quarta-feira, dezembro 31, 2008

Cortar o tempo



"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,a que se deu o nome de ano,foi um indivíduo genial.Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente..."

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, dezembro 30, 2008

Feliz 31 de dezembro de 2008!

Amanhã é o último dia do ano. Diferentemente dos outros últimos dias do ano pelos quais passei, parece-me que amanhã será um dia como outro qualquer. E de fato, o é. Sem maiores floreios, sem pompas, plumas ou paetês, assim como foi o Natal.

Tem aprendido que não existem datas especiais de calendário; quem faz uma data ser especial, somos nós. É a aura criada, o ambiente, a galera, o papo, a música. Andei cansada de criar expectativas em cima desses "eventos". Resolvi viver um dia de cada vez (acho que já falei isso aqui). Por isso, não lhes desejo uma feliz ano novo; desejo-lhes uma boa noite de sono, tranquila, cheia de paz. E amanhã, quando acordar, desejar-lhes-ei um bom dia.

Cada dia que se vai em minha vida tem sido de grande aprendizado; tenho aprendido a ser feliz quando dá, mas eu choro também quando não é possível sorrir. Permito-me ter raiva, nojo, medo, mas tento cuidar para que esse direito não me arraste à crueldade. Não pergunto mais a Deus o porquê de eu estar passando por isso ou aquilo; não julgo como castigo ou coisas parecidas. Já entendi que tudo que Ele permite, de uma forma ou de outra, tem uma finalidade: crescimento humanístico, maturidade, adaptabilidade... Olhando pra tanta gente, percebo que nunca passei por sofrimentos horrorosos, capazes de tirar a paz da alma. Também não me julgo imune à esse tipo de acontecimento. Se um dia acontecer, espero ter serenidade e fé suficientes para manter-me, ao menos, de joelhos, aos pés do Senhor.

Descobri que a vida é tão curta... e ao mesmo tempo tão bela! Por isso tenho me deliciado com cada pedacinho do tempo que me é dado, mesmo quando passo 16hs por dia na universidade, ou quando estou estudando que nem condenada pelas madrugadas adentro. Quero fazer a felicidade acontecer dentro de mim primeiro... E no mais, quero desejar-lhes um lindo 31 de dezembro de 2008!


Paz e bem!
Mari

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Feitos de areia...


Doeu. Doeu lá dentro, sabia? Não posso dizer que a dor tenha sido igual, afinal, o alvo da flecha foi você. Mas se, de alguma forma eu tenho você em mim, e você me tem dentro de você, eu acabo sendo atingida também.

Na hora, bateu um misto de dor e agonia. Dor porque você tava sentindo e eu também. Agonia porque eu não podia fazer nada para aliviar a sua dor, e nem a minha. Porque, por mais que eu quisesse eu não conseguia deixar de sentir aquele aperto no peito que eu senti ontem e que, eu confesso, ainda existem resquícios. Na verdade, eu não queria parar a dor. Eu queria era voltar no tempo e pedir pra aquela onda não molhar aquele castelo de areia. Queria ter ido lá, pessoalmente. Mas aí eu me lembrei que eu também sou meio que de areia; eu não posso chegar muito perto do mar. Lembrei que, por várias vezes, eu vi a onda chegar muito, mas muito perto! Diante do medo de ser tocada por ela durante picos de maré, por inúmeras vezes, me arrastei pra trás. O mar é encantador! Mas, isso não justifica nada.

Eu acho que lá no fundo a gente é tudo feito de areia mesmo. Nem precisam ondas sinistras, tsnunamis. Um ventinho, uma brisinha e já era. Podia ter sido o meu castelo; podia ter sido o dele, o dela. Essa fragilidade da qual somos feitos não nos dá direito a ultimatos. Do contrário, estaríamos todos destruídos em poucos anos. É justamente essa textura de areia que nos permite versatilidade, permite mudar, fazer diferente. Eu acho que esse castelo tem o direito de ser reconstruído. Afinal, não existia apenas uma estrutura externa; lá dentro, um mundo de sonhos já estava sendo construído. E pessoas podem até ser de areia. Mas sonhos e sentimentos, não são, não.

domingo, dezembro 21, 2008

Existe um tempo pra cada coisa...


Existe um tempo pra cada coisa. Não se pode colher caju em junho, tampouco milho em dezembro. A natureza, ora silenciosamente, ora estrondosamente, prepara todos os detalhes para que cajus e milhos tornem-se maduros o suficiente para serem colhidos na época certa. Caso sejam colhidos antes da hora certa, ainda estarão verdes; se a colheita atrasar, estarão maduros demais. Frutas verdes tendem a ser azedas demais; frutas maduras demais tendem a se espatifar no chão...
Paz e bem!
Mary

sexta-feira, dezembro 19, 2008

A graça de ser só

Um dos temas que mais incomodam a sociedade em geral (inclusive alguns cristãos católicos), é a existência do celibato dos padres e irmãs consagradas da Igreja Católica Apostólica Romana. Particularmente, não consigo entender tal incômodo (afinal, os abstinentes de casamento e sexo não são essas pessoas, e sim os padres e as freiras). Confesso que diante das dúvidas e posturas de perplexidade de algumas pessoas, já tentei explicar o motivo do celibato proposto pela Igreja a seus sacerdotes e consagradas, mas para a grande maioria não é fácil compreender, tampouco aceitar. Hoje me deparei com um texto do Pe. Fábio cujo teor é exatamente esse: o celibato. Nunca tinha lido algo tão perfeito! É a alma de um jovem celibatário falando... ninguém melhor que alguém que vive o celibato para falar dele! Transcrevo-o aqui, na íntegra. É um pouco grande, mas vale a pena lê-lo por inteiro. Transcrevo-o, não na intenção de que você o aceite, mas para que você (talvez) compreenda que "...há aqueles que se tornaram eunucos por causa do Reino dos Céus." (Mt 19, 12b).


A graça de ser só

Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.

Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar. Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do "pode ou não pode".

A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar, não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.

Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.

Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em "propriedade privada". Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.

Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.

Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo de mais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções."

Pe. Fábio de Melo (12/12/2008)

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Sobre o Natal... e sobre o Amor

Natal às portas. Sensibilidades afloradas. A bandeira do "amor ao próximo", que ficou à meio pau durante todo o ano, começa a ser estiada mais alta. Ultimamente tenho me percebido mais cristã, e menos religiosa. Isso tem me conduzido a pautar a minha vida muito mais naquilo que Deus sabe e cobra de mim, do que naquilo que ditam, sem justificativa aparente. Ando me sentindo bem melhor e mais livre assim.

De uns tempos pra cá surgiu dentro de mim a certeza de que Deus quer o amor, acima de tudo. E que esse amor é minha moeda de expiação pelos meus erros. Não estou aqui querendo dizer que ando amando horrores por aí; aliás, tem sido bem difícil! Lembro-me agora de um discurso do Pe. Fábio, muito sábio. Ele dizia que a gente prega tanto esse jargão do "amar ao próximo", mas a gente não facilita o amar do outro, e o outro, por sua vez, não facilita o nosso amar. A gente quer que o outro nos ame com nossas grosserias, com a nossa estupidez, com nossa insensatez, com a nossa frieza, nosso desprezo... a gente exige tanto do outro, que chega uma hora que ele se cansa, e desiste do amor, desiste de amar. A gente esquece que ainda somos criaturas humanas, mesmo participando dos mistérios divinos Ainda vivemos na terra, ainda bate aqui um coração, ainda existe a necessidade de reciprocidade, e seria tão bom se todos nós entendêssemos isso e nos pusséssemos a ser mais dóceis, mais sorridentes, mais amáveis, mais compreensivos, menos donos da verdade, menos juízes...

Amar não é sentir o coração pulsar mais forte; isso é paixão, atração física ou sei lá o quê... e pode vir ou não a se transformar em amor. O amor é mais constante, mais sólido. É ato voluntário e sublime; não podia existir para estar à mercê de hormônios. Amar é se colocar ao dispor do outro. ... Amar é não ter reservas... amar é apanhar a caneta que cai no chão, é devolver o troco errado ao caixa da padaria, é ajudar a velhinha a descer as escadas da porta do banco. É velar o sono de um doente. É partilhar, é acreditar, é confiar... Amar não se resume apenas a grandes gestos, como tanta gente pensa. Pode ser um misto dos dois, dos pequenos e dos grandes, como fez Jesus. Acho que a gente começa com os pequenos. Começa nascendo num estábulo pra depois ter coragem de morrer numa cruz...

Paz e bem!
Feliz Natal!
Mary

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Fim de ano

Todo fim de ano é assim. Fico nostálgica, melancólica, saudosa. Esse ano, menos do que os outros, mas acho que é pelo fato de eu estar afundada em coisas pra fazer; sobra pouco tempo pra pensar nessas coisas. As luzes de natal, as ornamentações, o presépio... tudo isso me traz à tona uma gama de recordações absurdamente estraçalhantes. Lembro de tempos bons que ficaram no passado; da época de criança, da inocência, da crença em papai-noel; de quando a minha família existia! Lembro muito de quem não está mais aqui; e bate a incerteza de que ano que vem alguém pode vir a estar a pensar o mesmo de mim... Bate um medo estranho... irreal, mas tão presente! Uma sensação de fim se mistura à de recomeço!... E assim eu vou me preparando para ver chegar o dia mais triste do ano.

Não deveria ser assim, afinal, Jesus vai nascer! Mas minha tristeza não tem nada haver com Ele. Tem haver com a superficialidade que paira sobre essa festa tão especial. Fora o consumismo descontrolado (que foi o tema do meu post de Natal do ano passado), dói muito ver tanto egoísmo, tanta hipocrisia, tanta falsidade e , sobretudo, tanta maldade. As pessoas se maltratam, se ofendem e se magoam durante todo o ano, e bem no dia de Natal resolvem colocar suas lindas máscaras, levantando a plaquinha da "confraternização universal". Mas é só começar janeiro, para os belos discursos de "paz e amor" serem novamente empacotados juntos com a fantasia de ovelhinha e os arranjos de natal...

Quero que esse Natal seja diferente de todos os outros que eu tive. Quero fazer o real sentido do Natal acontecer na minha vida. Quem sabe a partir deste, eu possa enxergá-lo de uma forma menos humana e mais divina...


Paz e bem!
Mari

domingo, dezembro 07, 2008

Já não existe...



Tudo aquilo já não existe. Nem subexiste. Cá dentro de mim, implosão. Uma ou duas vigas permanecem intactas, sustentadas, provavelmente, pelo Deus que mora em mim. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Ninguém imagina que parte de sua vida pode afundar dessa forma. Passo em frente à casa. Sinto saudades. É minha alma dizendo pra onde ela queria voltar. Restou tão pouco de tudo, que as coisas ficaram insustentáveis. O cansaço oxidou os metais, a intolerância desgastou o que sobrou; a estrutura não resistiu. E ruiu. Reconstruir, agora, quase impossível.


Tudo ruiu. Ficou no passado. Eu posso voltar lá. Paro em frente ao portão enferrujado. Fico parada olhando. Fecho os olhos. São mil recordações. Choro. E, embora nada fosse perfeito, era tudo tão meu! Eu acreditava naquilo tudo! Do jeitinho que era! Consigo ver os canteiros de grama verde, a bola de vôlei no canto da varanda, o carro parado vazando óleo. Os pés de graxa, as folhas secas espalhadas pelo chão. No chão da sala, carrinhos e bonecas. O sofá rasgado. A parede descascada. A TV ligada na rede Manchete. Inhambu quentinho nas manhãs de domingo. O guarda-roupa sem uma porta. A fechadura quebrada. Um crucifixo de metal na parede. Um relógio parado às 10hs. A geladeira amarela, o fogão de duas bocas. O balanço no quintal. E choro de novo.

Penso comigo: era tudo tão superficial assim mesmo? Sempre?... Não encontro respostas. Elas surgiram desde antes de eu nascer. Ouço um eco dizendo que faltou cuidado. Abro os olhos. Só vejo sujeira. Não enxergo mais o cimento da garagem; as folhas secas não deixam. Muito pó na varanda. No mesmo lugar onde repousava a bola de vôlei. Lá dentro, imagino apenas bagunça e vazio. O crucifixo, empoeirado e solitário. Não existem mais carrinhos nem bonecas na sala. A mesa da cozinha praticamente jaz, assim como todas as coisas que permanecem ali. Mas o relógio, com certeza, continua parado nas 10hs. Sem gritos. Sem risos. Sem vida. Apenas um buraco na parede da sala. Este, não existia... quem o teria feito? O tempo, talvez...

Paz e bem!
Mari

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Meu caso de amor...

Em um de seus livros, Rubem Alves cita a frase que Robert Frost escolheu para ser colocada em sua lápide:

"Ele teve um caso de amor com a vida."

Achei fascinante! Viver apaixonado pela vida é o segredo da felicidade. Eu poderia muito bem plagiar Robert Frost porque, apesar das intempéries que fazem parte do processo de viver, sou intensamente apaixonada por essa coisa de viver, de estar viva, e, confesso: não desejaria nunca pôr fim ao espetáculo mais maravilhoso do mundo. Mas, como partir é inevitável, gostaria que escrevessem na minha lápide:


"Ela teve um caso de amor com a vida, com a música e com as palavras..."


Paz e bem!
Mari

segunda-feira, dezembro 01, 2008

No vácuo...



Tudo que é vazio demais corre o risco de transbordar de alguma forma. Parece paradoxo, mas não passa de mais um contrário da vida. Muita gente não sabe, mas os vazios são terríveis; deles surgem a grande maioria dos nossos traumas e carências. Sem contar que eles aumentam o nosso potencial de vulnerabilidade. Porque tudo que é vazio demais tende à encher-se; e na grande maioria das vezes, também demais. E por isso derrama, escapa, transborda... e esse verter acaba levando um pouco da gente. Em pouco tempo, estamos vazios de novo. Vazios das coisas e vazios da gente. Pra recomeçar um ciclo sem fim...

Mari