domingo, novembro 29, 2009

Passado.



Como se já não bastasse essa minha inclinação em viver no passado, vem você e passa por mim. Agora a culpa é sua. Nunca mais eu vou querer sair dele.

sábado, novembro 28, 2009

sexta-feira, novembro 27, 2009

Prisioneira.


Há dias nos quais me sinto condenada, ainda que esteja longe de grades e algemas. Condenada a um peso aparentemente infindável, ao frio e ao vazio imenso que a cela da minha alma me reserva. Presa ao que chamam por aí de destino, ainda que eu não acredite nele. Escrava do acaso, das coincidências, das evidências e do movimento de rotação do planeta. Porque essa sensação [literal] de que ele gira, gira, mas a gente não sai do lugar tem sido cada dia mais concreta aqui dentro de mim.

quinta-feira, novembro 26, 2009

A música.


Música é o único assunto que a gente ainda tem. O único lance que consegue manter a chama de uma possível aproximação viva, ainda que branda. A única coisa que nos restou em comum e que, no silêncio do meu pensamento, rege esse pedaço de tempo que eu ouso chamar de "nossa estória".

Janta.



"Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade

Eu quis te convencer mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade"



(Música: Janta - Autor: Marcelo Camelo)

quarta-feira, novembro 25, 2009

Ser sua.







Se eu te ligar e te acordar no meio da noite, não se assuste. Vai ser só pra te informar que aquela chuva que caía simultaneamente sobre nós naquela madrugada tão fria, ainda que estivéssemos geograficamente deslocados, me fez ter vontade de dormir coladinha em você, tendo teu peito como meu travesseiro, teu braço como meu cobertor, teu hálito me aquecendo e a doce sensação de completude que essa cena, ainda que imaginária, me transmite. Que eu, ironicamente, ainda sinto aquele beijo como algo que, de tão intenso, não coube naquele momento, e ressoa até hoje. Que eu penso em você uma quantidade considerável de vezes por dia, não dá nem pra contar. . Que a coisa mais difícil do mundo é saber que a gente se quer, mas não se tem. Que você já ocupa um pedaço bastante significativo aqui dentro de mim, e que essa sua presença tem conseguido fazer com que o sol apareça nesses meus dias nublados. Que só de saber que você existe, eu consigo sorrir e pensar que amanhã vai ser melhor... E que eu tô disposta a ser sua. Desde que você também esteja disposto a ser meu.

terça-feira, novembro 24, 2009

Estremecida.


Eu ainda estremeço quando você se manifesta. E isso independe do peso das manifestações, que, ultimamente, têm sido tão leves e rápidas que volatilizam num piscar de olhos. Eu passo dias e semanas tentando te perder por aí, guardando os vestígios que ainda existem aqui no bolso furado da minha calça jeans preferida, mas quando me deparo com essas manifestações percebo que ainda restam algumas migalhas incrustadas. Isso só prova que a distância pode até abrandar os ânimos, mas não apaga coisa nenhuma.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Sobressaliente.

Ficaram muitas coisas. E algumas ainda conseguem ser mais sobressalientes do que outras. Tipo, a presença do que falta. Essa tem sido um pouco mais volumosa do que a falta do que está presente.

domingo, novembro 22, 2009

Num potinho.


Desculpa. Não sou boa nessas coisas. Por trás de toda cordialidade e diplomacia manifestada ainda há uma ponta de vontade de fazer caber-te num potinho, ou no mínimo, aprisionar nele o resumo daquele instante, só pra expô-lo na minha estante e poder abri-lo quando bem quisesse. Talvez essa seja uma das formas que ficam de sentir o cheiro, o gosto e a textura das gotículas que permearam o teu passar por mim...

sexta-feira, novembro 20, 2009

Leve.


"Se carece de definição: me sinto leve! (...)"



(Jorge Vercilo)



Leve. Que nem pluma. De voar com qualquer brisinha que passe por aí. De sorrir sem ter que esforçar o zigomático. De achar sentido no mais simples que os dias possam me oferecer. De acreditar que hoje, me basta o cuidado de Deus. E a certeza de que o mundo gira. E que lá na frente a gente pode se bater de novo. Leve. Sem pesos em excesso. Assim fica bem mais fácil se equilibrar no palco da existência...

quinta-feira, novembro 19, 2009

Mais uma carta.

Lembra? O quanto eu brigava com você, esperneava, xingava e exigia, gritando no seu ouvido que você era um eterno apressado que, arbitrariamente, saía por ai carregando tudo de qualquer jeito? Lembra que eu dizia pra todo mundo que o maior embate que eu havia travado na vida tinha sido com você, pois você sim, sempre cresceu pra cima de mim como um inimigo invisível, instransponível, inalcançável e eu ousaria também dizer, intransigente... Lembra? Pois é. Pirraça também é seu forte. Agora você resolveu desacelerar os passos. Parar no barzinho da esquina e tomar uma cervejinha, assistindo os meros mortais que estão sob sua submissão correrem como loucos pra dar conta da vida. Arrisco dizer até que sorri exacerbadamente da afobação que nos cerca e nos obriga a ter pressa de viver. Esperto! Sádico! Enfadonho! Mas tenho que lhe confessar também: de você, morro de inveja. Porque você é o único que consegue passar sem necessariamente passar; nunca envelhece, some ou morre. Atravessa a eternidade sem tocar os pés no chão. E eu sob o seu poderio, continuo a esperar o momento que você há de resolver passar de novo. Porque, mais triste que retroceder ou correr demais é ficar parado em você.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Solidão.

A pior parte é a que vem agora. Porque a solidão já me espreita na próxima esquina. E agora veio o medo de dobrá-la... Eu já tinha avistado-a, mas antes disso, pude sentir sua aura, ainda que longíqua. Na verdade, acho que ela me já me rondava há tempos, camuflada naquela presença meio ausente...

terça-feira, novembro 17, 2009

Esquece.


"Esquece". Foi assim que voce terminou nossa última conversa. Achei cruel esse seu imperativo. Injusto. Incoerente. Não é assim que as coisas funcionam. Não se deletam sentimentos, pensamentos, impressões e sensações assim, do nada. Mas aí você diz "esquece", e insiste em manter determinadas lembranças estampadas diante de si, me levando a crer que nem você esqueceu ainda. Ou não quer esquecer. Maldita razão...

segunda-feira, novembro 16, 2009

Game over.

Porque ela passou uma vida considerando que a sua vida fosse um game. Que existia um controle, e ele estaria sempre em suas mãos. Que as quedas de alturas inimagináveis, os tiros de metralhadora, os monstros à espreita, sempre a permitiriam uma outra chance. Viu as fases passarem por ela, mas não passou por nenhuma das fases. Ingenuamente, acreditou que o start e o pause estariam sempre ao seu alcance. Que dormir de cansaço e ligar a tv no outro dia pra recomeçar o jogo já salvo era possível e suficiente. Que estratégias eram coisas desnecessárias. Mentiras. O jogo não pausa porque o tempo não pára. Estratégias são imprescindíveis. Se cair de lá de cima, pode até morrer, mas se você não tentar, nunca vai saber. O jogo da vida é aqui e agora. E agora a vida lhe joga na cara um duplo game over de letreiro iluminoso: G A M E O V E R. Bonitinho. É o mínimo que ela consegue achar disso tudo. Porque ela ainda adora cores...

sábado, novembro 14, 2009

Mudei.


"Quem nunca mudou com o tempo? Aos poucos você vai deixando de escutar certas músicas, de usar certas roupas, de falar com certas pessoas. Mudar faz parte do ciclo da vida, embora a essência seja sempre a mesma. Quando encontrar um obstáculo grande na vida, não desanime ao passar, pois com o tempo ele se tornara pequeno. Não porque diminuiu, mas porque você cresceu !"

(Deconheço o autor)

É, eu mudei. Custou-me acreditar nisso. E quando enfim, acreditei, custou-me admitir. Passei anos listando supostas mudanças nos outros, criticando-as e quando me percebi, a metamorfose já tinha acontecido. Eu mudei mesmo, não adianta mentir pra mim nem pra ninguém. Meu olhar me entrega, me sorriso me delata, minhas decisões me denunciam. O mundo girou, surgiram novas necessidades, novas perspectivas, e eu me descobri incapaz de apenas girar com ele. Agora eu corro atrás do que me satisfaz, do que me encanta, do que me faz melhor enquanto gente que sou. Mudei a cor dos meus dias, a textura do meu querer, a ordem das minhas prioridades. Sim, eu mudei. Mas não perdi a essência. Essa fica, porque é fixa. Troquei os acessórios, o que realmente podia - e devia - ser modificado. Mas os princípios ficaram, os valores são eternos. Plantados uma vez, jamais são arrancados. Mudei. Mudei muito. Quis tanto que tanta gente mudasse, e hoje, mudada, consigo entendê-las melhor. Mudei pra sobreviver, pra me adaptar. Eu arriscaria dizer que ando em reformas perenes. Porque considero que ainda há muito a mudar...

quinta-feira, novembro 12, 2009

Ela, a princesa.

Era uma vez uma princesa. Linda princesa. Delicada e meiga. Dia e noite enclausurada no seu castelo encantado, por anos a fio. Vestidos finos, sapatos impecáveis, anéis de valor imensurável, admiração quase universal. Mas não era só uma princesa. Era também uma mulher. E acho que ninguém [ou quase ninguém] enxergava isso. Um dia a princesa despencou lá do ápice da torre do seu castelo. Mas, ao invés de cair no chão, caiu em si. Espatifou o orgulho, o medo, o fingimento, a lógica das coisas... Deu de cara com os dragões do lago de fogo e todos os seres maquiavélicos que existem nesses contos de fada [que nem existe]. Sem príncipe à tira-colo, sem coroa, nem vestido. Na alma, uma remessa de dor, outra de confusão, estoque extra de lágrimas. Coleção de noites em claro. Desilusão. Mas também uma certeza sem fim. Ela só quer ser feliz.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Aquela nossa canção.


Hoje eu chorei ouvindo aquela nossa música. Chorei porque eu nunca quis que fosse assim. Porque eu sonhei, e às vezes ainda me pego a sonhar em tudo que a gente sonhou, e cá pra nós, eu não consigo admitir essa reticência. "Dos nossos planos é que tenho mais saudade...". Porque o que fica é a sensação de que meus pressentimentos não passaram de grandes blefes. Porque olhar pra trás tornou-se insuportável; e eu não aguento perceber que aquela felicidade sem fim agora jaz dentro de mim. Eu não consigo suportar a idéia de que minhas certezas se diluíram, de que aquela infalibilidade era ilusória. Chorei porque eu me sinto golpeada por mim mesma. Porque eu comecei a achar que a gente foi um equívoco. "Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou...". Tenho certeza disso. Mas eu ainda não admito perder você. Porque eu te amei, muito, amei mesmo, essa talvez seja minha única certeza, e ainda tem muito resquício dessa história aqui. "Vai ser difícil sem você porque você está comigo o tempo todo...". Paradoxo, não? Contraditório, como a minha vida inteirinha. Tô deprimida por demais com tudo isso. "Olha só o que eu achei: cavalos marinhos!"...

terça-feira, novembro 10, 2009

Dor.


Era tanta falta, tanta ausência, que ela encheu de dor, e derramou, transbordou. E concluiu que não cabe mais nada ali além dessa constante companheira. Nem ninguém. E fez um esforço absurdo pra que, pelo menos ela, se encaixasse em alguma fenda de sua própria alma. É que ela descobriu que vê-la naquele estado pesava muito mais do que somente senti-la.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Chorei.


"Ontem chorei. por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas. Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo amor. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa. Pelos sonhos desafinados. Estremecidos. adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi. E foi. E voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto."


Caio F. Abreu

quinta-feira, novembro 05, 2009

Decepção.


Coisa mais subjetiva são as pessoas.
Lendo você por tanto tempo, eu juro.
Nunca te interpretei assim.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Porque há.


Porque há dias mais difíceis que outros.

Há juras mais fáceis de serem cumpridas.

Pessoas tão menos fascinantes!

Olhares muito menos impactantes.

Vozes tão pouco audíveis...

Beijos mais fáceis de cairem no esquecimento.

Músicas que marcam.

Mãos mais firmes que outras.

Momentos que não se perdem...

terça-feira, novembro 03, 2009

Cúmplices.


Faço isso. Dou risada sem querer, seguro o choro por saber que ninguém tem nada haver com nada. Que se surgiu aqui dentro, aqui dentro tem que ficar, até sublimar. Mas é que, na maioria das vezes, o meu lado atriz só pega no tombo. Toda opacidade dilui e eu fico translúcida, numa impensada permissão para que atravessem minha aparência. Coisa de gente que é clara por demais. E há quem perceba essa tristeza tatuada na alma, e até pergunta o porquê, mas, se por vezes não cabe em mim, não cabe a [quase] ninguém saber. Faço isso. Elejo meus confessores, que não são meros carregadores desse entulho de dores, mas sim, merecedores desse acesso interior. Conquistas e afinidades à parte, é muito bom ter vocês, muito mais que meus amigos: cúmplices de alma e coração.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Confusão.


"Ah, se eu pudesse me arrumar por dentro,
tudo calminho nas gavetas!..."
.
[Lygia Fagundes Telles]


Abriu a janelinha do coração e olhou pra dentro. O dia havia amanhecido com cheiro de coca-cola. Ácido de matar. Desistiu de entrar. Era tudo muito incógnito. Impossível caminhar em meio a tanta desordem. Já andava descalça há um bom tempo, e pisar naquilo tudo machucava mais a ela do que danificava as tralhas que, espalhadas pelo chão, exalavam um incongruente ar de dúvida. Confusão. Olhou por um tempo sem fim pr'aquilo tudo e chorou. Fechou a janelinha, deitou na cama e voltou a fixar o teto. Naquele momento era o máximo que conseguia [e podia] fazer.

domingo, novembro 01, 2009

Bem assim.


"Tô bem assim, bem indiferente. O coração, um cactus. Não me importo mais."

Caio Fernando Abreu


Fatalmente, a vida faz isso com a gente. É tanto espinho pelo caminho, de dia, sol ardente, à noite, vento congelante, que a gente segue a lógica. A tendência é ficar seca, gélida, imprópria. Não é o ideal. Também não é por mal. É estratégia de sobrevivência. Tentativa de proteger o que restou de bom aqui dentro, aquilo que não se perdeu pelo caminho espinhoso. É cuidado e afinco, mas com um misto de desprendimento. É, acho que é isso: tanta dor também serve pra deslocar a gente da gente mesmo. . Hoje me arrisco mais, muito mais. Mas me dou menos, e por consequência, exijo menos. Tô mais independente, mais senhora de mim, mais flexível, menos radical. Faço [quase] tudo que dá na telha. E se eu cair lá na frente, levanto e passo Merthiolate... não arde mesmo!