quarta-feira, março 30, 2011

Exemplo.



De vida e de morte. De serenidade e de fé. De resignação e de luta. Descansa agora o corpo surrado e sofrido pela escória da doença que o afligia mas que, embora cruel, não soube agigantar-se o suficiente para arrancar-lhe o sorriso do rosto e a vontade de continuar. Imagino a dona morte rondando, perdida, ao longo desses 13 anos, sem obter êxito imediato. Imagino sua cara de decepção quando, em cada pós-operatório, seus olhos se abriam e seu semblante anunciava o milagre. Mais um milagre. Foi exatamente isso que Alencar foi. Não foi um super-heroi, porque super-herois não existem, mas foi um super-homem, cujo superpoder não estava na capa ou em qualquer arma letal, mas na sua mente. Enfim, cansou-se um dos corações mais otimistas que vi por aí. E partiu através do maior mistério que existe nesse mundo. Se foi o homem-esperança raficando até o fim que a esperança é mesmo a última a morrer: seu corpo desce à sepultura, mas ela, a tal esperança, fica em algum lugar de quem soube lançar um olhar todo especial sobre esse grande homem. Quisera que todos nós tivessemos fé e caráter suficientes para dizer, sinceramente, como disse ele um dia:


"Não tenho medo da morte. Tenho medo da desonra."

sexta-feira, março 25, 2011

Vizinhos.


Cuidado com essa crença de que as coisas só acontecem com o vizinho; não esqueça que todo mundo também é vizinho de alguém... inclusive você.

segunda-feira, março 21, 2011

Sobre resistir.

Não acredito quando me dizem por aí: eu não resisti; eu não quis resistir seria mais sincero. Quando a gente quer, a gente resiste. Outras vezes, a gente diz que vai resistir, mas, simplesmente decide não resistir. Mesmo com uma arma mirada para a cabeça, uma faca apontada ao peito, a consciência latejando, é o poder de decisão que vigora: não resistir e viver, ou resistir... e morrer de vontade de não ter resistido.

segunda-feira, março 14, 2011

O mandamento.


Ouvi um dia aquele belo discurso sobre amar o próximo e me encantei com ele: uma bela profissão a seguir. Empenhada em tal labor, não tinha noção do quão difícil seria essa missão. De quanto suor teria que derramar para alcançar esse portento, bem como quantas lágrimas verteria, por achar em mim uma culpa real pela incapacidade parcial que me envovia. Até que um dia ouvi alguém dizer em alto e bom som algo que me libertou da culpa de não ser a amante ideal para o próximo (sobretudo os mais próximos): é tão difícil amar o outro porque, na maioria das vezes, o outro não facilita esse amar. Achei fantástica essa colocação! Penso que ela fala por si só. Nosso jeito difícil, nossas atitudes impensadas, nossa falta de sensibilidade, dificultam o cumprimento do mandamento maior. No dia em que aprendermos a amar o próximo no facilitar do seu amor para conosco talvez o mundo mude. Termino com um clichê barato, mas que fecha perfeitamente a idéia central: depende de cada um de nós.

quarta-feira, março 09, 2011

A cura.


Só se cure de você no extremo do necessário. Não se jogue pela janela assim, em vão. Tem que valer o preço de se perder. Tem que superar o agudo da dor fantasma, a angústia perene do escuro e o gosto salobro de cada lágrima, mas também superar a delícia de se sentir em si. Só se cure de você se o retorno for inevitável. Se o caminho foi o errado, se o acaso te sequestrou e anda se negando em te devolver. Não tenha medo, mesmo que enfrente o deserto das palavras e das rimas, das emoções e das pessoas. Porque um dia tudo volta, qual um ciclo sem fim que, vez ou outra se tangencia pra formar outro, e outro, e outros círculos de ciclos infinitos. E se por acaso não voltar, virão outras emoções, outras pessoas, outras palavras e outros ciclos também. Ando me curando e ciclando por aí. Outrora vivia por aqui, descrevendo minhas dores, meus pudores, amores e desamores. Tinha as pontas dos dedos e da alma em carne viva; escrevia para repassar a dor e vagar espaço para que outras tomassem lugar. Ainda tenho dores; é que elas também ciclam. Entretanto, tenho sido forçada a lidar com elas engolindo diariamente o antídoto que me fornece sufrágio temporário para tal. Talvez, um dia, conseguirei por mim mesma. Quando, enfim, me curar de mim.