Escuta: isso é sim uma despedida. Com tudo que se tem direito. Lágrimas que obedecem à gravidade, apertos no peito, nós na garganta, medos. Certezas incertas... Vontades reprimidas. Sonhos abortados. Cartas escritas à meia-luz. Lenços de papel e óculos escuros pra esconder aquelas olheiras ridículas que eu adquiri por causa das minhas noites mal dormidas. Músicas de fossa no áudio do computador. E sua imagem repetindo-se, intermitentemente, na minha cabeça no meio disso tudo. É uma despedida. Terrível, como todas elas teimam em ser. Lastimável. E não tão menos intensa do que os próprios envolvidos. Sem últimos beijos, nem abraços frouxos, nem tentativa de reconciliação entre lençóis. Sem relíquias em forma de fotos ou telefonemas melosos. Tento empacotar as lembranças enquanto elas saltam do embrulho sem que eu perceba, de fato. Caço uma bola vermelha pra colocar no nariz, mas logo desisto: não é a mim que ela cabe. Tô mais pra equilibrista, malabarista ou piloto do globo da morte. E mesmo te amando por doze horas e te odiando nas outras doze, mesmo te repudiando por vinte e quatro horas e te desejando por quarenta e oito, eu decidi partir, já que você não consegue me rejeitar nem por um minuto sequer. Por minha vez, não consigo rejeitar sua falta de boa vontade em tentar me esquecer. Violões desafinados, vozes enrouquecidas, encordoamentos rompidos... Infelizmente, é uma despedida, ainda que ressoe como uma pausa qualquer. Prenúncio do fim. Do término daquilo que nunca começou.
~ Mari Teixeira ~
~ Mari Teixeira ~