quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Despedida.


Escuta: isso é sim uma despedida. Com tudo que se tem direito. Lágrimas que obedecem à gravidade, apertos no peito, nós na garganta, medos. Certezas incertas... Vontades reprimidas. Sonhos abortados. Cartas escritas à meia-luz. Lenços de papel e óculos escuros pra esconder aquelas olheiras ridículas que eu adquiri por causa das minhas noites mal dormidas. Músicas de fossa no áudio do computador. E sua imagem repetindo-se, intermitentemente, na minha cabeça no meio disso tudo. É uma despedida. Terrível, como todas elas teimam em ser. Lastimável. E não tão menos intensa do que os próprios envolvidos. Sem últimos beijos, nem abraços frouxos, nem tentativa de reconciliação entre lençóis. Sem relíquias em forma de fotos ou telefonemas melosos. Tento empacotar as lembranças enquanto elas saltam do embrulho sem que eu perceba, de fato. Caço uma bola vermelha pra colocar no nariz, mas logo desisto: não é a mim que ela cabe. Tô mais pra equilibrista, malabarista ou piloto do globo da morte. E mesmo te amando por doze horas e te odiando nas outras doze, mesmo te repudiando por vinte e quatro horas e te desejando por quarenta e oito, eu decidi partir, já que você não consegue me rejeitar nem por um minuto sequer. Por minha vez, não consigo rejeitar sua falta de boa vontade em tentar me esquecer. Violões desafinados, vozes enrouquecidas, encordoamentos rompidos... Infelizmente, é uma despedida, ainda que ressoe como uma pausa qualquer. Prenúncio do fim. Do término daquilo que nunca começou.

~ Mari Teixeira ~

sábado, fevereiro 25, 2012

Quando o carnaval não tem fim.



 ♫ "Vou beijar-te agora, não me leve a mal
hoje é carnaval..." 

(Zé Keti)


Um carnaval. Um farol iluminando o breu do mar infinito. Pessoas. Centenas. Não, milhares. E no meio delas, eu. Você. Um sorriso largo. Uma simpatia ímpar. Uma beleza incomum. Um beijo. Dois beijos. Mil beijos. Um amanhecer no colo meu. E o meu coração, num avião, sobrevoando o Atlântico. O inusitado e suas delícias. Quero o coração de volta.

~ Mari Teixeira ~

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Imposto.


Reclamamos tanto dos impostos, mas não passamos de estelionatários da vida alheia. Não bastassem aqueles que o governo nos exige, vivemos cobrando impostos simbólicos  e emitindo multas, uns aos outros. Somos todos impositores. Fomentadores da hipocrisia, a qual, hipocritamente, criticamos. Somos todos impostores, por sinal, e por insistir em eternos carnavais: capas e máscaras perenes. Somos todos malfeitores, afinal, depredadores de carnavais em praças públicas, homicidas potenciais de quem resolve rasgar a fantasia no meio da avenida da vida. Eternos candidatos a boicotadores de felicidade  –  com direito a reeleição e cargo vitalício - cuja disputa é acirrada, sempre prontos a transformar fatos em verdades próprias - e únicas. Sagramos a aparência como virtude-mor, e por isso tanta tendência à superficialidade. Temos medo dos flashes pois, além de ofuscarem a visão temporariamente, nos deixam em foco. Longe das lentes, um segredo: exposição é pra poucos. Aliás, ousarei superlativizar: muito poucos. Pra os que têm coragem de ser o que se é. Pra os que tem preguiça de lustrar a máscara e lavar a fantasia todos os dias. Pra os que se protegem apenas com um fino filme de protetor solar.  Pra os que só devem alguma coisa, impostos, por acaso, ao governo - e ao cartão de crédito. Pra os que entenderam que suas âncoras não valiam uma felicidade - e muito menos várias.

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Mordidas.


 Essa noite eu me mordi de vontade de você, e sangrei, mas sem derramar uma gota de sangue sobre minhas almofadas de cetim ou manchar minhas persianas novas. Sangrei pelo avesso. Contrariei o verter do fluxo num esforço descomunal - e até agora não entendo bem de onde tirei forças pra obter tal êxito.  Por algumas horas, me senti afogando por dentro, numa agonia indescritível, não como alguém que não consegue inspirar, mas como alguém que, contrariando toda a lógica da fisiologia, se asfixia por não poder expirar... Eu preferi sangrar por minhas próprias mãos e também por elas me estancar, a ter que me entregar nas suas e correr o risco de você - mesmo sem intenção - terminar de romper de vez com minha hemostasia. Saudade tá rasgando tudo. Mas eu me mordo. Eu mordo cada laceração, cada retalho de mim que tua ausência corta. Mordo o travesseiro, o urso de pelúcia, e os dedos de tanta vontade de morder o lóbulo da tua orelha, a tua boca e a tua barriga. Mordo as cordas do meu violão pra tentar sentir o gosto que teus dedos deixaram ali. Mordo um sanduíche de queijo e presunto pra ver se essa vontade passa, mas a única coisa que resolve passar é o curta das nossas noites - excelentes e gostosas, como você mesmo pontuou - na minha mente, e um replay das nossas músicas no áudio do computador. Mordida e ensanguentada, levanto a cabeça e sigo em frente, levando entre os dentes essa vontade de te ver e de te morder, sem, no entanto, te fazer sangrar além do que nossa verdade já tem nos feito...

~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

No compasso.


Escrevendo pra dizer que você esqueceu sua camisa vinho aqui em casa e que pode vir buscar quando quiser. Ah, tem um par de meias também; já lavei tudo, e tá bem guardado. Escrevendo por já pressentir a saudade de sentar na beira da cama e cantar ao som do seu violão, e mais saudade ainda de cantar pra você dormir - eu realmente adorava essa parte. Escrevendo também pra pedir desculpas, mas eu tinha que tomar o compasso da sua mão e fechar esse ciclo, já que você não se achava em condições para tal. Eu te entendo, isso não é  coisa fácil de se fazer, eu também já fui que nem você, meio perdida quando o assunto era lidar com a incerteza do segundo seguinte, e mil vezes preferi atropelar as necessidades de decisão que atravessavam minha frente a me "responsabilizar" por meu próprio destino. Confesso que sinto uma leve fadiga por estar gastando uma quantidade razoável de energia pra te entender tanto, e, por isso, resolvi voltar minha compreensão pra mim mesma e pra a ausência de expectativas que já estava se instalando, implicitamente, dentro de mim. A régua também roubei num ímpeto de curiosidade pra medir nossa distância - que, diga-se de passagem, é meramente geográfica; devolvo quando você vier buscar as suas coisas. Fiquei a me perguntar, abismada, como cento e poucos quilômetros podem ser mais relevantes que afinidades, felicidade(s) e outros pormenores que não vou detalhar aqui, por achar desnecessário, já que dizem respeito, exclusivamente, a nós dois. Por fim, tenho uma notícia boa e a outra, não consigo classificar ainda, e por isso vou deixar à mercê do seu julgamento: a boa é que o traço complementar do ciclo, risquei a lápis; e a outra, a incógnita, é que a borracha tá perdida em algum cantinho do seu coração, talvez perto do lugar que você me revelou ter reservado pra mim ou, quem sabe, exatamente nele...

Sem mais,

~ Mari Teixeira ~

sábado, fevereiro 11, 2012

Falando sério.



Falando sério, deu fome. Fome mesmo, não aquela simples vontade de comer. Enquanto era só vontade, algumas migalhas de estrelas e pedacinhos de lua, servidos em lençóis novos na bagunça de um quarto qualquer, regados a um vinho barato e quente, apenas tragável pela presença dos cubos de gelo de água de torneira me bastavam. Enquanto era só vontade, cruzar meu olhar com o seu corpo e sentir na pele o cruzar do seu olhar com o corpo meu no meio de uma semana cheia, depois de saber que você sonhara com uma dose de Bacardi com limão, coca-cola e gelo, e de te fazer sonhar acordado na minha cama, era suficiente. Enquanto era só vontade, arrastar-me com o violão até a sala escura e cantar Roberto Carlos depois da sua partida, com o coração apertado, abraçado pela dúvida de quando mesmo você iria voltar, podia até soar piegas, mas ao mesmo tempo, era lindo de se ouvir -  ... eu não queria ter você por um programa...  - ainda que deprimente, sobretudo pra quem não tem outro colo certo pra deitar. E eu me ouvia, e tentava convencer minha voz a dar carona àquele bolo que insistia em estacionar bem em cima do esterno (pra não falar 'em cima do coração', e deixar a coisa mais piegas ainda). E eu me ouvia, e ao mesmo tempo, ouvia meu estômago contorcer-se, e seus ácidos corroerem suas paredes, e uma dorzinha distante beliscar-me por dentro. E eu te ouvia, e tentava entender tanta dualidade embutida em um coração só, tanta necessidade de encaixar as duas peças do teu quebra-cabeça no mesmo lugar do teu corpo, simultaneamente. Eu te ouvia atentamente, olhando quase que na tua retina, expirando compreensão e inspirando coragem pra me lançar naquele tornado que você acabara de me apresentar. E, embora eu não tenha medo de me jogar,  ...eu tenho cicatrizes que a vida fez... . Então, é isso; é sério. É fome. Não é qualquer vontadezinha que se resolva com  uma noite apenas e nada mais ♫ . Não é amor, não é paixão, nem nada do gênero. É fome. É função vital. É questão de sobrevida de algo que pode (ou não) definir parte das nossas vidas. Aquelas migalhas, joga-as aos pombos; eles são pequenos o suficiente para saciarem-se com tais. E embora minha baixa estatura grite insanamente por uma interpretação ao pé da letra, sou gigante demais pra tão pouco. Se queres ficar, meu bem, sirva-me um banquete, mas antes, ouve meu canto:  ... não quero seu amor por um momento, e ter a vida inteira pra me arrepender ♫ .

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

(In)conformação.


Eu me conformaria muito mais facilmente 
em nunca te ter tido do que,
 tendo sido sua, nunca mais te ter.

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, fevereiro 07, 2012

É você.

"Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais..."

(Renato Russo)





Não é só saudade. É quente, corre nas veias, paralisa o olhar, inquieta, impulsiona. É uma coisa que bate no peito - tum tum tum - que desce pela espinha dorsal e se espalha por todo o corpo... e por fim, volta pra cabeça. Não, não pode ser só saudade. Acho que é você... Que, não sei por que raios, depois que entrou em mim, resolveu se esquecer por tempo indeterminado. E deixou saudade, além do teu todo. Uma saudade que você também faz questão de esquecer. Uma saudade que eu só acato quando você cruza aquela porta, porque eu, propositalmente, também a esqueço no seu corpo, na esperança de pegar carona nela e, assim,  ir aonde quer que você vá. E presta atenção, acerca da certeza que cultivas diante do duplo encanto que assola teu coração; joga fora o medo de que isto o fará parar. Amor, paixão, tesão, ou sei lá o quê mais, não mata, meu bem... Mas, inanição, essa sim... 


~ Mari Teixeira ~

domingo, fevereiro 05, 2012

Feliz vida.


Nada de "Feliz Aniversário", "Parabéns", "Felicidades", nada disso. Pra você eu não desejo clichês, porque a sua pessoa na minha vida perpassa por uma lógica de significado que transcende o comum. Especial é pouco pra te definir... Eu não te desejo nada; eu vou além. Eu peço a Deus que subescreva sorrindo aquilo que meus olhos e meu coração derramam quando penso em você: uma vida vasta, meu lindo; doçura na dose suficiente pra não enjoar o estômago - nem enjoar da vida; equilíbrio; fé na vida e no que mais precisar; força - muita força. E muitos momentos felizes... é deles que a vida é feita! Enfim, é isso. Feliz vida pra você, meu bem-querer...

Um beijo bom, meu bem!

~ Mari Teixeira ~

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Até o fim.


Mesmo já sabendo o provável final da estória, ainda assim, eu estou escolhendo ler o livro até a última página. Uma por vez. Palavra por palavra. Leve e ácida. Atenta aos pormenores. Concentrada apenas em te fazer o bem que me fazes. Disposta a viver esse enredo. Por vezes, ansiosa pelo próximo folhear. Outras vezes, saudosa pela página que acabei de virar. Na maioria delas, excitada por cada capítulo vivido nesse breve espaço de tempo que eu ouso chamar de nosso. Mesmo já sabendo a música de cor, eu quero cantar até o fim. Repetir o refrão, e refletir as estrofes, simplificar os arranjos. Eu quero cantar pra você. Até a última página da estória. Aquela que eu já sei o final.