quinta-feira, junho 22, 2017

Em águas rasas.


Mas foi assim, olhei pela janela, vesti um short curto, um top estampado, calcei as havaianas e bati a porta de casa. Quem iria imaginar que num dia de sol escaldante, de céu anil sem um rastro de nuvem ou sinal de tempestade, a chuva iria aparecer? Fazia tanto tempo que não chovia tão copiosamente por aqui que eu nem cogitei a possibilidade.

Foi bem assim, como sair num dia ensolarado sem guarda-chuva e ao virar a esquina ser encharcada por gotas grossas de chuva. Foi bem assim, inesperado... chegar em casa toda molhada de você e por você, deitar na cama e, assustada, perceber que tropecei mais uma vez em uma caixinha de vidro cheinha de água.

Assim, naquele dia eu dispensei a blindagem, eu desconsiderei o poder de um olhar, eu julguei adormecida minha insanidade, eu subestimei a mágica de um beijo, eu ignorei as probabilidades da matemática homem-mulher, eu não imaginei que estabelecer-se-ia um ímã tão perfeito.

Naquele dia eu rompi meu voto íntimo de nunca mais nadar em algo tão limitado, eu deixei meu marzão pra trás pra me aventurar mais uma vez num pequeno recipiente que se tornou, hoje, minha imensidão sem fim.

Mari Teixeira

quarta-feira, junho 21, 2017

Frustrações




A repetição de frustrações sem pausa adequada pra gente se recompor acaba causando redução da nossa coleção de expectativas, estourando as nossas bolhas de ilusão e rompendo a ideia utópica de essencialidade que a figura do outro representa pra nós.

A desilusão é a verdade travestida de sofrimento que aparece quando nossa limitação insiste em nos impedir de aprender a caminhar sob a égide do amor.

Mari Teixeira

Tudo é leve.


O que a gente faz com amor nunca é obrigação. Se você se sente obrigado a algo, não está amando, está sendo conveniente. Quando a gente ama, tudo é leve...

Mari Teixeira

segunda-feira, junho 19, 2017

Sobre nossos nuncas.



A gente acha que aceita nossos nuncas, mas, no máximo, se acostuma com eles. Só que tem dias que eles urgem de forma animalesca. E dói.

Mari Teixeira

segunda-feira, junho 12, 2017

Confissão.


Entrou na igrejinha da praça, era final de uma tarde fria de outono. Ajoelhou-se de frente ao confessionário, pois que ouviu: fala, minha filha, quais são seus pecados?

- Ser intensa, padre. Derramar-me toda a ponto de não conseguir me recompor a tempo. Arder até nas noites onde a lua cheia é ofuscada por uma geada fina fina, sorver a vida até gota. Sonhar de olhos abertos, andar no corrimão de uma passarela imaginária, sorrir incansavelmente só de ler um bom dia dele... ser estável no sentir, namorá-lo inteiramente só no olhar, transbordar e ao mesmo tempo me afogar em mim mesma... me jogar no meio do oceano sem saber nadar, tremer só de ouvir a sua voz, sentir o coração sair pela boca só de imaginar que ele está perto de chegar, me embriagar com seu cheiro, morrer de overdose e ressuscitar de vontade de nunca mais sair de perto da presença mas sublime que hoje coabita minha existência... peço perdão, padre. Perdão, Deus. Por ser esse poço de se fundo de sentir...

Mari Teixeira