sexta-feira, abril 27, 2012

Outra carta pra você.



Todos os  dias, lá pela madrugada, peço a Deus que não amanheça. Que o sono desapareça, que você não me esqueça e que, por fim, apareça, nem que seja pra me lembrar que eu me esqueci em você, e que você veio só pra me devolver. Nem que seja  pra repetir metade daquilo que você disse olhando dentro da minha pupila, ao meio-dia daquela quinta-feira doída, sob um sol dos diabos, sob um não entender que ainda ecoa.  Sabe, moço, reluto tanto em adormecer, como se isso fosse frear ou impedir o sol de nascer. Ter certeza que mais um dia vai começar e não saber como fazer pra conseguir chegar ao fim dele sem se perder pelo meio do caminho, assusta. Eu, que odeio varrer coisinhas pra debaixo do tapete, já sonolenta, arranco esse medinho de mim e empurro pra lá. E sim, continuo geniosa: esperneio, porque só aceito dormir acompanhada se for com você. Mas, se não tem você, não quero mais nada, não quero mais ninguém. E fico tateando o futuro por aí, já que você resolveu levar consigo aquele que sonhamos juntos. Fico tentando entender de onde vem a acidez que mexeu, definitivamente, com meu pH, quando você decidiu se misturar em mim. De leve, me torno estupidamente ácida e imploro à Ele que não nos percamos para tão além do contato físico; que a sintonia das nossas almas não se desfaça, que você esteja feliz - mas feliz de verdade, não pela metade - e que a gente se bata numa esquina qualquer do futuro mais próximo que possa existir. 


~ Mari Teixeira ~

quinta-feira, abril 26, 2012

Meu dedinho podre.


Eu - sempre eu - e esse meu dedinho longo e lindo, de unhas impecavelmente feitas, falanges altamente flexíveis, e cheio de vontades próprias,... Esse dedinho que aponta tanto pra lousa quanto pra lindas vitrines, tanto pra monumentos ambulantes quanto para o céu estrelado, que sabe escolher a cor da maquiagem e o modelo do justo que vai usar à noite, que delira quando dedilha um violão ou um teclado, esse dedinho lindinho, na verdade, mais desaponta do que aponta, só apronta, sem sossego, sem descanso... Todo errado! Tem que ir pra escola dos dedos, aprender a escolher...

~ Mari Teixeira ~

quarta-feira, abril 25, 2012

Caos.



  ♫ Sei lá, a tua ausência me causou o caos...


(Maria Gadu)

Uma desordem sem começo, sem fim, sem meio. Calafrios. Lipotimias. Uma dor sem nome nem tradução. Uma fome absurda advinda, talvez, da tentativa [vã] de compensar tanto vácuo. Alucinações: olhava pro céu e desejava uma abdução como única alternativa de burlar a intensidade manifestada por um coração que esqueceu três décadas de lições e se debruçou, insana e desvairadamente, em se dar pra ele. Vi minha inspiração respirá-lo. Tantas madrugadas em claro, tantas permissões interiores, tanta perfeição na leituras de cada olhar, tanta incredibilidade diante de nós dois; tão raro encontrar alguém com quem se possa, realmente, fazer amor!... Do nada, ele se fez meu tudo. De tudo, ele resolveu se esquecer. De tudo, a dor resolveu ficar junto com o esquecimento dele. De tudo, ele se tornou o meu nada. E, agora, de nada adianta tanto tudo dentro de mim. Tanto tudo, pra nada.


~ Mari Teixeira ~

terça-feira, abril 24, 2012

Metas e objetivos.



Será que agora você me entende quando eu dizia que sempre trabalhava com metas e objetivos? Longe de mim estar sendo técnica, meu bem, se é que soou assim pra vc, eu só queria era tirar o meu da reta... Mas, e agora? Cadê sua meta? Seu objetivo? Seu sentido? Será que se perdeu no tempo e no espaço que nos possuimos? Penso que não. Cuidei tanto pra que você se achasse! Enquanto isso, me achei em você e te fiz meu objetivo, minha meta, e vi todas as minhas setas apontarem pra você. Hoje, continuo aqui - ainda - cheia de metas, cheia de objetivos - continuo. Enquanto você descontinua. E eu, nua, ainda sua, talvez não espere mais por você. Acredito em Cazuza: O TEMPO NÃO PÁRA. Descobre isso tarde não, meu bem. Por mim, não. Aliás, por mim, sim. E por você também. 


~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, abril 23, 2012

Mais eu.



Ando menos carente. Mais tolerante. Menos exigente. Mais madura. Menos impulsiva. Ando mais rapidamente. De salto ou de rasteirinha, de carro ou à pé, sob sol ou sob chuva. Corro. Tenho pressa. Viver me constrange a cada esquina, mas eu não consigo desistir de dobrá-las. Cada ângulo delas, por mais irregular que seja, não me freia. Choro. Não tenho vergonha de me inundar nem de não saber nadar. Arrisco umas braçadas; não tenho medo de me afogar nem de morrer. Desde cedo me permito sangrar; penso que faça parte disso tudo. Eu sei o caminho do banco de sangue mais próximo. No final, e, sobretudo, no meio de tudo, são as transfusões de amizade que sempre me reerguem. Há pouco, consegui fazer as pazes com determinadas ausências, e agora é hora de procurar o manual e repetir o script. É hora de colocar a falta que foge do olho no olho numa bolsinha de crochê e levá-la à tiracolo; é hora de alguém apressar a hora de despertar, pois se a falta minguar muito, escorre pelos furinhos. Trago na cara traços de uma felicidade que se sente incapaz de me decepcionar; que existe independente de quem ou do quê venha potencializá-la. Ando menos menina, um pouco mais mulher. Ando mais eu.

~ Mari Teixeira ~

domingo, abril 22, 2012

Bailarina.

Engraçado era, por tantas vezes, ter que ficar na 
ponta dos pés pra poder alcançar a boca dele, 
mas não precisar me mover um milímetro pra 
alcançar as estrelas que ele fazia questão de me apresentar...

~ Mari Teixeira ~

terça-feira, abril 17, 2012

Sobre bolas de cristal, lágrimas e essencialidades.



Dicionários e enciclopédias, um diploma e meio, dezenas de livros empilhados na cabeceira da cama, cento e poucas estórias pra contar, inúmeros motivos pra rir e pra chorar, um violão com cordas aparentemente subtonadas deitado no chão, e eu não sei mais o que fazer com nada disso. De ter sido desanestesiada por você, me recordo com uma perfeição tão ímpar, que a imaterialização da lembrança é impossível. De ter sido sua, não consigo me arrepender - o amor tem dessas coisas. Sentir a vida correr nas veias é pra poucos. Da forma brusca como você se arrancou de mim, não sei bem o que pensar; são muitos cacos e estilhaços e não sei por onde começar a colar. São muitos cortes, e muito sangue, e muita dor, e uma felicidade que, ainda assim, insiste em não me abandonar: as lágrimas são acessórias diante da essencialidade daquilo que se eternizou na minha mente, no meu corpo, no meu coração, nas letras de cada carta... na minha história. Da bola de cristal que esqueci na estação quando embarquei com você, não sei dizer. Voltarei pra buscar, talvez. Decerto, ainda que tivesse sido mais atenta ao que ela tentava me dizer, não exitaria um milésimo de segundo sequer em lançá-la aos trilhos do trem das nossas vidas: eu viveria essa morte quantas vezes eu pudesse morrer... por você. Em você. 

~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, abril 16, 2012

Dor melódica


Não é fácil carregar no peito uma dor em si bemol
 da quinta oitava de um piano de cauda qualquer...

~ Mari Teixeira ~


sábado, abril 14, 2012

Deletado.


O meu delete não é só uma borracha em forma de botão; 
é uma bala de bazuca; ou, quem sabe, de canhão.


~ Mari Teixeira ~

sexta-feira, abril 13, 2012

Saudade.


 Dizer que ela bate é pouco; ela espanca, trucida, mutila. Faz sangrar.
 Lei Maria da Penha pra saudade, já!
Leia, Maria, em mim, essa dor que se empenha em não cessar.


~ Mari Teixeira ~

quinta-feira, abril 12, 2012

Cadê você?


Lindo meu, cadê você? Aonde está você agora, além de aqui, dentro de mim? . Que vento foi esse que me obrigou a subir nas pedras? Te procuro em cada ângulo da casa, em cada verso do que te escrevi, em cada resíduo de saliva incrustado no copo e no resto de Coca-cola® que ainda jaz, no chão do meu quarto que, juntamente com os lençóis desarrumados, o protótipo de cortina estampada,  e as roupas inertes no chão, completam o cenário da última vez que nossas almas se fundiram. O ventilador que nunca foi capaz de conter nossa explosão de calor, parado, empoeirado; o colchão, outrora ensopado por nossos fluidos, agora recebe mais um tipo deles: lágrimas que insistem em obedecer a gravidade. O espelho manchado do suor da minha mão esquerda, prova cabal do apoio necessário ao encaixe do meu corpo no seu, e um longa rodando cada vez que olho pra dentro dele: fomos realmente um do outro, sem reservas, numa completude nunca antes vivida por mim – não há dúvidas, e eu sei que você tem certeza disso. Intensidade sem medida. Ter sido feliz durante apenas 30 dias em longos 30 anos; trazer consigo a certeza plena que já valeu toda existência: a vida fez as pazes comigo ao permitir nossa aproximação. Lindo meu, que foi que eu fiz pra te perder assim, qual um raio cruza o horizonte distante? Dos nossos planos é que tenho mais saudade... . Muita saudade... Saudade da felicidade que eu to tentando matar, mas que eu não sei por onde começar. Bom demais estar com você. Em você. Ainda. Eu sei que estou.  


terça-feira, abril 10, 2012

Conveniência.


O problema não é a opinião; é a certeza e a verdade que a gente quer porque quer embutir nela... É a mania
que a gente tem de querer ser o deus do outro, ao invés de querer enxergar Deus no outro. É não atentar pra 
espessura do vidro do telhado da gente; e se ele for de cristal? É a necessidade que a gente nutre de querer ser "útil", ainda que, pra ser "útil", a gente precise pular a janela da casa de alguém e quebrar alguns vasos de flores que estão sobre ela, ou pisar com o pé sujo no sofá, ou atiçar o cachorro que, até então, dormia tranquilo no quintal. O problema é a falta de sensibilidade em perceber os limites: os nossos e os de quem quer que seja. É confundir coisas óbvias ou usá-las de acordo à nossa conveniência. É implicar em se realizar na vida do outro por pura falta de competência de viver a sua. É viver estando, nunca sendo, simplesmente por não saber ser, e por não querer aprender; de fato, além de demandar tempo, dói. Ninguém nasce pra si da noite pro dia. O problema é não ser...

sexta-feira, abril 06, 2012

Quem dá mais?



Estou doando intensidade. Poderia colocar à venda, em potinhos de plástico com tampinhas decoradas por florzinhas de biscuit, com direito a nota fiscal, registro no órgão e certificado do INMETRO, mas como tudo isso demanda muito tempo, tô distribuindo, informalmente, em pequenas doses. Entrego em domicílio. Aceito encomendas maiores, mas não aceito devolução. Embrulho pra presente. Anexo uma bula contendo algumas meias-verdades acerca de como lidar com ela, bem como a posologia, reações adversas e contra-indicações - embora a prática vá determinar muito mais que as minúsculas letrinhas desse papel ousam ditar. Vem também com um pequeno manual de conduta em caso de superdosagem - e por isso não me responsabilizo, quero aqui deixar claro; cada um aprenda a dosar a sua, assim como eu tô me virando em dez pra poder modular a minha. Poderia leiloá-la também; decerto, ficaria milionária em poucos minutos. Só não quero mais essa coisa ebulindo dentro de mim. Não tem me feito bem. Só serve pra me fazer colocar a carroça na frente dos bois e perceber, depois, que isso só trava o caminho dos coitados; carroças não andam sozinhas e, portanto, não me levam à lugar nenhum. Caso não arrume corações predispostos a receber tal doação, penso em incinerar tudo num cantinho qualquer e jogar as cinzas dela no mar (assim que eu tiver a oportunidade de contemplá-lo de novo). E, na volta, tentar arrumar um lugarzinho no meu coração que caiba uma pedrinha de gelo...

quinta-feira, abril 05, 2012

No paraíso.


Quando acho que perdi a visão romântica da vida, vem você e me dá de presente óculos novos. Me arranca da cegueira da desesperança e me proporciona enxergar de novo a nitidez de todos os horizontes que as frustrações acidentais dessa vida, aliadas à minha miopia, me roubaram, com direito a todas as cores possíveis. Você, hoje, monopoliza minha retina; não enxergo nada além da sua figura ao longo dos 360º que me circundam. Unilateraliza meu sentir e me impermeabiliza de qualquer tipo de interferência externa, por me completar em todos os aspectos: eu disse todos. Quando penso que já havia passado da fase dos suspiros e coraçõezinhos, das cartas de amor escritas à punho e das borboletas debatendo-se no estômago, vem você, assim, do nada, e se predispõe a construir um tudo em mim. Quando penso em você, sinto cócegas na alma e dá alegria em existir; sinto o leve repuxar dos meus lábios culminarem num sorriso bobo, típico de alguém que acabou de entender que, se realmente existir algo mais maravilhoso nesse mundo do que passar uma noite  inteira com você, vivendo o que de mais inteiro uma mulher pode viver, adormecendo em teu peito, respirando o teu ar, submersa em teu hálito e em teu calor... Se ainda assim existir algo que ultrapasse essa perfeição, penso que Deus tenha guardado no céu. Mas, enquanto eu não chego lá, Ele resolveu fazer de você um céu pra mim, com direito a nuvens fofas e manjares divinos, deleites nunca antes vistos e uma felicidade que teima em não caber em mim...

~ Mari Teixeira ~

segunda-feira, abril 02, 2012

Susto.


Quando Março chegou trazendo você pra mim, numa noite quente de um domingo morno, confesso que me assustei, mas não com sua entrada repentina na minha vida; penso que, de alguma forma, nossas almas já se cumprimentavam naqueles esporádicos encontros no meio da rua, nas escadarias das igrejas, nos altares da vida, embora nossos corpos não houvessem se percebido ainda. Tenho certeza que as ondas sonoras das nossas músicas já haviam se entrelaçado "n" vezes ao longo de todo esse tempo, sem que sequer notássemos e, aos poucos, elas já preparavam, nota por nota, pausa por pausa, clave por clave, essa partitura que hoje executamos, modéstia a parte, com uma maestria reservada à poucos.  Eu me assustei quando acordei no outro dia e desejei com toda a força que as horas daquela segunda-feira voassem na velocidade da luz, e que a a lua despontasse no horizonte além, anunciando a noite, só pra poder te ler, mais uma vez. Me assustei quando vi meu corpo responder ao seu, e sob ele, perceber que, aos poucos, minha alma estava começando a se render à sua... Não pense você que foi tão leve quanto hoje parece ser - e é. Foi um susto, como todos os que você teima em cultivar no quintal do seu coração, os quais eu tenho me revirado ao avesso pra compreender e, sutilmente, tentar exorcizá-los. Eu relutei em acreditar nisso tudo até que, um belo dia, me olhei no espelho e vi você impregnado em cada milímetro da minha epiderme, em cada traço do meu sorriso bobo, em cada ponto luminoso que teimava em escapulir do meu olhar - desisti de resistir. Quando Abril despontou banhado por uma fina garoa, eu me vi diante de certezas e dúvidas, de uma felicidade nunca antes vivida, de uma ebulição interior altamente densa, e vi todo susto se dissolver diante da beleza dos nossos momentos. E eis que o amanhecer de um 1º de abril, aparentemente tão comum, me obrigou a rotulá-lo: dia e instante ultra-especiais... Inéditos. Em pleno dia da mentira, nunca senti tanta verdade... E que venha Maio!

~ Mari Teixeira ~