quarta-feira, dezembro 28, 2011

Pedaços.




Tornou-se pedaço, sem que eu quisesse. Nem pensasse. Rompeu o limiar do prazer e tornou-se dor num piscar de olhos. Mas é só apertar os olhos e puxar da lembrança pra conseguir abstrair prazer, de novo.

Tornou-se um tipo de amor, daqueles mais vagabundos que possam existir. Amor com cheiro de cio. De pele. De acidez pronunciada. De dentes arrancando as vestes. De línguas que se entrelaçam num desespero poético. De dedos. De ponto de ebulição baixo; apenas um trisco na coxa ou um leve pousar de uma mão na outra já ferve - lembra daquela febre? O volante do teu carro, tenho certeza que sim. Mas, é fato: naquele dia quase sublimei...

Tornou-se parte, terço, metade... não sei. Mas, pensando bem, tava na cara: um corpo nu roçando o outro não podia dar n'outra coisa: pedaços dos dois se desprendem e, num crossing-over invisível, se colam (um) no outro, para se perderem de novo. Se, por acordo, nenhum sentimento alcança, da intimidade não se escapa. Relaxa, agora, digo eu. E sigo te usando na mesma proporção que me usas. Não como uma roupa qualquer, mas como aquela sua box cor de vinho (que tem tudo a ver com meu espartilho preto). Isso aí na sua cabeça, é só minha intensidade te reverberando e te confundindo. Na realidade, é só aquilo mesmo que a gente já tinha acertado. Só vontade. Muita. Só isso. Mesmo.

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, dezembro 27, 2011

Sobre pecados, excessos e não-saberes.


"... que não há pecado no exagero de saber amar..."  (Chimarruts)

Nunca houve... Pecado é falta, e falta nem combina com exagero. Quem não sabe lidar com determinadas doses de determinadas coisas acaba tachando de "excesso" até os respingos... mas, o que é o excesso? O que se derrama de mim? O que respinga em um corpo medroso? Ou o volume que você quer enxergar? O que há em mim transborda porque eu ainda tenho que aprender como não me trazer à tona... Como viver menos à flor da pele... Como não entornar emoções e sentimentos pelos poros. Transborda porque eu ainda tenho que aprender a me conter...

~ Mari Teixeira ~

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Happiness.


Felicidade que é felicidade, independe de terceiros.
Mas se um terceiro quiser fomentá-la, quem é que vai se opor?

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, dezembro 20, 2011

Resumo.



Tem gente que vive pra resumir. Os amigos, o cardápio do almoço, as relações. A conversa, os acordes de uma música, a vida. E de resumos, bastam os que os professores pedem... Basta o sermão do padre da igreja da esquina... Basta o 'não' da mãe, sem seu respectivo porquê... Eu quero é uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado, uma partitura de arranjos mil...  Um 'não' bem explicado, um buffet bem recheado e um professor que não peça resumos... Quero discussões calorosas e demoradas - e beijos, e sexo, idem. Quero o que congela a espinha, o que incendeia a epiderme, o que dá medo de encarar, o que dá trabalho pra construir... O que torna a vida válida. Mas isso é só um resumo de quem desistiu de resumir a vida a determinadas mediocridades. De quem agora se resume [apenas] em viver. 

Mari Teixeira

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Vem cá, Luísa...

  
Vem cá, Luísa. Deixa eu te falar. Sinto muito todas as vezes que tenho que dar essa notícia a alguém. Sinto de verdade, mas tenho que dizer: tu já tá apaixonada e, por tabela, fudida. Já era, gata. Agora, ou tu arranca o coração do peito e morre logo, ou deixa ele taquicárdico pra morrer do mesmo jeito, mas em vida - e eu, particularmente, prefiro a segunda opção. Agora não tem mais jeito, então, curte essa porra dessa paixão. A gente nunca sabe no que vai dar mesmo. Talvez tu chore, talvez ria. Talvez construa um baú no fundo mais fundo do seu íntimo e a esconda dos outros e de si mesma, talvez retalhe-a pra juntar cada pedacinho mais tarde, talvez gaste metade do salário ligando pro celular dele só pra ouvir um "alô". Talvez sonhe com ele todas as noites, talvez se bata com ele na esquina da sua casa com a namorada nova, talvez encontre ele todos os dias na fila da padaria, ou só de mês em mês. Talvez ele venha a se fazer seu, ou talvez nunca passe perto da sua pertença. Mas, enquanto o talvez existir e insistir em permanecer, delicie-se... Lambe os dedos; 'a vida é tão rara', meu amor (já afirmou Lenine, numa melodia divina); não pode ser desperdiçada assim. Um dia, correspondida ou não, vai passar. Aproveita: tem gente usando droga, gastando horrores com terapeuta, fazendo macumba e plantando bananeira pra alcançar esse nirvana, e tu correndo disso? Eu sei que dá medo, que a gente acha que é dopamina demais pra uma vida só, mas bota uma coisa na tua cabeça: viver dói, mas compensa. Muito.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Eu abro.


Eu abro mão das justificativas pra ficar comigo mesma. De coisas ditas valiosas por me valorizar muito mais que a elas. Abro mão de quem 'diz' que me ama por me amar mais. Abro mão do medo do futuro pra viver momentos. Abro mão dos rótulos e fico nua, sem a mínima vergonha, só pra ser eu mesma. Eu abro mão da minha zona de conforto pra dormir num chão duro e gelado. Abro mão de um telhado, e converto meu teto num espetáculo que só os corajosos são dignos de assistir; tenho a lua e as estrelas ao meu alcance. E se o sol me queimar, eu me assopro. Se a chuva me molhar, eu me seco. Se o vento me levar, eu faço a curva e volto.  Ou, de repente, fico por lá. Eu abro mão da razão e fico com a felicidade.  Depois, feliz, construo outras novamente. Eu abro mão de tudo e me abro. Pra vida.

~ Mari Teixeira ~ 

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Você vai ver.


Você vai saber quando chegar a hora. Quando estiver pronta para tal. Vai se sentir, enfim, forte. Vai enxergar uma luzinha lá dentro, que não mais ofuscará sua visão. Vai brotar uma força imensa, e você vai chutar aquela pedra enorme de criptonita pra bem longe. E depois,como quem não quer nada, vai se aproximar dela e vai entender que não era aquela coisa verde a causa de tanta dificuldade em digerir a vida. Quando olhar pra trás, vai sorrir - nervosa, sem-graça ou feliz. Vai chorar também; a hora chega, mas ninguém vira um x-men por causa disso. Não se trata de mudança, mas de descobrimento. De novas posturas e atitudes. As coisas vão doer menos,  do mesmo jeito, ou mais ainda; a diferença vai estar no jeito que você vai encará-la, na dose de analgésico que você vai se submeter, no tempo de repouso que você vai se dar. Você vai saber quando chegar a hora, acredite. Não vai  precisar nem de despertador. Nem de tampões de ouvido.Você vai se levantar, vai passar uma base FPS 15 na cara e um batom magenta na boca. Vai entregar seus cabelos ao vento e jogar com a vida da mesma forma que ela joga com você. Vai dar, enfim, valor à coisas que você considerava banais. Vai parar de agigantar outras e vai minimizar o que já foi agigantado, um dia. Vai entender a dualidade da vida e aceitá-la, saboreando alguns momentos, cuspindo outros e deglutindo a minoria. Quando chegar a hora, você vai saber. Você vai ver...

Mari Teixeira

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Solidão.



"Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de
arrumar o armário..." ♫

(Ana Carolina)

As madrugadas têm sido quentes, mas amanhecem gélidas. De vento frio e de ausência. As tardes desta primavera, abafadas, e eu ainda tenho um armário todo pra arrumar. A solidão, esta senhora que eu não conhecia, e a quem há pouco fui apresentada, não tem nada de simpática. É pessoa de tez enrugada, voz áspera, raras palavras e um leve descaso no jeito no olhar. Deito na cama, e enxergo o espelho do meu guarda-roupa trincado. Lembro nos sete anos de azar que o moço do frete há de carregar - junto com as outras mudanças. Penso em máquinas-do-tempo, em teletransporte, em telepatia, em  mandar outro SMS dizendo que eu tô morrendo de vontade dele, e que é só isso mesmo - vontade, química, tesão. Que é pra ele bater na minha porta nessa noite, ou me ligar, ou sei lá, pra matar meu desejo, e que eu juro que não prendê-lo por mais esse desejocídio, até porque eu ainda quero assistir (de pé, ou deitada, ou como você quiser) a mais outros episódios do gênero - desde que sejamos os protagonistas. Serei, mais uma vez, testemunha e cúmplice, e é estranho, mas sei lidar bem com isso; talvez seja o mínimo que uma vida recheada de antíteses e paradoxos poderia me proporcionar.  Só que aí, o tempo não passa, e logo percebo que nada disso existe - inclusive os créditos do meu celular. Sem SMS, teletransporte, telepatias e máquinas do tempo, não me resta outra alternativa, senão ser minha  companhia. E quando ficar sozinha consigo é a única opção, vale quase tudo. Eu disse quase...

Mari Teixeira