domingo, dezembro 07, 2008

Já não existe...



Tudo aquilo já não existe. Nem subexiste. Cá dentro de mim, implosão. Uma ou duas vigas permanecem intactas, sustentadas, provavelmente, pelo Deus que mora em mim. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Ninguém imagina que parte de sua vida pode afundar dessa forma. Passo em frente à casa. Sinto saudades. É minha alma dizendo pra onde ela queria voltar. Restou tão pouco de tudo, que as coisas ficaram insustentáveis. O cansaço oxidou os metais, a intolerância desgastou o que sobrou; a estrutura não resistiu. E ruiu. Reconstruir, agora, quase impossível.


Tudo ruiu. Ficou no passado. Eu posso voltar lá. Paro em frente ao portão enferrujado. Fico parada olhando. Fecho os olhos. São mil recordações. Choro. E, embora nada fosse perfeito, era tudo tão meu! Eu acreditava naquilo tudo! Do jeitinho que era! Consigo ver os canteiros de grama verde, a bola de vôlei no canto da varanda, o carro parado vazando óleo. Os pés de graxa, as folhas secas espalhadas pelo chão. No chão da sala, carrinhos e bonecas. O sofá rasgado. A parede descascada. A TV ligada na rede Manchete. Inhambu quentinho nas manhãs de domingo. O guarda-roupa sem uma porta. A fechadura quebrada. Um crucifixo de metal na parede. Um relógio parado às 10hs. A geladeira amarela, o fogão de duas bocas. O balanço no quintal. E choro de novo.

Penso comigo: era tudo tão superficial assim mesmo? Sempre?... Não encontro respostas. Elas surgiram desde antes de eu nascer. Ouço um eco dizendo que faltou cuidado. Abro os olhos. Só vejo sujeira. Não enxergo mais o cimento da garagem; as folhas secas não deixam. Muito pó na varanda. No mesmo lugar onde repousava a bola de vôlei. Lá dentro, imagino apenas bagunça e vazio. O crucifixo, empoeirado e solitário. Não existem mais carrinhos nem bonecas na sala. A mesa da cozinha praticamente jaz, assim como todas as coisas que permanecem ali. Mas o relógio, com certeza, continua parado nas 10hs. Sem gritos. Sem risos. Sem vida. Apenas um buraco na parede da sala. Este, não existia... quem o teria feito? O tempo, talvez...

Paz e bem!
Mari

10 comentários:

Lu disse...

Amiga do céu! Adoro seus textos (seu puxação de saco), mas esse aqui está praticamente indefinível (existe esta palavra?). Não encontro outro adjetivo melhor para descrevê-lo a não ser PERFEITO. Escrita impecável, mas acima de tudo carregada de sentimentos, de vida. Sei um pouquinho da história, me emocionei. "O cansaço oxidou os metais, a intolerância desgastou o que sobrou; a estrutura não resistiu. E ruiu. Reconstruir, agora, quase impossível." Buscamos explicações,mas não conseguimos entender...Acho que não existem culpados, todos são vítimas mesmo de uma forma ou de outra. Fica em paz, amiga! Bjus!

Ione Rocha disse...

Outro dia estive em uma loja de moveis que pertence a uma artista plástica. Ela faz coisas maravilhosas com material de demolição.Madeira, ferragens, molduras,etc. Me apaixonei por uma escrivaninha feta com madeira de portas velhas, e de janelas de diversos tipos de madeira nobre. Agora lendo seu texto fiz uma ponte: me apaixonei por uma escrivaninha, um móvel, um apoio para ler e reler a vida, rever convicções, e escrever as novas histórias. O texto está lindo amiga, repleto de emoção. Aproveite a madeira nobre da casa. Recicle, reconstrua, faça uma nova história. Não é fácil. é duro para uma mulher de flores. Mas é uma missão que se impoe a mulher de aço dentro de nós!
Um bjo. Minha escritora favorita.

Suelem de Oliveira Bento disse...

Perfeito! Sempre tocando-me com suas palavras e me fazendo refletir: " O que sera que está por tras destas palavras?"

Perfeito!

Ótima semana!

Bjão!

Gi Novais disse...

bom....muito bom e tocante...bj

Nara. disse...

Sem palavras Mari... muita vida, muito de vc... eu acredito! seus textos me encantam, e vc se revela através delees...

Joquebede disse...

Bem Mari...
como sempre .. está simplismente lindo... esse texto me faz lembrar que devemos fazer valer a pena cada momento que vivemos... pois nao podemos mudar o q ja se passou.. apenas lembrar...e se vivemos cada momento intensamente seremos felizes quando nos lembrarmos deles...
bjos

Unknown disse...

Esse texto me deixou simplesmente sem palavras... o que posso dizer Mare é PARABÉNS pelas suas palavras que cada vez mais tocam no fundo da alma...
Perfeito seu texto.
Beijossss

Carolina Braga disse...

'Uma ou duas vigas permanecem intactas, sustentadas, provavelmente, pelo Deus que mora em mim.'

Nossa! Que texto lindooooooooooooooooooo! Quanta beleza, quanto sentimento, quanta profundidade e sofrer. Parabéns! É a Maria se superando... Se bem que vc já tem mostrado sua capacidade e talento em ser funda. (:

Besos e precisa nem avisar, pode tá certa que estarei sempre por aqui!

=)

Unknown disse...

Não sei o real sentimento que se esconde por trás destas palavras, mas consigo perceber ao lê-las a intensa emoção que as move...
Que você possa reconstruir o alicerce dos teus sonhos em Deus, porque mesmo que as estruturas se abalem você terá um alicerce indestrutível para reconstruir tudo novamente...
E caso precise de ajudantes na obra,estarei aqui...

;)

BjOs...

NeTo Colangeli disse...

O Cristo na parede que sangra a sua dor ainda está lá, como um guardião do que jah não existe. É uma dor vinda do mais profundo abismo das emoções... Tristeza, lembranças, cenário familiar... Profundo como o sentimento de perda dos homens, e da misericórdia divina.