sexta-feira, dezembro 28, 2007

Feliz Ano Velho


Desculpem-me, caros blogueiros, mas eu não ando muito à vontade para desejar feliz ano novo a ninguém. Nesse último mês tive um déficit significativo no quesito 'esperança', de modo que, do novo ano que se aproxima, não espero nada, além de que eu continue viva.

É estranho, mas eu tenho a leve sensação de que os 'anos velhos' foram bem melhores do que os 'anos novos'. Os anos mais antigos da minha vida me são mais significantes do que os recentes. Talvez um dia, quando esses anos recentes se tornarem antigos, passem a ser tão significativos na minha vida. Mais uma vez, volto a me sentir culpada por pensar assim, já que em 2007 não me faltou saúde, nem momentos alegres, mas a velha satisfação, aquela que me era tão comum há 10 anos atrás, anda distante de mim.

Paz e bem,
Marianne

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Inverno prorrogado

Faz tempo que eu não choro. Mesmo diante de tudo que ando passando, mesmo com esse constante nó na garganta , mesmo com essa angústia que não teima em passar, não consigo chorar. Parece que minhas lágrimas petrificaram. A dor é tamanha dentro de mim, que dói até chorar. Dói pensar, dói tudo. Por isso eu prefiro dormir. Alivia, faz esquecer. Mas, não me engano. Esse meu estado é preocupante. Lágrimas petrificadas supõem que o inverno interior permanece, e tem se tornado cada vez mais rigoroso. Espero não me tornar uma pessoa amarga e fria.


Paz e bem!
Marianne

terça-feira, dezembro 18, 2007

Então... já é Natal!

Fim de ano. Já estamos às portas do Natal. O tempo anda passando rápido demais, nem parece que 2007 começou ontem, e agora já finda.

Eu até que gosto da época do final de ano. O clima é legal, as ruas ficam bonitas, enfeitadas de toda forma, cheia de luzes e piscas-piscas. Mas, quando chega o dia de Natal, instaura-se em mim uma tristeza sem fim. Fico melancólica mesmo, angustiada. Eu sei que é a data que simboliza a chegada do Salvador ao mundo, e isso muito me alegra e me traz esperança ao coração. Mas o desenrolar dos dias que antecedem o Natal, são extremamente tristes.

Confesso que o Natal deixou de ser Natal pra mim faz anos, desde quando eu comecei a perceber que a hipocrisia e a maldade, disseminadas durante todo o ano se camuflam diante do nascimento do menino Jesus, dos enfeites, dos presentes, e se ofuscam diante da iluminação natalina. Sem falar nos discursos de fraternidade, paz e amor, que, temporariamente, tomam a mídia, os outdoors, e a boca de todo mundo. Me sinto mal em saber que o Natal perdeu e vem perdendo o seu significado ano após ano. Virou sinônimo de banquetes e presentes... Descobriram que é a época ideal para a disseminação do consumismo e do comensalismo sem limites. E no meio disso tudo, o real sentido do Natal se perde, fica escondido. O pequeno menino Jesus se perde no meio das palhas da sua humilde manjedoura. A gente passa por ele nas ruas, nos becos, nas portas dos supermecados... ou Ele até bate em nossa porta e nós, ocupados demais com o presente do amigo oculto ou com o cardápio da ceia, não o damos a devida atenção.

A roupa vermelha e branca do papai-noel já não me encanta mais há muito tempo, aliás, eu não gosto muito dele por ser uma figura criada em prol da burguesia capitalista. Um sujeito que se denomina "bom velhinho", mas que passa longe das favelas e dos mendigos, dos pobres e miseráveis. Um cara que só frequenta as chaminés daqueles que detém algum poder aquisitivo. Uma realidade que vai de encontro à festa cristã que iremos celebrar.

O Natal já bate às portas, e eu gostaria apenas de pedir ao Jesus que nasce, que Ele possa aumentar minha fé que anda tão desgastada. Quero pedir à Ele que cuide das pessoas que mais precisam dele, e acho que nem precisa eu pedir, pois tenho certeza que são os lugares onde Ele se faz mais presente, lá, onde habita a humildade e a pobreza, onde moram os seus filhos que sofrem e sofrem por causa da desigualdade disseminada pelo nosso sistema. Mas, vou reforçar o pedido...rs! Quero ainda desejar um Natal cheio de paz. Que as possíveis reconciliações sejam pra valer, que durem, pelo menos, até o próximo (rsrs), e que possamos enxergar na simples mangedoura, o real significado do Natal, e mais ainda, o real sentido da vinda do Salvador ao mundo!


Paz e bem,
Marianne

sábado, dezembro 15, 2007

Ainda em crise existencial

Essa noite eu não dormi. Quer dizer, dormi. Mas era um dormir estranho. Depois de me atolar no PC até as 2 da manhã, completamente sem sono, deitei para tentar descansar o corpo e a alma, mas não obtive tanto êxito. É estranho ter que descrever isso, mas eu vou tentar. Era como se eu estivesse dormindo, mas ligada, com um mínimo, muito mínimo mesmo de consciência. Tanto que até o zumbido de um pernilongo frenético me fazia despertar. Mil coisas na cabeça. Nem os sonhos são diferentes daquilo com que eu ando me preocupando ou vivendo. Acho que entrei em crise de ansiedade de novo.

Acordei, graças à Deus, para mais um dia de vida que tem tudo pra ser diferente dos outros 320 e poucos desse ano de 2007. Lembro que antes de tentar adormecer essa madrugada, pensei que deveria parar de pensar muito nas coisas e viver... aproveitar o dia, o hoje, enfim, esse meu discurso que eu luto pra pôr em prática todos os dias, mas nem sempre dá... eu até tava aprendendo a fazer isso, aliás, esse ano aprendi muita coisa, mudei mais nos dois últimos anos do que durante a minha vida toda. Mas, que droga, logo o dia amanhece e os pensamentos e sentimentos de angústia e ansiedade voltam a me tomar. Sou refém de mim mesma. E fica até parecendo que eu não tô aberta a negociação, mas não é verdade. Se meu travesseiro lesse meus pensamentos e falasse, bem saberia o quanto ando me esforçando para sair dessa crise existencial. Todas as noites, na hora de dormir, faço uma análise geral do meu dia e da minha vida, e traço metas para ser melhor. Porém, confesso que te às vezes me pego a pensar que vai ser assim pra sempre. Que a gravidade, como citou minha amiga Ana, vai agir sem piedade por mais um bom tempo. Diante da falta de força, eu sou tentada a me resignar. Cair na conformação talvez seja um dos piores estados do ser humano. Tenho medo de fica assim pra sempre...


Termino parafraseando Caio Fernando Abreu, trecho ímpar, capturado de um blog durante minhas navegações noturnas. Ela é a forma mais perfeita que encontrei para terminar esse post.


Paz e bem,

Marianne


"E se eu mudasse meu destino num passe de mágica? (...) Estranho, mas é sempre como se houvesse por trás do livre-arbítrio um roteiro fixo, pré-determinado, que não pode ser violado."

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Já quis muito ser perfeita... hoje, quero apenas ser possível!


A cada dia que se passa me convenço que a vida é, na verdade, uma belíssima experiência que Deus nos proporciona, a fim de nos fazer compreender que nada é perfeito ou exato, nem nós mesmos, por mais que acreditemos ou que tentemos ser. É paradoxo. Nela, existe um ápice de perfeição que imediatamente converge para a imperfeição. Observe as ligações químicas que formam moléculas essenciais, a reprodução celular, os ciclos vitais, as flores e frutos, as quase infinitas espécies animais, as diversas reações aos mais variados estímulos... Observe a complexidade dos órgãos do nosso corpo, dos raciocínios e das ciências desenvolvidas a partir da inteligência humana. Tudo isso se desfaz, perde o sentido de perfeição diante de um átomo fora do lugar, de uma célula defeituosa, de um erro metabólico, de uma forma errada da expressão ou absorção do real.

A cada dia que se passa me convenço mais ainda que a felicidade é feita de pedaços que a gente vai juntar no fim da vida para, enfim, concluir se fomos felizes ou não. Se fomos felizes, ótimo. Se não fomos, não resta-nos nada além de morrer.

Paz e bem, Marianne

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Amor perfeito


Príncipes e castelos só existem em países monárquicos; cavalos brancos, em haras e fazendas. O final feliz a gente escreve a cada dia, reunindo bons momentos, aproveitando o tempo que não volta mais, valorizando os pequenos gestos, utilizando as crises pra crescer. Pe. Fábio diz que não existe pessoa ideal e sim, pessoa certa. Às vezes o abismo que separa o nosso castelo dessa pessoa certa é a gente quem constrói. Às vezes a pessoa certa anda do lado da gente, mas a gente acha que é um sapo. Basta um olhar mais atento. Quem sabe? Não custa tentar!

 

terça-feira, novembro 27, 2007

Dias de tédio, chuva, nostalgia e coisas afins...


Ando intolerante nesses últimos dias. Pensei que fosse TPM, mas não é. É uma espécie de irritabilidade quase que constante. Ou seja, vivo de saco cheio sempre. Tédio, monotonia, fastio, inapetência, todos esses vocábulos tem sido constantes dentro de mim. Não consigo terminar nada que começo, nem mesmo uma das coisas que mais gosto de fazer na vida que é comprar. Imagine que hoje eu surtei dentro da loja e larguei a moça lá com milhões de roupas no balcão. "Você não vai experimentar"? Eu disse: "não... cansei... outro dia eu volto". Assim. Do nada. Acho que a moça deve ter me xingado toda. Nada tem me prendido atenção suficientemente.

Acho que estou stressada. Não suporto mais internet. The Sims idem. TV nem se fala, já perdi a paciência com ela faz anos. Filas e outras situações de espera só faltam me causar sintomas físicos. Não ando com muita paciência para ouvir ninguém, sobretudo se a prosa for ruim. Filei um mês de terapia. Adiei a última sessão do meu tratamento de canal três vezes. Sair de casa, seja pra trabalhar, pra ir à igreja ou outro lugar, tem sido um martírio. Eu até arrisco sair com a galera sábado à noite, mas em pouco tempo bate um desânimo sem fim, e a única coisa que eu quero é dormir. Aliás, dormir tem sido a única coisa que eu não tenho tido preguiça de fazer.

Ao mesmo tempo, me sinto muito culpada por ter tanta coisa e não ser grata à Deus, pelo menos com meus sentimentos, que parecem que são eternamente de insatisfação. Talvez eu tenha me perdido na rotina da minha vida, na ausência de metas, de sonhos. Afinal, já fiz 18 anos (faz tempo), passei no vestibular, já me formei, casei, comprei uma casa, um carro, um computador... Aos 25 anos, me sinto uma velhinha de 75, que morre de medo de chegar aos 30 e por mais que deseje ter um filho, morre de medo de tê-lo. Uma mulher, que por mais que ache que sua vida está completa, sente que apresenta partes inacabadas, labirintos desconhecidos, locais inabitados, mas que não consegue nem identificá-los nem preenchê-los. Não sabe como nem por onde começar o processo de reforma. Será que eu preciso de férias?

Sinto uma saudade sem limite, algo bem nostálgico, daquilo que vivi na época da adolescência. Não das curtições (até porque quem bem me conhece sabe que fui uma anta bípede o tempo todo). Sinto saudade da galera, dos amigos, dos lugares, da falta de responsabilidade, da beleza que eu enxergava nas coisas mínimas, na riqueza que significava 2 reais na carteira, enfim, da singeleza e sutileza com as quais eu levava a vida. Eu sabia ser feliz com o pouco que tinha. Não que hoje eu não tenha meus momentos de felicidade, eu os tenho sim, e não são poucos. Acho que preciso reaprender a arte de valorizar as pequenas coisas hoje, mesmo que aos meus olhos físicos elas não sejam tão valiosas. Acho que é momento de exercitar a visão utilizando os óculos da alma.

Pode até ser que esse cansaço, se é que eu posso chamar esse meu estado disso, seja uma consequência da minha profissão e de mais um ano que se finda. Um ano de problemas mil, diga-se de passagem. Quero aproveitar o fim de ano para poder fazer um check-up interior e tentar colocar as coisas no lugar. Quando o mundo interior da gente não vai bem, nada ao redor consegue se ajeitar também. Vamos ver se daqui para o dia 31 de dezembro consigo alguma coisa. Talvez essa seja mais uma das facetas da dinâmica da vida. Espero sair ilesa dela.


Paz e bem,
Marianne

domingo, novembro 18, 2007

O tempo passa...




A vida são deveres
que nós trouxemos pra fazer em casa.
Quando se vê já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, passaram-se 50 anos!



Agora, é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado, um dia,
outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente
e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada e inútil das horas...



Dessa forma eu digo,
não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo,
a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais...



(Mário Quintana)

quinta-feira, novembro 15, 2007

Contando os dias

Sim, o fim do ano está chegando, e eu, contando os dias para as férias. Férias, vírgula, né? Porque quando eu estiver de férias do colégio, ainda estarei dando aula na universidade e quando, enfim, chegarem as férias da universidade, estarei voltando às aulas no colégio. Ando cansada, desgastada, quase concluindo que essa vida de professora é a mais desgastante da humanidade, sobretudo porque eu sempre trabalho mais em casa do que no colégio ou na universidade.

Mas, mudando de assunto, e voltando ao mesmo, eu ultimamente ando muito contando os dias. No início da semana conto os dias para chegar a sexta. No início do mês conto os dias para vê-lo chegar ao fim. Conto os dias para chegar logo o dia da minha terapia, conto os dias para poder planejar as aulas, conto os dias para chegar o São João, o Natal, o próximo feriado e até a próxima lua cheia. Ando contando os dias para o fim dos meus invernos, desejo que o sol chegue logo e se sobreponha à escuridão. Já nem tenho mais de onde tirar adaptações para sobrevivê-lo. Resumindo, acho que tenho andado muito ansiosa, embora esteja fazendo um esforço imenso para viver um dia de cada vez. Acho que estou perdendo muito tempo contando os dias, enquanto poderia estar vivendo-os. = /

om carinho, Mary.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Ainda é inverno...

O que eu faço com esse inverno intermitente? Inverno de dias ensolarados, mas de noites escuras e frias? Tenho vivido pseudo-verões e pseudo-primaveras. Lá fora, o sol e as flores por acaso aparecem, alguns pássaros se põem a cantar, as borboletas a voar... e eu fico com a impressão de que o inverno acabou. Mas, não. O inverno ainda não passou. Quando eu fecho a porta e olho pela janela, eu vejo neve, eu sinto frio, vejo nuvens, e céu nublado. Chove muito. E me assola a certeza de que ainda é inverno.
Com carinho, Mary.

"De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã."
(Caio Fernando de Abreu)

domingo, outubro 28, 2007

Nostalgia

O que mais me assusta no processo de viver não é a morte em si. O que mais me assusta é o correr enlouquecedor dos dias, o risco de ter uma existência vã, a incerteza do amanhã e, sobretudo, o fato de só termos apenas uma vida para se viver. E de não podermos voltar no tempo um só instante sequer, seja para fazer o que não foi feito, seja para refazer o que foi feito ou seja para jamais fazê-lo.


Com carinho, Mary.

sábado, outubro 27, 2007

Mais um dia de inverno...


Embora esteja sob forte emoção, condição diante da qual costumo escrever, as palavras teimam em não se organizar a fim de formar um texto. Fuçando o meu arquivo particular, acabei encontrando nas sábias e poéticas palavras do Pe. Fábio de Melo tudo que eu queria dizer hoje, e não consigo. Tudo que esse turbilhão de sentimentos e idéias está causando ao meu coração. Tudo o que meu coração atordoado não consegue sangrar.


"Hoje eu não sei dizer. Só sei sentir. Há dias em que as palavras não são capazes de traduzir o sentimento. E por isso a solidão se instaura. A sensação de estar só é a mesma de não saber dizer. Talvez seja por isso que só as pessoas que verdadeiramente se amam são capazes de suportar o silêncio... Ficar calado é uma forma de dizer sem conceituar. Os conceitos são formulações fáceis, o silêncio não. Descobrir o que o silêncio diz requer maestria, observação minuciosa. É bom não saber dizer... Bom mesmo é ser compreendido, mesmo quando não sabemos dizer... "


(Pe. Fábio de Melo)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Sem disfarces


Eu sou assim. Talvez um dia eu mude. Talvez um dia eu aprenda a ser diferente. Mas, por enquanto eu sou assim. Um pouco transparente. Meu terapeuta costuma me chamar de "bandeirosa" (rs). Fingir não é algo que faço facilmente. Sobretudo se o fingimento em questão diz respeito a sentimentos. Custa-me muito. Meus sentimentos não surgem pela metade, e tão pouco permanecem da mesma forma. Não sei dar abraços medianos, beijos medíocres. Não consigo amar pela metade, elogiar pela metade, nem odiar pela metade. Ou amo ou odeio. Não consigo atingir o que beira o meado desses dois extremos. O que sobrar disso tudo, dentro de mim, é indiferença. Não sei sorrir pela metade, chorar pela metade, cantar pela metade... nem sei ser pela metade. Consegui deixar de ser extremista em vários outros aspectos da minha vida, mas nesse ainda não. Sou complexa e exata naquilo que considero essencial ser inteiro dentro em mim. Confesso que sou educada na medida do possível, diante daquilo (ou daqueles) que não me são simpáticos. E, como diria minha amiga Maria Marta, isso não é falsidade, é diplomacia, afinal, vivemos em uma sociedade, e conviver é muito mais do que uma arte. É necessidade.


Você não ouvirá de mim um elogio estonteante, se eu realmente não achei você linda com aquele vestido ou se o seu corte de cabelo não estiver belíssimo. Não vou colocar uma estrelinha no orkut se eu realmente não for sua fã. Eu não vou te entregar o convite do meu aniversário se realmente eu não faço questão da sua presença. E muito menos vou mandar flores no seu sem que dentro de mim não haja um sentimento que estimule essa atitude, porque pra mim, os atos, por mais belos e heróicos que possam vir a ser, começam na intenção do coração. Não falo nada pra agradar ninguém, em troca de possíveis favores. Isso pra mim se chama "puxa-saquismo", e eu não preciso disso.


Eu sou isso aqui que você vê. Sinto fome, sede, dor, raiva, medo, saudade, paixão... tropeço e xingo um palavrão [ou às vezes xingo sem tropeçar... rs]. Posso chorar quando sinto dor, quando vejo alguém sofrendo, ou quando assisto a filmes de romance. Sinto revolta, saudade, angústia, ansiedade, vontade de dar um murro em alguém, dou risada com meus amigos, frequento barzinhos sábado à noite, bebo whisky, martini e vinho, durmo até as 11 quando posso, faço terapia, assisto a novela das 8 (qdo tenho tempo) e ouço MPB. Gosto de forró e de Legião Urbana, de sapatos e sandálias, e de ficar sem fazer nada. Tenho cá os meus momentos de fraqueza e aridez, quando não enxergo horizonte algum à minha frente, e choro novamente para satisfazer as lágrimas que teimam em rolar da minha face. Sou isso aí. Feita de pó. Frágil, mais que tudo. Pequena e sempre precisando aprender algo.


Cansei de ser o projeto daquilo que a sociedade impõe, e, principalmente: cansei de me ocultar atrás das minhas incapacidades. Não vale a pena. Requer um gasto de energia absurdo. Pelo menos comigo funciona assim. Eu prefiro assumi-las e tentar vencê-las. Durante muito tempo da minha vida eu quis ser modelo e exemplo para todos, mas eu não soube dosar o meu perfeccionismo e agora, depois de perceber que nunca poderei ser perfeita, estou tendo que aprender a lidar com as frustrações que a vida me permite experimentar. E você acredita que eu me sinto mais viva, mais livre e mais humana depois de compreender essa verdade? Hoje não tenho mais interesse de mostrar para o mundo que eu sou "boazinha" e "perfeitinha"; até porque eu sei que eu não sou. Bom e perfeito, só Deus.


Hoje eu quero viver a inteireza da minha humanidade. Viver o meu processo de feitura, mesmo habitando esse corpo perecível, que me permite tantas limitações, fraquezas e defeitos, que são materias-primas para fabricação de virtudes. Mesmo habitando nesse mundo insano, que não admite erros e imperfeições, que promove a hipocrisia e a falsidade, o culto ao corpo e ao dinheiro, eu vou ser quem eu sou. Sem disfarces ou máscaras. Sendo sincera e fiel aos meus sentimentos. Quero ser eu mesma. Você pode até olhar pra mim e interpretar as coisas às sua maneira. Mas, eu não ligo. Aprendi com o Pe. Fábio de Melo a dar ouvidos apenas a quem me ama. E se você supõe ou profere uma inverdade ao meu respeito é porque não me ama. A gente só ama quem a gente conhece. E se me conhecesse, bem saberia porque eu sigo dessa forma. Eu sei de mim, e Deus sabe muito mais. O importante é que aos poucos eu estou me encontrando, sei o que eu estou buscando, e o quanto vale a pena.
  • Com carinho, Mary.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Relações

"Quer atentar contra uma relação? Não perca a piada. Prefira perder o amigo. Demonstre apatia. Seja indiferente ao outro. Procure ao máximo não compreendê-lo. Analise os pormenores de fora... assim, é bem mais fácil tecer opiniões e soluções. Não se permita envolver-se. Não mande flores. Nem escreva bilhetinhos. Esqueça as palavras carinhosas, os elogios, e também esqueça o dia do aniversário. Ou melhor, até lembre, mas ao invés de ligar, enviar um email, ou ir lá pessoalmente, deixe pra lá. Priorize suas idéias e seus anseios. Deixe-o falando sozinho. Ria sadicamente do que ele diz, sobretudo daquilo que você considera improvável, impossível, ilusório, irracional. Ignore suas fraquezas e dificuldades. Deixe para amá-lo e compreendê-lo quando você achar que ele merece ser amado e compreendido. Quando achar que não deve nem ser amado nem compreendido, simplesmente bata a porta e saia. Use as palavras mais supérfluas em momentos igualmente inoportunos. É tiro e queda! Cultive as suas certezas e procure plantá-las no coração dele, já que apenas as suas são válidas. E o que fazer com as incertezas dele? Descarte-as. Afinal, são tão incertas que nem vale a pena dar ouvidos. Seja indolente aos seus anseios, confusões, angústias e dores. Ou, ao contrário, cale-se diante de sua estupidez, poupando-lhe o puxão-de-orelha necessário. Não leve nada, nada a sério mesmo. Nem a história de vida dele. Quando ele chorar, entregue-lhe um lenço de papel e complete o ato com a célebre frase: “pare de chorar, a vida é assim mesmo”, ou então: "se todos os problemas do mundo fossem fáceis de resolver como o seu..." Repita para ele que crise existencial é coisa de gente demente, e carência é o nome que inventaram para dar às pessoas irremediavelmente chatas e grudentas. Preocupe-se mais em resolver os problemas dele do que em ouvi-lo. Use uma capa para se esconder. Estabeleça metas: primeiro você, segundo você, terceiro você, e quarto, você também, claro! Não dê atenção para suas inquietações, sejam elas particulares ou se dizem respeito a ambos. Destrua os suas aspirações e fantasias, sutilmente. Use a intimidade conquistada para magoar, soltando o que vier à mente, afinal, vocês já se conhecem há tanto tempo! Confunda sinceridade com comentários desnecessários. Desista de confiar e deixe a sua confiança se perder. E jamais, em hipótese alguma, se coloque no lugar dele. Ironize suas escolhas e decisões, seus princípios e sonhos. Exclua-o de seus projetos. Segregue seus objetos e pertences. Priorize os defeitos mais do que as qualidades. Aproveite um momento de vulnerabilidade para proferir “a sua verdade”. Não peça perdão. Não aceite as suas diferenças. Sustente dentro de si a certeza de que você se basta. Alegue aquela carona para a praia do último verão. Desligue o seu senso do ridículo. Alimente muita expectativa acerca dele e depois diga que se decepcionou. Rejeite suas imperfeições, mas não queira enxergar que assim você o faz pelo simples fato de, lá no fundo, vocês serem muito semelhantes. Ironize sempre que houver oportunidade. Esteja sempre apressado. Exclua a palavra “consideração” do seu vocabulário particular. Mas, depois disso tudo, não se pergunte porque você não tem amigos. Nem ninguém."


Com carinho, Mary.
"Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."
(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, outubro 02, 2007

O direito de ser fraco

Eu só comecei a crescer, quando assumi minhas fraquezas e limitações...


"Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que vai saber salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, vai saber encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer onde a gente precisa melhorar.


É um grande desafio para todos nós porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Sabe por quê? Porque muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fragilidades, há uma série de repreensões diante de nós.Você já reparou que a gente não deixa a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele. Fazemos uma série de "cara feia" para ver se a gente cala a criança, para tentar espantar a fragilidade. Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja filho da gente. Nós gostamos é de todo mundo feliz. Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faz esquecer o limite.


Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo que ainda temos que melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estou pronto, eu não sou perfeito, estou por ser feito, estou sendo feito aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos eu vou descobrindo onde é que dói este espinho. Este espinho muda de lugar. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, maior é a facilidade de conhecer limites. Para você retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o seu corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos que tirar aquilo que não nos pertence. Tem algumas inflamações do espírito, da personalidade que tem gente que é tão aborrecida que a gente não pode nem encostar. São aquelas inflamações que se alastram. E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Porque Deus não quer que você seja um anjinho na terra, mas que você deixe de ser inflamado. Ele quer te mostrar as inflamações para que você lute. Cara feia, arrogâncias, isso é complexo de inferioridade. Sabe qual é o espinho? O medo, a insegurança.Você já fez a experiência de viver uma palavra que te fez vazar em tudo o que estava estragado? Língua afiada quer dizer: deixar toda a inflamação que está dentro de nós vir para fora. Ter condições de vazar aquilo que antes a gente desconhecia é admitir e reconhecer que somos frágeis. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender. Às vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, porque parece que o mundo de hoje se esqueceu de mostrar a cultura do esforço que se fez para chegar aonde chegamos, perdemos o direito de chorar. E muitas vezes choramos e não sabemos o porquê estamos chorando.


O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, a gente sangra. E nós precisamos sangrar. Um dos maiores poetas da música diz isso. Quantas vezes você não se viu traduzido em uma canção de alguém que teve a coragem de sangrar, não teve medo de mostrar as próprias fragilidades. Somos todos iguais. Nós, padres, somos todos iguais. Não adianta a gente fingir que é forte, ou ficar fingindo que não sente e que não tem medo. Eu não sei se você tem mais de cinco pessoas que conhecem os seus segredos. Para quantas pessoas você teve coragem de sangrar? Pessoas que te enxergam por dentro são raras. Conversão é isso. É você educar o seu filho para ele poder te contar onde estão os espinhos. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos que trabalhar para ser melhor. A vida vai perdendo a graça porque não nos deixamos sangrar. A gente sangra melhor nos momentos de intimidade, onde a gente tem coragem de tirar a couraça. É muito melhor a gente admitir que tem medo. Para as pessoas ,é sempre doloroso ter que tirar os espinhos, de ver vazar as inflamações. Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Às vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas estão achando de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos. Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil."


Pe. Fábio de Melo

segunda-feira, outubro 01, 2007


"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."


Clarice Lispector

domingo, agosto 12, 2007

The end...

"A vida se transforma rapidamente. A vida muda num instante. Você senta para jantar, e aquela vida que voce conhecia acaba de repente..." (Inês pedrosa)


É, a gente acaba. Que nem arroz, feijão e farinha acabam do fim do mês. Que nem vela que queima a partir do momento que é acesa, a gente começa a morrer no dia que nasce. A gente acaba, sim. Num passe de mágica, de uma hora pra outra. A gente acaba. Finda. Que nem novela, que nem história em quadrinhos. Que nem os anos, os meses, os dias. Dissipa. De repente. Igual fumaça, cheiro de perfume ou gás. A gente dissolve. Tal qual papel na água, açúcar no café. É, um dia a gente se apaga. Da mesma forma que as lâmpadas, as velas, e tudo mais que emite luz. É o anoitecer da nossa existência. Chega então o fenecer da nossa história. A gente é matéria finita animada por uma energia chamada vida. Tão frágil, tão efêmera, tão singular. Não passa de um sopro, que um dia aparece, e um dia se vai. É ela quem faz teu coração bater, teu sangue circular, teus rins filtrarem, teus pulmões inspirarem. É por causa dela que você anda, corre, ri, chora, grita, estuda. Essa energia te permite experimentar o maior espetáculo do mundo: viver! Essa energia que tanta gente não dá valor.

É, a gente acaba mesmo. E não tem data certa. Pode até ser agora ou daqui há 50 anos. Esse dia a gente não sabe. Mas, mesmo assim, insistimos em passar pela vida como se ela fosse eterna, e mais ainda: como se pudéssemos predeterminar o nosso tempo aqui. Como se fôssemos senhores do tempo, de nós mesmos, da vida dos outros... do bem e do mal. A gente se acha, se sente. A gente tem um quintal bem grande dentro de si onde cultiva discórdia, orgulho, egoísmo, inveja e arrogância. E joga fora as sementes do amor, da concórdia, da paz. Valoriza mais as coisas que as pessoas. Perde tempo com coisas tolas, discussões banais, hábitos imbecis. Briga com o outro mais do que o ama. Grita com ele mais do que demonstra afeição. A gente não pisa no chão, não olha nos olhos do outro, nega uma esmola, um sorriso, um olhar. Nega a presença, a solidariedade, o abraço. A gente sonha tanto, e esquece de viver o hoje. A gente se acha melhor que o outro, mais bonito, mais bem sucedido, mais inteligente, mais isso, mais aquilo. A gente amontoa tesouros aqui na terra, coisas que a gente nunca usa, nem doa, nem nada. A gente se enche de roupa, de sapato, de dinheiro... se empanturra de comida, trabalha 24hs sem parar. Vê a vida passar, escapar por entre os dedos. E um belo dia, daqueles bem ensolarados, com borboletas voando e pássaros cantando, no auge de tudo, bem quando a gente tinha planos de mestrado e doutorado, de ter filhos ou de comprar uma casa na praia, planos de natal e ano novo, bem nesse dia surge, na partitura da vida, uma pausa eterna. Imprevisível. Irremediável. Pra quem fica, insuportável. E a gente morre. Acaba. Termina. Pra nunca mais.

domingo, agosto 05, 2007

Feliz, sim!!!



Seguem abaixo alguns motivos pelos quais eu ainda acho que vale a pena respirar, apesar dos pesares...


Deus. Praia e sol. Música... bossa nova, jazz, mpb. Luz de velas. Encontros românticos. Dias ensolarados. Voleyball. O corpo do Giba. Recados no orkut. Shopping Center. Vinho. Domingos ensolarados. Minha cama. Meu cobertor. Meu amor. Beijo na boca. Mel. Chocolate. Goiabada com creme de leite. Feijão [da minha vó]. Patrick Dempsey. Borboletas. Norah Jones, Michel Bublè e Diana Krall. Falar a verdade. Acordar depois das dez. Pão de queijo.


A voz do meu amor. Torta de chocolate. Livros. Conversas na praia. Lual, voz e violão. Pôr do sol. Banhos quentes e demorados. Ana Carolina. Aulas boas de Biologia. Minha mãe. Filmes de romance que me fazem chorar. Chuva fininha, caindo lá fora. Cebola frita. Diferenças. Tempo para não fazer nada. Escrever coisas bonitas. Barra de cereais. Abraços bem apertados. Rosas ou qualquer tipo de flor. Amigos de infância. Noites estreladas. Lágrimas de felicidade.


Pintura em tela. Beijo no pescoço. Massagem. Silêncio. Pernas de homens. Papéis saídos quentinhos da xerox. Cheiro de roupa nova. palavras que fluem naturalmente. Elogiar e ser elogiada. Escrever no diário. Cartas antigas. Bebês fofos. Olhos e olhares. Comprar roupa nova. Cabelos úmidos. Músicas do passado. Dormir a tarde toda. Conversas no banco da faculdade. Poetas e poesias. Bolo de aipim [também da minha vó]. Velar o sono do meu amor.


Energia elétrica. Lasanha de frango. Estudar. Ler revistas com a brisa batendo no rosto. Sorrisos sinceros. Brilho labial. Forró. Whisky com água de côco. Mergulhos na piscina. Noites de lua cheia. Apaixonar-se. Dançar de rosto colado. Perfumes. Almoçar no Sabores da Terra. Jorge Vercilo e Djavan. MSN. Papos no telefone por horas a fio. Pessoas especiais. Iluminação de natal. Presentes no dia do aniversário. Novos amigos. Lembranças que o tempo não vai apagar. Mousse de maracujá. Reencontros. Tudo tão simples... mas valem toda uma vida!

sábado, julho 14, 2007

Ser ou não ser (uma bunda)... eis a questão!




Hoje eu vou escrever sobre algo que me acordou [novamente] para a bosta do mundo que estamos construindo para nossos filhos. Um mundo avesso, mais que imperfeito... que nada tem pra oferecer.


Ontem mesmo eu estava em um evento social, quando pude ser expectadora de um diálogo travado entre um rapaz e uma moça, que me chamou muita atenção. O rapaz, que provavelmente tinha muita intimidade com a moça, disse para ela: "nossa, você só tem bunda!" (referindo-se ao tamanho dos músculos glúteos que a mesma apresentava). Ela prontamente respondeu: "Graças à Deus!". Ele riu, e perguntou à ela o porquê da resposta. Ela não hesitou: "Porque é disso que homem gosta... quando eu passo, eu arraso, todos eles param em mim." Eu ri. E na mesma horinha, pensei: como pode um ser humano adulto pensar assim?


A ditadura da beleza está aí, é fato. Ela chegou de mansinho e já tomou conta do pedaço. E a humanidade, cada dia mais escrava dela. É um movimento que apareceu subliminarmente, e da mesma forma toma conta da nossa mente. Peço que não levem minha opinião ao extremo. Não me refiro ao uso cotidiano de produtos que nos "embelezam" mais, nem às academias de ginásticas espalhadas pelo globo ou às clínicas de estética e cirurgia plástica. Saúde e bem estar físico, boa aparência, tudo isso é normal, e é válido cuidar de si, óbvio. Eu mesma sou cliente assídua da AVON e se tivesse mais disposição voltaria pra musculação (já entrei 3 vezes, mas a preguiça não deixa... rsrsr!!) Não me refiro ao consumo dos produtos de beleza nem à malhação em si, ou às obras-primas fabricadas em centro cirúrgicos por "médicos-artistas", mas à busca incessante pela perfeição, ao exagero, que leva-nos, tantas vezes à extrapolar nossos limites. Refiro-me à valorização exarcebada da beleza física e à "coisificação" de pessoas em bundas, peitos e pernas, senão em carros, cargos e futilidades afins. Eu sinto informar, mas, eu sou muito mais que isso aí. Muito mais que membros a serviço de um corpo. Ou de alguns corpos.



A questão não é "ficar bonita"; é: "qual o preço estou disposta a pagar para ficar "bonita"; qual o preço que eu tenho exigido do outro para que ele seja aceito por mim?" É uma pena que estejamos ainda tão subjugados à imagem. É extremamente triste perceber que a cada dia nos permitimos enquadrar-nos nessa realidade desedificante. E, me perdoem, eu não consigo ver as coisas por outra ótica, senão pela ótica de Deus. Essa é mais uma investida do mal a fim de implantar no mundo o reinado da superficialidade; desta forma a gente não precisa adentrar no mundo do outro nem no nosso. E aí a gente se perde. Sabemos que toda essa extravagância existe a partir de um desejo, consciente ou inconsciente, de ser aceito, de agradar as pessoas, para não ser excluído, de alguma forma. Todo esse desejo parte da necessidade de ser amado, acolhido, compreendido. Porém, o amor atravessa as aparências e reflete lá no fundo de nós. Por ser abstrato, ele só enxerga o também abstrato. E o abstrato é invisível aos olhos da face. Só é possível enxergá-lo com olhos do coração.


Você pode até estar lendo isso e pensando: "ela escreve isso porque não tem a bunda grande". E de fato, não a tenho. Mas, acredite: não foi por isso que muitos homens interessantes deixaram de se aproximar de mim. Não foi por isso que eu deixei de me casar com o homem mais maravilhoso do mundo, em todos os aspectos.Se um gênio da lâmpada aparecesse e me oferecesse 3 pedidos, talvez um deles seria realmente ter o corpo da Juliana Paes. Claro, qual mulher não gostaria de ter um daqueles? Seria fascinante... Mas daí a ter que resumir a minha pessoa à uma musculatura que não serve mais do que pra manter-nos em pé, é outra coisa. Mais uma vez você que está lendo pode estar me chamando de hipócrita, afinal, todo mundo gosta de se sentir desejada(o). E eu te dou razão. Todo mundo gosta de receber elogios, de "arrasar", como a própria moça disse. Eu sou uma dessas pessoas. Entretanto, eu prefiro "arrasar" por um motivo mais edificante. Ser lembrada como "a mulher da bunda grande" não me satisfaz, nem me preenche. Porque um dia, a bunda murcha, o peito cai... a beleza se esvai, e quem gostou de mim por causa da minha "casca" vai sair à procura de outra mais bela talvez. Um dia as rugas chegam, a pele perde o brilho... mas quem me ama pelo que sou, vai continuar me admirando e amando, porque preferiu olhar para além da minha aparência. Prefiro ser lembrada pelas minhas qualidades que não passam, que são, aparentemente impenetráveis, salvo aos que se dispõem a tentar me amar pelo que eu sou, e não pelos acessórios que carrego. Prefiro ser lembrada por ter contribuído de alguma forma para a humanidade, seja no campo científico ou social, do que ser lembrada pelos mililitros de silicone que coloquei nos seios no verão passado. Muito melhor ser lembrada como uma mulher inteligente do que como uma mulher gostosa. Mas, se dá pra ser "gostosa e inteligente" ao mesmo tempo, ótimo! O que não dá é pra se reduzir à um pedaço de carne e colocar todo meu orgulho no temporal.


Se um dia eu tiver um filho, eu vou falar muita coisa pra ele. Listei algumas abaixo:

- A beleza interior é a mais valiosa que qualquer outra. Cultive-a em você e busque enxergá-la no outro.

- O conhecimento adquirido é algo que ninguém te tira. Ele não envelhece e desidrata como sua pele. Você não vai precisar gastar dinheiro com peeling e botox. Um bom livro dura anos. Seja o melhor que pode ser, sempre.

- Não espere que o mundo te reconheça por quem és, mas pelo que tens. Aliás, nem espere reconhecimento do mundo. Se você não seguir as regras dele, este não virá, e pra falar a verdade, nem é tão necessário. Ou melhor, depende de onde você aposta suas fichas.

- Vinícius de Moraes disse "que as feias me perdoem, mas beleza é fundamental". Mentira dele! Caráter é fundamental.

- "Limite" é uma palavra que você deve usar durante toda sua vida, e isso vale para o aspecto "beleza" também.

- E se alguém, algum dia, disser ou der a entender, que ele é melhor que você por causa de uma bunda, não acredite. Bunda você também tem. A diferença está tão só no modo que você a usa.
  • Com carinho, Mary.

quarta-feira, julho 04, 2007

Porque viver é mutar...



Eu fui criada para a estabilidade, para a constância. Para apreciar a inércia das coisas e dos fatos. Para me assustar com tudo o que fosse discrepante quando comparado ao "padrão de normalidade" que construiram e me fizeram acreditar. Eu me assustei quando tive que sair do berço para a cama, e o pior, ter que dormir em um quarto sozinha. Eu me assustei quando tive que ir pro colégio, e mais ainda quando entrei na adolescência e vi meu corpo mudar. Relutei em abandonar a minha boneca Barbie e seus apetrechos. Trocar de colégio foi um choque, conhecer pessoas novas, lidar com a hipótese de não ser aceita. A cada ciclo que tinha que se fechar eu sofria demais. Se essas coisas previsíveis da vida me chocavam, imaginem o que estava por vir.

Um dia me ensinaram que apesar do mundo girar, ele deixa tudo no mesmo lugar, e que a gente é responsável por qualquer mudança que aconteça em nossas vidas. Eu fui criada pra obedecer padrões, regras, modelos. Achava que a instabilidade diante desses padrões, regras e modelos significava insanidade. E atribuía à mim mesma a responsabilidade de manter total controle sobre minha vida. Arriscar era um a palavra exclusa do meu vocabulário, já que ela presume que algo possa vir a acontecer ou não. E eu pensava que se fosse pra romper o "equilíbrio" da minha vidinha, melhor nem utilizá-la.

Mas chega um dia que você sai da casa da mamãe, da redoma de vidro que te envolve, e vê que o mundo lá fora não é tão colorido quanto aquele que você pintava no jardim de infância, e que as pessoas não são tão boazinhas como seus pais e avós. Você olha ao redor e percebe que as coisas se transformam numa velocidade tão exorbitante que a gente nem se dá conta: quando vê, tudo aconteceu!!! Contudo, não só as coisas mudam. As pessoas mudam, as circustâncias a que nos submetemos mudam. Os sentimentos mudam. Nossos gostos mudam, enfim, o mundo gira. E embora ele não saia do lugar, a gente acaba sendo obrigada a sair.

Putz! Não vou mentir o quanto eu sofri pra me adaptar à essa realidade de "mutação". Aceitar que eu podia oscilar... pior, que eu era um ser potencialmente mutante... doeu demais! Aceitar que a minha emoção sofria variações, que meu Q.I. também variava. Eu sustentei durante muito tempo dentro de mim um paradigma de insolubilidade e imutabiliade, e perceber que de repente as coisas podiam deixar de ser como a gente achou que ia ser a vida toda é complicado. Parece que o mundo vai cair na sua cabeça, o chão sair dos pés. Pela primeira vez eu me senti obrigada a olhar para dentro de mim, e descobri que eu não me conhecia. Eu acreditei a vida toda na figura tecida da minha pessoa por outrém [a melhor aluna, melhor filha, melhor no volei, no futebol, no jogo de damas...], e nunca tive a curiosidade de entrar um pouco, e confirmar se eu era aquilo mesmo que diziam de mim. Apenas lutava para sustentar aqueles títulos. Quando me percebi "mutar", minha reação imediata foi arrumar alguém para colocar a culpa por "ter permitido" que a minha vida "perdesse o rumo". Como não existiam culpados, restou-me construir um vilão dentro em mim, um processo de culpa que tirou definitivamente minha paz. Era uma luta interna muito grande. Meu coração tornou-se um imenso tribunal, onde ele [o processo de culpa] era o juiz, e a defesa e a promotoria eram eu mesma.

Aos poucos eu fui percebendo que não era bem assim, e, não que as coisas não devam ser levadas a sério, mas que eu estava dando proporções imensas à algo tão corriqueiro, tão humano. Humano... pois é! Só 24 anos depois vim me dar conta dessa realidade. Da essência que sou feita. Decidi então percorrer meu interior. Me vi limitada, cheia de problemas pra resolver comigo mesma. Cheia de medo de experimentar o novo. Cheia de bagulhos acumulados, sujeira... e vi uma caixa cheia de objetos e papéis velhos, amarelados e comidos por traças e animais afins. Escrito e estampado naqueles papéis e objetos vi todas as oportunidades de crescimento da minha vida... inaproveitadas. Decidi permitir-me "mutar". E desde então não está sendo fácil. Mutar implica em deixar pra trás hábitos, às vezes coisas e pessoas... ter atitudes novas. E isso me amedronta [ainda]. Mutar requer jogar coisas velhas fora, abraçar coisas novas, e aí vem à tona o apego. Mutar dá trabalho, tira o sono; mutar implica crescer, e é muito mais fácil viver dependente dos outros a vida toda.

Quando conclui isso, decidi mudar algumas coisas em mim. Mas, mudar pra ser melhor. Decidi deixar de ser imediatista, pois percebi que as coisas não acontecem da hora que eu quero, da forma que eu quero. Decidi deixar de ser extremista... percebi que entre 8 e 80 existem 72 possibilidades... e que cada um as usa de acordo com seu limite. Resolvi me permitir mudar a forma de pensar e de ver algumas coisas, mas, claro, apenas aquelas que não contrariam meus princípios de fé e moral. Decidi exonerar a palavra "nunca" do meu vocabulário, partindo do pressuposto de que nunca poderei prever o futuro, e decepcionar-se consigo mesmo é terrível! Decidi resignar-me diante das minhas dores, pois aprendi que que é no (e pelo) sofrimento que se amadurece e se fortalece, e assim a vida ganha novas nuances, porque a imutabilidade sufoca e reforça a rotina. E se o Mestre sofreu o que sofreu, quem sou eu para não querer sofrer...


Muito mais do que permitir-se mudar, é necessário adaptar-se às mudanças. O mundo lá fora é uma selva. A luta pela sobrevivência e pela sobrepujação é acirrada. E ao contrário do que prega a indústria da beleza e dos armamentos, o mais forte não é o mais bonito, nem os portadores de armas de fogo. Mas, sim, aqueles saudáveis de mente e alma. Forte é quem sabe lidar consigo mesmo, com suas oscilações e vulnerabilidades. Forte é quem sabe "mutar" quando é necessário, sem ter quer ferir ninguém, nem a sim mesmo. Forte é quem sabe entender a dor e a fraqueza do outro, mesmo sem compreender, pelo simples fato de saber que, um dia, você pode passar por aquilo. Forte é quem tem coragem de arriscar, de acreditar que pode, que a felicidade existe e está a um palmo do nosso alcance. Forte é o cara que não se deixa transformar em árvore, parada, estática, seres que nem quando morrem conseguem mudar seu arranjo. Forte é o cara que consegue atravessar a selva, se moldando às trilhas, às dificuldades de percusso, da convivência com os outros animais, sem perder a personalidade, nem perder a essência. O DNA, quando sofre mutação, acaba perdendo a capacidade de sintetizar as proteínas específicas de outrora, mas continua sendo DNA. Um outro DNA, que sintetiza outras proteínas. Mas, ainda assim, é DNA. Assim acontece na vida... às vezes, mutar é preciso!
  • Com carinho, Mary.

quinta-feira, junho 28, 2007


"Cuidado com seus pensamentos; eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras; elas se transformam em ações. Cuidados com suas ações; elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus hábitos; eles moldam o seu caráter. Cuidado com seu caráter; ele controla o seu destino. "


(Desconheço o autor)

sábado, junho 23, 2007

Rotular é mais fácil...


À medida que vamos sendo formados, não apenas tijolos celulares vão sendo acrescidos, mas também tijolos da alma vão moldando quem seremos. A vida vai correndo, e a gente permite que as pessoas passem pela nossa existência e acrescentem tijolos. Nós também os acrescentamos! Às vezes a gente não tem liberdade de escolher a qualidade do material, nem o local onde queremos que aquele tijolo seja colocado. Basta uma palavra mal proferida, um gesto infeliz, um olhar de desprezo, uma decisão errada... e pronto, o cimento seca, o tijolo cola. Alguns fazem realmente a diferença, ajudam no nosso crescimento pessoal e humanístico, sentimental e espiritual. Mas, outros, não passam de pedras. Na maioria das vezes elas são irregulares e pontiagudas, machucam e quando amontoam-se, deformam a construção. E a gente, mais uma vez, permite. A nossa história acaba sendo tecida pelas mãos dos outros e pelas nossas, e, por fim, não passamos de personagens que só servem para ilustrar o grande livro da nossa vida.

Nem sempre a gente tem culpa da nossa história ser incompleta, borrada, incoerente e sem coesão. Afinal, quando somos crianças, não temos condição ainda de julgar o que deve ser abstraído de cada frase ou situação. De repente, sem explicação a gente absorve ou não. Quando nos tornamos adultos, olhamo-nos no espelho e percebemos que não passamos de bonecos de pano: cheios de remendos. Alguém abriu... nossos pais, amigos ou nós mesmos. Tentamos fechar de qualquer jeito. Um dia alguém nos vê e acaba percebendo que a gente destona um pouco do padrão que a sociedade definiu. Não conseguem enxergar que a essência é a mesma, só surgiram algumas marcas, acidentes da existência. E que seria necessário amar para poder consertar. Mas, como? Amar o feio, o disforme, o marginal? Loucura! É aí que entram os rótulos. O preconceito. Ninguém pára pra te perguntar por que você ficou assim, só julga, agride, ofende. Ninguém quer te ajudar a consertar os remendos. Se a gente não tomar cuidado, tem gente que ainda vem e os arranca.

Rotular é mais fácil do que conhecer. Bem mais fácil. É preferível dizer que não gostei, que não fui com a cara. Dá menos trabalho, rende tempo, algo tão escasso nos dias de hoje. Conhecer o outro requer presteza, sensibilidade, paciência, pele, compreensão, mergulho. E isso requer esforço pessoal porque, quase sempre, eu vou ter que sair de mim para ir na direção do outro. Eu vou ter que romper com meus condicionamentos, meu comodismo e meu falso moralismo, vou ter que retirar a máscara. Vou ter que me reconhecer igual ao outro. Por isso é mais fácil rotular. Quem rotula não se preocupa em checar primeiro o conteúdo. Quem rotula se perde nos valores exteriores e se esquece que nem sempre a aparência revela a essência.

Todavia, não dá pra viver a vida amarrados na nossa história, nem dá pra querer viver justificando nossas atitudes com o passado. Não dá mais pra voltar e consertar, mas dá pra reeditar, reorganizar, tentar ser feliz! Não dar pra viver aprisionado aos rótulos que um dia foram impostos. Como já disse o Pe. Fábio (e isso tudo e aprendi por causa dele), a gente tem o poder de decidir o que levar consigo e o que descartar.

E por falar em descartar, eu não quero mais permitir que corpos estranhos permaneçam em minha alma, qual lixo, pois onde há lixo, há decomposição. E onde há decomposição há morte. Espero estar atenta àqueles tijolos que queiram-me acrescentar. Mas, além de receber tijolos, também é preciso deixar alguns por onde passamos. É preciso esvaziar-se de vez em quando. Porque senão, além do entulho, cria-se um muro alto, tão alto que chega um dia que ninguém mais consegue nos alcançar. Nem mesmo a luz do sol consegue penetrar. Por isso existem tantas pessoas fechadas em si. Permanecem intransponíveis, já que não querem desfazer-se do entulho que se acumulou.

Hoje eu quero entregar a história da minha vida à Deus, o grande autor de tudo. Quero que Ele a reescreva como lhe aprouver. Quero entregar-lhe também os rótulos que me foram dados, e pedir-lhe perdão pelas tantas vezes que rotulei. Reconheço-me hoje como ser humano, potencialmente apta a cometer erros e acertos. Igual a todo mundo. Cada um sabe de si. E Deus sabe de todos nós. Ele conhece-nos mais do que ninguém. E mesmo assim, conhecendo toda nossa arquitetura, nossas ruas escuras e iluminadas, nossos jardins e bueiros, ainda acredita em nós e, a cada amanhecer, não cessa de nos dar uma oportunidade de sermos melhores!

  • Com carinho, Mary.

quinta-feira, junho 21, 2007

Viver...


Ontem estava conversando com uma amiga sobre nossa humanidade. Não a humanidade representada pelos 6 bilhões de Homo sapiens que habitam o globo; mas, sim, a natureza que define esses 6 bilhões de seres. Eu sei que cada um é cada um. Que somos diferentes. Que cada pessoa absorve os comprimentos de onda da vida de um jeito. Cada um tem sua história de vida e sabe de si. Eu sei que é difícil lidar com gente, porque sempre enxergamos nossa humanidade no outro, e, sendo assim, lidar consigo mesmo, não é tarefa fácil. Mas, é preciso.


De repente, eu acordei certa manhã e me pus a pensar: o que realmente eu vim fazer aqui na terra? Estudar, curtir praias, baladas, reclamar da vida, dormir, acordar, procriar e morrer??? Não... eu não aceito que a minha existência possa se resumir a ações mecânicas e previsíveis.


Eu sempre penso no fim. O povo fala que eu sou pessimista e tal. Pode até ser. Mas, pensar no fim me afasta da superficialidade e da temporalidade da vida material e me faz aterrissar dentro do meu eu. Pensar no fim me faz pensar na efemeridade dessa passagem nossa aqui na terra... me aproxima do essencial e me afasta do acessório. Me leva a perceber que sou mais limitada que tudo que eu possa julgar. Em janeiro, perdi um amigo. Ele não andava comigo 24hs por dia. Porém, era um cara legal demais. Ele era irmão de uma das minhas melhores amigas. Quando a morte chega cedo, muda a ordem das coisas, a gente se assusta. Ela balança a gente porque traz à tona a certeza da nossa finitude. E o ineseperado confunde. Contudo, às vezes ela quer nos dizer alguma coisa além de "fim"... Quando recebi a notícia, fiquei parada. Na hora, a gente nunca acredita. E foi horrível. Algumas das cenas mais tristes que vi até hoje na minha vida. A dor da despedida eterna é pior do que qualquer outra dor. Eu não a senti ainda, mas pude imaginar. A minha dor não era igual à dor que estampava a cara daquela família que perdia um filho, um irmão, um pai... um esposo. Eu vi alguém que há uma semana trazia seu filhinho colo pelas ruas deitada em um caixão, e ninguém podia fazer nada. Essa sensação de impotência diante da morte também choca... No fim do dia, quando deitei na cama, a ficha caiu, e eu percebi que nunca mais o veria. Conclui o quão a vida é frágil, efêmera e singular.


Tanta gente fala, e eu mesmo rabisquei no meu caderno quando adolescente, várias vezes, o chavão tão famoso: "curta a vida, pois a vida é curta". Nossa, ela é curta demais... o que são 75 anos??? Cara, eu já tenho 25... e estou sendo muito otimista citando essa expexctativa de vida! Tem gente que vive menos que 75. Mais gente ainda vive muito, mas muito menos que isso! Tem gente que nem nasce pra saboreá-la. E tem gente que vive durante muitos anos, mas apenas biologicamente. Não passam de um amontoado de células que trabalham incessantemente para manter uma "animação" da matéria. Tem gente que vê a vida passar, escapar por entre as mãos, mas é incapaz de passar pela vida, porque está preocupado com algo muito menos importante que sua propria vida com aqueles que os amam. Preocupados com o carro novo, com a promoção no trabalho... com a poupança do filho que nem foi concebido, com a roupa da festa de formatura do neto... Quantas vezes eu, como mera expectadora, assisti a vida passar por mim, sendo que eu tinha potencial para fazer tudo diferente? Quantos momentos de crescimento eu deixei se perder no tempo? Quantos dias eu deixei de viver pra viver aqueles que nem haviam amanhecido ainda!


O tempo não dá trégua. Ele não pára pra gente descansar um pouco nem volta pra gente consertar o que foi feito. Passou? Já era! Falou o que não devia? Fez o que não era pra ser feito? Paciência... Mas, também, não vamos viver de lamentação pro resto da vida. Enquanto há vida, há esperança, há o que ser feito. Feridas existem para serem cicatrizadas, dores, para serem saradas... luzes existem para iluminar a escuridão. Não existe nada que não possa ser ajeitado, até para a morte existe a ressurreição! Entretanto, omos sempre tentados à deixar para amanhã... e se o amanhã não chegar?


Estou aprendendo a viver um dia de cada vez. Vivendo para as minhas necessidades de hoje, meus sentimentos de hoje, para as minhas dificuldades de hoje, para as pessoas que me rodeiam hoje. Às vezes eu não consigo, a ansiedade me assalta, rouba minha paz; o egoísmo me cega, eu desço ao limite da minha humanidade. Aí quando coloco a cabeça no lugar, lembro que o futuro não me pertence e eu nem sei se o alcançarei. Lembro que Pe. Fábio um dia disse que "o presente é o presente que o tempo nos entrega". E não dá para, simplesmente, negá-lo. Dádivas são dádivas. E um belo dia, sem ao menos a gente esperar, se morre. E pronto. Acabou.


Não quero um dia, olhar para trás e perceber que não fiz o suficiente para viver, apenas alimentei uma existência vã. Não seria justo nem comigo, nem com Deus. Ele me criou para a felicidade, para experimentar da vida, suas nuances, alegrias, dores e sujeições. E Ele está comigo sempre!!! Tantas vezes eu julguei a vida sem cores, sem nada... só dores! Hoje eu a percebo de outra forma. Durante o tempo adverso, procuro enxergar as "rosas que dão no inverno"... mas isso é assunto pra outro post!!! Beijoss na alma!!!
  • Com carinho, Mary.

quarta-feira, junho 20, 2007

O anoitecer da alma


A noite é traiçoeira. Ela traz à tona tudo aquilo que a luminosidade do dia consegue esconder. Traz à tona sentimentos de incapacidade e tristeza. Tormentos, dores ocultas, incapazes de emergir quando a luz do sol resolve aparecer. São sentimentos covardes – aproveitam-se do silencio da escuridão acompanhada por pingos de luz para emergir... sofrimento que receia a própria dor que ele causa. Coisas inatas. Sem explicação. Sonhos perdidos, dúvidas que pairam onde o som não consegue alcançar. Dores da alma, do coração, rasgado por não se sabe quem.

A noite é traiçoeira. Ela até me faz crer que não existe algo que possa iluminar as trevas que dela emana. No silêncio cínico desse turno do dia, fecho-me como as flores no inverno frio e preparo-me para alcançar o sono, aquele que, temporariamente, me desliga do que sou e do que sinto.

A noite não dá trégua. Não parece ser sua intenção flagelar-me. Mas, o faz. Talvez porque não tenha noção do que significa cair em si e perceber quantas feridas a vida abriu, quantas a mesma cicatrizou, e quantas não consigo encontrá-las para submetê-las à cura.

Marianne

sexta-feira, junho 15, 2007

De carona com o Pai...


Eu sempre tive pavor de viagens. Por ser muito ansiosa, achava que nunca chegaria ao destino proposto. Nunca dormia durante os percursos... o medo me mantinha "ligada". Mas, quando meu pai estava na direção do carro era diferente. Poderíamos viajar horas, dias talvez. Poderíamos cruzar o Atlântico de carro. Eu me sentia a pessoa mais segura do mundo. Afinal, meu pai dirige muito bem, é um homem prudente e cuidadoso ao extremo. Essa segurança ele sempre me passou.

Lembro-me que certa vez estávamos na fazenda. Eu era bem pequena. As estradas eram tortuosas, íngremes e cheias de buraco. Chegamos a um determinado ponto onde não havia mais como avançar. Seria o jeito sair de ré... de um lado, havia um paredão; do outro um mini-abismo. Meu pai me tirou do carro e fez a manobra. Eu chorava nos braços de alguém (que não lembro) achando que meu pai ia cair ali. Mas, ele não caiu!!! Mais uma vez ele tinha me provado que era o melhor motorista do mundo. E ter me tirado do carro foi uma prova de que se importava comigo.

Hoje eu fui à médica depois de perceber que minha voz não andava nada bem. Eu já suspeitava que a velha fenda havia retornado. Os sintomas eram os mesmos. Então, posso dizer que não houve surpresa. Quando ela me mostrou o monitor e disse: "você viu?" É... eu tinha visto... meus olhos encheram-se de lágrimas... na minha cabeça só vinha a frase: "de novo?... vou ficar sem aquilo que mais gosto de fazer na vida". Tratamento: fonoterapia! Cantar? Nem se eu conseguisse... Saí de lá bem menos arrasada do que da consulta há 3 anos, quando descobri a dita cuja pela primeira vez. Naquela época o mundo caiu na minha cabeça e o chão sumiu dos meus pés. Hoje foi diferente. Não sei porquê, mas não senti medo. E estou em paz. Desci a escada do consultório pensando: "DEUS ESTÁ NO CONTROLE DE TUDO".

Hoje eu me sinto como uma filha sentada no banco do carro de Deus. Ele está lá, guiando tudo... e eu, esperando o momento da chegada. Até lá, tenho muito o que aprender por onde eu passar. As árvores precisam ser podadas para poder crescerem. Nós também!

Quero aproveitar esse silêncio forçado para ouví-lo mais... talvez eu estivesse muito centrada em mim mesmo, nas minhas canções, na minha técnica... naquilo que eu "mais gostava de fazer". Quando o meu maior prazer e o meu maior empenho deveria estar em criar em mim um coração adorador! Talvez não estava sendo a ministra que deveria ser.

Quero aproveitar também a paisagem durante a viagem, a brisa no rosto, sem medo, sem pressa. Afinal, meu Senhor está guiando o automóvel da minha vida. Ele sabe bem para onde me levar. Mas, não quero fazer desse passeio um "tour", apenas. Quero vivê-la como uma aula de campo... no fim, terei que entregar um relatório daquilo que foi abstraído!

Quero perceber por onde estou passando, o que estou deixando de mim nessa passagem, e cuidadosamente selecionar o que carregar comigo. Quero aproveitar os passageiros que nesse carro viajam comigo... quero olhar para aqueles a quem desviei o olhar, sorrir para aqueles a quem neguei o sorriso e, se for necessário, chorar e sofrer com aqueles que não suportam mais o peso da cruz. Quero atentar-me à voz de Deus em meu coração. Apurar os ouvidos para escutar o que Ele quer de mim e, principalmente, o que Ele quer fazer em mim. Quero fechar-me aos ruídos externos. Quero silenciar o coração, livrar-me dos meus ecos interiores para que apenas a voz de Deus preencha-o. Quero compreender e fazer desse tempo uma viagem para dentro do meu eu... assim, quem sabe, poderei enxergar melhor quem realmente estou sendo. Quero me doar mais e não perder de vista o plano de Deus na minha vida. Quero aprender a renunciar mais, a perdoar mais, a amar mais... e essa é a parte mais difícil da viagem, a mais dolorosa. Eu sei que não vai ser fácil. Mas, essa é a minha intenção.

E quando, enfim, chegar ao destino final, poderei cantar as maravilhas que Deus faz nas nossas vidas. Na minha Ele já está fazendo. Eu que ainda não percebi.
  • Com carinho, Mary.

domingo, junho 10, 2007

O outono nosso de cada dia...





Certa vez, sabiamente, Pe. Fábio comparou nossa vida a um ano cronólogico, com suas 4 estações. E nos fez perceber que nunca pode ser verão o ano inteiro, e tampouco inverno para sempre... Há muito há se retirar dessa analogia...

Durante o outono há uma preparação silenciosa dos vegetais a fim de suportar o que virá; as folhas ficam amarelas e caem. É uma linda estratégia de sobrevivência e de reconhecimento da sua fragilidade diante do momento que está por vir. Ao perceber a aproximação do tempo frio e da baixa luminosidade, os vegetais iniciam a produção de um hormônio, que deflagra o cair das folhas, a fim de reduzir o metabolismo durante o inverno, para que eles consigam suportar a situação adversa. Eles transferem toda energia armazenada das folhas para o caule, até que a primavera chegue, por isso as folhas caem. Sem folhas para fotossintetizar, o gasto de energia é menor, e assim dá para atravessar o inverno sem problemas. Com a queda das folhas, ela fica com um aspecto de morta. Mas, por dentro, existe uma reserva de energia muito grande, na forma de nutrientes. O metabolismo diminui, mas nunca cessa. Apesar do inverno frio que se aproxima, ela não desiste, ela decide sobreviver, apesar de saber que atravessará invernos todos os anos, uns mais rigorosos que outros... mas permanece em pé. Interessantemente, esse mesmo hormônio, que permite o cair das folhas é responsável pelo amadurecimento dos frutos, na época da frutificação...

Entretanto, apesar do frio, da neve, existe beleza nessa estação... as folhas amareladas e marrons espalhadas pelo chão... e a certeza de que depois do inverno, vem SEMPRE uma primavera, estação cheia de flores e alegria.

É preciso adaptar-se às estações da vida, à mutabilidade dos eventos que se sucedem durante o período de nossa existência. Aos olhos espirituais, cada estação é oportunidade de exercitar as virtudes que tanto anseiamos. Paciência, humildade, sabedoria, discernimento, amor... as provas são necessárias, assim como no esporte e no colégio.
Pe. Fábio diz sempre que é necessário reconciliar os contrários da nossa vida. Reconciliar os contrários é fazer dos nossos invernos, adversidades, problemas, dores, degraus para crescer na fé... durante esses períodos é comum a queda, o desânimo, o desespero, talvez. Mas, diante disso é preciso recomeçar, sempre, mesmo quando não há mais folhas em nossa árvore, mesmo quando elas estão espalhadas pelo chão, ou mesmo quando o vento frio as levou, não se sabe pra onde. É preciso recomeçar, porque existe um jardineiro maior, que nos regar diariamente, e que não se importa com a queda das nossas folhas, ele até a permite, porque sabe o que está fazendo. Ele se importa sim, com o que há para ser feito na próxima primavera...

Que Deus seja nossa força! Paz e bem.. beijos e bençãos!!!
  • Com carinho, Mary.