sexta-feira, janeiro 29, 2010

Os ignorantes são mais felizes.


Você anda por aí feliz e finge não saber de nada. É uma das maneiras mais fáceis de se esquivar sem ter que gastar muita energia. Mas lá no fundo, você sabe muito menos do que sente. É que saber e sentir, simultaneamente, são capazes de fazer qualquer pessoa mudar a direção, mesmo sem bússola no bolso. Você sabe disso, e eu sei que sair dos trilhos não é sua cara. Não faz seu tipo [embora eu tenha certeza que um dia você vai descobrir o quanto um cálice de adrenalina rejuvenesce]. Você também não sabe sentir. Complica tudo. Já faz um tempinho, resolveu cerrar os olhos e limitar o movimento de rotação do pescoço pra não perceber o quanto determinadas coisas te atingem. E eu aqui, enlouqueço nos meus excessos. Cazuza tinha razão. "Os ignorantes são mais felizes." Bem mais felizes. Os que fingem ignorância também. Só não sei até quando.

Invenção.

Eu te confundiria facilmente com uma visão, com um sonho ou com minha própria imaginação se nunca houvesse te tocado. Mas, no fundo, eu tenho certeza: você não existe. Tua forma mais concreta só enxerguei de olhos fechados. Tendo-os abertos, nunca apareceste pra mim. Acho que o que senti foi uma manobra da minha carência, uma forma de preencher vazios, entende? Acho que tentei te encontrar pra me descobrir. Que te pintei pra me enganar. Que te inventei só pra me recriar.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Eu vi.

Ninguém me contou, eu vi. Foi um magnetismo descomunal. Atraiu, envolveu e sutilmente fez brotar um sentimento que irrompeu a lógica rotina daquelas vidas de uma forma inusitada. Ímãs. Me pareceu tão intenso! Coisa bonita de se admirar. E, na hora, sorri. Não pude deixar de imaginar o quão maravilhoso seria que todo mundo, ao menos uma vez nessa vida, pudesse experimentar a intensidade e a singularidade daquele momento, comprovando veementemente as leis da física e os princípios químicos que o regem, na própria pele; o sublime encontro do áspero com o veludodo. Uma complementaridade quase perfeita. A incrível mescla dos sentidos; todos sincronizados, bailando naquele breve espaço de tempo. Um universo ao redor, e o tempo parado ali, mas com passagem comprada pra partir no trem do minuto seguinte. Havia um grande medo do trem não perfazer mais o caminho de volta. E um rio de poréns, de porquês, de comos, de ondes, de perguntas sem respostas e sensações latentes, cimentadas na alma que resolveu ficar. Ah, o trem! Faz dias que estou na janela... e agora só consigo enxergar a espera. Tem tardado. Acho que ele não volta mais, não.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Livre-arbítrio.

Perguntaram pra ela qual era a coisa mais sensacional do mundo. Ela pensou um pouco, e depois não teve dúvidas. Respondeu com voz forte, mas, pausadamente; olhar longíquo, coração firme, música entornando dos olhos e vida escapando entre as mãos:


- "O livre-arbítrio, esse dom que tanto tentam nos roubar..."


quinta-feira, janeiro 21, 2010

Todo carnaval tem seu fim.

"...e é o fim, e é o fim...!"


Eu não gritei com ela. Não mesmo - embora tenha sido essa a minha vontade. No auge da sua [suposta] maturidade, fico a pensar de onde veio tanto retrocesso. Já não bastava sua vidinha mais ou menos tão incerta e cheia de pormenores tão gigantes? Já não bastavam os tombos e as quedas-livres tão frequentes e tão dolorosas? Eu não precisava gritar com ela. A própria vida e o correr dos dias se incumbiram de berrar ao seu ouvido, o fim. Mas, lhe restou a metade do meio disso tudo. E no fundo, não me engano; acho que ela já esperava o final desse carnaval. Ver o salão mudo. O chão, raso de confetes e serpentinas. Máscaras ao léu, abandonadas por amantes que resolveram se redescobrir. Tanto riso, tanta alegria, transfigurados em utopia. Sim, eu tenho que concordar com ela: "mais de mil palhaços no salão...". E ela resolveu se encantar pelo mais infantil de todos os palhacinhos, um confuso Pierrot que burlou a astúcia do Arlequim, e fugiu com a Colombina do carnaval passado. E como numa troca de papéis, aquela lágrima que rolava rosto afora no Pierrot, verte agora dos olhos dela. Mas logo seca. Até o próximo carnaval chegar.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Agora.

Agora, meu lema é AGORA. Suscetíveis à tantas oscilações no planeta vida, nada podemos prever, muito menos a infinitude das coisas. Toda visão romântica da vida joguei fora. A coisa aqui é muito mais instintiva do que sentimental: nada de coraçõezinhos sobrevoando as nossas cabeças. Sobrevive quem melhor administra seus instintos, suas dores, suas derrotas e decepções. Sobrevive quem derrama suor, que consegue escapar, ainda que ferido, da selvageria que nos rodeia. Mania de eternidade também já tive, mas ela se acabou. Eterno mesmo, só meu Deus. Sim, coraçõezinhos cor-de-rosa existem, mas têm hora certa pra entrar em cena, e são voláteis. Melhor assim. Pé no chão é uma das melhores virtudes que se pode ter.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Contrastante.


"E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda."

{Caio Fernando de Abreu}


Dizem por aí que ela incomoda. E muito. Que é chata, antipática, metida a besta e outras coisas do gênero. Dizem que ela é linda, que ela é horrorosa, que é ridícula e maravilhosa. Que usa chinelos durante o dia, que comprou um celular novo, que de um dia pra o outro criou asas. Que passa na rua e não fala com ninguém e que cola de enjoar em quem ama. Que ela não tem o que fazer e que essa coisa de trabalhar e estudar é pura ambição. Dizem um bando de coisas. Dizem o que querem dizer. Mas ela é o quê mesmo? Um bibelô, uma boneca? Ou seria uma bruxa travestida em fada? Não. Ela é ela mesma. Linda. Segura de si. Seletiva. Singular. Autêntica. Contrastante. Diferente. Por isso acaba por ressair um pouco na multidão. Muda a rota dos holofotes, sem intenção premeditada. Sem falsa modéstia. E mais uma vez incomoda. Vive tão preocupada com seus próprios problemas que não tem tempo de fuçar a vida alheia, e muito menos de se incomodar com os incomodados. Anda tão ocupada com seus próprios defeitos, que pouco os enxerga no outro. Ela , que descobriu que a vida é hoje, frágil, efêmera, e quanto mais leve ela for, mais fácil fica carregá-la. E não se esquenta com nada disso. Porque no final das contas, quem paga mesmo as suas contas é ela. E ponto final.

domingo, janeiro 10, 2010

Carta aos meus amigos.


Tenho pensado muito em vocês. Todos. Os de perto, e os de longe. Em vocês. Que, por tantas vezes, aliviam o peso da minha existência. Que decidiram burlar minhas precariedades e debruçaram-se a conhecer meu desajeitado lado B. E depois de terem conhecido, ainda assim, optaram em ficar. Que gostam de mim do jeito que eu sou ou exatamente porque assim eu sou. Vocês. Que tiveram a sensibilidade de entender a minha intensidade acenando, sinalizando essa necessidade, teoricamente, tão particular. Vocês que, passando por mim, arquitetaram a forma mais completa e absoluta de permanecer: sendo. Sim. Porque apenas morar dentro de mim, era pouco. Ter vocês apenas na superfície do meu interior não bastava. E hoje quem é em mim, o sabe, o sente. Ser no outro é muito mais do que estar. Quem está hoje, amanhã pode não estar mais. Ao contrário, quem é no outro dificilmente deixará de ser, porque quando isso acontece, as essências se fundem em uma coordenação que independe das divergências, da religião, da ideologia e do tipo sanguíneo. Talvez isso exceda a compreensão humana, mas é mesmo assim que os sinto: tão em mim quanto eu mesma.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Achei.


Foi sem querer. Apenas um clique, e eu me bati de frente com seu protótipo. Se ontem achei que tinha te perdido em mim, hoje, ao dobrar uma das minhas esquinas, trombei com você. É, eu te achei. Você ainda tá aqui. Vive na minha pele, se esconde nos meus poros, percorre as minhas veias periféricas, levanta arrepios abruptos e provoca sensações involuntárias e indescritíveis. Já não preciso de telescópio ou microscópio porque não adianta; longe ou perto, em ciscos ou em cacos maiores, vou te encontrar. E se não te encontrar, vou te sentir. Porque se é verdade que o que os olhos não vêem o coração não sente, posso afirmar que o que o coração sente, os olhos conseguem ver.

Não sei.

Coração anda vazio de doer. Um murmúrio qualquer, demanda um eco sem fim. Pode até ter alguma coisa aqui, mas assim, à olho nu, não consigo enxergar nada. Não sei em que proporção nem em que dimensão você se encontra dentro de mim - se é que ainda se encontra. Não sei se é mais coerente utilizar um microscópio ou um telescópio pra te vasculhar; aliás, nem sei se quero te encontrar mais. Ter você aqui foi bom; não ter [aparentemente], tem sido indiferente. Eu não consigo achar algum adjetivo pra classificar esse estado de ausência que configura toda aquela abstração que pra mim foi tão concreta. Acho que prefiro te deixar quieto, in ou out. Não sei se tampono os ouvidos pra não ouvir teus monossílabos, se vendo os olhos pra não ver tuas visitas ou se me calo pra não falar o indevido. A impressão que tenho é que você passou, deixou rastro, mas ando tão exausta de tudo que não esboço a mínima vontade em seguí-lo. É que eu sou gente, sabe? E gente cansa.

domingo, janeiro 03, 2010

Corro.



Todo cuidado agora é pouco. Neuroses e traumas à parte, cautela, mais do que nunca, tornou-se meu lema. É que a essa altura, penso em minimizar ao máximo a possibilidade de errar, já que anulá-la é impossível. Ao mesmo tempo, numa contradição estúpida, sinto o impulso vital de me jogar de um penhasco, ciente que da queda posso herdar tanto a morte quanto a vida propriamente dita; não essa que me atestam pelo simples fato de eu respirar, mas uma vida de verdade. Eu corro contra um tempo que insiste em não me esperar, e não há barganha ou acordo que o convença a ser meu aliado. Eu corro atrás de um tempo que eu julgo ter perdido,e desejo dias de 30horas, noites estreladas, lua cheia e brisa na cara, sentimentos sinceros e música tocando nos auto-falantes dos postes sem cessar, só pra tentar compensar os dias idos e infrutíferos. Corro porque faz bem pro coração; esse sedentarismo de contentação barata não ficou pra mim. Corro até cansar, e quando cansar levanto e corro de novo, seja pra fugir da dor ou pra ir de encontro ao que me faz bem. Eu corro. Porque se eu não correr, ninguém vai correr por mim.

sábado, janeiro 02, 2010

Vazou.


Toda esperança vazou hoje quando você me disse que seu passado adiantou-se ao seu presente, e ambos andam firmes de tal forma que daqui há pouco eles se fundem e ele vira presente de vez. Você já havia me comentado que seu presente andava salpicado - e muito; é bom ressaltar - do seu passado que não passou, mas eu acho que, na verdade, você fazia muita questão de estacioná-lo na frente da sua vida. É, deu certo. E eu te entendi, e te dei força, e ponho-me novamente na estrada a caminhar sozinha e sem rumo. Fui pivô indireto desse encontro temporal, mesmo torcendo, desesperadamente, pra que você enxergasse e aceitasse o presente que estava ao seu alcance, mas você preferiu a marcha-ré, e eu num tom de maturidade te disse: "vai, vai mesmo! Vai em busca da sua felicidade". Pois bem, você foi. E hoje me disse que tá feliz. E minha esperança vazou mais ainda. Agora você virou meu passado, e vez ou outra vai respingar na minha existência. Sabe, eu também sou dessas que adora estacionar o passado na porta da frente da minha vida, só pra ficar olhando pela janela e me deliciando de nostalgia. Mas, dessa vez, não vou demorar em chamar o guincho...

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Stand by.

Amanheci em stand by. Sensação mais insípida essa. Habituada com o fluxo e a oscilação constante de sentimentos, chego a me sentir oca. Parece que minha alma resolveu sair pra passear, e eu tenho medo dela se perder por aí.