sábado, agosto 19, 2017

Não é.



Não. Não é porque ela frequenta festinhas e baladas e bebe tequila até o dia amanhecer que você não namora com ela. Não é porque ela usa cropped com mini-saia, porque abusa do decote e adora short curto. Não é porque ela é adepta ao batom vermelho ou porque ela já teve oito namorados e meio. Não. Não é porque ela dá no primeiro encontro ou porque faz cu doce que você não apresenta ela aos seus amigos. Não é porque ela é espiritualista e você abomina a reecarnação, ou porque os melhores amigos dela são homens. Não é porque ela é magrinha ou gordinha, porque tem a bunda pequena ou os seios grandes. Não, não é. Não é porque ela te enche de mensagens fofas, é atenciosa e dedicada ou porque te dá uma gelo antártico e um coice por dia que você não a leva pra conhecer seus pais. Não é por isso. Não é porque ela é independente, tem seu carro, sua profissão, sua grana, chega e sai quando quer, que você desistiu dela. Não é.

É porque você não a ama. Porque seus olhos não conseguem brilhar quando vêem o sorriso dela todo bobo pra você. É porque nada do que ela faz e diz, por mais lindo, romântico e bem intencionado que seja, faz o mínimo sentido pra você. É porque a voz dela não consegue fazer fibrilar nem um pouquinho esse seu coração de aço inoxidável vagabundo, e os seus beijos não passam de um passatempo esporádico que perde pro jogo do Corinthians. É porque você não consegue mensurar o valor e a grandeza dela, e muito menos conseguiria se alargar pra poder fazê-la caber em sua vidinha medíocre, pois isso é mesmo uma missão impossível pra um ser humano tão engessado que nem você. É porque prefere colecionar pessoas ao invés de momentos.

E isso não é culpa sua. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém e tá tudo bem. Mas é obrigado a ser sincero, ou pelo menos deveria ser. Porque permitir que o outro construa um castelo em cima da areia é coisa de filho da puta, e, meu bem, ninguém merece um tipinho desse na vida. Ninguém merece engolir mentiras, desculpas, traições, fingimentos, cinismo e afins. Eu não duvido que você até que você goste da companhia dela, que sinta tesão por ela, que seu corpo responda ao calor do dela, que a cama vire um caldeirão, coisa e tal, mas você já passou dos dez anos faz tempo e sabe muito bem discernir atração física de amor. Então para de querer inflar seu ego de macho-alfa desesperado por auto-afirmação e tenha a dignidade de ser, no mínimo, sincero. Você não a ama. Bate essa porta e vai embora, mas vai ciente que a chave está do lado de dentro e que talvez o seu retorno esteja bloqueado. Pra sempre. 

terça-feira, agosto 15, 2017

Ele sabe.



Ele sabia. Ele sabe. Ele sempre soube. A vagabunda da minha transparência nunca teve competência suficiente pra se opacificar por um segundo sequer, e não deu n'outra: ele leu nos meus olhos, nos meus gestos e no meu beijo que eu já era dele. Toda dele. Só dele.

Ele sabe. Sabia. Sempre soube. Que qualquer tentativa de congelamento da minha parte podia ser desfeita pela simples e imediata presença de sua pele incandescente a centímetro da minha. Da fusão à ebulição em poucos segundos, contrariando quaisquer leis físicas ou químicas. Ou seja, mais uma vez, dele. Só dele. Muito dele. Pra sempre dele.

terça-feira, agosto 08, 2017

É o medo.


Eu não quero te esquecer. 
E temo enlouquecidamente que você me esqueça. 
Sabe o que é? 
É o velho medo - ridículo medo - 
de perder aquilo que nem tenho.

sábado, agosto 05, 2017

Sobre jogos.



Não sei jogar com os outros. Não sei e nem quero aprender. Embora a vida exija algumas estratégias de sobrevivência, existe uma crueza embutida nesse ato quando ele é direcionado ao outro que poucos conseguem enxergar.
Jogar requer frieza. Incapacidade de se colocar no lugar do outro. Uma coleção de máscaras. Um guarda-roupa de capas. Um curso intensivo em manipulação e outro de fingimento. Graduação em cinismo e pós em mentira. Pra jogar tem que saber se compartimentalizar sem se quebrar, por isso o jogador nunca é inteiro... ele não consegue porque é feito dos cacos das migalhas que ele oferece a quem se contenta com elas.
Eu não sei jogar, mas já tentei um dia e confesso, o gasto energético que eu tive pra conseguir manter esse tipo de farsa foi tão grande que eu desisti antes do pôr-do-sol. Já não vale a pena se despersonalizar, imagina pra alcançar alguém que não faz questão de ser alcançado.
Eu nao quero saber jogar. Dispenso as cartilhas que andam me emprestando, as dicas e técnicas, as teorias e certezas de efetividade. Dispenso porque consigo enxergar a vida além de "ganhar" ou "perder". Dispenso porque o ser humano é precioso demais pra ser tratado como um peão de tabuleiro, uma carta rasa de baralho ou uma bola lisa de bilhar.
(Mari Teixeira)

terça-feira, julho 25, 2017

Caos.



Minha casa é um caos. Meu computador é um caos. Minha caixa de emails também. Meu armário, nem se fala. Minha cozinha, meu caderno, minha bolsa, minha família... Meu carro, minha mente, meu coração e  minha conta bancária... Mas quando sento pra escrever, tudo se ordena sobrenaturalmente, mesmo em meio à toda essa entropia. Lindo isso. Talvez, o mais lindo que há em mim...

sábado, julho 08, 2017

Sem medo.


Eu não tenho medo. E eu acho que a grande merda dessa nossa estória é exatamente essa. Desde o começo, nenhum pingo de medo. Você me veio, e eu resolvi viver esse pedaço da minha vida dentro da sua vida. Gritei da janela do meu apartamento, sem vergonha nenhuma:"do not disturb, fear", e acho que ele entendeu, porque ainda não apareceu.  Do banco da praça ao carro, da cama ao terraço, do céu ao inferno: cadê esse tal medo? Tenho me jogado desse precipício de mãos dadas com você, certa de que morrer é o mínimo que pode vir a acontecer. Não sei onde isso tudo vai dar... se no altar da igrejinha mais linda da cidade ou no abismo mais sinistro do planeta. Não sei me negar ao meu sentimento nem ao toque da tua boca na minha. Não sei quem você é, mas sei que sou a mulher mais realizada do meu mundo durante os milésimos de eternidade que passo com você.

Mari Teixeira

quinta-feira, junho 22, 2017

Em águas rasas.


Mas foi assim, olhei pela janela, vesti um short curto, um top estampado, calcei as havaianas e bati a porta de casa. Quem iria imaginar que num dia de sol escaldante, de céu anil sem um rastro de nuvem ou sinal de tempestade, a chuva iria aparecer? Fazia tanto tempo que não chovia tão copiosamente por aqui que eu nem cogitei a possibilidade.

Foi bem assim, como sair num dia ensolarado sem guarda-chuva e ao virar a esquina ser encharcada por gotas grossas de chuva. Foi bem assim, inesperado... chegar em casa toda molhada de você e por você, deitar na cama e, assustada, perceber que tropecei mais uma vez em uma caixinha de vidro cheinha de água.

Assim, naquele dia eu dispensei a blindagem, eu desconsiderei o poder de um olhar, eu julguei adormecida minha insanidade, eu subestimei a mágica de um beijo, eu ignorei as probabilidades da matemática homem-mulher, eu não imaginei que estabelecer-se-ia um ímã tão perfeito.

Naquele dia eu rompi meu voto íntimo de nunca mais nadar em algo tão limitado, eu deixei meu marzão pra trás pra me aventurar mais uma vez num pequeno recipiente que se tornou, hoje, minha imensidão sem fim.

Mari Teixeira

quarta-feira, junho 21, 2017

Frustrações




A repetição de frustrações sem pausa adequada pra gente se recompor acaba causando redução da nossa coleção de expectativas, estourando as nossas bolhas de ilusão e rompendo a ideia utópica de essencialidade que a figura do outro representa pra nós.

A desilusão é a verdade travestida de sofrimento que aparece quando nossa limitação insiste em nos impedir de aprender a caminhar sob a égide do amor.

Mari Teixeira

Tudo é leve.


O que a gente faz com amor nunca é obrigação. Se você se sente obrigado a algo, não está amando, está sendo conveniente. Quando a gente ama, tudo é leve...

Mari Teixeira

segunda-feira, junho 19, 2017

Sobre nossos nuncas.



A gente acha que aceita nossos nuncas, mas, no máximo, se acostuma com eles. Só que tem dias que eles urgem de forma animalesca. E dói.

Mari Teixeira

segunda-feira, junho 12, 2017

Confissão.


Entrou na igrejinha da praça, era final de uma tarde fria de outono. Ajoelhou-se de frente ao confessionário, pois que ouviu: fala, minha filha, quais são seus pecados?

- Ser intensa, padre. Derramar-me toda a ponto de não conseguir me recompor a tempo. Arder até nas noites onde a lua cheia é ofuscada por uma geada fina fina, sorver a vida até gota. Sonhar de olhos abertos, andar no corrimão de uma passarela imaginária, sorrir incansavelmente só de ler um bom dia dele... ser estável no sentir, namorá-lo inteiramente só no olhar, transbordar e ao mesmo tempo me afogar em mim mesma... me jogar no meio do oceano sem saber nadar, tremer só de ouvir a sua voz, sentir o coração sair pela boca só de imaginar que ele está perto de chegar, me embriagar com seu cheiro, morrer de overdose e ressuscitar de vontade de nunca mais sair de perto da presença mas sublime que hoje coabita minha existência... peço perdão, padre. Perdão, Deus. Por ser esse poço de se fundo de sentir...

Mari Teixeira