sábado, novembro 08, 2008

Meu querido blog...

Uma agenda, várias canetas coloridas, cola, recortes de revista, fotos, papéis de bala, ingressos de shows, adesivos, um cadeadinho, uma chave... e alguns segredos. Que se a gente for olhar hoje, nem eram tãããão secretos, mas não importa. Eram segredos, e pronto. Um conjunto de segredos espalhados em meio a algumas páginas que na verdade, eram mais retalhos da história de uma vida do que exatamente segredos.

"Hoje eu conheci fulano; ele é lindo!"...; "Passei pela rua tal e adivinha quem estava lá?; Cicrano...;"Hoje estou triste, não sei porquê..."; A festa foi maravilhosa!"; "Tô feliz pra caramba!". Não era assim que a gente iniciava ou terminava um post no nosso querido diário? Trancado e absolutamente sigiloso, só nossas amigas mais íntimas tinha acesso. Ele era lido e relido quase que diariamente, e era interessante, porque trazia à tona instantaneamente todas as emoções outrora vividas.

O fora daquele menino lindo, a bronca da mãe porque chegou tarde em casa, a viagem para a praia nas férias, o primeiro beijo e a primeira menstruação. Aquela paixão secreta (e a paixão secreta de uma dúzia de amigas), a festa de aniversário inesquecível, a nota baixa no colégio, enfim... tudo isso era postado e catalogado diarimente naquela agenda da Capricho ou da Xok (que eram caríssimas), mas que a gente fazia tudo pra ter uma (porque todas as meninas da sala tinham também)!!!

E hoje, me peguei pensando que as meninas de hoje não fazem mais isso. Primeiro porque essa geração não é muito adepta à leitura e muito menos à escrita; e por outro lado percebo que, com o advento da Internet, essa quebra de tradição (se assim podemos chamar) veio acompanhada de uma explicitação demasiada das vidas de cada um. Orkuts, blogs, flogs e msn... todo mundo tem. Todo mundo se expõe o quanto pode. Fotos, frases, textos, recados... até bonequinho pra demonstrar nosso estado de espírito já tem!!! As páginas de papel são agora home pages; o cadeadinho cor de rosa dos "queridos diários" foram substituídos por senhas que, por mais que pareçam ser mais seguras, não são; acredito que meu diário estava bem mais seguro no fundo do meu guarda-roupa do que a senha do meu orkut está hoje...

E continuei pensando. Nos blogs, flogs. No quanto a gente se expõe quando a gente expõe o que pensa, ou quando posta uma foto pessoal. No quanto a gente se vulnerabiliza para os outros e permite (mesmo sem intenção) que os outros interpretem o que lêem e vêem da forma que queiram. Fiquei pensando em como o passar do tempo era irônico; de pensar que há 15 anos meu diário, meus pensamentos, minhas tristezas e alegrias eram pra poucos...

Hoje quem lê meu blog, quem vê meu orkut consegue ter uma noção de quem eu sou, de como eu sou; e eu não sei até que ponto isso é bom. Não sei se o custo compensa o benefício. Artista é assim; traz consigo a emoção à flor da pele. Um descuido, e ela escapa... no meu caso em forma de palavras... Só hoje me dei conta que meus textos, que simbolizam minha essência, minha cara, minha vida, meu cotidiano, estão expostos para o mundo inteiro através da web. Estão expostos pra gente que nem merece me ver assim, tão nua. Até porque a nudez de minha alma compete apenas àqueles que me são íntimos e àqueles a quem eu convido passar por aki, e estes são poucos...

O blog é uma extensão de mim. Por isso, não sei até quando continuarei a postar. Tenho que sedimentar esse sentimento que me veio no dia de hoje. Não sei qual vai ser o resultado, o qual culminará com a permanência do blog ou não. Por enquanto, as postagens continuam no mesmo ritmo. Não pararei de escrever; mas, pretendo colocar um sistema de privacidade aqui.

10 comentários:

Lu disse...

A internet nos deixa expostos a julgamentos das outras pessoas que não entendem que o que somos vai muito além do que está no nosso orkut, MSN e blog. Escrevemos o que sentimos num determinado momento e tem uma razão, um contexto. Algumas pessoas preferem se apegar ao produto final e inventar a causa...rsrs. Só peço uma coisa: não pare de escrever! Se for pra se sentir melhor, coloque uma senha de acesso ao blog. Depois conversamos no MSN ou por telefone. Bjus!

Unknown disse...

Bastante reflexivo seu texto Mare. E concordo com o que vc disse, quase tudo em nossa época de criança e adolescência era diferente e muito mais gostoso. E além disso tudo que vc falou ainda tem a questão da ausência física, pelo nosso corre corre é assim: "nos falamos no msn", "te mando um recado no orkut", e muitas vezes nem nos damos conta de que estar na presença das pessoas que nos cercam e essencial, fundamental. Sei que ficamos expostos, mas como diz o ditado: "nossa cabeça é nosso seu guia". Espero que vc não pare de escrever (risos), mas que vc sinta-se bem fazendo isso. bjão querida

Nara. disse...

Realmente seus textos te revelam Mari, porque você se derrama em cada um deles. Te admiro muito, mesmo sem conhecê-la intimamente.

Mesmo com tanta liberdade a gente tem que tomar cuidado sim, com a forma que a gente tem se exposto... existe tanta gente que quer nosso mal, que tira suas próprias conclusões a nosso respeito sem nem mesmo saber como se escreve o nosso nome.

E quando isso aqui tirar sua tranquilidade, sua paz, vou ser a primeira a apoiar essa renúncia.
Que Deus te abençoe pequena, e te dê muita sabedoria em suas escolhas, e te faça ver a cada dia a grandeza dEle em você. Você é especial e é princesa do coração de Deus. Beijo no coração!

Unknown disse...

Apesar de não ter tido diário quando criança, percebo atualmente uma grande mudança (principalmente entre os jovens)na exposição dos sentimentos, e sinceramente acho que transparência demais pode se tornar um perigoso obstáculo!

Porém suas reflexões através destes meios (BLOG, ORKUT,MSN)são de fundamental importância para levantar questionamentos atuais e interessantes sobre nossa sociedade e suas transformações!

Portanto continue a expor o que sente, mas tente "vestir-se" um pouco mais, afinal é sempre bom surpreender as pessoas com nossas ações!!

Bjãooo....
:)

Joquebede disse...

oi mari..
a cada dia q passa fico mais apaixonada pelos seus textos e admirando vc mais.. é incrivel como tudo o que vc diz condiz com a nossa realidade..e esse texto entao? ao le-lo senti como se estivesse voltando ao meu tempo de a adolescente ao escrever sobre minhas alegrias,frustraçoes..rs... cara ..como adorava fazer isso..rs. mas hj os tempos sao outros como vc diz.. bem , gostaria muito de continuar lendo seus textos, eles me fazem muito bem..bjoos

Marina disse...

Esse mundo virtual é traiçoeiro... todos tem acesso a nos...

Parei de escrever em meu diário quando criei meu primeiro blog (o que ja faz muito tempo) talvez por que no fundo no fundo tem coisas que a gente quisesse que o mundo lesse do nosso pequeno diário...

Aí hoje a gente as vezes esconde o blog da mãe, mas permite que o MUNDO todo tenha acesso a ele...

Já me peguei pensando como você... tanto que tinha excluido meu antigo blogs, flogs, orkut, mudei de msn... agora só add quem eu conheço (as vezes alguns conhecidos de blog...) mas só... aprendi a ter mais cuidado com o coloco na internet... mas ainda tenho muito a aprender...

Posso só te pedir um favor? Não pare de escrever!! Amo seus textos! SE você colocar uma senha em seu blog... posso tomara liberdade de pedir para continar visitando?? Encontro comigo em alguns de seus textos...

Sem mais
Mari

Laila disse...

Caramba! Essa semana eu peguei uams agendas pra ler também... Me diverti com as coisas ali escritas e relembrei momentos diversos que eu já nem me recordava.
Eu tenho uma relutância em publicar meus escritos exatamente por ser tão meus, tão íntimos. E como você falou, a interpretação da leitura é de cada um. Vai saber o que o outro pensa quando lê.
Da spousc as vezes que entrei aqui, gostei bastante do que eu li. Não pare mesmo de dividir conosco suas opiniões.
Um beijo!

Suelem de Oliveira Bento disse...

Oi Mary! Saudades...

Mais uma vez...suas postagens acrescentando.Eu tb tive um diário...com chave, bilhetinhos, papéis de bala, símbolos que somente eu entendia(caso alguém o descobrisso), confidências, desabafos, lágrimas, alegrias...A angústia do meu crescer, as crises de baixa auto-estima, etc etc etc...
Foi nele que o pouco de mim era relatado, pena que eles já não existem mais. O mundo foi dando voltas...e foi preciso jogá-los fora para outras coisas ocuparem o espaço tão sagrado que era o espaço deles...Hoje ficam as recordações dos velhos tempos que neles se eternizavam e que hj tomam conta da minha memória.

Gostei de lembrança e concordo com a sua visão da atualidade.

Beijos...

Deve ficar ausente por alguns dias...Não estou dando conta de tantas coisas...Mas eu chego lá!

BjnhusSu...

Igor Mascarenhas disse...

Engraçado que estava a refletir este pensamento esses dias e vi como o mundo POP vem nos transformando.

Evito escrever muita coisa no orkut, e no blog releio o que escrevo várias vezes...

O problema é que agente gosta de ser visto... E saber que muita gente achou tua foto bonita, tua poesia linda enche nosso ego...

Mas até onde isso pode ir ?

acho que vou pensar melhor sobre esta reflexão.

Vlw por partilhar essas palavras que transmitem um pouco do teu EU.

tamu junto

Carolina Braga disse...

'Fiquei pensando em como o passar do tempo era irônico; de pensar que há 15 anos meu diário, meus pensamentos, minhas tristezas e alegrias eram pra poucos...'

Será que ela quer que eu veja?rs

Brincadeira... ou não...kkk

Ei, sério... eu sempre me pego pensando nisso. Sei lá, ganhamos a possibilidade de falarmos com pessoas queridas que estão do outro lado do mundo sem gastar com telefone, mas perdemos o direito de só ser vista por quem nos apetece, de fato. Estranho. Nem dá pra tirar conclusão, sabe. Mas eu eu sinto falta do romantismo de outrora. =/

Beijos, talentosa! =)