quinta-feira, julho 30, 2009

Desabafo (2).

Respeito. É o mínimo que podemos nos dar. Não vou com a sua cara, e tenho quase certeza que você não vai com a minha. Nada foi declarado. Mas, já que a guerra é fria, então eu tô dentro. Mal lhe dirijo a palavra, e se meu olhar não cruza com o seu é pelo simples fato de eu achar desnecessário gastar os meus fotorreceptores com você. Seu sorriso amarelo e seu silêncio sempre me soaram a bote. Por isso a distância: eu tenho medo de cobra. Até aí tudo bem, cada um no seu canto, diplomacia em prática. Mas ontem você me ofendeu e conseguiu despertar algo além da mais pura indiferença que já havia dentro de mim. Você não me conhece, eu já te disse isso. Não te autorizo a me rotular, e muito menos a me julgar. Olha pra frente, rapaz! Que vacilo o seu...! Invadiu minha faixa amarela! Mas, essa coisa horrível que você tentou plantar em minha vida, eu já joguei fora. Como disse anteriormente, coisas ruins tem permanecido pouco tempo dentro de mim. Portanto, sem rancores. Mas a falta de empatia, essa fica.

terça-feira, julho 28, 2009

Pensamento.


Pensamento é coisa que tem asas, e costuma voar.
Mas, é bom tentar evitar que ele pouse...

sexta-feira, julho 24, 2009

Deserto.


"De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,
não é a bola bonita caminhando solta no espaço."
(Adélia Prado)
Esse deserto do ser poeta é tão difícil atravessar! Inspiração foge pra longe. A gente se sente oca... sem nada por dentro. Um nada diferente. Sem eco. Cheio de ausências. Incomoda. Às vezes traz agonia. Deserto de poeta é carência de emoção... e quão duro é viver sem elas [por mais dolorosas que sejam...].

segunda-feira, julho 20, 2009

Realidade latejante.


"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus;
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto."

(Rui Barbosa)

Lateja em mim a revolta de uma realidade mórbida, inquestionável e aparentemente imutável. Quase 100 anos depois, o texto acima também lateja como nunca; lateja em mim, enquanto cristã e humana... lateja nas vítimas do capitalismo, lateja naqueles que possuem fome e sede de justiça, de respeito e compaixão. Até quando, meu Deus, perdurará isso? Essa coisa desumana, selvagem, engolidora?... Esse jeito descartável de viver e de ver o outro...

"... o homem chega a desanimar da virtude..."

Lateja mais ainda essa frase dentro de mim. Ah... se eu não fosse eu! O desânimo em continuar à caça das virtudes, esse que me achegou hoje, teria me tomado. Mas as essências infundadas por Deus costumam ser irrevogáveis...

sexta-feira, julho 17, 2009

Pensando nele(a).

Passei a semana inteirinha pensando em você. Coisa mais estranha isso! Pensei que fosse TPM, mas a menstruação já chegou e foi embora, e eu continuo pensando em você. Pensei que fosse carência, neurose, solidão, mas mesmo cercada de gente por todos os lados, acho que tá faltando você. Algo de muito estranho tem acontecido comigo, porque nunca foi assim e meus olhos, que antigamente só se volviam para roupas, maquiagens e perfumes, agora também de predispõem a fitar bercinhos e bichinhos, roupinhas e pequeninos apetrechos que lembram a sua possível existência. Você passou a ser necessário em minha vida, seu cantinho dentro de mim que eu um dia julguei ser bem ínfimo e até inexistente tem gritado muito, e eu confesso que tenho me assustado bastante com essa necessidade tão repentina [e persistente] de repartir a minha vida com [mais] alguém. Eu, que cheguei a achar que eu me bastava, que eu não poderia imaginar minha vida sem as baladas de sábado à noite e sem meu sagrado sono, ando concluindo que estou, não apenas redondamente enganada, mas completamente contaminada pelo pré-sentimento mais sublime e singular desse mundo. Eu não sei o quê, nem quem despertou esse sentimento em mim, se foram meus hormônios ou a idade reprodutiva que já está chegando à etapa final. Só sei que se ter você dentro de mim ou em meus braços for tão bom quanto pensar em você, eu já sou feliz pro resto da vida. Só por isso.

domingo, julho 12, 2009

Na corda bamba [e farpada] da vida.


Estranho. Mas me parece
que esse meu eterno cambalear
é o que me mantém de pé...
É como se viver no limite
trouxesse muito mais força
do que a própria fraqueza
que a palavra denota...
É como se a resistência
dobrasse, a atenção
aumentasse, e a vida em si
não passasse de um
grande e breve espetáculo
circense, com um discreto e
díspare detalhe: lá embaixo
não tem rede...

sábado, julho 11, 2009

Faixa amarela

"Mantenha-se atrás da faixa amarela, não chegue muito perto, não acerque-se de meus traumas, não invada meus mistérios, não atrite-se com o meu passado, não tente entender nada: é proibido tocar no sagrado de cada um." (Martha Medeiros)


Todo mundo tem uma. A minha é semelhante à uma faixa de pedestres. Amarela-ouro, bem vivo, bem forte, pra não causar confusão, e muito menos pra ninguém dizer que não a viu. É longa, muito longa; justamente pra evitar que qualquer um tropece e dê de cara com seu outro lado. Muita gente vai pela vida ferida porque desconhece a sua própria. Eu mesmo descobri que tinha uma há pouco, e dela não descuido mais. Dela pra frente há uma pequena área VIP, permitida apenas àqueles que conseguem conquistar tal pedágio. Dela pra trás, um território sagrado, espaço íntimo. Aí ninguém entra; acesso restrito à Deus e a mim... Atrás dessa faixa amarela há uma conjunto de coisas muito particulares, tão íntimas que só Ele, que me conhece desde antes de eu ser formada no ventre da minha mãe, tem direito de entrar. São tralhas e flores, traumas e dores, ódios e amores que só competem à nós dois. Nem todas as coisas que se encontram lá são secretas; algumas poucas pessoas sabem o que eu tenho por lá. Mas só sabem. Nunca viram, nunca sentiram. E talvez nunca venham a saber.

Perdi a conta de quantas pessoas invadiram minha faixa amarela. Ultrapassaram um limite que era só meu. Distraídos ou propositalmente, não sei. Quantos chegaram sem ser convidados, sem bater, sem dizer um oi, nem pedir permissão para tal! Quantos invadiram minha sacralidade, minha particularidade e minha individualidade para semearem erva daninha e espinhos, que por tantas vezes cresceram e me sufocaram! Ainda bem que a identifiquei a tempo... E vivo, quase sempre, à frente dela. Ninguém mais passa sem meu consentimento. Ninguém tem o direito de me bagunçar, de me fazer chorar, de me menosprezar. Ninguém tem o direito de falar de quem eu amo, de quem eu sou, do que eu faço ou do que deixo de fazer, afinal, como diz Lulu Santos, "o que eu ganho ou o que perco, ninguém precisa saber". Ninguém. Nunca mais.

domingo, julho 05, 2009

Diferente.


Você olha prum lado e pro outro e não se encontra, não se encaixa... nem se vê. Quase ninguém entende. Estão absolutamente convictos de que você veio de Marte ou talvez de Vênus. E você está mesmo quase convencido disso também, afinal diverge de todos os gostos e manias da grande e imensa maioria da população. Procuram em você anteninhas, uma cútis esverdeada, e no estacionamento, rastreiam incessantemente um disco voador à procura da mais concreta prova de que a tese deles está correta. Acho que olham você de lado por puro medo de serem abduzidos, não tem outra explicação. Diferente. Esquisito. Anormal. Incomum. Autista [esse foi o último adjetivo utilizado para lhe qualificar]. É assim que as pessoas lhe julgam. E você acaba achando engraçado, porque sente que foge dos padrões ditados pelo século XXI, mas, definitivamente, não consegue segui-los, pelo simples fato de que você simplesmente é o que você é. Diferente. Esquisito. Anormal. Incomum. Autista, talvez. E incomoda por ser isso tudo.

Mas, que bulhufas!!! Será que você veio ao mundo só pra incomodar, pra chocar, dissuadir? Seria esse mesmo seu hobby favorito? Tirar a paz interior da humanidade só porque adquiriu hábitos opostos? Ah, não!!! Você é um incoveniente, sim, sempre. Só porque não bebe, optou por uma dieta mais saudável, só porque vai à igreja e tem fé em Deus... você está sendo redondamente inadequado porque perdoa, releva, porque valoriza as pequenas coisas, porque se preocupa com o amanhã e com o próximo [mesmo que esse próximo esteja um pouco longe], porque não se enquadra em todas as proposições do mundo... porque gosta de apreciar uma música [de verdade] em todos os seus detalhes, que vão da melodia, harmonia, até a letra, porque abomina multidão e barulho... porque tem o mínimo de escrúpulos que um ser humano necessita pra viver, porque preza a dignidade de a reputação acima de tudo... porque resolveu ser feliz do seu jeito...! Diferente. Esquisito. Anormal. Incomum. Autista [esse último não sei de onde tiraram...rsrs]. Mas, fazendo diferença no mundo. E, sobretudo, de bem consigo.

quarta-feira, julho 01, 2009

Cansada.


De querer eternizar as coisas... de tentar controlá-las... de tentar prever o futuro, de não dormir direito, de bater na mesma tecla, de ouvir os mesmos cd's, as mesmas músicas... de pensar as mesmas coisas, de não enxergar um palmo à minha frente, de olhar pra trás... de oscilar tão bruscamente...

Molhada. De chorar por dentro, de suar pra poder resistir uma vida inteira nas costas, de tanta tempestade sem vento algum que possa, ao menos, me arrastar pra longe dela... ou me secar...