domingo, outubro 31, 2010

Por quê?



Se Deus tem um plano na nossa vida [e com certeza deve ser um plano muito bom] por que, por vezes, ele não rompe com o livre arbítrio e os coloca em prática? Será que algum ser humano se oporia à sua própria felicidade?

sábado, outubro 30, 2010

Intimidade.


Andei pensando nessa coisa tão abstrata e ao mesmo tempo tão concreta, bem como na dicotomia que abrange sua significância em alguns tipos de relacionamento. Digo alguns, porque penso que nem toda relação tem potencial suficiente para englobá-la; intimidade é coisa facilmente confundida com libertinagem, e é justamente por isso que eu costumo, em tom de brincadeira, referir-me à ela como uma "inata destruidora de relacionamentos", já que nem todo mundo consegue entender, realmente, seu real sentido. Mas, se não destrói, acrescenta muito mais do que se possa imaginar. Não tenho dúvida que, quando bem interpretada - e bem intencionada - é a coisa mais deliciosa que pode ocorrer entre duas pessoas. É entrar no outro - literalmente ou não - e por ali morar. É conhecê-lo tanto [ou tão bem] quanto a palma da sua própria mão. É fazer-se caber e permanecer na palma do outro, sem o menor pudor, e torcer pra que a recíproca seja verdadeira. É reconhecer o cheiro a quilômetros de distância. É quando a gente pode usar o "meu" sem culpa e com certeza. É deitar na existência do outro. E por aí permanecer por um bom tempo chamado "sempre".

quarta-feira, outubro 27, 2010

Possibilidade latente.



Eu preferia não ter as pernas e nunca poder andar do que, tendo-as e podendo andar, não conseguir... O sofrimento que vem acompanhado com a impossibilidade, e a própria impossibilidade em si, são mais conformantes do que uma possibilidade latente. E impotente...

sábado, outubro 23, 2010

Desaprendendo.

"O essencial é saber ver.

Mas isso,
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender.

Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos."


(Alberto Caeiro)


Não sabem o quanto dói desaprender. Lixar a pele, até sangrar, pra desimpregnar equívocos. Gastar toda energia [que já não se tem] pra jogar fora da mente premissas escravizadoras. Incinerar idéias fundamentalistas. Desconstruir determinadas figuras. Rasgar convicções alienadoras. Derrubar tabus. Desmistificar preconceitos. Reaprender a ser humana. Tudo isso machuca, arranca pedaços e demora. Mas vale a pena; nada substitui a brisa da liberdade de ser quem você realmente é - e quer - batendo na sua cara. Absolutamente nada.

sábado, outubro 16, 2010

A unha roxa do meu pé.

Hoje eu olhei para a unha meio roxa do meu pé e lembrei de você. A unha roxa do meu dedão não tem nada a ver com você, mas é que quando você caiu, eu tinha acabado de deixar cair aquela pedra de mármore nela, e agora pronto: enquanto esse roxo não sair eu vou sempre me recordar daquele dia em que a morte, sutilmente, encontrou uma desculpa pra levar você. E aí, como num filme, eu começo a lembrar de tudo, de você no pronto-socorro, de nós dois na âmbulância, do meu choro contido ao vê-lo sofrendo daquele jeito. Lembrei das tardes que passei com você no hospital, e que eu mal sabia que eram as últimas... Aí você saiu em busca da cura, e eu nunca mais lhe vi; eu olho agora pra essa sala e consigo sentir a textura de um vazio indescritível. Eu continuo aqui, com essa saudade, com meus livros e com minha unha roxa do pé, esperando o dia em que eu vou te ver de novo, meu avô, meu amor...

sexta-feira, outubro 15, 2010

Fugas.

Nos últimos tempos tenho tentado, arduamente, fugir das minhas fugas, por mais confortáveis que elas têm sido. Fugas nos aprisionam na cela da acomodação, nos empurram para os penhascos da ilusão, paralisam a dinâmica da nossa vida. Fugas nos fazem esquecer propositalmente os pedaços inacabados da nossa existência que, por descuido particular ou maldade alheia, ficaram pelo caminho. Demorou pra que eu entendesse que a vida e todos os entraves nela embutidos têm que ser encarados de frente, que os pedaços têm que ser realocados, que história de vida mal resolvida é sinônimo de meia-vida, ainda que a dor seja forte o suficiente pra fazer parar o coração. Talvez seja por isso que hoje, em frente ao espelho, eu só consiga me enxergar pela metade; tem muito de mim perdido por aí. Hoje consigo perceber, nitidamente, que não vale a pena fingir que não vejo meus cacos [ainda vivos] vibrarem no asfalto quente, rente à mim; tudo isso me é muito claro: não mais adianta me esquivar tanto da vida que eu tenho, porque a vida que eu tenho sou eu. E, sendo assim, muito menos adiantaria correr de mim, porque, ao fim do dia, eu sempre me encontro comigo no travesseiro mais próximo...

terça-feira, outubro 12, 2010

Sobre fé.

Penso que ter fé não é somente possuir uma clara certeza interior acerca daquilo que não se vê; é muito mais do que isso. Fé é movimento. É [também] correr atrás de algo que você nunca viu, que talvez nem exista, mas que a gente luta pra inventar. Afinal, se pensamento positivo, apenas, ganhasse copa do mundo, o Brasil seria dodecacampeão. E olhe lá.

domingo, outubro 10, 2010

Dias brandos.

Os dias têm sido brandos, como há muito não eram. Tenho medo desses dias, embora os houvesse desejado com tanto fervor. Enquanto eles passam, fico aqui, quietinha. Só sinto. Nem falo. Não alargos os passos. Não enxergo além do segundo que me precede. Não esboço sorrisos maiores do que a minha cara. Procuro frear o pensamento; a intenção é que ele acompanhe o meu hoje. Expectativa? Nem conheço essa palavra. Observo a ponta do raio de sol que ousa surgir nesse lado da minha vida, sem alarde. Por mais lindo que tudo possa parecer, não sei o que me aguarda na lua seguinte. Não é pessimismo. É coisa minha mesmo. É que eu não me engano: não é porque temos as armas que a guerra já está vencida. Só quem apanhou demais nessa vida entende o que eu digo. No entanto, não paro. Continuo a luta. Mesmo que a tal felicidade nunca chegue. Talvez [mais uma vez] ninguém entenda. É estranho. É coisa de gente que conseguiu encontrar o errado no "certo", e assim, se perder por completo. É coisa de gente que conseguiu encontrar no "errado" o caminho de volta. É só isso.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Meu querido, meu velho, meu amigo.


Não há um dia, desde que você se foi, em que eu não pense em você. Pode até parecer exagero, mas sua lembrança é quase que constante na minha mente. Nem quando você estava entre nós, meu pensamento se debruçava tanto em perceber sua existência, ainda que nos víssemos frequentemente. É que a morte tem dessas coisas. Além de conduzir para a eternidade a pessoa que parte, tem o poder de eternizá-la em nós, sob a forma mais sublime que alguém possa existir: *na sagrada saudade que deixa continuar.
* Frase da música "Perdas Necessárias", autoria de Fábio de Melo.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Intimidade (por Caio Fernando Abreu).

"E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também."



Caio F. Abreu


P.S.(Um agradecimento póstumo e especial a você, Caio, que com seu jeito humano de tecer as idéias, soube fazer uso perfeito das palavras e ajudar no meu crescimento enquanto pessoa. Daí de onde você está, receba um abraço forte, um abraço humano, de alguém que te admira muito. E saiba que você faz muita falta aqui, no mundo das letras.)

segunda-feira, outubro 04, 2010

Circunstâncias.


Mais uma compreensão, em menos de uma semana: somos todos - sem exceção - vítimas das circunstâncias. E é mesmo impressionante como elas têm o poder de determinar o nosso destino. Nossa história. Nosso meio, e, se permitirmos, nosso fim.

sexta-feira, outubro 01, 2010

72 possibilidades.

Foi extremamente difícil entender que as escolhas das pessoas são escolhas das pessoas, e que eu tenho que respeitá-las, mesmo que tais escolhas as façam sofrer. Muito mais que difícil, foi necessário entender pra poder continuar. Talvez eu tenha demorado tanto para aceitar isso porque a liberdade, bem como toda gama de opções que existem na vida, nunca me foram apresentadas. Me apontaram o 8 e o 80, e se esqueceram de me dizer que entre eles existiam 72 possiblidades...