terça-feira, dezembro 18, 2012

Sobre medos, hipocrisias e humanidades.



Tenho medo de gente que é feliz o tempo todo. Que não conhece a cor da fraqueza, que nunca chora, que nunca se entristece, que nunca sente raiva nem vontade de dar um murro na cara de alguém. Medo de gente que nunca brigou com Deus nem com a mãe, que nunca quis morrer ao ser envolvida por uma dor lancinante, que é boazinha demais e que não sabe dizer "não". Tenho medo de quem nunca sofreu por amor, de quem nunca tomou um porre na vida e de quem não precisa pedir perdão. Morro de medo desse tipo de gente que nunca erra, que é imune a tudo e a todos, que não faz cocô, que nunca tocou a campainha e saiu correndo, e que não fala palavrão. Muito medo da perfeição tatuada na cara dessas pessoas, mas nenhuma vontade de ser como elas. E embora elas me façam ter a sensação de que eu não existo, eu me sinto muito mais viva do que elas, mesmo habitando esse invólucro limitado de humanidade. Eu já me encontrei nesse meu jeito inacabado de ser, nessa condição constantemente falha, nessa potencialidade errante e aprendi a administrá-la entre tropeços, quedas e soerguimentos. Só quem mergulha nisso consegue sentir a verdadeira beleza da natureza humana que a infalível rotina dos "fortes" jamais os permitirá experimentar. 



~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Again.


Das outras vezes eu assisti, de camarote, você arrombar a porta, pular o muro, destruir o cadeado e ir pra longe de mim. Eu assisti o seu vazar constante da minha vida sem que eu pudesse retransfundir uma gota sua sequer. Eu vi você escapulir por entre meus dedos como a mais fina areia que pode existir, do nada, sem que eu pudesse fazer absolutamente nada pra te conter. Completamente estarrecida, vi você confundir amor com obrigação, e fuga com solução, e parecia que toda a impotência do mundo havia resolvido cair sobre mim, dada a inércia a que fui imposta. Com você consegui mensurar o real sentido do verbo esperar, e eu realmente esperei - até cansar. E quando já não havia mais espera, não havia mais nada, certo? Errado. Havia você do outro lado da linha, um coração na mão e uma incondicionalidade embutida nesse meu gostar  que burla qualquer lógica clichê, inclusive cansaços limítrofes. Eu me culpei durante muito tempo pela sua partida, sobretudo pela falta de causalidade diante do ocorrido: algum motivo haveria de ter, e pra nosso amor não cair na indigência, resolvi assumi-las, até a madrugada em que elas se dissolveram, todas, no corpo seu. Mas o dia amanheceu, e você me deixou um adeus colorido de saudade e vontade, e eu me vi obrigada, novamente, a assistir, muda, à mesma cena anteriormente citada. E não, você não imagina a bagunça que fica cada vez que você foge pela tangente da nossa estória e some do cenário desse drama, tão mudo quanto me deixa. 

Desta vez, mais uma vez, eu abri a porta pra você entrar, mas ao invés de ficar nua na cama, envolta em lençóis brancos observando você se vestir e ir embora sem nem olhar pra trás e em seguida chorar até sentir os primeiros raios de sol adentrarem aquela vidraça fumê, eu vesti minha calcinha e o meu sorriso mais lindo, blindei-me de suas promessas e te acompanhei até o portão. Seus olhos brilhavam mais que os pontos luminosos que enfeitavam o céu naquela madrugada rara e o tom do adeus beirava o incolor. Voltei pra cama e abri meu dicionário racional que comprei numa liquidação num desses dias de fossa no qual você sai de casa de óculos escuros, coque no cabelo, carranca na cara e uma decisão no peito. Desci o dedo indicador pelo índice e achei: "Capítulo IV - Como lidar com a falta"... a sua falta... a presença mais   perene que minha existência abriga.  Migrei para a faculdade com seu cheiro impregnado na minha epiderme, seu gosto na minha boca e sua imagem na minha mente - a mais nítida de todas: nossa intensidade não admite meios-termos. Me pus a recomeçar, novamente, do zero: você e essa sua capacidade de ressuscitar o que, com tanto esforço eu tento assassinar diária e homeopaticamente dentro de mim...


╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮


sexta-feira, dezembro 07, 2012

Tim-tim.



Eram brindes múltiplos. Incansáveis brindes. Um tilintar de sussurros e gemidos. Éramos duas taças, e condensávamos em nossas epidermes o vapor da paixão que pairava no ar em suor e saliva. Marcas de unhas espalhadas pelas costas dele enquanto uma barba de três dias arranhava meu pescoço. "Olhos nos olhos", como, um dia, compôs Chico Buarque.  Infinitos "detalhes", que nem a canção de Roberto Carlos.  Eram brindes múltiplos. Incansáveis e ruidosos brindes. Éramos nós...

~ Mari Teixeira ~