quinta-feira, dezembro 31, 2009

Do lado de lá.


Pedi a Papai Noel uma bola de cristal no Natal que passou, mas o trenó dele passou bem longe daqui. Prefiro acreditar que ele perdeu minha carta, ou que ela nem tenha chegado ao Pólo Norte, desviada por um agente do correio que não sabe bem o sentido do norte ou do sul. De repente ela foi parar no Pólo Sul, na mão [ou na asa] de algum pinguim analfabeto, mas tudo bem. Prefiro assim. Já me bastam as frustrações na vida real. É que eu não sei o que tem do lado de lá do ano que vai começar. E eu queria saber, juro. Só pra tentar tricotar um novo caminho baseado em alguma certeza, já que todas, até agora, foram vãs.

Ao meu amigo.


Nem sabia o que dizer.
Salivar a hipótese da perda foi agonizante.
A demora, o medo, as ferragens, o sangue, a dor...
Eu não quero saboreá-la por tão cedo.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Aqui.


O que eu carrego aqui dentro? Um coração, que é do tamanho da minha mão fechada, e bombeia sangue pra todo o corpo. Cerca de 3,5L de sangue circulante, sendo que 85% dele consiste em notas musicais, e o restante, ainda não sei , mas pretendo catalogar um dia. Um fígado, que de total flex não tem nada. Borboletas no estômago. Uma alma repleta de lembranças. Dores. Amores. Sonhos. Desejos. Ilusões também. Algumas mágoas. Uma esperança maluca que se sustenta em dúvidas. E as ostenta também, só pra se enganar mais. Fissuras sem nexo, e outras repletas de significados. Uma leva significativa de imperfeições. Outra leva mais significativa ainda de força de vontade. Glândulas lacrimais super poderosas. Medo; agora menos, mas ainda há. Curtos-circuitos constantes. Um arsenal de palavras e idéias, estritamente para defesa pessoal. Esquinas claras. Esquinas escuras. Alguns limites rasos, outros profundos. Um tráfego incessante de sentimentos. Um semáforo, que serve tanto pra mim quanto pra quem resolve me adentrar. Gente especial: os amigos. Flexibilidade. Ética, respeito e caráter. E uma insígnia gigante, de letreiro luminoso, onde escrevi desde que nasci: eu só quero ser feliz!

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Daí.



Dê graças à Deus. Minhas maiores inimigas são suas aliadas. É. Daí fica bem mais fácil se esquivar, acalmar ímpetos. Ou fingir. Burlar sentimentos. Tecer tentativas. Tomar decisões. Fugir. Ratificar provérbios. Abortar possibilidades. Resistir...

domingo, dezembro 20, 2009

Good luck.


"Sorte pra mim é sol no sábado. É reunir os melhores amigos com chapeuzinho de aniversário. É saber que amanhã é sexta. Sorte é saber que eu sou forte, capaz e saudável. É ter pra quem ligar quando eu quero rir. E ter alguém pra chamar quando eu quero colo. É ter certezas. De que vai dar tempo. De que vai dar saudade. E de que eu sou determinada a ponto de quebrar a cara (e de não desistir com isso). Sorte é ter um passado doce e o açucareiro nas mãos."

{ Autor desconhecido }
Ou seja. Eu tenho sorte. Muita sorte. Ah, e sobre a parte de quebrar a cara, também é verdade. Porque aprendi que é bem mais fácil remendar a cara quebrada do que viver tentando mantê-la intacta.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Numa caixinha.


Tô aqui. Juntando coragem pra juntar tudo. Um dia coloco numa caixinha e te devolvo. Se veio por sua causa, acho que deve voltar pra você. Já pensei em incinerar, apertar o delete mesmo, apagar tantas lembranças que eu mesma fiz questão de registrar, mas existem muitos pedaços de mim nesse meio, e eu não quero me desfalcar mais ainda. Talvez seja um jeito que eu arrumei de ficar próxima de você. Mesmo que esse jeito se resuma em um sentimento traduzido em papéis quaisquer. Mesmo que pra ficar perto de você eu tenha que me metamorfizar em letras, acentos e palavras. Acho que esse é mesmo o único jeito.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Quase tudo.


Naquele dia a única sensação que ela conseguia ter se pautava no completo entorpecimento causado pela fragrância soviética que impregnava aquele metro quadrado de calçada. Nada mais inusitado. Tinha quase tudo pra ser a "Perestroika" da sua vida, mas acabou surtindo o efeito de uma "Glasnost" sem fim.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Fica.



A lembrança que fica é a de cada detalhe. Impossível esquecer. Do vento frio, das mãos postas uma sobre a outra, da proximidade epidérmica, da necessidade flamejada nos olhos, do relutar quase que implorativo, do olhar que insistia em desviar, da boca que desistiu de resistir e mergulhou, mas no segundo seguinte resolveu resistir à desistência num tom de indiferença que não dá pra entender. Fica a lembrança leve do peso da presença tão doce, que de tão açucarado se condensa em pensamentos melosos, e fica realmente difícil não querer saborear [de novo]. Fica a lembrança incrustada nas mínimas coisas, mas sobretudo no tempo que mora aqui. Fica. Dias mais intensamente, noutros de forma mais branda, independe. Distante, ausente. Mas fica.

Drástico.


"Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma?..."

Caio F.


É cruel demais fazer isso consigo, é drástico, eu sei, mas não sejamos incoerentes, vamos usar a moeda da lógica que rege o mundo, mesmo sabendo que ela ofusca os traços de felicidade que criam as gravuras da nossa história; diante de tudo, há muito a se fazer, mas a dose de coragem acabou. As forças se esvaem, a gravidade puxa, o cansaço expande e o corpo acaba por se render à pior desgraça da humanidade. É que essa dor acampou no meio de tudo, erodindo os sonhos e as relevâncias dessa vida que um dia foi tão bonita, e agora a gente não sabe bem o que fazer. Erosão, você sabe como é, enfraquece, racha o terreno, deixa infértil, e eu não nego não, essa coisa de aridez me assusta bastante. Eu não sei o porquê do retrocesso, se há tanto tenho caminhado linha reta e à frente, sem sequer olhar pra trás. Eu não sei o porquê, eu também acho tudo tão prático e simples, mas na vida é diferente. E no fundo, Caio está certíssimo. Eu que tô toda errada.

domingo, dezembro 13, 2009

Hibernante.



Morro de medo dessas coisas que hibernam sem terem sido resolvidas. Quando o inverno passa e a primavera aponta lá no horizonte elas sempre despertam insanamente famintas e ferozes prontas a devorar o que vem pela frente.

sábado, dezembro 12, 2009

Uma faísca.


Eu fico a me perguntar se toda essa distância e essa ausência culminarão na lógica de cada uma delas. Se essa estoria vai ter fim, ou vamos ficar nesse meio-termo pra eternidade. Ou se diante de um inesperado e de um imprevisto, os corações podem bater mais forte de novo. É que a gente se acostuma à tudo, querido, e tem que se acostumar mesmo se quiser continuar. É que aquele "tum, tum, tum" que era tão forte e tinha poder de mover a turbina de um avião tem se tornado cada dia mais rarefeito, e eu vou confessar: foi tão bom, que eu tenho medo da extinção dessa faísca que ainda há. É que, mesmo ínfima, ela ainda me acende por dentro. E ilumina tanto!... Você nem tem noção.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Pacote completo.


Sem falsa modéstia. É só verdade. Nasci pra contrariar a lógica infundida na cabeça dos homens, e que, não posso tirar a razão deles, é fato. Ouvi esses dias de um amigo: "parece que quanto mais bonita mais vazia". Fiquei constrangida, mas não por mim. Aqui o pacote é completo. Tanto a embalagem quanto o conteúdo. Mas não estou sozinha no clube. Poderia listar várias outras mulheres de fibra, já lindas por natureza, que estudam e trabalham, cozinham e faxinam a casa, dormem 5 horas por noite, hidratam o cabelo, passam o horário do almoço no salão de beleza e ainda arrumam tempo pra usar Renew na cara, ler dois livros por mÊs e assistir o Jornal Nacional. Mulheres que matam um leão por dia e 7 por semana, além de tolerar marido chato, filho malcriado, aluno desaforado e galanteador barato no meio da rua. Mulheres que conhecem muito bem coisas chamadas cadeira, mesa, livros, café e madrugada. Mulheres com senso crítico e argumentativo, que sabem o escolher a dedo uma boa música, sabem o que querem, sabem conversar, sorrir, olhar e dançar pra conquistar. Que sabem seduzir sem vulgarizar, sabem subir num salto 10 e não descer dele enquanto a festa não acabar. Que conversam sobre moda e maquiagem, sobre o aquecimento global e a crise mundial. Que prezam tudo isso porque sabem que quanto mais vazia a embalagem, mais fácil fica de ser pisoteada e rejeitada, por mais bonita que ela seja. Porque entendem muito bem que inteligência é mais afrodisíaco do que uma dose de tequila, porque se valorizam antes de qualquer coisa. Quer prova? Experimenta amassar uma latinha de coca-cola cheia. Ela vai explodir na sua cara, e vai te sujar todinho.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Sequei.


"Não são mais lágrimas que saem, é um pranto mudo..."


Thiana Morbeck



Eu, particularmente, não choro mais. O inverno interior é tão grande, que congelei por dentro. Minhas lágrimas se tornaram em gelo. Meu pranto também é mudo. Acho que um dos meus maiores medos anda se concretizando; sequei...

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Promessas.

Se é uma questão de promessa, esquece. A gente não pode prometer nada a si mesmo, quanto mais um ao outro. Seria cruel demais, e nós não merecemos isso. Acho que já sofremos o bastante. Não era a intenção repetir uma coisa que já falei, mas assim o farei; vai que entra por osmose? A vida é feita de riscos. Eu bem que queria ter uma bola de cristal, mas essas coisas não existem. Eu também nunca quis acreditar nisso, mas de uma certa forma é sempre assim, a gente sempre escolhe o caminho que vai seguir e arca com o destino final. Ou volta e começa tudo de novo. A vida é assim. É se jogar e ver no que vai dar. Se é uma questão de promessa, então faz uma coisa: promete a si mesmo que vai tentar ser feliz. Nem precisa ser por toda a vida, mas pelo menos nos fragmentos dela.

domingo, dezembro 06, 2009

Continuo ridícula.

Manhã de domingo, e a primeira coisa que vejo, assim que acordo, é um rastro seu. Sorri. Ganhei o dia. Sorri de novo e mudei de idéia. Acho que ganhei foi a semana. Tô sorrindo até agora, por dentro e por fora.


Conclusão: não tem jeito; eu continuo ridícula.

sábado, dezembro 05, 2009

Surpreendente, sempre.


Lembro de quando você me disse um dia: "você sempre me surpreende". Eu não esqueço. Sempre achei minha previsibilidade óbvia, e também me surpreendi com seu comentário. Não passava pela minha cabeça que você não esperasse tanto de mim, mesmo tendo me revelado sem reservas, sem pudores, e não me pergunte porquê. Eu andei pensando no seu comportamento, na sua decisão um tanto quanto prematura... E conclui que, ao contrário do que eu imaginava, ambos têm mais haver com o turbilhão de supresas que derramei na sua existência e com a velocidade que elas surgiram na sua frente, do que com todos os itens que você já me listou. Lembro também que eu te disse que seu maior medo era o medo de você mesmo. Não creio que estivesse errada. Mas agora também percebo que esse medo se complementa no medo que você nutre por mim, ou na verdade, no medo de quem eu sou. Você sabe muito bem do que sou capaz. É essa intensidade e essa certeza que te assustam e fomentma toda essa situação e todos os fatos, que, por sinal, têm existência negada veementemente por você. Mas, tudo bem. No dia que você parar de se negar determinadas coisas e se permitir enfrentar os medos e as supresas da vida, tudo vira. Tudo mesmo. Porque a vida é feita deles.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Ridícula.


Um contentamento ridículo, que me faz tão ridícula quanto. Satisfação medíocre. Risinhos fáceis por tão pouco. O mínimo tem me bastado. Meia dúzia de monossílabos trocados ao longo de uma semana, borrifos de perfume sobre a pele, a foto no celular, uma música na academia, a singularidade e espontaneidade do que foi. É estranho, patético, eu sei, mas me preenche, e eu chego a crer que sou rasa, bem mais rasa do que supunha, pelo simples e absurdo fato de conseguir submergir ante a tão pouca profundidade. É estranho de novo. Me fio em frases e olhares jogados ao vento, e deles me cerco, e neles acredito, e neles enxergo o universo e o infinito. Dentre outras coisas, nós não podemos nos negar uma: ainda existem fatos e sentimentos, e uma razão rodeada por tantas outras razões que pesam tanto quanto a principal. Ainda assim, continua sendo tudo tão ridículo, tão adolescente, que por vezes, chego a rir de tanta tolice, quando não choramingo pelo mesmo motivo. Mendicância sem lógica. Definitivamente, eu não preciso disso. Mas, vai: tenta aí me convencer do contrário...


terça-feira, dezembro 01, 2009

Pretexto.




Entendo que tudo tenha sido pretexto. Pretexto pra dar sentido ao tempo, pra atropelar determinados receios, pra reviver sensações obsoletas, pra se sentir viva! Pretexto pra aprender que a maior responsável pela minha felicidade e pela ausência dela, na grande maioria das vezes, sou eu mesma. Pretexto pra me entender e entender que existem necessidades, oportunidades e decisões que não são tão irrelevantes quanto querem nos fazer acreditar. Desde aquela noite gélida até o pôr-de-sol furtacor, que logo se converteu também em noite fria, enxerguei o pretexto. E de lá pra cá, vivo procurando outros pra que eu não perca de vista - nem de fato - o real pretexto do meu tão efêmero, raso e tênue estado de satisfação.

domingo, novembro 29, 2009

Passado.



Como se já não bastasse essa minha inclinação em viver no passado, vem você e passa por mim. Agora a culpa é sua. Nunca mais eu vou querer sair dele.

sábado, novembro 28, 2009

sexta-feira, novembro 27, 2009

Prisioneira.


Há dias nos quais me sinto condenada, ainda que esteja longe de grades e algemas. Condenada a um peso aparentemente infindável, ao frio e ao vazio imenso que a cela da minha alma me reserva. Presa ao que chamam por aí de destino, ainda que eu não acredite nele. Escrava do acaso, das coincidências, das evidências e do movimento de rotação do planeta. Porque essa sensação [literal] de que ele gira, gira, mas a gente não sai do lugar tem sido cada dia mais concreta aqui dentro de mim.

quinta-feira, novembro 26, 2009

A música.


Música é o único assunto que a gente ainda tem. O único lance que consegue manter a chama de uma possível aproximação viva, ainda que branda. A única coisa que nos restou em comum e que, no silêncio do meu pensamento, rege esse pedaço de tempo que eu ouso chamar de "nossa estória".

Janta.



"Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade

Eu quis te convencer mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade"



(Música: Janta - Autor: Marcelo Camelo)

quarta-feira, novembro 25, 2009

Ser sua.







Se eu te ligar e te acordar no meio da noite, não se assuste. Vai ser só pra te informar que aquela chuva que caía simultaneamente sobre nós naquela madrugada tão fria, ainda que estivéssemos geograficamente deslocados, me fez ter vontade de dormir coladinha em você, tendo teu peito como meu travesseiro, teu braço como meu cobertor, teu hálito me aquecendo e a doce sensação de completude que essa cena, ainda que imaginária, me transmite. Que eu, ironicamente, ainda sinto aquele beijo como algo que, de tão intenso, não coube naquele momento, e ressoa até hoje. Que eu penso em você uma quantidade considerável de vezes por dia, não dá nem pra contar. . Que a coisa mais difícil do mundo é saber que a gente se quer, mas não se tem. Que você já ocupa um pedaço bastante significativo aqui dentro de mim, e que essa sua presença tem conseguido fazer com que o sol apareça nesses meus dias nublados. Que só de saber que você existe, eu consigo sorrir e pensar que amanhã vai ser melhor... E que eu tô disposta a ser sua. Desde que você também esteja disposto a ser meu.

terça-feira, novembro 24, 2009

Estremecida.


Eu ainda estremeço quando você se manifesta. E isso independe do peso das manifestações, que, ultimamente, têm sido tão leves e rápidas que volatilizam num piscar de olhos. Eu passo dias e semanas tentando te perder por aí, guardando os vestígios que ainda existem aqui no bolso furado da minha calça jeans preferida, mas quando me deparo com essas manifestações percebo que ainda restam algumas migalhas incrustadas. Isso só prova que a distância pode até abrandar os ânimos, mas não apaga coisa nenhuma.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Sobressaliente.

Ficaram muitas coisas. E algumas ainda conseguem ser mais sobressalientes do que outras. Tipo, a presença do que falta. Essa tem sido um pouco mais volumosa do que a falta do que está presente.

domingo, novembro 22, 2009

Num potinho.


Desculpa. Não sou boa nessas coisas. Por trás de toda cordialidade e diplomacia manifestada ainda há uma ponta de vontade de fazer caber-te num potinho, ou no mínimo, aprisionar nele o resumo daquele instante, só pra expô-lo na minha estante e poder abri-lo quando bem quisesse. Talvez essa seja uma das formas que ficam de sentir o cheiro, o gosto e a textura das gotículas que permearam o teu passar por mim...

sexta-feira, novembro 20, 2009

Leve.


"Se carece de definição: me sinto leve! (...)"



(Jorge Vercilo)



Leve. Que nem pluma. De voar com qualquer brisinha que passe por aí. De sorrir sem ter que esforçar o zigomático. De achar sentido no mais simples que os dias possam me oferecer. De acreditar que hoje, me basta o cuidado de Deus. E a certeza de que o mundo gira. E que lá na frente a gente pode se bater de novo. Leve. Sem pesos em excesso. Assim fica bem mais fácil se equilibrar no palco da existência...

quinta-feira, novembro 19, 2009

Mais uma carta.

Lembra? O quanto eu brigava com você, esperneava, xingava e exigia, gritando no seu ouvido que você era um eterno apressado que, arbitrariamente, saía por ai carregando tudo de qualquer jeito? Lembra que eu dizia pra todo mundo que o maior embate que eu havia travado na vida tinha sido com você, pois você sim, sempre cresceu pra cima de mim como um inimigo invisível, instransponível, inalcançável e eu ousaria também dizer, intransigente... Lembra? Pois é. Pirraça também é seu forte. Agora você resolveu desacelerar os passos. Parar no barzinho da esquina e tomar uma cervejinha, assistindo os meros mortais que estão sob sua submissão correrem como loucos pra dar conta da vida. Arrisco dizer até que sorri exacerbadamente da afobação que nos cerca e nos obriga a ter pressa de viver. Esperto! Sádico! Enfadonho! Mas tenho que lhe confessar também: de você, morro de inveja. Porque você é o único que consegue passar sem necessariamente passar; nunca envelhece, some ou morre. Atravessa a eternidade sem tocar os pés no chão. E eu sob o seu poderio, continuo a esperar o momento que você há de resolver passar de novo. Porque, mais triste que retroceder ou correr demais é ficar parado em você.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Solidão.

A pior parte é a que vem agora. Porque a solidão já me espreita na próxima esquina. E agora veio o medo de dobrá-la... Eu já tinha avistado-a, mas antes disso, pude sentir sua aura, ainda que longíqua. Na verdade, acho que ela me já me rondava há tempos, camuflada naquela presença meio ausente...

terça-feira, novembro 17, 2009

Esquece.


"Esquece". Foi assim que voce terminou nossa última conversa. Achei cruel esse seu imperativo. Injusto. Incoerente. Não é assim que as coisas funcionam. Não se deletam sentimentos, pensamentos, impressões e sensações assim, do nada. Mas aí você diz "esquece", e insiste em manter determinadas lembranças estampadas diante de si, me levando a crer que nem você esqueceu ainda. Ou não quer esquecer. Maldita razão...

segunda-feira, novembro 16, 2009

Game over.

Porque ela passou uma vida considerando que a sua vida fosse um game. Que existia um controle, e ele estaria sempre em suas mãos. Que as quedas de alturas inimagináveis, os tiros de metralhadora, os monstros à espreita, sempre a permitiriam uma outra chance. Viu as fases passarem por ela, mas não passou por nenhuma das fases. Ingenuamente, acreditou que o start e o pause estariam sempre ao seu alcance. Que dormir de cansaço e ligar a tv no outro dia pra recomeçar o jogo já salvo era possível e suficiente. Que estratégias eram coisas desnecessárias. Mentiras. O jogo não pausa porque o tempo não pára. Estratégias são imprescindíveis. Se cair de lá de cima, pode até morrer, mas se você não tentar, nunca vai saber. O jogo da vida é aqui e agora. E agora a vida lhe joga na cara um duplo game over de letreiro iluminoso: G A M E O V E R. Bonitinho. É o mínimo que ela consegue achar disso tudo. Porque ela ainda adora cores...

sábado, novembro 14, 2009

Mudei.


"Quem nunca mudou com o tempo? Aos poucos você vai deixando de escutar certas músicas, de usar certas roupas, de falar com certas pessoas. Mudar faz parte do ciclo da vida, embora a essência seja sempre a mesma. Quando encontrar um obstáculo grande na vida, não desanime ao passar, pois com o tempo ele se tornara pequeno. Não porque diminuiu, mas porque você cresceu !"

(Deconheço o autor)

É, eu mudei. Custou-me acreditar nisso. E quando enfim, acreditei, custou-me admitir. Passei anos listando supostas mudanças nos outros, criticando-as e quando me percebi, a metamorfose já tinha acontecido. Eu mudei mesmo, não adianta mentir pra mim nem pra ninguém. Meu olhar me entrega, me sorriso me delata, minhas decisões me denunciam. O mundo girou, surgiram novas necessidades, novas perspectivas, e eu me descobri incapaz de apenas girar com ele. Agora eu corro atrás do que me satisfaz, do que me encanta, do que me faz melhor enquanto gente que sou. Mudei a cor dos meus dias, a textura do meu querer, a ordem das minhas prioridades. Sim, eu mudei. Mas não perdi a essência. Essa fica, porque é fixa. Troquei os acessórios, o que realmente podia - e devia - ser modificado. Mas os princípios ficaram, os valores são eternos. Plantados uma vez, jamais são arrancados. Mudei. Mudei muito. Quis tanto que tanta gente mudasse, e hoje, mudada, consigo entendê-las melhor. Mudei pra sobreviver, pra me adaptar. Eu arriscaria dizer que ando em reformas perenes. Porque considero que ainda há muito a mudar...

quinta-feira, novembro 12, 2009

Ela, a princesa.

Era uma vez uma princesa. Linda princesa. Delicada e meiga. Dia e noite enclausurada no seu castelo encantado, por anos a fio. Vestidos finos, sapatos impecáveis, anéis de valor imensurável, admiração quase universal. Mas não era só uma princesa. Era também uma mulher. E acho que ninguém [ou quase ninguém] enxergava isso. Um dia a princesa despencou lá do ápice da torre do seu castelo. Mas, ao invés de cair no chão, caiu em si. Espatifou o orgulho, o medo, o fingimento, a lógica das coisas... Deu de cara com os dragões do lago de fogo e todos os seres maquiavélicos que existem nesses contos de fada [que nem existe]. Sem príncipe à tira-colo, sem coroa, nem vestido. Na alma, uma remessa de dor, outra de confusão, estoque extra de lágrimas. Coleção de noites em claro. Desilusão. Mas também uma certeza sem fim. Ela só quer ser feliz.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Aquela nossa canção.


Hoje eu chorei ouvindo aquela nossa música. Chorei porque eu nunca quis que fosse assim. Porque eu sonhei, e às vezes ainda me pego a sonhar em tudo que a gente sonhou, e cá pra nós, eu não consigo admitir essa reticência. "Dos nossos planos é que tenho mais saudade...". Porque o que fica é a sensação de que meus pressentimentos não passaram de grandes blefes. Porque olhar pra trás tornou-se insuportável; e eu não aguento perceber que aquela felicidade sem fim agora jaz dentro de mim. Eu não consigo suportar a idéia de que minhas certezas se diluíram, de que aquela infalibilidade era ilusória. Chorei porque eu me sinto golpeada por mim mesma. Porque eu comecei a achar que a gente foi um equívoco. "Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou...". Tenho certeza disso. Mas eu ainda não admito perder você. Porque eu te amei, muito, amei mesmo, essa talvez seja minha única certeza, e ainda tem muito resquício dessa história aqui. "Vai ser difícil sem você porque você está comigo o tempo todo...". Paradoxo, não? Contraditório, como a minha vida inteirinha. Tô deprimida por demais com tudo isso. "Olha só o que eu achei: cavalos marinhos!"...

terça-feira, novembro 10, 2009

Dor.


Era tanta falta, tanta ausência, que ela encheu de dor, e derramou, transbordou. E concluiu que não cabe mais nada ali além dessa constante companheira. Nem ninguém. E fez um esforço absurdo pra que, pelo menos ela, se encaixasse em alguma fenda de sua própria alma. É que ela descobriu que vê-la naquele estado pesava muito mais do que somente senti-la.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Chorei.


"Ontem chorei. por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas. Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo amor. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa. Pelos sonhos desafinados. Estremecidos. adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi. E foi. E voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto."


Caio F. Abreu

quinta-feira, novembro 05, 2009

Decepção.


Coisa mais subjetiva são as pessoas.
Lendo você por tanto tempo, eu juro.
Nunca te interpretei assim.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Porque há.


Porque há dias mais difíceis que outros.

Há juras mais fáceis de serem cumpridas.

Pessoas tão menos fascinantes!

Olhares muito menos impactantes.

Vozes tão pouco audíveis...

Beijos mais fáceis de cairem no esquecimento.

Músicas que marcam.

Mãos mais firmes que outras.

Momentos que não se perdem...

terça-feira, novembro 03, 2009

Cúmplices.


Faço isso. Dou risada sem querer, seguro o choro por saber que ninguém tem nada haver com nada. Que se surgiu aqui dentro, aqui dentro tem que ficar, até sublimar. Mas é que, na maioria das vezes, o meu lado atriz só pega no tombo. Toda opacidade dilui e eu fico translúcida, numa impensada permissão para que atravessem minha aparência. Coisa de gente que é clara por demais. E há quem perceba essa tristeza tatuada na alma, e até pergunta o porquê, mas, se por vezes não cabe em mim, não cabe a [quase] ninguém saber. Faço isso. Elejo meus confessores, que não são meros carregadores desse entulho de dores, mas sim, merecedores desse acesso interior. Conquistas e afinidades à parte, é muito bom ter vocês, muito mais que meus amigos: cúmplices de alma e coração.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Confusão.


"Ah, se eu pudesse me arrumar por dentro,
tudo calminho nas gavetas!..."
.
[Lygia Fagundes Telles]


Abriu a janelinha do coração e olhou pra dentro. O dia havia amanhecido com cheiro de coca-cola. Ácido de matar. Desistiu de entrar. Era tudo muito incógnito. Impossível caminhar em meio a tanta desordem. Já andava descalça há um bom tempo, e pisar naquilo tudo machucava mais a ela do que danificava as tralhas que, espalhadas pelo chão, exalavam um incongruente ar de dúvida. Confusão. Olhou por um tempo sem fim pr'aquilo tudo e chorou. Fechou a janelinha, deitou na cama e voltou a fixar o teto. Naquele momento era o máximo que conseguia [e podia] fazer.

domingo, novembro 01, 2009

Bem assim.


"Tô bem assim, bem indiferente. O coração, um cactus. Não me importo mais."

Caio Fernando Abreu


Fatalmente, a vida faz isso com a gente. É tanto espinho pelo caminho, de dia, sol ardente, à noite, vento congelante, que a gente segue a lógica. A tendência é ficar seca, gélida, imprópria. Não é o ideal. Também não é por mal. É estratégia de sobrevivência. Tentativa de proteger o que restou de bom aqui dentro, aquilo que não se perdeu pelo caminho espinhoso. É cuidado e afinco, mas com um misto de desprendimento. É, acho que é isso: tanta dor também serve pra deslocar a gente da gente mesmo. . Hoje me arrisco mais, muito mais. Mas me dou menos, e por consequência, exijo menos. Tô mais independente, mais senhora de mim, mais flexível, menos radical. Faço [quase] tudo que dá na telha. E se eu cair lá na frente, levanto e passo Merthiolate... não arde mesmo!

sexta-feira, outubro 30, 2009

Please to meet you. I hope we'll be a good friends!

Acho interessantíssima a forma que a vida arruma pra passar uma rasteira nos nossos rótulos e preconceitos criando situações sutis e nos colocando frente a frente com os nossos limites. Aí, ou a gente foge, paralisa, ou please to meet you, baby... e se debruça a conviver com eles. Só uma dica: correr é pior. Um dia você cansa.

10 coisas que aprendi nos últimos 10 meses.

1. Eu não posso colocar todo o peso do mundo na minha máquina de lavar, senão ela trava.





2. Tenho que esperar tudo de todo mundo. Inclusive nada.






3. Amigo é amigo. Colega é colega. E filho da puta é filho da puta.




4. Tenho vícios insolúveis que me fazem enfrentar até o sono mais ferrenho.



5. Silêncios nem sempre denotam ausência ou ignorância.


6. Moedas têm dois lados; pessoas também.




7. Quanto mais eu durmo, mais eu tenho sono.





8. Bactérias são seres mais espertos do que eu imaginava.



9. A tal política da boa vizinhança é mesmo imprescindível.



10. As pessoas são imprevisíveis. Inclusive [e principalmente] eu.