sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Amor mamífero.

Ouvi falar de amor mamífero. Daqueles que a gente só vê em filmes. Integral. Que estremece todas as células do corpo. Que [geralmente] só se vive uma vez na vida. Ou nenhuma. O tal amor eros. Amor de pele, de pêlo, de suor de instinto; amor hormonal. Amor de sussurro ao pé do ouvido, amor de contato, amor epidérmico. Daqueles quentes, homeotérmicos, de puxar cabelo. Amor de pupila dilatada, de vontade, de necessidade e suficiência explícitas num só olhar, de unhas e dentes, de arranhões e mordidas. Amor de língua, de fissura, de boca seca, de mãos apressadas e corações descompassados. Que complementa e ao mesmo tempo sacia. De sensação de vida, mesmo quase perto da morte. De absorção e fusão, de falta de ar, de pulsação constante. Intenso. Terreno. Carnal. Passional. Mamífero. Humano... demais!

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Queria.

Ela queria ver você. Já fazia tanto tempo que havia lhe visto! Queria dizer um oi, cara a cara, rever seu sorriso sem jeito, passar a mão no seu cabelo arrepiado, ouvir sua voz (que você acha horrível), deslizar no seu jeito e ler seu olhar num só olhar. Queria ouvir a gargalhada de outrora, o ímpar pronunciar da sua sílaba, queria reaver os pedaços de afinidade que vocês andavam juntando, as sutilezas e as doçuras próprias da sua pessoa. Queria ter a oportunidade de descobrir suas imperfeições e ainda assim, escolher tê-lo como amigo, receber suas ligações e seus scraps, por mais tímidos e curtos que fossem. Queria cantar no seu ouvido e lhe ninar no colo. Queria a amizade roubada pelas circuntâncias. Ou quem sabe, pelo próprio livre-arbítrio. Só não queria ter que continuar interpretando, à sua maneira, tanta indiferença.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Olhar [2].


"Olhar não tira pedaço; mas também não mata vontade."


[Autor desconhecido]


Encontrei na net, ontem. Achei o máximo.
Pura verdade que complementa o post anterior.

Realmente, não mata vontade.

Mas ainda assim, nos sacia de alguma forma.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Olhar.

Dizem por aí que olhar não tira pedaço.
Não tira mesmo. Mas, alguns podem tirar o juízo. E a roupa também.

Iguais.



"...certas coisas são iguais pra todo mundo."


[Carolina Braga]


Iguaizinhas. Sem tirar nem pôr. A mesma tendência à insensatez, ao devaneio, às insatisfações. As inclinações são iguais. As potencialidades também. Todos. Totalmente vulneráveis. À tudo. São as mesmas dores, as mesmas sensações, as mesmas paixões... Os mesmos sentimentos, os mesmos desejos, os mesmos calafrios... Idênticos segredos. E uma enorme hipocrisia dissimulada em máscaras de pele e músculos, dedos em riste e em peçonhas verbais, como se eles fossem infalíveis, irrefutáveis, imutáveis. Como se houvessem lhes conferido algum direito sobre os iguais. Destituídos de poder acerca de si, mas insistentes em estabelecerem julgamentos e proferirem sentenças alheias. Insistentes em se enganarem, se definirem fortes e poderosos, se vangloriarem por possuirem supostas verdades absolutas. Indiferentes à si. Até o dia que caírem de si. Por experiência própria: dói demais.

domingo, fevereiro 14, 2010

Coração na mão.


Arrancou. Resolveu carregar na mão, embora o tenha sentido bem aí desde sempre. Bater daquele jeito lá dentro dela provocava um eco que ressonava de uma forma absurda, e ela nem conseguia mais dormir. Arrancou. Achou que fosse mais fácil, mais leve, menos ensurdecedor. Mas, não. Cá fora, ele continua batendo tão intensamente quanto. Se ela cansa, e propositalmente larga ele em algum canto, logo alguém de lá lhe grita: ei, é seu? Você esqueceu aqui... Ou então, na mais certa das possibilidades, ela volta pra buscá-lo. Pura dependência emocional, entende? De uma certa forma, sempre o sentiu na boca, nas mãos, no estômago, menos no peito. Cá fora, fica mais fácil perdê-lo. Diminui substancialmente o risco das coisas escapulirem pelas válvulas e artérias e voltarem a circular, e se esconderem dentro de si. Talvez seja ínfimo. Mas, pra ela, isso já é um começo.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Confusão.


Sinceramente? Eu não consigo te localizar dentro de mim. Tem horas que você corre nas veias junto com meu sangue. Faz uma parada rápida no coração e volta a circular de novo. Às vezes te percebo como ar em meus pulmões, num vai e vem finito, que alterna morte e vida. Noutra, te sinto lá no útero, mas chega a hora do parto, e eu não consigo me negar às leis da vida. Em meio a uma dor profunda, te lanço fora. Só que quando te percebo out, entonteço, desequilibro, passo mal, porque não há coisa mais ruim nessa vida que procurar e não encontrar. E mesmo se te acho, horas, dias ou meses depois, tento te sorver completamente na esperança de reestabelecer aquela homeostasia de outrora, até me dar conta que tá tudo errado. E então compreendo. Incorporar-te foi um erro, desde sempre. Acredita. Mas de uma coisa, tenha certeza. Mesmo jurando que nunca mais diria nunca, pra ti abro essa exceção: o mundo pode girar da forma que for, aconteça o que acontecer; da minha memória, você não sai, não. Nunca mais.



Em 10/10/09

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Na estrada.

Na estrada. Olho e percebo o quão longe tens estado. Parada e de costas, espero um não sei o quê. Não virá, isso eu sei. Ou acho que sei. Só tu te movimentas, carreado pelo tempo. Míope, não consigo nitidez nas formas. É que distância embaça a visão; e tempo também. E os quilômetros, nem sei mais contar. E o futuro, nem sei onde vai dar.

sábado, fevereiro 06, 2010

Isca.

Nessa guerra não declarada, cuidado, meu bem; suas armas podem muito bem se transformar em iscas. E seus planos, estes sim, é que irão por água abaixo.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Marrom.

Cavava um motivo, um sentido pra perceber seu coração batendo. Bastava perceber ele atenuar a aceleração, arregaçava as mangas e [re]começava tudo. A cada dia amanhecia coberta de barro. Inventava sentimentos. Forjava sensações. Foi a forma que encontrou de se ressuscitar diariamente. Sonhava acordada, e aquilo se materializava dentro dela até a realidade aterrisar no cerne do seu ser e devastar tudo. A única coisa que conseguia colher era um cansaço intenso e incompreensível, mesmo depois de 8 horas ininterruptas de sono. Percebeu que precisava de tão pouco, que a mínima certeza da ilusão era motivo de satisfação, mas nem esse pouco conseguia alcançar. Seus olhos gritavam uma dor que de tão crônica se tornava por demais aguda. As pupilas constantemente dilatadas fotografavam vultos, perpassavam invisibilidades, enxergavam miragens, capturavam momentos, armazenavam tudo. Não sei pra quê. Um dia não vai caber mais tanta lembrança, tanta vontade, tantos embustes, tanta dor. É que tristeza encolhe a alma, entope os cômodos de angústia e desesperança, ocupa espaço, expulsa a paz, sobrecarrega a vida. E a gente desaba. Mesmo sem entender como o abstrato pode pesar tanto.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Afundando.

Uma suposta posse legitimada em duas palavras. Uma simples frase, mas com uma dose de impacto tão significativa, que talvez seja incomensurável. Letras grandes, coloridas em vermelho e verde - cores não tão menos significantes do que a frase. Amor e esperança, respectivamente, preenchendo aqueles sinais. Em negrito. Sublinhado. Tudo isso pra não deixar dúvidas acerca da exclusividade. Alguns diriam: é coisa retrógrada, jurássica, troglodita talvez. Mas quem disse que essas coisas não permeiam o tempo e acabam afundando na gente? Confesso que passar os olhos numa coisa dessas também me faz afundar. Mas, tudo bem. Parcialmente submersa, o que me consola é a semântica verbal: ser é bem diferente de estar sendo.