terça-feira, junho 29, 2010

Juras.

- Tenho uma coisa pra te contar.
- O quê? Que você me ama?
- Melhor...
- Então o que é?
- Eu tô apaixonada por você.
Uma pausa. Um sorriso. Um olhar.
- E eu sou apaixonado por você...
- Jura?
- Juro!
Outra pausa pra continuar.
- É que eu sempre acreditei nesse nosso amor...
E eles juraram. Juraram em silêncio. Juraram por hoje. Pelo segundo que passava por eles. Pra sempre, não. Pra sempre é hipocrisia, e entre eles pode ter existido tudo, menos isso. Existe uma crueldade muito grande envolvida nessas promessas eternas, que quase sempre machucam demais. Eles juraram pra si, sem que nenhum dos dois soubessem que aquelas juras eram feitas. Não juraram por nada nem por ninguém, porque ninguém tem nada haver com eles. Eram mais juras em tom de esperança, do que em tom de promessa. E adormeceram. Assim.

sábado, junho 26, 2010

Outra carona.

A verdade é que ela achava linda toda aquela prosa de sofrimento - nossa, como sofrer era lindo! E chegava a se vangloriar de suas dores, alienada, entubada pela ignorância, respirando artificialmente uma vida robótica. Considerava aquilo tudo o seu passaporte para o paraíso. Diretinho. Sem escalas. E talvez até seja. Mas, se até veneno tem dose certa pra salvar, porque também não existiria dose pra esse tal sofrer? E onde andava mesmo seu senso crítico, meu Deus? Acho que ninguém sabe responder. Ambiciosa pelo céu, na verdade tudo isso significava pra ela ausência do inferno, e sair dele era a coisa que ela mais queria. Fugas imaturas. Mas, faz algum tempo, ela resolveu pegar uma carona menos dolorosa. E tá lá, na beira da estrada, atenta, acenando, esperando ela passar. A felicidade. Com ela vai ser mais fácil. Porque com ela, a espera cessa. Porque com ela, o céu é agora.

quarta-feira, junho 23, 2010

Perdão, você.

Bem, acho que não sou tão rancorosa quanto pareço. Mas também não sou tão boa em palavras, por isso preferi escrever. É só pra dizer que não estou mais com raiva de você. Que passou. Que eu só queria que você abrisse os olhos, mas também descobri que ninguém pode fazer isso, exceto você mesma. Me perdoe pelo que eu lhe disse, mas no calor do momento, acho que só estava tentando te dizer pra você parar de afundar as pessoas que lhe amam com seu próprio naufrágio. Entenda que seu comportamento não nos atinge diretamente; antinge-nos porque, primeiramente, atinge você. Eu, talvez, lhe entenda mais do que todo mundo, mas o fato de entendê-la não me analgesia diante dos fatos e de todo sofrimento que nos envolve. Sei que você tem sua vida pra viver, e deve vivê-la sim, mas, cuidado! Lembre-se do que disse Fábio de Melo: a felicidade do momento não vale o inferno de uma vida inteira.

terça-feira, junho 22, 2010

Ninguém.

É, meu amigo. Acho que [talvez] ninguém nunca entenda o significado desses tons pastéis que colorem nossas vidas, bem como nossa impreterível preferência por eles. Nossas oscilações constantes e abruptas, nossa urgência de viver, nossos momentos de reclusão, a forma diferente com a qual as coisas entram na gente e, extrema e intensamente, ficam pra sempre ou saem [também pra sempre] da mesma forma. Ninguém vai entender nosso culto ao silêncio e nossa adoração aos acordes melancólicos, nossa dificuldade de adaptação e a certeza de que, se não passarmos logo nossos genes, seremos trucidados pela seleção natural. Ninguém vai entender essa coisa à flor da pele, nem tanta subjetividade, essa angústia de ser e não ser, e muito menos essa nossa visão que nos faz parecer meros sobreviventes do romantismo; ou seja, quase mortos-vivos. Ninguém vai entender a paradoxalidade e a complexidade de que são feitas nossas auras nem nossas almas de artista, que porta um coração de vida própria, que bate quando quer, do jeito que quer e faz fluir essa essência. Diferente. Única. Incomum. Acho que ninguém.

segunda-feira, junho 21, 2010

Sobre relações.

"As únicas pessoas que você precisa em sua vida
São as pessoas que provam que precisam de você na vida delas."


(Desconheço o autor)

É que minha natureza de ser intensa exige reciprocidade ao nível. Inteireza. Sintonia. Telepatia. Completude. Paixão. Pra mim toda relação tem que envolver paixão. Isso de estar perto mesmo quando se está bem longe; de sentir um bem estar constante, da necessidade da presença do outro, mesmo que por alguns momentos a solidão seja indispensável, mesmo que a gente brigue e sinta raiva. Mas tem que ter aquela coisa de falar com olhares e sorrisos, de atravessar a cidade na chuva pra ver o outro, de chorar junto e de deitar no colchão olhando pro teto e rindo até doer a barriga. Eu quero o sentimento que transborda num toque, numa palavra, num sim e num não. Não precisa gritar do outro lado na rua, mandar trilhões de scraps no orkut, nem dar abraços esmagantes ou presentes lindos e caros. Não precisa telefonar todo dia, nem escrever no muro da casa que me ama incondicionalmente. Não, não precisa tanto. Não quero expansividade. Quero intensidade. Presenças cáusticas, mesmo quando ausentes. É aquela história de ser no outro, lembra? Por isso, cansei de pessoas frias e mórbidas, e nelas não invisto mais. Em linhas gerais, é mais ou menos como disse Tati Bernardi, "um milhão vezes zero é zero; ou seja: não coloque sua intensidade onde não tem nada." Porque no fim, o saldo é nulo. E de vazios em minha vida, já basta.

quarta-feira, junho 16, 2010

Saudade de mim.

Não, não tenho um pingo de saudade de mim. Ainda bem que metade de quem eu fui já morreu há algum tempo. De morte natural, mas num processo lento, doloroso e meio inconsciente. Melhor assim. Isso já me poupa o trabalho de ter que me destruir. Deve ser horrível violentar-se dessa forma. E mais ainda, chorar sobre si mesmo. Talvez por isso tanta gente se acomode. Só sei que morri e nem percebi! Ressurreição. Quando me vi, já era outra, pronta pra uma nova visão de vida, de mundo, de galáxia. De universo, ainda não. Tem muita coisa pra morrer aqui ainda pra que eu possa alcançar tanto infinito. Tem muito ciclo pra se completar. Muita expectativa latente, morrendo de inanição. Outras, lutando pra virar vida. Sim, ainda tem vida aqui. Afinal, é pra isso que se morre.

terça-feira, junho 15, 2010

Muito pior.

Já haviam me dito uma vez, mas eu ri, em tom de graça. Não porque não tenha crido, mas, talvez, porque isso seja algo inimaginável. Mas é a pura verdade; quando uma coisa vai muito mal, pode ficar ainda pior. E, geralmente, fica.

terça-feira, junho 08, 2010

Luta.

Luto contra um coração que bate em meu próprio peito. Luto contra o que ele acha e sente; contra o que ele acredita e consente. Eu, dividida em mim mesma; duas dimensões em uma só. Luto contra as mentiras contadas por outrém, que insistem em se fazer verdade, e que ao longo do tempo acabaram impregnadas em mim. Luto contra aquelas que eu mesmo criei e armazenei no mais íntimo do meu ser por achar que acreditando nelas pudesse afastar a dor que cruzava o meu caminho, vivendo à parte daquilo que era real. Essas mentiras infames encontram-se em algum compartimento secreto, estagnadas, apodrecendo qual água parada se perde. E embora eu busque, desesperadamente, encontrá-las para dar-lhes um fim, elas teimam em burlar minha procura e ignorando-me, permanecem oclusas em algum ponto dessa minha alma cansada, soletrando palavras de conformismo e solfejando cantigas de notas tristes e sem nexo, perturbando meu sono, tirando minha paz e roubando-me a certeza de que eu poderia ter controle de mim.

[Agosto, 2006.]

sábado, junho 05, 2010

Eu, por Florbela.

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê!”

Florbela Espanca (In: "Cartas a Guido Bartelli)

quarta-feira, junho 02, 2010

More than words.


O dia amanheceu nublado. Enfim, um dia caracaterístico de final de outono. O inverno se aproxima. Agora sim, se aproxima. Eu disse ontem que não gostava do inverno, mas é mentira. Ele tem a cara da minha alma e, de uma certa, forma, a cara da minha vida. Eu acabo por me identificar com ele por mais que eu reclame do frio, das roupas que eu não tenho e do chuvisco fino que acaba com a escova do meu cabelo. Mal liguei o computador e entrei no orkut, havia um recado pra mim com um link de um vídeo do youtube e o seguinte texto: "Lembrei-me da nossa adolescência". Antes de me direcionar para o link, eu já sabia qual era a música: More than words do Extreme. Era a música da nossa turma que sempre (ou quase sempre) se reunia numa tarde nublada dos anos 90 pra tocar violão, rir e conversar, jogar vôlei ou Supernitendo, comendo qualquer biscoito na casa de Pablo. Saudosismo bateu forte mas, sem tristezas avulsas embutidas em nada. Saudade da galera, da falta de responsabilidade, dos vestígios de inocência que ainda existiam, da felicidade incondicional... Saudade. Dos invernos mais quentes da minha vida.

terça-feira, junho 01, 2010

Boazinha.


"De uns tempos pra cá algo mudou. Sou quase a mesma de sempre, mas não sou mais 'boazinha'. Não aceito mais ser amiga de gente mal-resolvida e que me ferra pelas costas. Minha prioridade agora é só uma: "EU". Podem me chamar de egoísta, eu aceito. Mas chega uma hora na vida que a gente tem que parar de ser boa com os outros e ser boa com a gente. Fiquei amarga? Não mesmo. Agora eu sou prática. Vacilou? A porta está aberta, meu bem... Sem dó nem piedade."

Fernanda Melo