Tornou-se pedaço, sem que eu quisesse. Nem pensasse. Rompeu o limiar do prazer e tornou-se dor num piscar de olhos. Mas é só apertar os olhos e puxar da lembrança pra conseguir abstrair prazer, de novo.
Tornou-se um tipo de amor, daqueles mais vagabundos que possam existir. Amor com cheiro de cio. De pele. De acidez pronunciada. De dentes arrancando as vestes. De línguas que se entrelaçam num desespero poético. De dedos. De ponto de ebulição baixo; apenas um trisco na coxa ou um leve pousar de uma mão na outra já ferve - lembra daquela febre? O volante do teu carro, tenho certeza que sim. Mas, é fato: naquele dia quase sublimei...
Tornou-se parte, terço, metade... não sei. Mas, pensando bem, tava na cara: um corpo nu roçando o outro não podia dar n'outra coisa: pedaços dos dois se desprendem e, num crossing-over invisível, se colam (um) no outro, para se perderem de novo. Se, por acordo, nenhum sentimento alcança, da intimidade não se escapa. Relaxa, agora, digo eu. E sigo te usando na mesma proporção que me usas. Não como uma roupa qualquer, mas como aquela sua box cor de vinho (que tem tudo a ver com meu espartilho preto). Isso aí na sua cabeça, é só minha intensidade te reverberando e te confundindo. Na realidade, é só aquilo mesmo que a gente já tinha acertado. Só vontade. Muita. Só isso. Mesmo.
~ Mari Teixeira ~
~ Mari Teixeira ~