quarta-feira, setembro 29, 2010

Prefiro assim.


Ontem, bem de longe, avistei a esperança. Do outro lado da rua da minha vida. E tive medo de tê-la novamente. De vê-la escapulir mais uma vez por entre os interstícios dos meus dedos. De cair, de novo, na rede pegajosa da frustração que existe lá no fundo do poço. Muito medo. De voltar àquela esquina onde eu me punha todos os dias a esperar pela felicidade prometida. Quanto medo! Das poças d'agua beirando a calçada, da lama na cara, dos pés doloridos, da volta pra casa sob a penumbra das ruas. Da dor se intenficar, de eu não mais resistir. É, eu avistei a esperança. Mas me escondi. Ninguém entende. Às vezes, nem eu. Mas, acredite; por enquanto, prefiro assim.

segunda-feira, setembro 27, 2010

A felicidade.

Ah, a felicidade! Esse sol brilhante e ardente que resolveu estagnar no poente da minha vida fazendo dela um crepúsculo sem fim! Meu céu alaranjado, riscado de tons azuis-violeta, fim de tarde, fim de vida. E eu ainda na metade dela. Há tanta tristeza! Tanta, tanta, imersa nesse raro paradoxo que, apesar de obscuro, consegue ser lindo de se ver! É inegável a beleza embutida na melancolia que reveste essa hora. Essa vida. Essa história. É quase dor de parto; um enorme sofrer de onde ressaem subtons de sorrisos daquela que espera, ansiosamente, a alegria pousar em seus braços. Ah, a felicidade! Essa erupção de sentimentos inexplicáveis. Esse estado de espírito que, ainda que curto, traz consigo o poder de ecoar eternidade adentro. Essa brisa forte que traduz o enlevo da alma. Esse eclodir de secreções e moções. Em mim, uma existência inteira salivando por ela, num desejo insano de degluti-la. E um medo absurdo de que esse dia nunca chegue.

domingo, setembro 26, 2010

Cansei.

Era tudo mentira. Essa história de que eu sou forte, de que eu aguento tudo, de que eu sei lidar muito bem com minhas dores. Tudo mentira. Eu não sou, eu não aguento, eu não sei. Talvez já fosse tempo de estar sendo, aguentando, sabendo. Mas, consigo admitir. Ainda não. A dor me lentifica, me desarma, me paralisa, sobretudo quando alcança seu limiar. Ela me gasta, e eu vou ficando menor a cada dia. Rouba meu raciocínio, me tortura. E eu ainda sou obrigada a acordar cedo todos os dias e a sorrir pra todos os gentis viventes como se nada acontecesse por trás das cortinas da minha alma. Eu ainda sou obrigada a acreditar que "vai passar", que "amanhã vai ser melhor", que "a vida é assim mesmo". E pode até ser que passe, que melhore, que ela seja assim mesmo. Só que eu cansei. Cansei de mentiras travestidas em verdades. E podem me chamar de leviana, desviada, metamórfica ou o que seja... eu só quero me dar o direito de cansar. De chutar o pau da barraca, de mandar tudo pra p.q.p, de acreditar no que eu quero acreditar sem ninguém buzinando supostas verdades no pé do meu coração. Quero criar as minhas. Tomar as rédeas da minha vida. Porque se for pra ser infeliz pelo resto dela, que seja consequência de uma escolha minha, e não de outrém. Por uma questão de justiça. Só por isso.

De novo, saudade.

"... Eu continuo aqui com meu trabalho, meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Dias de chuva, dias de sol..."

(Renato Russo. Música: Love in the afternoon)

quarta-feira, setembro 22, 2010

Eternizar.

Algumas pessoas, nessa vida, se eternizam por si só. Outras, temos que nos esforçar para fazê-las eternizar-se, e, ainda assim, sem garantias de sucesso. Mas, aprendi uma coisa: melhor sondar, antes, se elas querem mesmo ficar.

terça-feira, setembro 21, 2010

Muito triste.


É triste - muito triste - ter que admitir no meu pensamento tanta coisa acerca de você. Suas escolhas errôneas, seus mecanismos de defesa inimagináveis, sua despersonificação manifestada pelo surgimento de um ridicularismo sem tamanho e tanta inverdade pairando por aí me incomodam e envergonham, me entristecem e me emudecem, trazendo consigo o pior gosto que um ser humano pode experimentar com relação ao outro: o da decepção. É triste ter que carregar você como um fardo tão absurdamente pesado, que minhas canelas de sabiá não conseguem mais suportar. Que você, que tinha que ser minha força pra sempre, é o maior símbolo da minha fraqueza. É muito triste concluir que fingir que você não existe é a mais plausível opção que eu tenho pra poder continuar sem maiores sequelas. É triste. Muito triste.

domingo, setembro 19, 2010

Tão injusta.

Morre a esperança, mas a vida continua, imersa num submundo tenebroso de falta de sentido e horizonte. Ela morre, e depois de morta, também mata homeopaticamente aquele que permitiu sua morte. Teoricamente, nada mais justo, nessa vida tão injusta. Mas, na prática, é só mais injustiça se perpetuando.

quinta-feira, setembro 16, 2010

Um mês.


Hoje fez um mês que você partiu e eu ainda não consigo acreditar. Eu ainda acho que você viajou pra Salvador, que vai surgir do seu quartinho de música de repente, ou vai chegar da rua com mais um DVD pra me mostrar. Hoje fez um mês que aquele vazio se instalou, que eu procuro você pelos cantos, que eu ouço Nat King Cole e só sei lembrar de você e dos momentos que eu vivi no largo tempo que eu passei por perto, convivendo diariamente - muito mais que a metade da minha vida. Faz um mês, e é mesmo como me disseram: uns dias de brandura, outros de uma saudade que aperta o peito sem piedade, e me faz chorar como chorei no dia em que você partiu. E eu me viro pra aquela sua foto enorme na parede lá da sala, e mesmo chorando, sorrio, porque não consigo mais encontrar tristeza nessa ausência; só uma saudade que não tem nome nem tamanho, só uma paz imensa concentrada no seu sorriso tão cheio de humildade. E por fim me comprazo mais uma vez em ser sua continuidade. Porque você partiu, vô. Mas continua existindo em mim.

quarta-feira, setembro 15, 2010

1+1 = 1

É estranho como alguém que você nunca havia visto na vida, um dia aterrisa nela [do nada] e, aos poucos, passa a correr nas suas veias e a correr do seu lado, a pulsar com seu coração e com sua vida. É estranho que existam afinidades tão afins a ponto de superarem discrepâncias enormes. Estranho que, de repente, a matemática se contradiga, e 1 + 1 continue sendo um. Muito estranho. Que anos tenham se passado num piscar de olhos, e que tantas oscilações não tenham conseguido extinguir essa chama, que aquece muito mais do que cresce, que a vulnerabilidade da nossa humanidade mais fortalece do que limita, que pode até ser finito, mas parece que, por si só, não quer ter fim.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Frustração.



"Passei a maior parte da minha vida enriquecendo uma longa espera pelos grandes acontecimentos. Agora compreendo a estranha inquietação, o trágico senso de fracasso, o profundo descontentamento. Eu estava esperando a hora de expansão, do viver verdadeiro..."


(Anais Nin)

quinta-feira, setembro 09, 2010

Pra (quem quiser) refletir.

"(...) As promessas que se fazem a Deus são sempre promessas de sofrimento: fazer caminhadas de joelhos, passar seis meses sem beber refrigerante, fazer jejum... Então é o nosso sofrimento que faz Deus feliz? Deus é sádico? Prestem atenção: não sou eu que estou dizendo. Isso não é blasfêmia minha. É blasfêmia de quem promete casca de ferida a Deus."
Rubem Alves
(In: "Ostra feliz não faz pérola. 2008.)

quarta-feira, setembro 08, 2010

Alegria.

Vocês chegaram! E meu coração se alegrou.
Foram quatro anos e meio de distância.
Quatro anos e meio sem abraços nem bate-papo.
E nossa amizade, fortalecida na rocha.
Nem o tempo nem a distância abalaram.

domingo, setembro 05, 2010

Fragmentos de incompletude.

Eu fico olhando pra o tempo e fazendo uma contagem regressiva reversa. Lembrando dos dias que iam nos atropelando e a gente ali, sem saber que eram os derradeiros. Agora os dias continuam velozes, precipitados e precoces, passando por cima de tudo e de todos, e nós continuamos achando que temos uma vida inteira pela frente, sem levar em conta o que nos reserva o virar da próxima esquina da vida. A gente continua com a idéia fixa de que as coisas só acontecem na casa do vizinho e que a comemoração dos nossos 90 anos será uma festa de arromba, deixando tudo para amanhã - como se, certamente, ele fosse chegar. Então, eu me indago - incompleta que sou - como um dia Inês Pedrosa, sabiamente, se indagou (acho que ela também era incompleta): "por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa? (...)"

sexta-feira, setembro 03, 2010

Vida séria.


Todo mundo diz que eu levo a vida muito a sério.
Mas eu só estou sendo recíproca:
é mesmo assim que ela me leva,
sem nenhum esboço de sorriso na cara.
E faz tempo.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Perder na vida.

Muito mais do que ensinar como vencer na vida, as escolas, a família, os meios de comunicação, as religiões e os manuais de auto-ajuda deveriam nos ensinar a perder na vida. Se aprendessemos essa lição, talvez a vida não soasse nesse eterno tom de competição, e nossas necessidades urgissem de uma forma menos ensurdecedora. Se soubéssemos perder, o fim seria menos turbulento, os sofrimentos seriam mais brandos, e, com certeza, saberíamos aproveitar o tempo de uma forma tal, que a vontade de voltar nele praticamente não existiria. Talvez déssemos mais valor às pessoas, talvez fôssemos mais gratos e menos orgulhosos, mais compadecentes e menos julgadores, e a ganância de estar sempre à frente daria lugar à delícia presente na quietude das horas certas de ficar. Se soubéssemos perder, ganharíamos muito mais, tão mais, que quando perdêssemos, nem perceberíamos.