sexta-feira, junho 29, 2012

Pretérito perfeito.


Foi tudo tão perfeito que não fugirá à regra 
de cair, um dia, no pretérito perfeito.

☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quinta-feira, junho 28, 2012

Pontuando algumas coisinhas.


Quando você partiu de mim
Fez questão de salientar 
Que além da saudade gritante
Me deixava três pontinhos em seu lugar

Por uma quantidade razoável de tempo 
Confesso que neles eu me agarrei 
Até que, certo dia, sem querer, 
Um deles eu apaguei

E, então, já não havia mais como 
Me prender àquela reticência 
Ainda que não diminuísse em nada
Minha sensação de impotência
Por assistir deitada e sorridente
Ao meu coração sendo tratado por você
Com tanta negligência

Exonerada a expectativa
Veio a dúvida a calhar
Impregnada naqueles dois pontos
Que resolveram se levantar
Pra esperar agora, então
O mistério de um final tão repentino
Vir a se manifestar

Mas ao invés de usar minha energia
Procurando borracha pra apagar pessoas
Resolvi gastar cada caloria
Dentro do navio da minha vida
Enfeitando a minha proa 
E ruminando nossos momentos póstumos
Ao mesmo tempo que compunha uma loa

Enquanto o tempo em forma de vento
Tratava de levar pra longe o meu lamento
E o cansaço em forma de borracha
Resistente em se colocar nas mãos dessa gente sem graça
Começei o processo de apagar mais um ponto
O ponto de cima, o ponto da rima, o ponto do porquê
O último ponto desse nosso conto
O último sinal que ainda me fazia lembrar de você

Por fim, pra terminar
E já buscando uma forma 
De colocar o ponto final no seu devido lugar
Queria deixar aqui uma dica:
Talvez até exista uma borracha pra apagar pessoas
Dos papéis, das músicas, da presença, 
Do mundo e do tempo, quem sabe 
Ou pra extinguir qualquer tipo de característica
Mas da alma e da memória de alguém
Não adianta nada não, meu bem: 
Quando a gente é especial
É bem aí que a gente fica


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quarta-feira, junho 27, 2012

É só pra enfeitar.



Mas se eu coloco um vaso de flores na minha janela é só pra enfeitar. Sinto muito se tem gente que não gosta de vasos de flores e prefere mandalas ou mensageiros-do-vento. Ou se acha que flor não é enfeite. Se acha cafona um vaso de flores na janela. Eu, particularmente, gosto mais de flores do que de janelas, mas preciso delas pra apoiar meus vasos de flores. 

De lá de fora, as pessoas passam apressadamente. Algumas avistam meus vasos de flores  na janela. Outras, nem os percebem. Algumas chegam perto pra observar melhor cada pétala, mas poucas enxergam a textura dos grãos de pólen. Há as que se veem tanto nessas flores que furtam uma ou outra pra si, e até distribuem por aí. Há as que fingem interesse nos vasos de flores, mas querem mesmo saber o que há além da janela. Também há as que são alérgicas e se incomodam com as pobres florezinhas, e culpam quem colocou aquele vaso de flores na janela, quando na verdade a culpa é dos mastócitos e da IgE. E, claro, não poderiam faltar as que, simplesmente, não entendem pra que colocar tantos vasos de flores em uma janela só. "Não tá vendo que esse negócio de flor é um perigo?", comentam uns com os outros, incessantemente, e, só porque não têm coragem de colocar um ínfimo vaso de flor na janela, têm certeza que a humanidade inteira deveria fazer o mesmo. "Não tá vendo que eu adoro perigo?", replico sem pestanejar. Sintam-se a vontade para especular e julgar - as flores, a janela, a casa, a dona das flores - mas, lá no fundo, creiam: meus vasos de flores não trazem consigo outra intenção, a não ser enfeitar.

☆╮Mari Teixeira╰☆╮

terça-feira, junho 26, 2012

Decoreba.


"E percebi que decorei o teu cheiro. Por Deus, 
que pessoa normal decora cheiros?


{Mariana Andrade}



Por mais que eu cace, inconscientemente, teu cheiro nas outras peles, não encontro nada minimamente próximo àquilo que meus receptores olfativos tão bem reconhecem. Mas, ah, se fosse só teu cheiro que eu tivesse decorado! Tem a cor da sua voz, que eu consigo ouvir só de te pensar. Tem sua respiração ofegante no pé do meu ouvido que me ferve. Tem cada tracejado da tua íris cor-de-caramelo, desenhado só pra me encantar, e  tem o prazer que teu corpo impregnou no meu. Tem um infinito que você depositou em mim a cada sorriso, cada olhar, cada toque, cada beijo. Têm cacos de lembranças espalhados por cada metro percorrido por nós dois nessa casa oca e nas ruas dessa cidade louca, e neles tenho cortado meus pés. É isso mesmo: ainda sangra, meu bem... muito. Só que agora, a ordem é parar com esse decoreba e aprender a viver sem você,  já que você não me quer mais... 


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

segunda-feira, junho 25, 2012

Um grande filho da puta.

  


Sua indiferença maltrata mais que sua ausência. Pra quem não queria me fazer sofrer além do que, supostamente, julgava tolerável, parabéns - você só quintuplicou a porra da dor. Daqui a alguns dias, não tem mais nociceptor nenhum pra contar história. Trabalho escravo do caralho esse que você delegou à eles! 


Eu amo você, com todas as minhas vísceras, mas, venhamos e convenhamos: você é um grande filho da puta.


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

domingo, junho 24, 2012

Implosão.



É mais ou menos por aí: o cara constrói um castelo, mete uma pessoa que não tem nada a ver dentro, decora as paredes com as mais belas obras de arte, mobilia cada cômodo, ilumina o salão com castiçais de cristal, contrata uma orquestra, ensaia a valsa, convida a família pra inauguração do seu "lar, doce lar"... compra até berço. No dia seguinte, bem cedo, contrata uma demolidora e, do nada, implode tudo. Isso seria completamente plausível e aceitável. Se ela não estivesse dentro do tal castelo enquanto tudo caía, vestida de princesa, coroa na cabeça e cetro na mão, esperando o príncipe chegar pra levá-la a um algum lugar. Ela só não imaginava que esse lugar fosse o inferno...

~ Mari Teixeira ~

sábado, junho 23, 2012





"Eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobêjo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo…"

(Guimarães Rosa)

quinta-feira, junho 21, 2012

Em você.


Era outono, mas o sol ainda ecoava o verão que acabara de terminar. E ela chamou ele num cantinho pra dizer:


- E, olha, se você precisar do meu coração, eu rasgo meu peito e te dou o meu...
- Mas, aí você vai morrer e nunca mais há de me ter...
- E o que é a morte diante da grandiosidade de estar, de fato, em você...

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quarta-feira, junho 20, 2012

Inúmeras vezes.



"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: 'Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". [...] a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?"

(Nietzsche)

Sim, eu viveria tudo de novo. Eu atravessaria o mesmo mar, e enfrentaria as mesmas ondas gigantes e os pontiagudos dentes dos tubarões, e mergulharia na mesma zona abissal, novamente. Eu amaria com a mesma força, ainda que esta fosse intensa o suficiente para destruir todas as minhas pilastras e me fazer desabar em você, e quebrar as pernas, o coração e a cara, novamente. Eu sofreria tudo de novo, e choraria os mesmos litros de lágrimas sem tentativa mínima de racioná-las. Eu te faria ser novamente a exceção daquela regra e te entenderia no último instante, mais uma vez, ainda que com olhos marejados e aerados, observando pouco a pouco a tua ausência penetrar a minha existência Tocaria as mesmas notas e cultivaria as mesmas possibilidades. Eu passaria mais mil e uma noites em claro, e correria pra te buscar no meio da madrugada quantas vezes você ligasse me pedindo pra te trazer pra mim. Eu comprimiria todos os meus órgãos infinitas vezes mais, e engoliria minha febre goela abaixo, e sentiria, outros zilhões de vezes a dor lancinante de descolar a alma do corpo todas as vezes que revivesse aquele adeus. Eu viraria essa ampulheta mil vezes, e reviraria, e viraria de novo, se mil vezes pudesse fazer... e continuaria a ser essa ínfima poeirinha, incapaz de precisar, exatamente, o quanto eu preciso de você...




╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

segunda-feira, junho 18, 2012

Rotina.



Não há sensação melhor , não há
Sinto estar perdida e salva... ♪
(Sandy Leah)



Queria encostar meu pé gelado no seu durante a madrugada e entrelaçar nossas pernas até que o dia anunciasse a rotina que nos espera. Eu queria um beijo doce no pescoço e um abraço de urso pela manhã, bem cedo, sem essa coisa de ter medo. Queria a sua cara amassada fitando a minha e procurando meu brinco perdido por entre travesseiros e lençóis. Queria nós... Queria café na mesa, quentinho, e um botão da sua camisa pra prender em cinco minutinhos. Queria todos os segundos, todos os ponteiros, e um incinerador bem grande no meu quintal pra destruir todos os relógios e ódios, bem como todos os fragmentos de tempo que ousem marcar nosso 'passar'. Queria um bebê na barriga pra me chutar, e você cansado de tanto a beijar, sonhando com a sua cara estampada na carinha desse pedaço que você jurou me dar. Ao meio dia, queria me sentar com você à mesa, e te comer de sobremesa, regado à calda de framboesa  e uma tonelada e meia de certezas. E receber alguns telefonemas intermitentes no meio de uma tarde quente, te ouvindo dizer que pensa muito na gente. Eu só te diria que bem mais que isso, eu costumo te sentir antes de te fazer aflorar no meu pensamento, e que, se cada vez que eu te pensasse, isso me roubasse um segundo de de cada momento, meus dias já estariam mais do que contados há muito tempo... Queria uma coragem do tamanho do universo pra te sequestrar no final da tarde, e ouvir as mesmas verdades que aquele 1º de abril guardou em si pra toda eternidade. E, já em casa, num banho quente, nós dois embaixo do chuveiro: ter você lavando meu cabelo, e um coração flechado, feito à dedo no vapor d'agua impregnado no espelho. O Jornal Nacional ligado na nossa tv e eu, ligada, por completo, em você. Queria suco de acerola na jarra de vidro fosco, queijo no pão, e a mais bela visão: você com aquele sorrisão que desaba por causa do meu jeito tosco de deixar tudo cair no chão. Queria tua mão na minha mão... Teu sorriso lindo incitando o meu, e meu corpo em brasa pedindo pelo teu; queria você me arrastando para nosso quarto em breu, e me renovando essa sensação de te querer pra sempre, de te querer pra gente, de não te tirar da mente, de saber se tudo isso que eu sinto, você também sente...

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

domingo, junho 17, 2012

Sobre essa tal reputação.


Quem formou um bom caráter não precisa fazer esforço extra pra manter porra de reputação nenhuma; manter reputação é cultivar superficialidades - e haja adubo. O pau tá quebrando por detrás das cortinas, mas na frente dos holofotes da vida, a maquiagem é impecável e o photoshop está sempre à mão do designer mais próximo. Reputar é sinônimo de julgar. Impedir alguém de fazê-lo, é algo, creio eu, impossível... E induzir esse julgamento, pra mim, é estupidez.

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

sábado, junho 16, 2012

Deus cura.


Setenta dias duvidando da minha fé, ininterruptamente, e ao mesmo tempo, brigando com Deus: peço tanto, imploro tanto por meu coração machucado!... Eu grito: Deus, cura! Deus, cura! E nada de Deus curar, nada de Deus me ouvir, nada de Deus fazer parar, e só agora percebi: essa dor, por tão cedo há de cessar, já que, na verdade, é por você que, pra Ele, eu vivo a implorar...



╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

sexta-feira, junho 15, 2012

Eu choro.


"Não foi nada. Deu saudade , só isso. 
De repente meu deu tanta saudade..."

(Caio Fernando Abreu)


Hoje, pela primeira vez, eu consegui chorar em silêncio. Tua falta percorreu meu corpo da mesmíssima forma que sempre faz d-i-a-r-i-a-m-e-n-t-e, e doeu da mesminha forma que sempre dói, mas já não tenho mais forças pra abrir a boca, enfiar a cara no travesseiro e gritar, pela enésima vez, todos os "nãos" que a incompreensão da tua ausência me impõe. Já não tenho mais forças para espernear, bater os pés no colchão e esmurrar a parede oca do meu quarto minúsculo e frio. Chorei calada, depois de um banho quente, às três da manhã, deitada na cama vazia, com o cabelo molhado, ouvindo Barry Manilow e borrando o resto de rímel que o demaquilante de quinta que comprei no mercadinho da esquina foi incapaz de remover. Chorei sim; vez em quando eu ainda choro. Eu podia dizer que não, que eu sou "forte", que nem o soletrar do teu nome me abala mais,  que já tá "desacontecendo", mas só que os tsunamis de saudade não respeitam nada disso. Além do quê, minhas pálpebras inchadas e meu nariz vermelho me delatariam na primeira chance que tivessem. E toda vez que eu acho que já fali a função das minhas glândulas lacrimais, a tua lembrança vem me recordar que só os mortos não choram, que eu ando bem viva, e que, quem se faz de morto pra mim, aqui, é você... 

Será que você chora?

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quinta-feira, junho 14, 2012

Não passa.



Esperando o efeito do 'não ligar', 'não ver', 'não procurar', 'não ouvir a voz', 'não sentir o cheiro', 'apagar as fotos do computador e as lembranças do pensamento'. Como seria mesmo o mecanismo de ação disso tudo? Inibição competitiva das melhores sinapses que meus neurônios produziram em toda a minha vida? Empirismo barato! Já faz um bom tempo, mas a única coisa que passa é o próprio tempo.

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quarta-feira, junho 13, 2012

Quando?



Resistirão, a culpa e o medo travestidos de amor, ao egoísmo e à mesquinhez – também fantasiados dos mais sublimes sentimentos - ainda, por quanto tempo? A máscara de cera, as asas de algodão, a auréola de arame farpado e os cachos dourados, quando é mesmo que cairão? A peçonha que escorre queixo afora, sedenta por alcançar um dos meus arranhões, quando confundirá a presa e correrá em sentido contrário? E esse céu de lona preta e estrelas de papel prateado, todas penduradas em barbante vagabundo, quando há de amanhecer? Até quando essa nuvem de estranheza que paira acima dos fatos – de todos eles – se perpetuará, sem chance de precipitação da verdade? Até quando você vai ser minha verdade? 


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

terça-feira, junho 12, 2012

Tanto, tanto...



Eu gosto muito de você. Gosto tanto, tanto, que tenho medo do dia que esse amor resolver atravessar a rua estreita e escura da fronteira entre entre ele e o ódio, e descambar pra morrer afogado no mar da indiferença...


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

segunda-feira, junho 11, 2012

Pra nós.


Eu nao queria ele pra mim. 
Eu queria ele pra nós.

╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

domingo, junho 10, 2012

De dieta.



Você ainda é meu bolo de chocolate gigante, com recheio de côco e cobertura de chantili , salpicado de morangos grandes e gordos, mas eu estou de dieta. Eu ainda tenho aquele mesmo coração imenso, aquele mesmo coração insano, aquele  coração bobo, que sorri sem pensar diante da tenra hipótese de fitar teu sorriso, que bate pelo simples fato de você existir, que é tão mais forte do que ele mesmo supunha... aquele mesmo coração que adora bolo de chocolate com recheio de côco e cobertura de chantili, que guarda os morangos pra comer depois e lambe os dedos quando, na verdade, queria estar comendo você; lambendo você; me lambuzando de você, em você... Mas, agora, eu estou de dieta.


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮

quinta-feira, junho 07, 2012

Depois de amanhã.



Agora tem música no meu fone de ouvido e vento frio entrando janela adentro, e tem eu nesse quarto, à meia-luz, implorando a Deus que colha um tantinho do teu néctar e o borrife sobre mim. Eu não sei quantos dias de vida ainda tenho, mas, juro: cederia um deles à Ele, só pra sentir teu cheiro agora, ainda que meu último dia fosse depois de amanhã ...

~ Mari Teixeira ~



terça-feira, junho 05, 2012

Paixões, razões, padrões.



Se paixão é esse troço desaforado
Auto-suficiente, desobediente
Caliente, sobressaliente, inconsequente
E um tanto quanto demente,
Se ela não nos obedece
Nem se encontra à mercê de razões
Obedeceria ela, por acaso
A meros e inexatos padrões?


~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, junho 04, 2012

De saudade e de desejo.


Hoje eu acordei molhada. Derretendo de desejo e de saudade. Levantei da cama e bati de frente com a inviabilidade de, no momento - e talvez, pra sempre - matar os dois. Você bem que podia ter me feito menos feliz. Podia ter deixado como recordação uma alça de incompatibilidade, de um defeito inaceitável ou de uma mágoa qualquer pra eu poder me apoiar. Acordei, hoje, asfixiada. De saudade e de desejo. Mergulhei fundo demais, como sempre faço em tudo que me predisponho a viver. Sinceramente, não sei como arrancar de mim essa tendência a não me fracionar; nasci pra viver as inteirezas. Talvez precise, realmente, desaprender. Tenho subido à superfície lentamente, e isso é regra, meu bem, não é charme ou fraqueza. Qualquer ser vivo nesse planeta com o mínimo de noção de física médica sabe o quão negligente seria a pressa nessas horas: se for pra morrer, que seja de amor. Só de amor...

Hoje a sua falta tem me arranhado os órgãos... 


~ Mari Teixeira ~

domingo, junho 03, 2012

Meu.


Nunca precisei demarcar território. Isso é coisa de mamífero desesperado por um poste. Pessoas não são postes. E não apenas de fazer xixi vivem os cachorros. Costumo fazer valer piamente o significado - e a força- dos pronomes possessivos. Se é MEU, é MEU e ponto, sem riscos, sem medos. Não tenho que provar posse pra ninguém, sobretudo se já estiver registrado no cartório do meu coração. Anjos têm asas. E eu acredito neles. Somos anjos. Nunca cortaria as asas dele; voar juntos é melhor que carregar o outro à tiracolo. ♫ Te colocar sobre as minhas asas, só se for pra ♫ te apresentar as estrelas do meu céu;  fora isso, vira fardo, e o amor passa longe dessas coisas. Humanos têm desejos. Somos humanos. Não lhe roubaria o livre-arbítrio; pra que sequestrá-lo de si? Eu não me contentaria em ter apenas uma carne roçando na minha - não conheci nada mais vazio no mundo do que isso. Minhas algemas têm outra textura, que não a metálica. Eu não preciso ficar provando o que é MEU pra ninguém. E, embora o fatos gritem o contrário, lá no fundo, eu sei, ainda é: MEU.

~ Mari Teixeira ~

sábado, junho 02, 2012

Presente ao tempo.


  "E agora como posso te perder
Se o teu corpo ainda guarda o meu prazer
E o meu corpo foi marcado pelo seu?" 

(Nando Reis)


Eu resolvi nos dar pro tempo depois que você resolveu dar um tempo pra nós dois. Como eu não tinha papel de presente, embalei num papel de futuro. Depois de embrulhado, encontrei um laço de passado no chão do meu quarto, um tanto quanto amassado e empoeirado, e achei que poderia servir de enfeite. E serviu. Ficou bom. Mas, percebo que por detrás desse laço feinho tem um nó cego que nem nós dois conseguimos [ainda] desfazer... Desatá-lo, agora, fica a cargo do tempo. À mercê do resto de verdade que ainda teima em se esconder no sorriso que você me nega, no olhar que você me desvia, na palavra que você evita me dirigir, no miligrama de emoção que você deixa escapulir, naquela nossa vida que ainda vive em algum cantinho do âmago seu, nesse seu silêncio, fruto de um estar refém de não sei quem ou do quê. 

~ Mari Teixeira ~

sexta-feira, junho 01, 2012

Correr.



Já não bastava o correr enlouquecedor do tempo? 
Não bastava ter corrido as mãos pelo meu 
corpo e ter me feito refém do teu jeito?
Ter percorrido a língua por todo o 
meu peito e adormecido suado todas 
as noites no meu leito? Já não bastava - ainda - ter
corrido na minha veia e no meado de cada beijo 
ter me prendido na sua teia?
Agora você corre de mim?..

~ Mari Teixeira ~