sexta-feira, setembro 30, 2011

Looping em queda livre.





O primeiro looping é que nem o primeiro sutiã e o primeiro beijo: a gente nunca esquece. E, presumo, que a primeira queda livre, também não...

Meu primeiro sutiã era lindo! Não tinha bojo, mas eu tinha peito suficiente pra caber dentro dele sem problemas. Não tinha, claro, porque isso é coisa contemporânea. Hoje, todos os meus sutiãs têm, e eu tenho menos peito pra caber neles; mas, muito, muito mais peito pra enfrentar a vida.

O primeiro beijo foi confuso, inesperado, mas gostoso - como o dono do beijo. E eu quis repetir várias vezes. Todos tão bons quanto o primeiro. Mas o último do primeiro, foi o melhor de todos os primeiros. E eu prefiro não detalhar mais.

O primeiro looping não só vira sua cabeça, mas você inteirinha. Entontece, mas também faz a gente voltar a alguns pontos da nossa vida com a lucidez e a maturidade que a gente dava tudo pra ter tido lá atrás. São 360 graus literais. Um giro completo de um compasso. Uma volta inteira em torno de si. Mexe com todas as suas sinapses, com o que passou, com o que ainda pode ser, e com todo o controle interior que você achava que possuía. Desperta suas necessidades, te destoa da realidade e te faz prescindir de muita coisa que você julgou essencial por uma vida toda mas que,  na verdade, só foi durante o tempo que você acreditou que era.

E a primeira queda livre... bem, ainda estou nela. Por enquanto, posso dizer que é uma delícia. A sensação de perigo é constante, mas se minimiza e quase some diante da sensação de liberdade que o vento, sustentando meu corpo, me proporciona. Nessa viagem somos só nós dois: o vento e eu. Ele me balança, mas não me causa náuseas. Quando chegar lá em baixo - se é que  lá em baixo existe - juro que volto aqui pra contar.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Vontade.


- Vontade de você...
- De mim?
- É... de você.
- Também te quero...
- E tem vontade também?
- Como assim? Não é a mesma coisa?...
- Nem tudo que a gente quer, a gente quer por vontade; pode ser por conveniência, por capricho, por necessidade...

Ela parou e pensou. Depois de alguns segundos, continuou:

- Então... não sei...
- Não?
- Não. É muito mais que apenas uma intenção. Se fosse vontade, já teria passado e voltado um milhão de vezes. Mas não passa. Não é sequer intermitente. É um troço que nem pra isso serve. É uma coisa que me leva até você e que eu nem ouso tentar definir, porque estou dentro dela, e não consigo enxergar essa coisa por fora pra poder ter certeza do que é. É algo que simplesmente me puxa pra você, como se fôssemos  ímãs: dois corações de naturezas completamente opostas, mas de essência mesma. Duas almas ligadas pela débil linha de uma distância que só é concreta pra quem não entende que sempre estivemos um no outro, mesmo quando nem nós sabíamos disso... Pode até ter um quê de vontade, uma pitada de querer mas, né só isso, não.

Ele silenciou e sorriu. E disse:

- Pode ser...  mas, por outro lado, que importa? Tem um mundo imenso lá fora esperando a gente, e a gente aqui, preocupado com essa bobeira de definição que na verdade, não define nada.  No final das contas, meu anjo, voltamos ao ponto de partida: a única coisa capaz de definir alguma coisa aqui são as nossas vontades. Todas elas...
- Você...! (risos)... Sempre rompendo com meus argumentos...
- Pra que argumentar, meu bem, se a gente pode sentir?...


sábado, setembro 24, 2011

O gostoso da vida.


Que a primavera me traga, além de flores, frutos...
Pois o aroma complementa o sabor, mas não se sobrepõe à ele.
E a visão, por mais beleza que possa descobrir nos mistérios visíveis, é vã, diante da completude que  o paladar consegue proporcionar. Não é a barriga cheia que sacia, mas a delícia que percorre as papilas gustativas. O deglutir é consequência do prazer. Do gostoso da vida. 

segunda-feira, setembro 19, 2011

Bem lá dentro.



Você me veio como aquela gota d'agua que respinga da última folha do mais alto carvalho, bem no meio da  testa, num dia qualquer de inverno. Chegou repuxando meus lábios leve e espontaneamente, muito tempo depois de ter me arrancado gargalhadas históricas. Chegou quando eu já achava que sorrir era mais uma das coisas que Deus havia reservado pra minha outra encarnação. Chegou devagarzinho, mas rompendo o hiato que, sem razão, havia se estabelecido entre nós; chegou pra lembrar que a gente era maior do que ele e, por cima dele, criou um ditongo lindo. Você me veio, e eu me lembro de não ter querido olhar. De ter pedido, cabisbaixa, pra que você se retirasse junto com seu olhar, não porque me pesasse, mas por me fazer levitar - e eu tenho medo de altura, ao contrário de você. Seus olhos certos, certeiros, que me pediam a mim. Pedi por medo de despencar e sangrar até morrer, até lembrar que é sangrando que a gente mensura o tamanho da vida que há em nós. Pedi porque olhei pra baixo e vi que você não estava lá pra me segurar, mas, daí, olhei pro lado e  me perdi no desenho do ajuste das nossas mãos e na sombra do encaixe dos nossos corpos. Eu pedia como quem pudesse impedir a entrada de algo que já estava dentro. Mas, acho que pedi um pouco tarde demais, porque agora você cresceu tanto, que não passa mais pela portinha do meu coração.

domingo, setembro 18, 2011

A voz.


É estranho quando só a voz te basta...
O resto pode até ser excesso, mas nunca supérfluo.
Necessidade travestida em vontade.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Contaminação.



Contaminei todas as minhas músicas com você. Foi sem querer. Era a única coisa casta que ainda me restava, conquanto tudo que me circundava e em mim habitava já havia sido tomado pela sintonia dos teus acordes que me acordaram pra vida. Era a única coisa que me acalmava, mas que, agora,  só me excita, me provoca. Nem  minhas fronhas brancas escaparam, nem os livros da biblioteca da faculdade, nem o espelho do meu quarto. Nem eu. Agora elas só sabem te tocar. E me intoxicar.

terça-feira, setembro 13, 2011

Amizade entre homem e mulher: existe?


Existe. Desde que exista antipatia física suficiente entre vocês pra impedir qualquer tipo de aproximação além da epiderme. Desde que a sua carência seja bem menor (mas bem menor meeeeesmo!) do que essa antipatia física. Desde que ele não tenha barriga de tanquinho, pernas torneadas e bíceps generosos, e mesmo ele não tendo nada disso, você não o ache lindo de morrer. Desde que não exista nenhuma (entendeu? Nenhumazinha...!) superfície de contato complementar nas superfícies dos seus corpos, que permita qualquer tipo de encaixe. Desde que o cheiro dele não lhe cause torpor e que não exista o mínimo de magnetismo entre os olhares de vocês. Desde que seu toque seja isento de eletricidade e sua voz entre por um de seus ouvidos e saia pelo outro, sem que ocorra qualquer absorção da mesma com consequentes alterações físicas denunciadoras de que as coisas podem estar se transformando. Desde que a figura dele não se adsorva em seu pensamento - e, em hipótese alguma, alcance a sua imaginação. Desde que ele não use cueca box, nem barba de três dias ou detenha o dom de te despir com apenas um olhar. Porque aí, minha amiga, a coisa deixa de ser amizade e passa a ser tentação. E aí, complica mesmo; porque, até a última super heroína que eu conheci, fugiu com o Superman...

segunda-feira, setembro 12, 2011

domingo, setembro 11, 2011

Um pouco sobre muita coisa.



Não existem verdades eternas. Nem certezas absolutas. Existem as "nossas verdades" - que podem ser mentiras para os outros. Não somos amigos de ninguém, nem os temos: apenas estamos amigos dos outros. Por mais que eles vivam dentro da gente ou sejam na gente, a vulnerabilidade da natureza humana tem o poder de reverter a ordem de todas as coisas que estiverem sujeitas a ela. De repente, uma vida inteira pode mudar em um segundo; e de acreditar nisso, temos fugido o tempo todo. Como disse um amigo meu, a dúvida faz parte (e na hora eu o odiei, mas depois que li em algum lugar que certeza é pra gente que não ama o suficiente, entendi).

Fé não é coisa que se deva ter somente lá na igreja; é coisa que a gente tem que trazer pra vida aqui fora também. Eu, particularmente, não tenho muita fé nos seres humanos, mas minha susceptibilidade me empurra pra eles, e eu me permito envolver, na grande maioria das vezes. A gente bate o olho e às vezes acerta. Ou bate de frente e descobre: "ops! Foi engano". Ou percebe que a pessoa que a gente julgou maravilhosa não era bem como a gente queria que fosse... e que a pessoa do equívoco é mais uma nessa vida a se chamar surpresa - e como elas são boas!


Relacionamentos começam e terminam, tal qual aqueles que os realizam (e idealizam): os meros humanos; mas, sim: a gente sempre espera reciprocidade - à altura!  Porque também somos humanos - à altura daqueles que nos decepcionam também. Fugimos das decepções como o diabo foge da cruz? Sempre. É lógico. É óbvio. Quase ninguém gosta de perceber que foi feito de otário, mesmo que por um ínfimo espaço de tempo  (embora existam os que são otários o suficiente pra não perceber que estão sendo feitos de otários, e os que sabem, mas preferem fingir que não sabem). Mas o pior de tudo é saber que a qualquer momento a gente pode fazer parte de uma das duas categorias anteriormente citadas...

Quem disse que a vida não era uma viagem arriscada, como todas aquelas que a gente faz pelas estradas físicas da vida? Quem foi que disse que não existem vários caminhos - e que você tem o poder de escolher qual deve seguir? Sua mãe? Seu pai? Puta sacanagem eles fizeram com você! Comigo... Mas, ainda bem que a gente cresce - e amadurece (ou ao menos eu espero que isso aconteça necessariamente nessa ordem, porque a ordem inversa traz mais sofrimento do que se possa imaginar...). Não é fácil ser humano, ao mesmo tempo que é a experiência mais deliciosa que uma alma pode ter (puxa!... senti uma profunda pena dos anjos agora!!!). Quem disse que era, nunca conseguiu se reconhecer um, e - é triste dizer - mas, talvez morra sem descobrir isso. É preciso coragem para conhecer-se, desnudar-se, pra depois poder arrancar as ervas daninhas. Pra plantar mais algumas margaridas, mudar  de jardim, ou, simplesmente, aceitá-lo.  Se a gente sempre se colocasse no lugar do outro, talvez o mundo fosse um outro lugar...

quinta-feira, setembro 08, 2011

Ser em mim.



E não tarda, logo chega a hora em que o vazio se instala aqui de novo. Teu efeito perdura por um tempo tão irrisório comparado à intensidade dele! E, quando penso em comer-te pra poder saciar-me novamente, dou-me conta que é sendo [tua] comida que me satisfaço. É sorvendo teu gosto em mim que me fortaleço. É velando teu olhar que encontro deleite. Você me vem e me [pre]enche de sorrisos e olhares, de pronomes possessivos e verbos subjuntivos, e eu, rasa, satisfaço-me e derramo-me, desfazendo o turgor de outrora . Você me envolve de mistérios, e me mantém refém da espera, atrasa meu sono e antecipa meu despertar. Consegue me dar um dia de presente, sem sequer deter o poder sobre ele. Retira-me do tempo de tal forma, que eu nem percebo e o dia já amanheceu. É presente mesmo na completa ausência. Me pede calma ao mesmo tempo que me faz perdê-la, mas finge que não sabe que é o meu ansiolítico; o único capaz de realizá-la em mim. Fomenta minha intensidade e minhas necessidades. Canta sem saber a letra e ainda assim me encanta. Ludibria meu tédio, mesmo quando a rotina me toma. E não sabe fazer outra coisa, senão ser em mim. Só ser em mim.

terça-feira, setembro 06, 2011

Não para.


As semanas podem ser cheias, os dias sem espaço, as horas sem atraso, a rotação do planeta parar... O tempo pode correr e  buzinar no meu ouvido pra que eu saia da sua frente, o relógio andar em sentido anti-horário e o sol se pôr bem devagarzinho... Posso estar extremamente atarefada, absurdamente cansada, completamente rodeada de pessoas, submersa no sono mais profundo que possa existir... mas nada - absolutamente nada- muda a intensidade e a velocidade com que todas essas coisas têm acontecido dentro de mim.  Eu posso até fingir que elas desaceleram diante das circunstâncias supracitadas, mas lá no fundo continuam caminhando em velocidade supersônica. A saudade que o diga...

sexta-feira, setembro 02, 2011

Posso errar?


Dia desses, me peguei com uma puta vontade de "errar", só pra ver como é que é. Errar uns "erros" convencionados por gente que só quer manipular a natureza humana. Era um vontade quase igual àquela que (s)urge às 4 da madrugada, chovendo horrores, quando vc tá gripada, sem carro, sem grana, e com um desejo absurdo de tomar aquele sorvete de passas ao rum da Kibom que custa os olhos da cara. Uma necessidade de partilhar da mesma condição dos pobres mortais errantes. De experimentar a humanidade em todas as suas nuances. Pensei em premeditar o 'erro', pra poder escolher certo, mas, pensei tanto, que desisti. Não que eu nunca tenha errado nessa vida, não é isso. Errei sim, mas nada tão histórico e nem tão digno de ser contado numa roda de amigos num sábado à tarde, na porta de casa. Nada tão ridículo ao ponto de ouvir o côro uníssono deles bradando: 'louca'! Nada que rendesse boas gargalhadas. Nada tão emocionante que tenha me roubado o sono ou custado uma surra. Nada que tenha me feito sentir mais viva ou que tenha me rendido aprendizados e experiências imprescindíveis.

Não tão raramente, ainda me bate uma vontade louca de 'errar'. Quase uma necessidade. Só pra ver como é que é. Nada absurdo, que coloque em risco o meu valor maior: a vida. Na verdade, é justamente pelo apreço que nutro pela minha que eu acho que mereço experenciá-la na plenitude dos "erros" e acertos.

"O certo ou o "certo" pode até ser bom. Mas às vezes
merecemos aposentar régua e compasso."
(Leila Ferreira)