quinta-feira, outubro 11, 2012

Ele me odeia.




Ele me odeia, só pode. Não me liga há séculos, nem me procura há milênios. Me recorta das conversas em meio a uma seriedade perversa, enquanto eu morro aqui imersa nessa saudade que em me deixar sequer se apressa.

Ele me odeia, é quase certo, e eu não entendo essa sua necessidade de não me deixar chegar mais perto. Fez questão de construir um muro de Berlim bem no meio da nossa história que ainda era de papel, e rasgou ambas as partes como quem retalha um corpo em praça pública ou no leito de um bordel. Me anulou de vez da sua memória e, por mais que o tempo passe, é incapaz de dar a mão à palmatória.

Ele me odeia, já não há como negar. Instaurou uma distância tão infinita que só o que eu sinto por ele é capaz de mensurá-la. Recusa o meu olhar, ainda que eu sinta seu desejo gritar, e dessa forma, insiste em cerrar os olhos na esperança de apenas penetrar o meu corpo com o seu, ao mesmo tempo que alimenta a ilusão de que seu olhar já não tenha feito o mesmo com o meu. 

Ele me odeia pelas certezas que lhe dei, pelo cuidado que lhe dispensei, pelas mil cartas que rabisquei, mas nunca as enviei. Me odeia pela minha coragem, e pelo tudo que um dia eu dei pra recomeçar tudo do nada; pelo único número que difere a placa do meu carro da placa da sua moto, e pelo sexo que difere o seu amor do seu ódio. Me odeia por ter sido tudo tão intenso, e por eu ser forte o suficiente em carregar essa intensidade durante e, ainda depois, mesmo enquanto ele me odeia.

Ele me odeia, não duvido mais. Brinca com o tempo como se guardasse para si um punhado de segundos em cada mão. Não parece ter noção da dinamicidade da vida, nem da relatividade do minuto seguinte - que pode ou não fazer parar os ponteiros da minha ou da sua existência. Cultiva confusões no quintal de sua alma e insiste em semeá-las por aí. Quis se perder de mim e faz questão de não me permitir achá-lo.

Ele me odeia, mas me liga à 1:20hs da manhã, e pesa seu corpo sobre o meu. Me odeia, mas me leva à boca como um fruto proibido. Me odeia, mas me oferece seu gosto salgado só pra se deliciar. Ele me evapora a saliva e precipita meu suor, mas ainda assim, me odeia. Me odeia pelas verdades ditas e pela minha resignação incompreendida. Me odeia por tê-lo amado ao extremo de renunciá-lo só pra vê-lo feliz. Ou, pelo menos, pra vê-lo feliz em achar que é feliz...

Ele me odeia tanto, em nuances de falsidade, desprezo e falta de caráter tão contagiantes, que eu passei a odiá-lo também: rompi aquela linha tênue cuja dor transcende o entendimento e onde o amor se ressignifica em ódio, culminando em indiferença. Ainda bem que ele me odeia; porque era muito mais fácil suportar a falta de quem me odiava; tão fácil quanto vir a odiar quem eu um dia amei.


~ Mari Teixeira ~

terça-feira, outubro 09, 2012

Sorte.


E a minha sorte é ter vários "quens", ainda que poucos "quês" e raríssimos "pra quês"...

~ Mari Teixeira ~

quinta-feira, outubro 04, 2012

Tênue.


É absurdamente tênue aquela linha que os separa. De um lado a outro, nanômetros de distância. A cronicidade de ambos não permite que se estabeleça uma finitude. Ou seja o amor não acaba mas se ressignifica, geralmente, em ódio: muda a ótica, mas não a intensidade. Transforma-se a intenção, mas não volatiliza o sentir.

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quarta-feira, outubro 03, 2012

Muito medo.


Morro de medo da evolução extinguir o gene da maturidade 
e continuar selecionando o da hipocrisia...

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, outubro 02, 2012

Último minuto.


A ideia é viver como se fosse o último minuto, não pelo desespero dessa possibilidade, mas pelos simples fatos da existência da tal possibilidade e da efemeridade dessa vida. Cada momento vivido é único, e não volta. E os não vividos, também não.

~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, outubro 01, 2012

Ainda.



E ainda me dói amanhecer! Recobrar  lentamente a consciência, e ser invadida imediatamente  pela tonelada de ausência que paira por sobre a minha vida desde o dia que você decidiu ir embora de mim.  Como me dói a relatividade embutida na sua última fala e o absolutismo incrustado no que eu sinto por você. Eu grito todos os dias pra dentro o quanto eu te preciso antes mesmo de ousar te querer, e enlouqueço a minha balança interior, simplesmente porque ela é incapaz de mensurar o tanto que você foi pra mim - e ainda é. Ainda não sei se dói mais o esmagar dos ossos, o inflar da alma, ou o engasgar das dúvidas... Ainda não sei ser plena sem você. Eu ainda ouço nossas músicas, e canto cada verso enquanto uma ou outra lágrima me escorre o canto externo dos olhos. Ainda conto os dias idos na esperança de acordar na manhã seguinte e poder zerar tudo de novo. Ainda quero olhar mais uma vez bem dentro dos seus olhos sem enxergar neles medo, além de desejo e prazer. Você não sabe como é lancinante a sensação de soletrar esse "ainda" ainda, e como me revolta perceber que essa falta tua não se envergonha por um minuto sequer ao demonstrar tanta incompetência em fazer minguar essa vontade; não é mesmo assim que dizem: "O que os olhos não veem, o coração não sente"? Mas se o coração sente, os olhos conseguem ver, ainda que distante. Seis meses sem saber o que se passa dentro de você, e ainda assim, você não passa...

~ Mari Teixeira ~