terça-feira, abril 30, 2024

Talvez.


Foi lindo porque era a gente... e não há dúvida sobre isso. E nunca mais será tão perfeito, tão mágico, tão imenso, tão intenso, tão tudo... simplesmente porque não seremos mais nós... 

Talvez nos procuremos em bocas, peitos, cheiros e olhares outros, mas nunca nos encontraremos, porque nossa história se imortalizou nos momentos únicos e inéditos que nós protagonizamos. Nós. Apenas nós. Únicos. Irrepetíveis. Tão loucos e ao mesmo tempo tão impérfidos... nós... morando eternamente naqueles segundos impassíveis de serem apagados, substituídos ou sequer superados.  

Talvez encontremos outros abraços, outros beijos, outros sexos, outros corpos... e quando nos despirmos de nossas roupas diante deles, nossa retina se negará a fotografar coisa alguma, pela total falta de sentido que isso fará... eles nos serão sempre estranhos, e no breu do fechar das nossas pálpebras enxergaremos apenas um ao outro, encerrados na memória perene que impede que um amor da magnitude do nosso caia em meio ao vão de um vácuo qualquer.

Talvez sigamos caminhos diferentes mas é certo que em algum momento da eternidade eles se cruzarão em um único novamente; almas afins estão destinadas a se encontrarem em algum momento, e essa é a razão pela qual sinto paz, mesmo estrangulada de saudade. 

A carruagem do tempo não para, e não há como saltarmos com ela em movimento. Não há escolha outra senão caminhar em frente, coluna reta, peito empinado, olhos fixos no horizonte, ainda que o coração permaneça parado na estação da nossa breve história desta encarnação. Mas o tempo, ele é sábio, e nos conduzirá um ao outro quando a urgência das nossas almas irromper o véu dele mesmo. Então, enfim, nada nem ninguém nos deterá. Pra todo o nosso sempre.

segunda-feira, abril 15, 2024

Irrevogável.



Diga-me: já estamos no inverno? Perdi um pouco a noção do tempo depois que a primavera nos abandonou. Se souberes, responda-me também: em que ponto da sua órbita a Terra estaria mesmo? Mais longe ou mais perto do sol? 

Pergunto, pois os dias têm sido amenos. Já as noites têm me engolido com seu silêncio profundo e atroz. Deito-me e, dentre tantas certezas, me deparo com uma aparentemente irrisória, mas que traz paz e me faz adormecer: na grade das existências pretéritas, estamos desde sempre enredados às teias do destino. E isso é tão imutável quanto irrevogável. 

Ainda assim, sigo derramando amor na paisagem bela da tua face que cruzou meus dias... como olvidar o fato de que ambos fomos resgatados dos nossos respectivos obtusos mares de viver? Se fomos presenteados com a dádiva do reencontro, por que permitimo-nos nos perder? 

A outra certeza que me assola, a de que a força mais poderosa do universo nos une onde quer que estejamos, me acalenta. Estamos ligados pelos séculos sem fim, porque o amor é eterno e seus laços, indestrutíveis. Sigo reinventando uma forma de sobreviver por pura falta de opção. E se, em breve, não refizermos o nosso caminho, aceitarei tal agrura infligida a mim pelo teu livre-arbítrio. Não temo; eu vou te esperar na esquina mais florida e iluminada da nossa próxima existência...