segunda-feira, novembro 28, 2011

Equívoco.



Já consigo ouvir aquelas músicas sem sentir você nelas. Hoje, você mal se restringe à minha memória. Jaz trancado na gavetinha dos equívocos. Do meu coração, entre sístoles e diástoles, já foi embora, mas não faz tanto tempo.  Sem dor, nem nostalgia, nem estrago, nem tremor. Sem arrependimentos, mas também, sem vontades, nem expectativas. Sem sabor, sem nada. Mais morno e insosso, impossível. Você, que circulou meu corpo inteiro - literal e metaforicamente - não soube nem virar saudade. Ou não fez questão. Da mesmíssima forma que eu não sei porque deixei você entrar e não fiz mais questão de lhe manter. É estranho esse poder que a gente tem de se matar dentro do outro, e depois abandonar o cadáver fétido esperando que os receptores olfativos, ainda congestionados de paixão, emitam sinais póstumos acerca do fim... É estranha essa mania que a gente cultiva no quintal da alma de tentar caber onde nem o outro se cabe... Mas eu, eu retoco meu batom toda horinha, mesmo se acontecer de borrar de novo na próxima esquina. Sem traumas, nem medos, também; se a água não lavar ou não levar, o tempo se encarregará.

 Mari Teixeira

quarta-feira, novembro 23, 2011

Guerra.



Talvez a maior batalha travada na vida não seja entre
o bem e o mal, mas, sim, entre o querer e o não dever...


Mari Teixeira

segunda-feira, novembro 21, 2011

Navegar.




Quando a vida estagna, criam-se escaras na alma. Então, ou a gente continua parado, ou avança para mar aberto e arrisca - e vê no que vai dar. Levantam-se as velas novamente, mesmo que a gente se encontre em meio a um oceano infinito. Sem bússola nem GPS. Sem você, que sempre foi meu bote salva-vidas. Mesmo sem saber nadar. Mesmo que não se enxergue nada além de água e céu. Que não se sinta nada além de brisa na cara, cisco no olho, cabelo bagunçado, um tantinho de frio, uma vontade de voar... Nada de ficar esperando que os ventos mudem de direção; é preciso mudar a posição das velas. E navegar.

 Mari Teixeira

quinta-feira, novembro 17, 2011

É por aí...


Melhor que ter um cafa pra chamar de seu,
é ter um pra te chamar de (minha) cafa...


P.S. (Uma vela e uma ave-Maria pra Nossa Senhora da Bicicletinha... )
 
Mari Teixeira

quarta-feira, novembro 16, 2011

Sem culpas.


Ultimamente, eu ando pensando de menos. Mas, continuo sentindo demais. Vivendo mais. E falando demais, também. É, eu falo demais, eu sei. Eu não devia, mais falo. Eu não tenho culpa se as coisas dentro de mim têm um ponto de ebulição muito baixo; não tenho culpa se tudo toma uma proporção ultra-maior do que é ou possa vir a ser. Não tenho culpa se a música faz tanto estrago aqui dentro, se meu coração não tem mais aquele poder de regenerar-se qual o rabo de uma lagartixa e tá mais pra um fígado cirrótico, se o meu rosto, vez em quando, fica pálido ou cianótico, se eu faltei as aulas de teatro no colégio, se eu só sei me representar... Não, eu não tenho culpa se a minha modalidade de perdão é diferente das demais, se eu insisto em não sofrer de amnésia, se eu perdi alguns medos pelo caminho, se eu só como porcaria e não engordo, se viver se tornou meu mais novo hobby... se eu preciso atingir um limiar de saturação pra poder expulsar certas coisas - e pessoas - da minha vida. Vou me levando assim. Sem culpas. Simplesmente, porque elas resolveram tirar férias do meu vocabulário. E estou a ponto de demiti-las...

Mari Teixeira

terça-feira, novembro 15, 2011

Sobre saudade, incógnitas e comprimidos.



Há pouco, aprendi a engolir comprimidos. Agora é  hora de aprender a engolir a saudade que, se um dia já teve gosto de esperança, hoje tem o mais incógnito sabor que possa existir... É hora de digerir as expectativas. Dissolver as lembranças - se é que isso é possível. É hora de arranhar as músicas. Recortar os números do seu celular e guardá-los naquele bolso furado da minha calça jeans preferida. Retirar o reflexo do seu sorriso do meu. Ofuscar o brilho-esmeralda do seu olhar. Deletar o timbre da sua voz do meu pensamento. Estancar as lágrimas. Ligar pro cupido e perguntar se ele aceita devolução. E se ele, porventura, não aceitar, arrancar meu coração do peito e esquecê-lo numa esquina qualquer do mesmo jeitinho que você se esqueceu em mim... E também, passar a pensar em você do mesmo jeitinho que você pensa em mim. Se não dá pra ser à altura, meu anjo, então não dá...

Mari Teixeira

domingo, novembro 13, 2011

Anota aí...

 
Somos todos volúveis, meu caro.
Mas em intensidades e
circunstâncias diferentes.

Mari Teixeira

sábado, novembro 12, 2011

Uma droga.



Envolvente. Viciante. Instantâneo. Como o tal crack. E, de fato, não se pode negar: é craque na arte em questão. Não é apaixonante por puro charme, não por falta de opção ou competência. Não te faz voar, nem te dói; não te causa borboletas no estômago, nem devaneios. Não dá tempo. Mas, enquanto isso, te ferve. O sangue. A pele. Todos os fluidos. Eriça os pêlos e a auto-estima. Isso tudo tinha tudo pra ser tudo. Porém, ao final das contas, é como uma droga: quando entra em você, bagunça as coisas por um certo período, te arranca de si, e, de repente, passa. É só aquilo, naquela hora. E só. Só fica uma coisa: a vontade (de mais algumas horas)...

Mari Teixeira

quinta-feira, novembro 10, 2011

Só se vive uma vez.



Só se vive uma vez. O único chavão nessa vida que faz algum sentido pra mim. Uma verdade que a gente ignora sem motivo aparente. Ou por alimentar um otimismo desmedido, ou por achar que se vive pra sempre, ou porque ninguém nunca para pra pensar nisso mesmo. Só se vive uma vez. Mesmo que você acredite em reencarnação: essa sua vida de agora é única. Se você é cristão, então, piorou: você só tem essa. E se você não acredita em nada: aí que você não pode perder tempo mesmo. Corra. E grave: você só vive uma vez.

Mari Teixeira

segunda-feira, novembro 07, 2011

Perdeu.


"...Um dia pretendo tentar descobrir
Por que é mais forte quem sabe mentir..."
(Renato Russo)


Eu não pedi certezas, nem planos, nem beijos além daqueles que você pôde me dar. Não pedi serenatas, nem romantismo, nem frases prontas, e muito menos que você descesse do céu pra mim. Não exigi respostas a curto prazo. Engoli minhas dúvidas junto com minha saliva centenas de vezes. Sufoquei minhas emoções no travesseiro já surrado do meu quarto empoeirado. Coletei minhas lágrimas no jarro de flores da sala. Travesti a saudade em vontade, e dela me alimentei por muito tempo. Encaixei você entre pautas e notas das minhas partituras preferidas. Me entreguei. Só não me embalei de presente porque não encontrei uma embalagem à altura daquilo que acreditei existir entre nós; e mesmo assim, sem laço de  fita nem brilho, eu li no seu olhar um gostar que hoje não sei mais se foi uma leitura tendenciosa de minha parte, ou se aquele foi mais um momento esplendoroso de você treinar o seu dom da representar. Como numa roleta russa inimaginável, apertei o gatilho. Confiei por querer confiar - lúcida e ciente de tudo. Confiei depois de ter enxergado nos seus olhos uma certeza que, na verdade, era minha. Só requeri lealdade e, justamente, a única coisa que eu pedi, você me negou. Saio da arena com os olhos marejados, o coração arranhado e de mãos lavadas: fui eu mesma o tempo inteiro. Agora, anota aí no post it do seu monitor de vinte polegadas, pra você não esquecer: eu não te perco; eu nunca te tive. Saio exatamente como entrei. Você me teve, mas não percebeu. Você sim, meu anjo... você me perdeu...

Mari Teixeira

sábado, novembro 05, 2011

Na fossa.



Vai, Zé. Curte a porra da fossa.  Chora, ouve Wally na voz de Adriana, come chocolate, fuma um Marlboro, bebe um Campari, vai à igreja ou ao terreiro, liga pra alguém e desaba(fa) ... amanhã levanta, se ergue. Postura! Barriga pra dentro, peito pra fora, lava a cara , faz a barba e passa um pouco do pó da sua mãe pra esconder essas olheiras horríveis. Pronto! Não foi você mesmo quem me ensinou? "Vinte e quatro horas, amiga... eu só me permito chorar vinte e quatro horas". Pois é, chora. Você ainda tá dentro do prazo. Fica todo mundo aí tentando te forçar a ser forte, numa redundância sem fim, sendo que você é forte, caramba! Somos...

(P.S. Postado por mim no facebook dia 04/11/11, no mural de um amigo).

Mari Teixeira

sexta-feira, novembro 04, 2011

Dona.


Só se entregue a alguma situação se você se tiver.  Se, realmente, for senhor(a) de si. Pois, tendo a si, caso você se esqueça, terá o direito de voltar pra se buscar - ao contrário: caso não se tenha, você será incapaz de atinar que se deixou em alguma lugar.  Torça pra que a razão do seu esquecimento saiba cuidar de você enquanto você se dá conta que se falta. Mas, antes, torça pra que você se dê conta - o mais rápido possível. Ou que a razão perceba a sua distração, e te lembre antes mesmo que você bata a porta e saia. E que seu reencontro consigo seja leve. Que, caso seja turbulento, você crie outra certeza dentro de você, além daquela primeira:  tudo passa (se você deixar passar...). Deseje mesmo que a contabilidade final seja positiva, mas, se de repente não for, que você saiba lidar com as inexatidões que a vida distribui aleatoriamente por aí, ao mesmo tempo que tenha sabedoria suficiente pra mudar vírgulas, pontos ou números de lugar, bem como completar o sinal de menos com um tracinho vertical. Esteja pronto(a) pra se deparar tanto com a vontade de voltar quanto com a de nem sequer olhar pra trás; com o transbordar ou com vazio. Certifique-se de ter um estepe de si, caso não se ache mais - isso pode acontecer. Reivente-se. E cuide de olhar pra frente, de fazer acontecer o que é possível,  a partir daí. Ainda bem que nada nessa vida é em vão... nem pode ser... .

Mari Teixeira

quinta-feira, novembro 03, 2011

Trinta.


Quase trinta dias. Menos de trinta horas. De saudade, já não morro mais. Já nem cabe. Os últimos trinta minutos voaram como se fossem trinta segundos. E por falar em voar, penso em você trinta vezes seguidas por dia. Mas, quando penso no logo,  o tempo me pirraça passando a trinta por hora. Nesses quase trinta anos, você foi uma das poucas melhores coisas que me aconteceu. E me acontece...

Mari Teixeira