quinta-feira, abril 29, 2010

domingo, abril 25, 2010

Pacto.

Tenho mania de pactos. Na imensa maioria das vezes, pactos não declarados. São pactos que não precisam de verbetes para se estabelecerem. Não precisam de sangue ou papéis para servirem de sinal ou garantia. Geralmente, são manifestados no silêncio de um olhar, na sutileza de um toque, no sorriso estampado na cara, nas lágrimas compartilhadas ou na complacência de uma atitude. Nós tínhamos um pacto e, apesar de não ser de sangue, corria nas veias do mesmo jeito e era o combustível das nossas vidas. Era muito mais que um simples acordo com termos, parágrafos e condições. Era um pacto de almas, assinado com a caneta da cumplicidade; porém, tão vulnerável quanto suas partes...

sexta-feira, abril 23, 2010

Não quer dizer nada.


As coisas já estavam se acalmando, e ela já estava começando a se acostumar com o breu que o anoitecer sempre lhe traz, quando um raio de sol transpassou o vidro canelado da janela trazendo consigo uma migalha de esperança que clareou grande parte do quarto, rompendo a escuridão que ali habitava. O sono já havia lhe chegado e se aconchegado ao seu lado; a lua se preparava pra nascer no horizonte sombrio que surgia diante de seus olhos; o frio interior começava a escapar pelas frestas de sua alma, pronto a inundar o ambiente. Mas, de repente, tudo foi inibido por aquela energia luminosa que era mais concreta do que qualquer coisa palpável. Era um crepúsculo em tom de aurora. Que deixa rastros de dúvida por onde passa. Que cega. Confunde. Mas que, lá no fundo, não quer dizer que a noite tornou-se em dia. Na verdade, não quer dizer nada. Absolutamente, nada.

quinta-feira, abril 22, 2010

Faltas.


São tantas faltas! Um raio-x e uma ressonância, e eu me revelo num filme preto idêntico àqueles. A falta. Parece que quanto mais o tempo passa, maior fica. A sensação de vazio aumenta. E a consciência delas também. É falta. Tanta falta! Tanto do que tive do que nunca possuí. Antes eram pequenas fendas, praticamente virtuais. Hoje, são imensas crateras. E não são elas que eu não consigo encarar ou admitir; são aqueles que as fizeram em mim.

quarta-feira, abril 21, 2010

Epifanias.


Pensando por aí, numa sequência de insights, ela descobriu que ele, de alguma forma, era seu motor, seu movimento, e ao mesmo tempo, seu combustível celestial. Com ele, ela conseguia ir além, nem que esse além significasse dois centímetros à frente. Ele não era a razão do seu viver; não deu tempo de ser. Mas, ainda assim, a iluminava e a fazia enxergar várias pequenas razões ao seu redor, e ela saía ao longo do dia catando-as, ajuntando-as em seu colo e apertando-as contra o peito, até chegar o entardecer e ela, então, finalmente perceber que essas razões não passavam de detalhes vis lançados ao vento, que viviam para conspirar a sua continuidade. Sorrindo. Cantando. Respirando. Vivendo. Descobriu que, mais do que dele, ela adorava aquela felicidade subliminar que ele, com apenas um "oi", conseguia arrancar de sua alma carente. Descobriu que o que ela queria manter, muito mais que a presença ou a lembrança dele, é aquilo que ele conseguiu despertar nela; mas, infelizmente, há muita volatilidade nesse pacote de sensações e torpores, e eles têm se dissipado gradativamente, em mais uma luta contra o tempo que ela tem perdido [covardemente]. Ela anda recolhendo algumas migalhas espalhadas e plantado-as no quintal de sua alma na esperança - tola esperança - de que um dia elas germinem e difundam dentro de si as sensações de outrora. Mas no fundo ela sabe - ela tem certeza - que não volta mais. Nunca mais.

terça-feira, abril 20, 2010

Felicidade.



Retirar a responsabilidade da nossa felicidade dos outros... talvez esse seja o maior segredo do bem viver...!

segunda-feira, abril 19, 2010

Fada.

"Todo dia ela faz tudo sempre igual..." Tira um coelho da cartola por dia. Averigua a caixa-estoque de varinhas de condão: cheia. Encolhe as asas; esconde cartas na manga. Cria truques e mágicas pra manter o sorriso na cara, o astral nivelado, o olhar acima do horizonte. Desvia de contratempos. Por tudo isso é confundida com anjo, fada... bruxa. Só por deter poderes ditos sobrenaturais, quando na verdade ela não passa de uma mulher que tem aprendido a viver pendurada nos contrários da peças que a própria vida lhe prega. Que criou asas pra não se afogar em si. Mesmo tendo dois únicos lugares de sobrevôo: a terra da ilusão e a Terra do Nunca. Que pode até ter um quê de fada, de anjo, de bruxa... mas é mais humana do que muita gente possa imaginar.

domingo, abril 18, 2010

Bagunça.



"Pudesse abrir a cabeça, tirar tudo pra fora, arrumar direitinho como quem arruma uma gaveta. Tomar um banho de chuveiro por dentro."

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, abril 15, 2010

Estrela-do-céu, estrela-do-mar.

Que nem estrela-do-céu, eu ainda vejo o teu brilho, embora você já tenha partido há algum tempo. Igual estrela-do-mar, eu ainda me remendo pra conseguir continuar.

segunda-feira, abril 12, 2010

O bilhete.

"... Existem ocasiões efêmeras que justificam toda uma vida."

{Autor desconhecido}


Ela rabiscou num papel qualquer, dobrou, e sem que ele pudesse perceber, depositou-o no bolso esquerdo da sua mochila. Observou ele se distanciar pensando no quão sintonizadas suas almas estavam, ao mesmo tempo que não entendia porque ele fazia tanto esforço pra incinerar aquilo tudo. Mais cedo do que ela pensava, viu que ele, sem querer, acabara de encontrar o papelzinho amarrotado entre lápis e canetas. Ele parou, surpreso, leu e engoliu à seco; mesmo longe era visível aquele deglutir típico de quem se sente atingido de alguma forma. Em seguida, retornou o papel para o mesmo bolso da mochila. Seguiu adiante até dobrar a próxima esquina e desaparecer de sua vista. E de sua vida. Literalmente. Apesar de anônimo, o conteúdo do bilhete lhe era familiar. Ele bem sabia o que aquilo significava; ele sabia, mais do que ninguém, que ela era, ali, em suas mãos, mas acho que preferia fingir que não sabia; talvez por não suportar o peso que ela possivelmente representava, ou por não conseguir suportar o próprio peso do que ele sentia, como um dia havia confessado a ela, secretamente: andava bastante e completamente balançado, e cair na em sua graça, mais cedo ou mais tarde, seria inevitável. Não sei. Só sei que os dias se passaram e a resposta foi se revelando de mansinho: silêncio. Um silêncio ensurdecedor. Que ainda gritava ao pé do ouvido dela até um dia desses, mas que hoje é só sussurro.

quarta-feira, abril 07, 2010

Ultrapassando.

Mudar a direção nem sempre implica em entrar na contra-mão. E mesmo que entre, ultrapassagens são permitidas. Desde que a faixa não seja contínua.

terça-feira, abril 06, 2010

Uma droga.


Ela ainda olha pela janela. De vez em quando, mas olha. O parapeito não era assim tão alto; agora, ela precisa de um banquinho, se quiser mesmo olhar lá pra fora. O vidro já não é mais tão transparente; os ferrolhos andam enferrujados. Uma novidade é a cortina pesada e translúcida, que mal deixa a luz do sol passar. A outra novidade é que tem doído menos olhar. Conformação? Talvez. Aquilo lá tem se tornado cada dia mais rarefeito. Aquela sensação que lhe era tão constante e presente, anda agora lhe abandonando, gradativamente. Parece que aquele momento nunca viajou no tempo, como ela sempre pensara; parece que ele sempre permaneceu inerte, naquele breve espaço de tempo passado; e tem, a cada dia, ficado mais distante. Toda aquela ressonância vem se atenuando e tanto a frequência quanto a amplitude daquelas ondas se tornaram menores. Ele era a sua droga, a única coisa que conseguia arrancá-la, ao mesmo tempo, do céu e do inferno. Ele ainda é uma droga. E ainda detém esse incrível e tão contraditório poder: o de levá-la, ao mesmo tempo, ao céu e ao inferno.

domingo, abril 04, 2010

O que assusta.

O que mais me assusta no processo de viver não é a morte em si. O que mais me assusta é o correr enlouquecedor dos dias, o risco de ter uma existência vã, a incerteza do amanhã e, sobretudo, o fato de só termos apenas uma vida para viver. E de não podermos voltar no tempo um só instante, seja pra fazer o que não foi feito, pra refazer o que foi feito ou pra jamais fazê-lo.
28/10/07