sexta-feira, dezembro 19, 2008

A graça de ser só

Um dos temas que mais incomodam a sociedade em geral (inclusive alguns cristãos católicos), é a existência do celibato dos padres e irmãs consagradas da Igreja Católica Apostólica Romana. Particularmente, não consigo entender tal incômodo (afinal, os abstinentes de casamento e sexo não são essas pessoas, e sim os padres e as freiras). Confesso que diante das dúvidas e posturas de perplexidade de algumas pessoas, já tentei explicar o motivo do celibato proposto pela Igreja a seus sacerdotes e consagradas, mas para a grande maioria não é fácil compreender, tampouco aceitar. Hoje me deparei com um texto do Pe. Fábio cujo teor é exatamente esse: o celibato. Nunca tinha lido algo tão perfeito! É a alma de um jovem celibatário falando... ninguém melhor que alguém que vive o celibato para falar dele! Transcrevo-o aqui, na íntegra. É um pouco grande, mas vale a pena lê-lo por inteiro. Transcrevo-o, não na intenção de que você o aceite, mas para que você (talvez) compreenda que "...há aqueles que se tornaram eunucos por causa do Reino dos Céus." (Mt 19, 12b).


A graça de ser só

Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.

Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar. Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do "pode ou não pode".

A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar, não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.

Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.

Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em "propriedade privada". Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.

Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.

Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo de mais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções."

Pe. Fábio de Melo (12/12/2008)

6 comentários:

Marina disse...

Eh... Pe Fábio é o cara rs rs rs sr

Ele me ajuda a responder muitas coisas a mim mesma e aos outros...

Quem é celibatário é assim por que QUIS isso, se amanha ou depois eles liberarem o casamento aos padre tudo bem... mas mew, deixa os padres viverem no celibato, o fato de eles terem esposas não significa que haverá menos pedofilia... enfim...

Se for assim vamos liberar o porte legal de armas para quyalquer um, assim teriamos menos assaltos rs

Bom... amo esse texto! Me ensina mtooo

Sem mais
Mari

Joquebede disse...

bem.. devo confessar q nunca compreendi o pq do celibato...sempre pensei q as pessoas deviam constituir uma familia... casar ter filhos.. mas diante desse texto entendo perfeitamente... nós temos o direito de fazer escolhas.. e se pra ser feliz é necessário estar só... aprendi muito com o texto Mari...bjos

Suelem de Oliveira Bento disse...

Eh Mary...Realmente...Pe.Fabio soube expressar muito bem a condição de celibato, justo ele jovem que é...
E assim como foi dito...Diante deste mundo em que nos percebemos, hoje muitos vivem sós, mesmo estando com outra pessoa ao lado. Percebo no rosto dos outros, na vida dos casais, e no reflexo de seus próprios filhos.
Lindo seu tema!
Estarei semre por aqui, viu!?
Ótimo fds!
Fique em Paz, Fique com Maria e Jesus!
Bjão!
Su...

Unknown disse...

Só o que tenho a dizer... PERFEITOOOOO!!!!!!!
Nem tenho o que comentar. O texto diz tudo. (rsrs)
Bjãooo

Carolina Braga disse...

'Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções.'

Concordo em integridade com todo o texto. Já conhecia a postura dele e corroborado.

Parabéns Mari, por proporcionar àqueles que te visitam esclarecimentos como este!

Beijo!

Mari disse...

É interessante perceber que às vezes questionamos o que nem mesmo conhecemos, um exemplo disso é o celibato dos padres e freiras.Quantos já não pensaram que isto era desnecessário?Bom, eu já pensei...
Porém logo percebi que era impossível saber ou melhor sentir a real significância desta escolha para aqueles que a fazem, e hoje lendo este lindo e reflexivo texto de Pe. Fábio, pude constatar o quão grandioso é a escolha de se entregar de corpo e alma a Cristo, não que ser padre ou freira os tornam mais cristãos, mas a abdicação de uma vida a dois, a perda da magnifíca experiência de ter um filho, a apredizazem de muitas vezes lidar com a solidão, dar conselho quando necessita de colo e outras inúmeras restrições os tornam exemplos de testemunho...
Que ele continue com este dom da palavra!

Bjos Mari!


Ass. Luiza