domingo, julho 27, 2008

Desabafo

Não. Não me venha com essa de "educação". Se é pra ser educado, que seja por inteiro. E, por favor, não confunda educação com obrigação ou cristianismo. Admitir determinadas coisas costuma amenizar alguns problemas, tenho feito essa experiência na terapia. Assume logo de vez pra si mesmo que a gente nunca se bateu e que sua arrogância, na maioria das vezes, sobrepõe-se à essa coisa aí que você chama de educação. Assume logo pra você que você nunca me engoliu, nossos santos nunca se bateram e você também nunca foi adepto a uma coisa chamada diálogo, já que seu orgulho sobrepuja qualquer coisa. Assume também que você não tolerava conviver com a diferença que existia entre a gente e optou por sair da periferia da minha vida. Sim, porque, definitivamente, você não significou o bastante para ocupar o centro dela. Então, é o seguinte. Você nem é na minha vida. E se for pra ser, que não seja pela metade, porque eu realmente me incomodo com gente que fala comigo quando quer.

Paz e bem!
Marianne

domingo, julho 20, 2008

Eu também queria um manual...!

Um manual de instruções sobre como VIVER. Como levar a vida em meio a tanta coisa que contraria a dinâmica da vida. Como continuar vivendo no meio de pessoas que pouco se importam com suas vidas, e muito menos com a vida dos outros. Como se comportar e como se sentir diante de gente que sabe que não se deve beber e dirigir, mas mesmo assim o faz e acaba tirando a vida de outras pessoas na próxima esquina. Como continuar, meu Deus, quando a vida se tornou algo banal, algo que pode ser usado e tirado de você sem que você permita! Como prosseguir, se matar, roubar, trapacear, xingar, ofender e bater tornaram-se coisas tão comuns e tão normais! É como se a gente tivesse deixado de ser gente e tivesse se transformado em um bando de robôs feitos de metal, sem coração, sem dignidade, sem alma, sem essência, sem nada. Acho que é por isso que eu e Lu andamos à caça de um manual de instruções. Porque temos lidado com robôs cotidianamente. E não dá pra lidar com máquina sem ter um manual.

Olha pra gente! 25, 26 anos... nem chegamos ainda na metade da expectativa de vida do ser humano e já vivemos sem expectativa... Olha pra gente! Meu Deus! Isso é grave! É triste! Em outras palavras, palavras mais duras e fortes, tem dia que a gente não suporta viver. Tem dia que a maior dádiva do mundo, a nossa vida, se torna um jugo pra gente. E principalmente, como tem sido difícil suportar a vida de algumas pessoas. Incomoda, machuca, destempera e desgasta a nossa. Quer dizer, passei a vida inteira fazendo o máximo para não ser fardo na vida dos meus pais, avós, professores, superiores religiosos e chefes, e o que eu percebo é que ninguém se importa em se esforçar para não ser fardo na minha. Minha mãe não me disse que a vida era dura desse jeito. Hoje eu entendo que era uma realidade que ela mesma fingia não enxergar. Todo dia eu gritava dentro de mim: "por que minha mãe não me avisou que era assim?" Essa pergunta cotidiana ecoa lá no fundo, às vezes em tom de mágoa. Mas, entendo também que talvez ela estivesse querendo me proteger; ou seja, errou tentando acertar. Ou talvez ela não tenha dito porque não tinha o tal manual... e sabe por que ninguém tem o tal manual? Porque ele não existe! Ou, quem sabe, ainda não está pronto. Manuais e protocolos existem apenas para ritos específicos e exatos. E de exata a vida não tem nada. Nem a hora de começar, nem a hora de terminar. Nem os eventos intermitentes, nem os próprios personagens que os interpretam. Por isso a gente tem que viver um dia de cada vez, aproveitando cada minuto e tentando escrevendo o nosso próprio manual.

Um manual de intruções sobre como sobreviver nesse campo de batalha que a vida tem sido pra gente. Sobre como sobreviver tendo que presenciar tanta droga, tanta corrupção, tanta fome, tanta miséria, tanto ódio, tanta inveja, tanta hipocrisia, tanta mentira, tanta ganância... como sobreviver vendo as famílias ruirem, tantos pais matando filhos, seja fisicamente ou por falta de amor... ou vendo tantos filhos matando os pais, seja fisicamente ou por desgosto e preocupação... vendo o mundo lutar a favor do aborto e da eutanásia... vendo gente catando lixo pra comer... vendo gente morrendo na fila do SUS... vendo a gente cada dia mais distante de Deus. Vendo o planeta ser permeado de contra-valores. E eu aqui, me sentindo impotente, de pés e mãos atadas. Sem saber o que fazer. Construindo meu próprio manual que, diga-se de passagem, não é o correto. Mas é aquele que tem me ajudado a sobreviver.
Paz e bem!
Marianne

P.S.(Inspirado no texto "Queria ter um manual..." - fonte: http://www.fadaaine.blogspot.com/)

quarta-feira, julho 16, 2008

Feed back negativo

"...seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós,a gente, as pessoas, têm, temos - emoções.”
(Caio Fernando Abreu)

Quem me conhece, bem sabe: eu ainda não alcancei um nível de elevação espiritual suficiente para poder viver literalmente esse lance de “dar sem receber”. O discurso é belo, traz até um tom de heroísmo e santidade, e eu não duvido que existam pessoas que vivam-no. Mas, eu, muito particularmente, acho que reciprocidade é fundamental nas relações. Somos humanos, temos emoções, sentimentos, expectativas. Se nosso corpo depende de combustível pra manter as funções vitais [oxigênio, água, alimentação, vitaminas, luz solar], nossa alma também precisa ser suprida de alguma forma. Esperamos feedbacks, retornos, acho que esse sentimento de se sentir de alguma forma inserido na vida daqueles que a quem consideramos imprescindíveis na nossa vida nos move, nos impulsiona a continuar. Entretanto, nem sempre a gente ocupa o mesmo nível de importância na vida de quem a gente considera importante. Quando existe significado, a nossa vida e todos os acontecimentos dela só tomam sentido quando os partilhamos com aqueles que são de fato significantes. Quando a pessoa nos é especial, ela torna-se essencial, sempre, e em grande parte dos movimentos do nosso viver existe a presença do outro. Contudo, como citou Shakespeare, “não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...”.

Não mesmo. Mas como eu não tenho vergonha na cara, teimo em acreditar que todas as pessoas do mundo pensam, sentem e agem como eu. Doce ilusão. Alôôu!!! Acorda, Marianne! O mundo é cruel. A maioria das pessoas também. E não resta saída. Ou a gente mantém a inverdade de uma relação unilateral ou se acostuma com essa crueldade. E por mais que doa, prefiro a última opção.
Paz e bem,
Marianne