilidades incluem desde brincadeiras inconvenientes, até comentários inapropriados, conversas imbecis (cujo teor varia um pouco, mas na maioria das vezes gira em torno do seu imenso potencial de zerar aquele jogo do playstation ou de "pegar" a menina mais gata da festa) cantadas ridículas, comentários mongolóides e o pior de tudo: a terrível crença de que sua masculinidade se resume à presença de um pênis e de um cromossomo Y.

Aos 26, carinha bonita e barriga de tanquinho não são essenciais (embora sejam preferências nacionais). Se vierem no pacote bem, se não vierem, amém. Aos 26, o conteúdo vale mais que a embalagem. E a gente começa a entender que é mesmo panela velha que faz comida boa. Aos 26, a experiência conta mais do que os olhos azuis; o jeito de olhar encanta mais do que a musculatura. A gente passa a reparar mais nas mãos, na barba (siiiimmm... na barba), no jeito de sorrir, de andar e de conversar. E acima disso tudo, começa a se dar conta de que um bom papo vale muuuuito mais do que um belo par de pernas bem torneadas, porque não há nada mais triste no mundo do que um homem lindo de morrer que só fala merda. Dissolve qualquer interesse na hora. Generalizando, a mulher de 26 prefere os homens com mais de 30. No mínimo, eles sabem o que querem da vida e como tratar uma mulher.


Aos 26 as preferências continuam as mesmas, sem tirar nem pôr. Mas elas pesam menos do que há 10 anos atrás. Nessa idade a gente costuma buscar estabilidade, segurança, confiança, carinho e compromisso, coisas que não são tão fáceis de serem encontradas em meninos de 20 anos. Tenho percebido como as coisas têm mudado com o passar dos anos. Não vou me assustar se daqui a 10 anos eu passar na minha rua e ver "meninos" de 25 anos sentados na porta, jogando gude, empinando pipa e brincando de carrinho, porque a tendência é essa.

Percebo hoje que muitas mulheres não conseguem estabelecer um relacionamento firme; outras até arranjam, mas não conseguem mantê-los; outras ainda conseguem manter, mas não tem noção do quanto seus respectivos companheiros aprontam com elas. Acho que esse amadurecimento tardio dos meninos tem refletido diretamente na vida social e afetiva de cada um. E tem levado ao surgimento de uma geração de mulheres que por um lado são independentes, exigentes (e tem que ser mesmo!) intelectuais, donas de si e de seus caminhos, bem sucedidas profissionalmente, mas que, por outro lado, não conseguem segurar uma relação, não por culpa delas, mas porque não encontram homens dispostos a viver a maturidade necessária a essa fase da vida. No final das contas, a gente prefere ficar solteira, porque antes só do que mal acompanhada, mal amada, mal valorizada e mal compreendida.



Paz e bem!
Marianne

terça-feira, outubro 21, 2008

Dona Ana Cristina: mais uma Pietà...


Deus realmente dá o frio conforme o cobertor. Tudo que nos acontece, por mais duro que seja, acontece porque Ele permite e sabe que suportaremos. Isso é muito difícil de compreender, porque na maioria das vezes enxergamos os acontecimentos puramente com os olhos da carne. Contudo, acho que com as mães, "mulheres de aço e flores" (como diz Pe. Fábio) que existem por aí, acontece diferente.

O post de hoje é curto. Surgiu de forma repentina. Não acompanhei nada do sequestro da menina de Santo André, soube apenas no sábado de toda a história. E hoje pela manhã, quando entrei no site da globo.com para poder tentar ficar por dentro das notícias (porque assistir telejornal ficou praticamente impossível), me deparei com um vídeo da declaração da mãe da menina. E confesso: humanamente, não consigo entender tanta resignação.

Queria ter a fé daquela mãe. Além de dizer que perdoou o algoz de sua filha, completou sua declaração: "...talvez Deus tenha feito isso para dar vida à outras 7 pessoas...". Senti forte a presença de Deus naquela mulher que tinha todos os motivos para gritar, esbravejar, chorar, estar entupida de tranquilizantes, pedindo aos prantos, a morte do psicopata que lhe tirou tudo, mas optou por ficar aos pés do caixão de sua filha, como Maria ficou aos pés da cruz de Jesus. Por isso ilustrei o post com a escultura da Virgem de Pietà, de Michelangelo. Tal qual Maria, Dona Ana Cristina chora, mas chora em paz. Chora porque é humana, mas lá dentro tem certeza que a ressurreição de sua filha já é realidade, mesmo que essa ressurreição aconteça na vida de outras 7 pessoas que ela nem conhece. Chora porque vai sentir saudade, mas encontra em Deus forças maiores para superar sua dor.

Em tempos de stress, de desespero, em tempos de pouca esperança, muita revolta e medo, as palavras de Dona Ana Cristina demonstram-nos que ainda existem pessoas de fé no mundo. Ela é um exemplo de fé e sabedoria a se seguir. Conseguiu enxergar os contrários da morte de sua filha. Não enxergou apenas a solidão, a dor, o fim de tudo; mas em sua entrevista coletiva, pôde demonstrar que conseguia ver além da cortina escura que a vida colocou à sua frente; conseguiu superar a cegueira característica daqueles que têm uma espada transpassada pela alma; conseguiu ver ressurreição diante do fim, e o que mais me tocou: conseguiu perceber o recomeço de 7 vidas na morte de sua filha.

Dona Cristina me ensinou muita coisa hoje sem nem saber. Seu olhar sereno envolto em uma dor profunda e contrita que somente ela e Deus podem ter noção... e por outro lado, muita paz dentro de si. Me faz sentir vergonha das pequeninhas coisas das quais reclamo, esbravejo, brigo com Deus... Me faz perceber que o meu sofrimento é uma gotícula de água comparado ao dela. Me fez ter coragem de ser mãe para, quem sabe, me tornar de aço, e não continuar sendo apenas "de flores"; as flores murcham, mas o aço nunca enferruja... E mais ainda: me faz entender que fé não é sentimento: é decisão!



Paz e bem!
Marianne

segunda-feira, outubro 20, 2008

Cada dia mais seleta... (se é que essa palavra existe...)


Sim. Ando cada dia mais seleta. Não porque sou melhor do que ninguém. Longe disso. Mas tenho buscado pessoas que me ajudem a ser melhor e não pessoas que me ajudem a pecar mais ainda do que já peco. Pode até ser que essas pessoas que andam aparecendo sejam "oportunidades" de exercício do cristianismo. Mas é que já tentei exercitar tanto, que ultimamente ando cansada de tentar exercitá-lo por questões um pouco óbvias: cansei de ser a palmatória do mundo. Então, para evitar maiores atritos e atitudes ditas anti-cristãs, prefiro ficar assim, como estou. Tipo, você pra lá e eu pra cá. Afinidade também é um tipo de química. Se não rolou até agora, é bem provável que não role mais. Ainda mais quando algumas atitudes confirmam tal ausência.


E falando em ausência... Queria aproveitar o ensejo para falar outra coisa (nada haver como o parágrafo anterior!). Ando muito ausente de alguns amigos. Lu, Maurílio, Su, Ana, Poli, Adri, o pessoal do ministério... não pensem que os esqueci, nem muito menos que o comentário acima é pra vocês, pelo amor de Deus (rsrsrs)! Sinto saudades das horas de papo no msn, de tocar com vocês, de sair nos finais de semana, de passar horas conversando no colegiado... Mas, eu tô aí ralando... na lida!!! Minha vida anda corrida mesmo, e aquela história de que "só não tem tempo quem não quer" não tá funcionando comigo não. Deus sabe como estou rebolando pra tentar dar conta de tudo, e ainda assim nem sempre consigo, sempre fica uma lista de exercícios de cálculo pra alguém colocar meu nome, ou coisa parecida. Gostaria que soubessem que eu lembro sempre de vocês e sinto falta. Não pensem que eu tô tirada porque voltei a ser estudante (grande coisa!!! ahsuahsuahsuahu) viu??? Espero que nas férias eu possa voltar a desfrutar de vossa companhia como outrora (uhh! q bunitu que ficou... rsrs!!!).


Paz e bem!
Marianne

sexta-feira, outubro 17, 2008

Um pouco de sabedoria divina...



"Eu não sei se Deus estará muito preocupado com esse monte de coisa que a gente costuma achar que o agrada. Eu acho q Deus está de olho mesmo é no tanto que a gente ama. Porque é o tanto que a gente ama que modifica o mundo. É o tanto que a gente se doa em pequenas partes, em pequenos gestos, é que faz a diferença na vida das pessoas. Pode observar: não é o tanto de vezes que você foi à missa, que você se confessou. Pode ser que isso não altere em nada a ordem das coisas. Mas é o tanto que a gente ama, é o tanto que a gente perdoa, é o tanto que a gente olha nos olhos, é o tanto que a gente não desiste! É o tanto que a gente preserva a vida nas pequenas coisas."
(Pe. Fábio de Melo, Cristo é o Show, 2008)

segunda-feira, outubro 13, 2008

Se eu pudesse viver minha vida novamente...

Muito minha cara esse texto... nem preciso tecer maiores comentários...


"Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percam o agora.

Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente..."


(Autoria discutível. Poema atribuído ora a Jorge Luiz Borges, ora a Nadine Stair.)

terça-feira, outubro 07, 2008

Por que as pessoas se casam?


Por que as pessoas se casam? Por que, um dia acordam e decidem morar sob o mesmo teto, compartilhar sabonetes e histórias, emoções, despesas e famílias? Por que sobem a um altar, se submetem a um padre, pastor ou juiz e a "n" testemunhas a fim de repetir um diálogo pra lá de mecânico, embora repleto de conteúdo?

Penso que, a priori, as pessoas se casam porque estão apaixonadas; porque um dia seus olhares se cruzaram, a onda bateu, o beijo encaixou, e ambos chegaram à conclusão que a vida fica bem melhor com o outro por perto, de preferência, bem perto. Talvez porque querem passar mais tempo juntos, dormir juntos, almoçar juntos, assistir a um filme às 2 da madrugada sem ter que se preocupar em voltar pra casa tarde, acordar juntos num domigo às 10 da manhã sem culpa. Porque se sentem bem na presença um do outro, porque pretendem ter filhos e formar uma família. Porque as dores e os problemas constumam ficar menores quando existe alguém pronto a compartilhá-los, as quedas costumam ser mais brandas, e as alegrias se eternizam no sorriso iluminado do outro. E se casam pensando que vai dar certo!


As pessoas também se casam pra poder sair de casa, por impulso, por dinheiro, por medo de ficarem sozinhas, por status, por coação ou por gravidez. Outras se casam por uma questão de protocolo. E ainda há aquelas que se casam porque seus pais os prometeram um ao outro ainda quando crianças, por conta de sua cultura. Há aquelas que se casam porque confundem amor com paixão, atração ou afinidade. E até estes se casam pensando que há de dar certo.

Há os que se casam plenamente convictos do de seus sentimentos e de tal ato, na certeza de que fizeram a coisa certa, de que escolheram a pessoa certa, que vai ser pra sempre, e seria muito bom se fosse assim sempre. Mas a gente costuma esquecer que nem sempre dá certo, pois se viver por si só já é algo arriscado, imagine ir morar na mesma casa com uma pessoa recentemente chegada à nossa vida, mesmo que esse recentemente sejam 10 anos, afinal ninguém conhece o outro por inteiro nem que se passem 50 anos... é como dar um tiro no escuro, apertar o gatilho numa roleta russa, jogar todas as fichas que se tem. É uma aposta na felicidade de uma vida inteira junto àquela pessoa que, diga-se de passagem, a gente mal conhece.

A gente também esquece que às vezes a gente erra na escolha, se engana, se equivoca; ou então o outro muda, ou a gente muda, e as circunstâncias também mudam; às vezes nossos atos nos traem, nossos erros causam estragos irreparáveis, e o amor acaba. Às vezes a gente se engana, acha que encontrou um príncipe ou a princesa, mas na verdade ele não passava de um sapo [ou de uma sapa], e às vezes o sapo somos nós mesmos a atormentar a vida do príncipe [ou da princesa]. Noutras vezes o próprio príncipe, num momento de síncope, escolhe inverter a ordem da história e resolve virar sapo...

Dizem por aí que se deve casar achando que vai ser pra sempre. Concordo. Mas não acho que o casamento deva ser um fardo a ser carregado pro resto da vida, até porque a gente erra e tem direito de recomeçar e tentar ser feliz de novo. Casou e não deu certo por motivos que só você sabe e sente? Ponto final e bola pra frente. Ninguém tem o direito de se condenar e condenar o outro à uma vida de infelicidade. Ninguém deve estar preso a alguém se isso for trazer tristeza e dor; ninguém tem obrigação de gostar da gente nem de manter-se preso se não há reciprocidade, senão casamento vira condenação, prisão, tortura, e Deus não nos criou para isso. Mas isso nem todo mundo compreende, sobretudo as pessoas mais carentes e egoístas. É questão de maturidade.

Não concordo com uma frase que diz que "se acabou não era amor, porque amor não acaba!". Pra mim, amor acaba sim! Amor acaba quando deixa de ser cuidado, regado, querido. Acaba quando é deixado de lado, quando torna-se secundário na vida dos envolvidos. Penso que os amores nem sempre são eternos porque estão sob a guarda de gente humana que nem eu e você; porque a gente erra e acerta, cai e levanta, mas sempre deixa resquícios de imperfeição no amor, e o acúmulo desses resquícios faz com que o amor tenda à finitude.


Por isso eu acho que, mais do que se preocupar em viver eternamente com a pessoa que a gente escolheu, devemos estar atentos ao cuidado cotidiano. Da mesma forma que nenhum sentimento nasce da noite pro dia, amor nenhum termina da noite pro dia; o amor vai sendo trucidado no cotidiano, talvez de forma despercebida, sutil e silenciosa. O amor morre quando as cobranças superam a compreensão, quando os problemas superam as pequenas alegrias, quando o orgulho supera o diálogo, quando o ódio supera o perdão. E quando, enfim, conclui-se mesmo que o amor morreu, não resta nada a fazer além de buscar em si os vestígios que ficaram dele e tentar restaurá-lo, primeiro dentro da gente, sob a forma de amor próprio, pra depois a gente seguir a vida...


P.S. (Aos blogueiros de imaginação fértil: não, eu não estou me divorciando...rsrsrs!!!!)


Paz e bem!
Mari

segunda-feira, outubro 06, 2008

Atenção: bata antes de entrar!



"Há pessoas que nos roubam...Há pessoas que nos devolvem...! "
(Pe. Fábio de Melo)


Sou o que alguns chamam de cismada. Outros chamam de chata. E outros, de insuportável mesmo. Mas, na verdade, meu atual comportamento não passa de uma espécie de proteção contra pessoas que, consciente ou inconscientemente, tentam me invadir de alguma forma. Essa invasão sobre a qual me refiro já foi assunto de um post aqui no blog, e por isso, não vou ser redundante. É só um lembrete aos desinformados. Então... às vezes eu só tô querendo ser legal, educada, diplomata... e tipo... o fato de eu estar sendo assim não quer dizer que eu esteja dando liberdade à quem quer que seja pra entrar na minha vida, na minha história ou em nada que se relacione diretamente à minha pessoa. Poupe-se de se enganar. Poupe-se também de ter que ouvir da minha boca que alguma resposta desagradável.


Caso você venha a achar que adquiriu esse direito de entrar da minha vida da forma que você quer entrar, faça o favor de se informar antes se esse direito lhe foi mesmo concedido. Ando muito seletiva, e prometo que vou pensar no seu caso. Mas, se a pupila não bater, sinto muito. Se eu realmente perceber que você não vai me edificar de alguma forma, que não há reciprocidade do quesito respeito e que, por acaso, você se constitua uma ameaça para meu bem estar psicológico e emocional, não vou aceitar você no meu rol de amigos. Afinidade numa relação pra mim é quase tudo. O resto vem com o tempo.


Por fim, não confunda educação com permissividade; intimidade é coisa sagrada. Deve ser conquistada. Procure me conhecer primeiro. De repente eu nem sou que você acha que eu sou... Outra coisa: tenho certeza que você vai ter certeza quando eu realmente estiver lhe dando espaço para que você entre. Mesmo assim, bata antes de entrar; eu posso lhe confundir com um ladrão...


Paz e bem!
Mari

quinta-feira, outubro 02, 2008

Questão de interpretação


Palavras são flechas que nem sempre têm alvo certo. Dependendo da nossa posição e condição, elas podem atingir locais não autorizados, ou soar de forma completamente diferente da intenção daquele que lançou-a por aí. Cuidado com o peso ou com a leveza que as palavras tomam quando nos alcançam. As marcas que elas podem deixar vão de um simples arranhão à um rasgo bem profundo.

Comecei falando nisso porque ontem à noite estava assistindo à TV Canção Nova, quando me deparei com um programa apresentado por Salete, e por falta do que fazer, me pus a assisti-lo. Estava mesmo precisando orar um pouco, e aceitei o convite dela. Ela iniciou a oração lendo o seguinte trecho do evangelho:


"Enquanto estavam andando, alguém disse a Jesus no caminho: "eu te seguirei para onde quer que vás". Jesus lhe disse: "As raposas têm tocas e os pássaros do céu, ninhos; o Filho do Homem, porém, não tem onde recostar a cabeça." A um outro Ele disse: "Segue-me"! Este respondeu: "Permite-me ir primeiro enterrar o meu pai." Mas Jesus lhe disse: "Deixe os mortos enterrarem seus mortos, mas tu, vai anunciar o Reino de Deus." Um outro ainda lhe disse: "Eu vou te seguir, mas primeiro premite-me despedir-me dos da minha casa. Jesus lhe disse: "Quem quer que ponha a mão no arado e olhe para trás não é feito para o Reino de Deus." (Lc 9, 57-62)


Depois de ler o texto ela começou uma oração que era direcionada para o ponto de que Deus tem que ser nossa prioridade de vida, o primeiro, sempre, independente de qualquer coisa. E eu concordo plenamente com ela. Mas aí, depois, ela começou a falar sobre a necessidade de renunciar nossos sonhos e planos para poder seguir Jesus. E a partir daí eu já não concordo mais. Como assim renunciar aos nossos sonhos e planos? Ela até ressaltou que quando Jesus falava tudo aquilo, principalmente sobre o homem que quis voltar pra se despedir da família, Ele não estava dizendo que não era para a gente não dar importância à família, mas colocar Jesus acima de tudo. E citou seu próprio exemplo: sua mãe se encontrava gravemente doente (sim, ela usou o termo 'gravemente'), mas ela não estava com a mãe e sim na "missão". Mas, vamos ser lógicos: se Jesus está presente em todos nós, sobretudo nos mais necessitados (enfermos, mendigos e tal), estar com alguém nesse estado também não seria uma forma de serviço ao Reino de Deus?

Durante muito tempo eu pensei e agi dessa forma. Deixei de estar "n" vezes com minha família e amigos por conta da "missão". Na maioria das vezes, colhi distância. Hoje eu penso diferente. Primeiro que o termo "missão" é muito relativo; nem sempre estar em missão é deixar tudo e sair pelo mundo falando de Jesus. Afinal, nem todos têm vocação para renunciar totalmente a vida para seguir Jesus; fosse assim, o mundo andaria meio bagunçado. Não existiriam escolas, nem hospitais, nem comércio... A missão da qual Jesus fala tem muitas dimensões. E eu acho que cuidar dos doentes não deixaria de ser uma. Levar Jesus ao nosso ambiente de trabalho, de estudo ou de diversão também pode ser considerada uma missão.

Ser mãe, pai, filho, padre, é missão! Pesquisar curas e soluções para o bem na humanidade é uma missão. Ensinar, educar é uma missão. Cuidar de alguém é uma missão. Ajudar os mais necessitados é uma missão. Orar por alguém, mesmo que dentro no meu quarto, é uma missão. Amar é uma missão! Acho que nosso maior desafio em ser missionário está em ser de Deus antes de tudo, porque a partir daí, tudo que se faz com o intuito de que as pessoas conheçam a Jesus e sua boa-nova é missão.

Quanto à renúncia dos sonhos... complicada essa expressão né? Presume-se que um meio de comunicação como a Canção Nova alcance milhões de lares e bilhões de pessoas, algumas bem resolvidas e esclarecidas outras não. Seria mais claro se ela dissesse que nossos sonhos devem ser colocados para o Senhor no intuito de que Ele possa guiá-los e que, se for de Sua vontade, eles venham a acontecer. Evitaria equívocos de compreensão e interpretação... E a gente não sairia por aí largando namorado, noivo, emprego, faculdade e tantas coisas sem ter certeza... Não estou julgando ninguém. Eu um dia quis fazer caminho pra uma comunidade de vida, pois achava que essa seria a melhor forma de seguir a Deus. Ainda bem que percebi a tempo que não era a minha vocação. Admiro quem tem coragem de arriscar, mesmo que um dia perceba que não era bem aquilo; recomeçar é atitude dos vitoriosos!

Volto a dizer. Palavras são flechas que nem sempre têm alvo certo. Podem alcançar alvos errados e causar bastante estrago. Estragos estes que nem sempre são fáceis de serem consertados. Por isso o silêncio ainda é uma arma tão poderosa e curadora. A Bíblia é perigosa a partir do momento que eu a interpreto da forma que eu quero. Por isso é preciso sempre examiná-la e interpretá-la à luz do Espírito Santo.

Desculpem-me se polemizei. Talvez tenha sido realmente essa a intenção. Termino com um trecho perfeito de um dos escritos do Pe. Fábio de Melo, desejando que o cerne da mensagem de Salette permaneça em nossos corações: Que Jesus seja sempre nosso referencial maior. Que Ele seja sempre a nossa prioridade. Mas, também, que tenhamos sensibilidade suficiente para perceber as outras formas de segui-lo e estar fazendo com que Ele seja nosso bem maior sem ter que parar a vida.


"Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que escolhemos dizer."


Paz e bem!
Mary

terça-feira, setembro 30, 2008

E a batalha apenas começou...


Passando mesmo só pra dar um oi e justificar minha ausência. Ando muito cansada. Durmo muito tarde e acordo muito cedo. Ainda tenho que dar conta de almoço, pratos e roupas sujas, marido, relatórios, problemas de família, aulas para preparar, provas e relatórios para corrigir, e o meu estudo particular, porque não adianta só assistir aula na sala... Tenho uma prova de Química Geral marcada pra semana que vem, mas que na verdade vem me tirando o sono há semanas (bem como a prova de Cálculo...mas, sobre isso, eu prefiro nem comentar...)!


Muita coisa tem acontecido durante esse tempo, até que surgem idéias, mas eu não estou tendo tempo de sentar na frente do PC e organizá-las, então elas acabam evaporando da mente pra dar lugar a números, átomos, moléculas, orbitais, teorias e teorias e teorias... enfim, até que eu me acostume com a química em si e com o pique da vida que ando levando, acho que não vou ser tão assídua por aqui, embora eu dependa mais de um ápice de tensão emocional do que de qualquer outra coisa para poder escrever... vamos ver como as coisas caminharão daqui por diante...!


Paz e bem!
Mari
P.S. (A professora de Química Geral disse que a prova será em dupla: eu e Deus... por favor, orem por mim!!!!)

quarta-feira, setembro 24, 2008

Marcante...


"O que deixo, o que marco em sua vida quando eu passo por vc?
O que os meus olhos confessam quando encontram com os seus?
Se eu deixo uma saudade boa pra lembrar, o que fica de mim? (...)

(Trecho da música "Voltei pra perguntar" - Pe. Fábio de Melo)


Adoro essa música do Pe. Fábio. Sua letra é perfeita. Ela me faz refletir o fato de que onde quer que passemos, independente de qualquer coisa, deixamos pedaços de nós na vida de alguém.

Às vezes são pedaços que mais parecem migalhas, de tão miúdos; outras vezes eles têm cheiro de amizade. Às vezes são pedaços grandes, como tijolos, e isso acontece toda vez que somos fardo na vida de alguém. Outrora, são lixo. Um lixo fétido, que até demora pra ser lançado fora. Algumas vezes apenas passamos pela pessoa, sem sequer dar um "oi", e só aquela presença temporária, o olhar, o sorriso ou a serenidade ficam de alguma forma.

Tem gente que passa e deixa perfume, flores, cores... Tem gente que passa só pra nos dar uma ajuda rápida com os livros que caíram no chão; depois somem de vez. Tem gente que passa, te olha e te chuta. E depois te olha caído no chão e te chuta de novo. Daí vai embora. E tem gente que passa e parece que bagunça a vida da gente toda, mas no final das contas, depois que a gente arruma tudo, percebe que se ela não tivesse passado a gente não seria melhor... A passagem é semelhante à de um tornado, e aquilo que a gente pensou que foi destruição, na verdade foi poda, pra que a gente pudesse aprender a viver a vida de outro jeito. De repente a pessoa nem era mesmo pra permanecer no meu cotidiano. Era só pra passar, e com sua passagem, cumprir sua missão na nossa vida.

Tem gente que marca, fica, fixa. Mesmo sem a gente saber o porquê, mesmo nem a outra pessoa sabendo que foi assim na vida da gente. E o tempo passa, mas a intensidade da presença permanece, mesmo na ausência completa. Mesmo sem ouvir a voz, sem olhar nos olhos, sem ver o rosto! Mesmo sem rir da cara do outro ou mesmo sem chorar juntos. O mais legal disso tudo é o jeito da gente ficar. Ou ficamos pela lembrança do olhar, do sorriso, da voz... do perfume, da música ou da comida preferida. O que fica de melhor são as lembranças de tempos que, embora não voltem mais, permanecem inalteráveis na memória de alguém que passou por você.


Paz e bem!
Mari

terça-feira, setembro 23, 2008

Tão humano, e tão divino!



Semana passada consegui o novo cd do Pe. Fábio de Melo, o "Vida". Achei que era um cd com músicas inéditas, e confesso que quando vi a relação das músicas, de cara, fiquei meio que decepcionada, pois eu não esperava regravações, ainda mais regravações de músicas que eu já tinha ouvido, reouvido e re-reouvido...


Pois bem, à medida que me pus a ouvir o cd, fui percebendo a forma impressionante com a qual o Pe. Fábio consegue ser Jesus na minha vida a ponto de fazer essas músicas do arco da velha ressoarem dentro de mim de forma tão diferente! Como ele metaforiza a vida de forma tão simples, humana, divina e perfeita! Não entendo o porquê. Não consigo entender. Letras e melodias que eu sei de cor há anos; velhas e conhecidas harmonias. Mas agora é diferente. A canção já entrou me transformando. Trechos que outrora passaram despercebidos tomaram significado, a interpretação tendeu à contextualização imediata. A cada frase, eu percebia uma libertação. Chorei muito. Percebi como tenho sido lapidada, e Pe. Fábio está sendo instrumento desse processo em meu viver.

Não tenho dúvida que Deus usa pessoas para alcançar outras. Deus fala no Pe. Fábio, canta no Pe. Fábio. Sim! Já vi, por tantas vezes, Deus chorando no Pe. Fábio... Vi Deus sorrindo por seu sorriso mineiro, desajeitado. Deus poetizando a partir de cada escrito seu; palavras transbordadas de um coração tão humano e tão divino. Vejo Deus nos amando a cada música sua, a cada pregação sua, a cada palavra de consolo ou de exortação, a cada olhar, a cada roupa bonita que ele usa, a cada sorriso desse homem filho do céu. E, embora ele cante que "Deus enxerga o profundo e ele insista em ver à margem", eu discordo; acho que ele tem o dom de ver além. Não fosse assim, ele não nos falaria tanto, sobretudo quando explicita a vida em seus contrários... que sabedoria há nisso!

Mas o que mais me encanta mesmo, é perceber que a presença de Deus nele é tão intensa e constante, que ele consegue falar de Deus e do Seu amor mesmo sem ser literal. Mesmo cantando músicas seculares ou poetizando versos que nem no nome de Deus toca. É onde o paradoxo do humano x divino se encaixa. Sabe por quê? Porque tudo depende do jeito que se quer enxergar as coisas...

Pe. Fábio é autêntico. Ele não precisa usar batina e crucifixo pendurado no pescoço, nem viver num convento, enclausurado, pra poder transparecer Deus. Ele é bonito sim, se cuida, malha, que mal há nisso? Não sei porque associaram beleza ao profano; existe um abismo bem grande entre se sentir bem, estar bem vestido, bem arrumado, e ser vaidoso. Beleza não quer dizer nada. Menos ainda a ausência dela quer dizer santidade. Estar em Deus não se condiciona à essas superficialidades. Deus olha a história de vida, o coração, a intenção. Pe. Fábio descobriu isso e tem nos revelado com singeleza e autoridade. Tudo mais, é mero detalhe que pode até ser levado em conta, mas não da forma que nós achamos que será levado. Sabe por quê? Porque nós temos a mania de achar de Deus pensa, age, sente e julga como a gente. Agindo assim, a gente subestima a magnitude e sobretudo a misericórdia dEle.
Sei que Pe. Fábio nunca vai ler isso, mas mesmo assim, peço permissão à ele para parafraseá-lo. Queria apenas dizer-lhe que "seu jeito finito de ser Deus me revela Deus, com seu jeito infinito de ser homem...". E queria agradecer-lhe por tudo.
Paz e bem!
Mari

sexta-feira, setembro 19, 2008

Análise


Cá fora as coisas são diferentes. Nem todo mundo nos ama, nem todo mundo deseja nosso bem. Nem todo mundo é igual à gente, nem igual ao que a gente tá acostumado a ver e a conviver. Nem todo mundo é confiável, nem todo sorriso é sinônimo de sinceridade e empatia, nem toda mão estendida tem intenção realmente de te levantar.

Cá fora faz frio e às vezes nenhum cobertor consegue esquentar a gente. Os tombos são muito feios, incomparáveis aos tombos no pé da mesa ou na pedra do quintal. Os tapas não são aqueles em forma de palmadas na mão ou na bunda, as bofetadas não são na cara, nem os puxões de orelha são pra nos corrigir. Não são palpáveis, não machucam a carne, e às vezes a gente preferia que fosse, porque porrada no corpo dói menos que porrada na alma.

Cá fora não há ninguém por nós, além de Deus e os pouquíssimos que nos amam. As noites parecem ser mais longas, os dias mais curtos. As dores são mais fortes e intensas, mas somente até nos acostumarmos com ela. Depois disso, parece que ela internaliza de tal jeito, que se torna parte de nós. A gente começa a entender o significado de muitas coisas que outrora passavam despercebidas por nós. Começa a dar valor ao professor de matemática do ensino médio, às ternas noites de sono, às tardes de bobeira na frente da TV, ao pai e à mãe, àquela cama macia e àquele almoço que, embora tivesse o cardápio repetido todos os dias, era o mais delicioso do mundo.

Cá fora a gente conclui que o mundo é cruel e que, como diz Sheakeaspeare, além de destruir várias coisas em nós, ele não pára pra que a gente conserte nada. Na marra a gente aprende que, mesmo quando fazemos alguma coisa levados pela intensidade do momento, temos que arcar com a responsabilidade de uma possível consequência, e isso é muito sério, já que voltar pra consertar depois é quase impossível. Aprende que a grande maioria das pessoas são egoístas, corruptas, invejosas, pretenciosas, e que a minoria, se não estiver presa ao olhar de Deus, tende a seguir o mesmo caminho. Cá fora a gente percebe o quão duro é ser adulto, e aprende que se a gente não conseguir gerenciar tanta confusão, a gente acaba enlouquecendo.

Cá fora a gente aprende o valor da presença e da ausência. Descobre que algumas pessoas são mesmo imprescindíveis, mas que outras, realmente, não fazem falta. E que ainda existem outras que precisam estar longe para serem sentidas de perto. Percebe que a vida é um eterno ir e vir, como disse algum poeta por aí; que amigos chegam e partem, alguns porque mudaram de cidade, outros porque não se fizeram pertencer à nossa cidade interior, já que não nos acrescentaram coisa alguma, nem contribuíram para a edificação do nosso interior.

Cá fora a gente se acostuma com a idéia de que nem todo mundo vai com a nossa cara de cara, e que o mínimo que a gente pode exigir do outro é respeito, mas sem certeza de que este nos será concedido. Aprende que as quedas fazem parte, e mais ainda: que elas são inevitáveis. Mas, relaxe! Depois da primeira, nossa atenção às pedras do meio do caminho tendem a redobrar... e não é que vai ficando cada vez mais difícil tropeçar de novo, mas sim, vai ficando mais difícil tropeçar na mesma pedra, o que não quer dizer que tropeçar na mesma seja impossível.

Cá fora a gente lida com coisas tipo saudade, um sentimento que até hoje eu não sei descrever direito. Saudade vai bem além da falta em si, ela bate lá naquele lugar que a gente não consegue apontar, sei lá, não tem explicação.

Cá fora, por vezes, a gente sente vontade de sumir, de ser abduzido ou voltar ao útero da nossa mãe nos dias em que nada dá certo, mas logo se toca que ET's não existem, teletransporte também não, e que, se for pra voltar a estudar física e matemática de novo, deixa quieto!
Cá fora a gente percebe que as crianças crescem e não há como conter isso nem preotegê-las por muito tempo daquilo que há de vir. Percebe que a gente envelhece e que, na verdade, quanto mais a gente vive, mais a gente morre.

Cá fora sem Deus, não dá. Ou a gente se perde, ou surta ou vegeta. Cá fora Deus tem que ser a razão de viver da gente, porque só Ele nunca decepciona, nunca condena, nunca muda, nunca nega consolo. Essa instabilidade do lado de fora perturba, incomoda, dá até medo. Mas, se Ele tá com a gente, cá fora vira cá dentro; e "cá dentro" é assunto pra outro post.

Paz e bem!
Marianne

quarta-feira, setembro 17, 2008

Depois da tempestade... a bonança!


Tempestades nem sempre causam apenas destruição. Basta um olhar mais atento pra gente perceber que depois dela sempre vem o estio. Aguçar a sensibilidade pode ajudar nessa percepção. Às vezes essa tempestade tarda a passar ou passa num piscar de olhos. Às vezes pode ser só uma chuva forte, ou pode vir acompanhada de relâmpagos, trovoadas e ventanias.


Tempestades quando chegam, mexem com tudo. Revolvem a terra, agitam as águas de rios e mares, arrancam árvores e telhados de casas... mas depois que ela passa, se a gente se esforçar, se não ficarmos parados olhando somente para os estragos, a gente consegue perceber a grama mais verde, os rios mais cheios, e as manifestações da natureza: as borboletas, os pássaros, as formigas saem de suas tocas... Apesar de irracionais, estes pequenos bichinhos exemplificados aqui sabem que não adianta ficarem olhando para os estragos causados pela chuva forte. Sem pestanejar, eles se põem a trabalhar, a colocar as coisas novamente em ordem, recomeçam porque, de alguma forma, eles percebem e se encontram nos contrários da vida...


Quem consegue enxergar que um remédio de sabor amargo, apesar do sabor amargo, traz a cura, que a dor do parto, apesar de intensa, traz uma vida ao mundo? E quem diria que a morte de Jesus nos traria a vida! Quem poderia prever tal antítese?

Nosso problema é dar atenção demasiada à tempestade mesmo depois dela já ter passado. Vivi isso essa semana e, por pouco não deixei passar a graça de uma enorme cura na minha vida. Depois que tudo passou, percebi que a tal chuva torrencial que eu julguei tão danosa, levou consigo alguns entulhos interiores que minhas próprias forças não conseguiam remover. Deus precisou usar da agonia, mesmo que momentânea, para me purificar um pouco. E eu dou graças à Ele porque Ele me deu sensibilidade suficiente para perceber isso e não me prender no estrago interior que a tempestade me causou.


Nada é em vão. Nem a nevasca que atordoa seu coração. Nem mesmo aquele chuvisco que, mesmo fininho e sutil, não passa nem um minuto. Até o pior furacão tem o seu porquê na nossa vida. Quero sempre estar atenta à perceber o que vem além de tudo isso. Mas, de uma coisa eu estou certa: tudo passa! Um dia passa. Pode demorar, mas passa.


Paz e bem!
Marianne