sábado, setembro 26, 2009

Passagem.


Mas por que raios manter tantos sinais e marcas de determinadas coisas?... Pra passar por elas e tentar fingir que não as vê? Ou pra vê-las e tentar fingir que não passam?...

quarta-feira, setembro 23, 2009

Pagar pra [vi]ver.


Ponderados ou insconsequentes, tanto faz. Pagaremos um preço de qualquer forma. Caro ou barato? Impossível saber. O valor de cada um é imprevisível. Mão no bolso da alma: no final das contas, independente da escolha, sai muito mais caro, porque a gente acaba pagando duas vezes: pra ver e pra viver.

terça-feira, setembro 22, 2009

Jogo da vida.


Entendeu razoavelmente tarde que a vida é um jogo. Um grande e complexo jogo, com ponto de partida, peões, cartas e regras [entre as quais voltar as casas não é permitido], num tabuleiro chamado 'mundo'. Se achava velha demais pra entrar nele, mas descobriu que a faixa etária é indeterminada. Qualquer um pode participar. A única exigência é estar vivo e ter coragem de entrar. E quando concluiu isso, parou pra se perguntar se ainda estava viva. Não obteve resposta. Ou não quis. É duro olhar e perceber sangue correndo, coração batendo, cheiro, sabor, movimento, e não encontrar sentido em nada disso. Entendeu também que nesse jogo, nem sempre a gente escolhe a cor do peão, nem sempre os dados nos favorecem, nem sempre as cartas nos elegem... e passou a achar até que tanta tristeza, tanta decepção, tanta dor, vêm justamente da eterna espera pelo dia em que chegaria ao provável ponto de chegada. Vitória. Mas, parou e pensou de novo: será que vencer não é recolher os cacos a cada anoitecer, passar a madrugada em claro tentando colá-los, ter força pra amanhecer, dolorida por inteiro, e ainda assim continuar...?

segunda-feira, setembro 21, 2009

Probabilidade.

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada."

(Clarice Lispector)


Cansei de viver de probabilidade. Quem vive dela é estatístico e geneticista, e, diga-se de passagem, não sou lá muito fã nem de um nem de outro. Cansei dessa coisa que 'pode ser'. De verdade. É cultivo de incerteza demais pra uma vida só. A gente se torna especialista em insegurança, indecisão. Impreciso, inexato. Enquanto isso a vida escorre por entre os dedos. Por isso, quero viver agora de oportunidade, de presente, de lances concretos. Não quero mais mensurar consequências. Quero viver...

domingo, setembro 20, 2009

sábado, setembro 19, 2009

Voar.


"Meu vício agora é o passar do tempo...
Meu vício agora, movimento, é o vento... é voar..."
(Kid Abelha)


... e assistir a gravidade reversa do meu pensamento,
seguida do correr enlouquecedor desse sujeito chamado tempo...

sexta-feira, setembro 18, 2009

Carta ao meu superego.



Boa noite, superego.

Estou te escrevendo em tom de despedida pra te dizer que entre nós está tudo acabado. Eu poderia usar o advérbio "infelizmente", afinal foram mais de 20 anos de convivência constante e ininterrupta, mas diante do alívio de estarmos rompendo, prefiro apenas expirar. Eu também poderia dizer tudo isso olhando em seus olhos, mas por tudo que aconteceu, acho que você não merece fitar os meus. Não posso negar que você foi importante em vários momentos da minha vida, me livrando de alguns apertos e roubadas, e esteja certo de que levo muito aprendizado consigo, mas também não posso esconder toda mágoa que tenho pelo fato de você ter me impedido de viver a vida de uma forma, digamos, mais leve. Sim, você foi um grande peso na minha vida. Você confundiu o respeito que eu nutria por você de tal forma que quis ser meu juiz, meu dono, meu ego. Isso desgastou demais nossa relação, que na verdade se bastava na grande ilusão de que você era fundamental, quando na verdade, hoje eu sei, você até que é importante sim, mas em doses homeopáticas. Mais do que isso é veneno, e pode até matar. Mas agora, querido superego, acabou. Depois que percebi o quanto você é cruel, decidi pular fora, antes que o processo de escravidão se agrave e eu entre em estágio de alienação severa. Romper contigo vai fazer com que eu me desvele, e quem sabe, até me desmanche também, e eu sei que isso vai assustar muita gente, sobretudo aquelas que te têm como um bichinho de estimação.

Creio que viver sem você não será tão desastroso quanto eu pressupunha antigamente, posto que, embora não pareça, eu tenho raízes. Só quero crescer um pouco pra cima. Portanto pode ir, vai pela sombra, pode carregar o que quiser, mas só te peço uma coisa: devolve a minha paz, que há tanto você levou, escondeu, ou sei lá o quê.

Se quiser voltar pra visitas esporádicas, sinta-se à vontade, e pode até se manifestar, mas não se decepcione se eu não te der mais atenção: é que agora, a sala de visitas da minha vida, só tá receptiva pro meu coração...

quinta-feira, setembro 17, 2009

Saudade.


Sentada na beira da janela, na calada madrugada. O vento frio que me visita traz consigo uma saudade que nem tem tamanho, porque abstração não se mede... Nas fotos e nas músicas, lembranças de tantos verões e invernos, de tantos momentos, de tanta gente! Gente que passou, mas não conseguiu ficar, gente que partiu e não mais quis voltar, gente que sequer chegou, gente que ficou mesmo tendo partido... Saudade. Sentimento em branco e preto que colore minha história, que mesmo sem aparente concretude é um dos motores da minha existência e prova da intensidade de pessoas e momentos sobre mim. Tudo passou, mas ainda percebo tudo aqui, impregnado de uma constância absurda de amor; o que deu pra agarrar eu agarrei, e hoje é coisa que já entranhou na alma, e nem a crueldade do tempo consegue arrancar de mim, porque, como disse a célebre Adélia Prado: Aquilo que a memória amou ficou eterno.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Sobre essa coisa que eu não sei o que é.


Parece uma espécie de vácuo, que vem sugando tudo quanto é tipo de sensação boa que surge na gente, que faz questão de vomitar ferrugem na nossa cara, de varrer da nossa alma os resquícios de felicidade, que invade sem pedir licença e deixa fragmentos de alma escapar pelas frestas da janela da existência. É por isso que a gente se sente vazio, pequeno. A gente vai se perdendo minusculamente, sem nem perceber. Quando se dá conta, já foi um bom pedaço. Essa coisa que eu não sei o que é torna a vida densa, pesada, é pedra no calcanhar, é mordaça de alma que só sabe chorar. A impressão que deixa é a pior possível, porque nos arranca de nós mesmos, e faz a gente acreditar que nada, nunca, vai ter fim. É aí que vem o desespero, que nada mais é do que o medo dessa eternidade absoluta, onde não se espera mais nada, porque não adianta; o que já se eternizou é imutável. Esperar o quê, então? Frustração. O tanto que a gente esperou, [parece que] de nada valeu.

domingo, setembro 13, 2009

Essa [minha] voz.

Essa voz que sai daqui de dentro não é um simples som emitido por cordas vocais. Ela é feita de notas que vêm de dentro, claves presas no cerne da alma, pautas cheia de pausas que nem a própria vida sabe explicar. Ela é feita de acordes, ora afinados, ora desafinados que pegam carona em harmonias de um solfejo desconcertante, notas que passam e se transformam em melodias executadas no concerto da existência. Ela é feita de neumas arranjados num prestíssimo improviso quando a dor nos deixa sem rumo ao levar da gente a partitura da vida...

Essa voz não pode ser uma mera vibração muscular. Não. Ela é feita de longos intervalos, alternância dinâmica entre noites e dias, bemóis e sustenidos. É feita de escalas que vão do mais grave sofrer à mais aguda alegria. É feita de tons dissonantes e ressonâncias, que acalmam aquilo que o tempo não consegue acalmar...

É na cor e na extensão dessa voz que eu vou, nesse ritmo exorbitante, nessa sinfonia pulsante, de mãos dadas com o côro de todos os que se predispõem a serem música na minha vida. Mas também me perco em compassos desalinhados e complexos, que por tantas vezes me obrigam a virar a página da minha partitura e começar a cantar tudo outra vez.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Compreensão.


A gente diz pra todo mundo, grita por aí, brada em alta voz que o que a gente quer é ser feliz. É viver de sorriso na cara, brilho nos olhos, doçura na fala... Mas lá no fundo eu ainda acho que muito mais do que simplesmente ser feliz, a gente quer compreensão. Quer que os outros olhem pra gente e digam mesmo, na cara: "porra, velho, eu te entendo." Acredite. Não tem coisa que acalme mais. Pacifica, enternece. Mesmo quando não há nada a ser feito.

terça-feira, setembro 08, 2009

Carta a um homem que não existe.

Você não existe. Por quê? Ora, por quê... Porque não existe e ponto! É lindo de morrer, estudioso e educado, toca violão e é super modesto, sonha em se formar, trabalhar, casar e ter filhos [tudo necessariamente nessa ordem], enfim, um fofo!... Se for bom de cama, fecha o pacote completo! Talvez isso nunca tenha sido algo comum, e não é agora que ia ser diferente. Ou seria, sei lá, não fosse o século XXI e suas roupagens, não fosse a era do homem que alimenta sua Síndrome de Peter Pan, vivendo uma adolescência eterna, competindo pelo maior número de mulheres diferentes com quem se faz sexo, bem como a melhor habilidade em não ligar no outro dia e não se importar com nossa TPM, nossas necessidades e os respingos de xixi na tampa do vaso sanitário. Mas, voltando a você...

Eu bem que achei que você era um anjo, um anjo sem asas, é bem verdade, um anjo mundano, lindamente humano, mas depois percebi que anjos existem, e, portanto, não se encaixaria à minha definição inicial. Além disso, você também me disse que de anjo não tem nada, e eu sorri, sem querer te contrariar, porque lá no fundo eu acho que você tem sim um "quê" de anjo, que não sejam asas, nem auréolas, nem roupas brilhantes ou sexo indefinido, mas um quê de raridade, de singeleza e beleza singulares, [difíceis, bem difíceis de se encontrar nesse mundo], que talvez nem todo mundo consiga perceber de cara, porque seu rosto desenhado, seu peito torneado e sua barriga de tanquinho [realmente] conseguem ofuscar qualquer tentativa de visão além do alcance. Mas se você realmente existir, anjo, não muda não! Não perde essa essência boa e encantadora que te trouxe até aqui e que, se você cuidar direitinho, vai contigo pro resto da vida.
Eu nem te conheço, e talvez se conhecesse nem te escreveria essa carta porque (acredite!!!), convivência é uma das coisas mais reveladoras que existem. Se eu te conhecesse, acho que seríamos bons amigos. Ou não...rs! Não sei. E talvez nunca irei saber. Afinal, você nem existe...

segunda-feira, setembro 07, 2009

Descrita por Fernanda Young.

"(...) Mas não vou negar que tenho esse talento para o lado mais sensível, para as partes mais chatas da vida, e isso me deixa exposta a mais ataques emocionais que os outros. Sou completamente ansiosa. Mas também sou inteligente e, assim, faço da minha ansiedade uma motivação artística. Vindo a me tornar o que sou: uma artista da vida real. Uma espécie de atriz performática full time, o tempo inteiro atuando para o mundo exterior, só que secretamente uma cientista, pesquisando todas as reações à minha atuação. Fico espionando, e catalogando na minha cabeça, tudo, nos mínimos detalhes. O tudo que agora revelo, em primeiríssima mão, para você. Então bem-vindas as minhas oscilações, pois serviram para alguma coisa. Bem-vindos os meus achaques, já que se tornaram texto.(...)"


(Fernanda Young)

sábado, setembro 05, 2009

Parece...

Já foi o tempo que noites estreladas eram sinal de dias claros. Já vi tempestades chegarem num piscar de olhos num dia de céu azul e sem nuvens. Quem vê cara não vê coração. Títulos não são exatamente unívoco de inteligência. Palavras bonitas nem sempre são sinônimos de veemência. Altares e palcos nunca foram garantia de salvação. Denominação religiosa nem sempre denota pureza de coração e intimidade com Deus. O que conta mesmo é o que tá lá dentro, o que ninguém vê, o que só é alcançado pelo Pai do céu. O que conta é o amor que se pratica e dissemina, é a mão estendida, a ferida que se ajuda a cuidar, e isso independe de rótulos, títulos e convenções. Isso é bíblico, o próprio Jesus já havia dito em forma de parábola: a do bom samaritano. O que conta é ser inteiro, ser sincero, ser translúcido, ser você. Ao final, capas e máscaras sempre caem...

quinta-feira, setembro 03, 2009

Abstrato.


Se te assustas comigo, compreendo. Não deve ser mesmo tão fácil se deparar com silêncios que gritam, com almas que se materializam, e muito menos com imagens que pulam do espelho...

terça-feira, setembro 01, 2009

Sol de Primavera.



Sol de Primavera
Composição: Beto Guedes e Ronaldo Bastos

"Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez...

Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar...

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer...

Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cór
Só nos resta aprender
Aprender..."