terça-feira, novembro 30, 2010

sábado, novembro 27, 2010

Quase Natal.

Meu avô adorava árvores de natal. Quando novembro ameaçava desperdir-se, ele se punha, em segredo, a entrar no quartinho de bagunças e desembalar a nossa velha árvore. E passava a manhã ou a tarde todinha se ocupando com bolas, enfeites e pisca-piscas. Quando terminava, ficava parado na frente dela por minutos, mãos postas para trás, esboçando um sorriso de canto de boca e um enorme olhar de satisfação ao vê-la toda pronta, bela e brilhante. Hoje eu resolvi montar a minha árvore de natal, e a lembrança dele não demorou em vir à tona com toda força. É. Agora, além das luzes e das bolas, tem uma saudade imensa embutida nos galhos da minha árvore e uma foto dele do lado dela, não pra manter a lembrança viva; esta jamais se apagará. É uma homenagem, vô. É só uma vontade de ver de novo seu sorrisão e seu olhar de satisfação. É outra forma de experimentar sua ressurreição.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Saudosista.

Sou saudosista assumida, não nego nunca. Estranhamente, só valorizo o hoje quando ele vira ontem. É só uma sensação, não sei bem explicar. Pelo menos isso: a doce e leve recordação - ainda que tardia - misturada às minúcias de felicidade que pousaram sobre alguns dias da minha vida, lá, quando a distração e o desespero teimaram em me roubar de mim e me impediram de assistir, ao vivo e em tempo real, a beleza da vida, que se revela diariamente diante dos meus olhos, que continuam incrédulos.

segunda-feira, novembro 22, 2010

[Quase] tudo que eu queria te dizer.

Que você seja feliz. De verdade. Que pare de alimentar essa pseudofelicidade. A rosa é só uma lembrança da sua importância para nós, que diariamente burlamos a lógica do merecimento para tentar fazer permanecer a lógica do significado...

sábado, novembro 20, 2010

Trans[lúcida].

"Nunca, jamais diga o que sente.
Por mais que doa, por mais que te faça feliz.
Quando sentir algo muito forte, peça um drink."


[Caio Fernando Abreu]


Perdi a conta de quantos drinks pedi nessa vida. Dos porres folclóricos. Da quantidade de vezes que, ao final, ainda tive que me beber. Do quanto me embriaguei de mim mesma, ao me engolir a cada rodada. Do tanto que também bebi minha própria embriaguez. Da sobriedade forçada pela obrigação de ser sempre feliz. Das lágrimas vertidas no copo que temperavam o amargor daquilo tudo. Dos copos quebrados, dos cacos escondidos, em nome de uma tal perfeição - exigida; não seria digno quem não a trouxesse estampada na pele da cara. Era mais ou menos quase uma falsificação de mim mesma, embora ali fosse eu mesma. Mas, cansei disso também. Toda aquela obrigação que eu dispensava aos que me rodeavam foi desfeita. Agora, caso alguém não queira se deparar com meus dias nublados e com minhas caras de velório, com minha imperfeição e com minhas lágrimas, que feche os olhos, que se mude de perto de mim. E por favor, respeite minha trans[lucidez].

segunda-feira, novembro 15, 2010

Se acha...

Conheço gente que tinha tudo - absolutamente tudo - pra fazer a vida dar certo. Gente que podia chegar ao fim dela e concluir que os inúmeros momentos de tristeza nem se comparavam aos ínfimos momentos de felicidade. Gente que teve uma família honrada e íntegra, gente que sempre recebeu zelo e amor, mas que optou por caminhos mais fáceis e, à primeira vista, não tão tortuosos. Gente que resolveu jogar o caráter e os valores pela janela da vida em movimento e parece que agora não consegue mais encontrar. Gente que desperdiça a vida em nome de uma tal "felicidade" própria, em cima do sofrimento alheio. Que insiste em caminhar reto, sem olhar pros lados, ainda que vislumbre um abismo à sua frente, e acredita piamente que aquilo não passa de uma mísera poça d'água, a qual se pode saltar num piscar de olhos. Só que, na maioria das vezes, não pode. Mas, se acha que tem asas, quem sou eu para contrariar?

segunda-feira, novembro 08, 2010

Uma saudade sem tradução.


Não é verdade que o tempo cura todas as coisas. Ele passa e a vida parece que segue normal. Só parece. Não segue. Nunca mais vai seguir. Nada vai ser normal como antes, porque agora você não existe mais por aqui. O que existe é uma tentativa de criação de uma normalidade necessária. O que existe é o aprendizado diário de ter que continuar sem você. Existe você no meu coração, guardadinho, numa salinha VIP que pouquíssimas pessoas tem acesso. Existe uma saudade sem tradução e incontáveis lembranças da única figura de herói que trago em mim. Não é verdade que a gente vai esquecendo; é só o correr dos dias que desvia o pensamento, mas logo ele se volta a perceber a falta que você faz. Não é verdade que a idade consola; eu queria que você vivesse 100 anos. Não, mentira minha; eu queria que você vivesse pra sempre. Você foi uma das poucas pessoas que passou por esse mundo e que, sem demagogia, merecia esse portento. Mas é verdade que eu o encontro em cada nota musical que eu ouço ao longo do meu dia, em cada traço do meu caráter que você ajudou a moldar, na lua e nas estrelas que você tanto venerou durante sua vida. É verdade sim, que todo dia eu morro de saudade e ressuscito de felicidade de ter tido você como meu avô, meu orgulho, meu amor.

quinta-feira, novembro 04, 2010

O nosso sempre.




Não nos conhecemos desde a tenra infância, nem fomos irmãos de leite. Não temos o mesmo sangue, nem o mesmo DNA, embora digam por aí que nos tornamos uma só carne. Ele apenas me escolheu. Apenas pega na minha mão, segura a minha cabeça e a reclina sobre seu peito e, mesmo com seu silêncio cortante, me faz ter certeza de que eu não estou sozinha. Quando ousa balbuciar algumas poucas palavras, o faz na tentativa de me reerguer, e tanto otimismo guardado dentro daquele coração, por tantas vezes, me faz ter inveja por querer ser um pouquinho assim, como ele. Ele é a haste que me mantém em pé. Nele eu consigo reconhecer todas as nuances do amor e todos os motivos pra eu não desistir de mim. Ele tolera minhas crises existenciais e emocionais, chora comigo com a cara atolada no travesseiro noite adentro, briga e depois pede desculpa, e é justamente isso que eu acho mais bonito: essa capacidade que adquirimos de recomeçar, diariamente, apagando os pormenores impregnados nas peças que a vida tem nos pregado. Por várias vezes percebo que ele não tem noção que ocupa todo o espaço da minha alma, e, portanto, cabe, sem folgas, no meu infinito. Somos um no outro e um do outro, lá fora e cá dentro. Enquanto o nosso sempre existir.

quarta-feira, novembro 03, 2010

A mais estranha forma de amar.

Se eu contar, ninguém acredita. Se me contassem, tampouco eu acreditaria. A estória é cinematográfica, inimaginável, embora se configure uma reprise daquilo que acontece diariamente na grande maioria dos lares do planeta. Pode ser comparada a uma novela mexicana, tamanha verossimilhança. É tragédia pré-descrita desde que o mundo é mundo: por inveja, Caim matou seu irmão legítimo, Abel. Talvez por isso, não devia nos espantar tanto. Afirmo, sem a menor sombra de dúvidas: a necessidade de estar acima do outro ainda vigora. A consaguineidade, hoje, não é garantia de nada. As mais duras pedras são arremessadas da janela da nossa própria casa. Os mais cruéis atos e as mais toscas perversidades também fluem de lá. É consequência do amor-próprio em excesso - o egoísmo - que abandona sua essência e se traveste em ódio. Sim, muito estranho, mas tenho quer concordar com Fábio de Melo: o ódio é uma forma muito estranha de amar...



* Trecho da música "Contrários", autoria de Pe. Fábio de Melo (adaptado).

terça-feira, novembro 02, 2010

Um pouco sobre a morte.


Hoe fui ao cemitério. Todo mundo deveria passar por lá, no mínimo, uma vez por mês. Ali é o único lugar no qual nos deparamos com a nossa única verdade. Aqueles que alegam medo ou mal estar ao entrarem ali, no fundo, preferem não encará-la: ao final das contas, tanto suor derramado, tantos sonhos e lutas, tanta soberba e orgulho, acabam com a decomposição. As flores e as velas, emboram tragam consigo sua simbologia própria, nada mais são do que uma forma de manter acesa e bela a lembrança daquele que não mais existe nesse mundo. Nossa finitude se revela da forma mais crua que possa existir diante do sono eterno. Mas, ainda assim, continuamos aqui, cultivando nossas mentiras e nosso ódio, e gastando nosso tempo com banalidades e coisas vãs.
P.S.(Saudade, vô....)