quinta-feira, novembro 19, 2009

Mais uma carta.

Lembra? O quanto eu brigava com você, esperneava, xingava e exigia, gritando no seu ouvido que você era um eterno apressado que, arbitrariamente, saía por ai carregando tudo de qualquer jeito? Lembra que eu dizia pra todo mundo que o maior embate que eu havia travado na vida tinha sido com você, pois você sim, sempre cresceu pra cima de mim como um inimigo invisível, instransponível, inalcançável e eu ousaria também dizer, intransigente... Lembra? Pois é. Pirraça também é seu forte. Agora você resolveu desacelerar os passos. Parar no barzinho da esquina e tomar uma cervejinha, assistindo os meros mortais que estão sob sua submissão correrem como loucos pra dar conta da vida. Arrisco dizer até que sorri exacerbadamente da afobação que nos cerca e nos obriga a ter pressa de viver. Esperto! Sádico! Enfadonho! Mas tenho que lhe confessar também: de você, morro de inveja. Porque você é o único que consegue passar sem necessariamente passar; nunca envelhece, some ou morre. Atravessa a eternidade sem tocar os pés no chão. E eu sob o seu poderio, continuo a esperar o momento que você há de resolver passar de novo. Porque, mais triste que retroceder ou correr demais é ficar parado em você.

3 comentários:

Gi Novais disse...

Deus veio da eternidade e nos colocou no tempo...depois veio para o tempo, para nos por na eternidade...
bom texto...mostra exatamente a pequenez que somos diante das coisas.

Geórgia Cavalcante Carvalho disse...

Sempre tentamos correr com o tempo. Para frente. Para trás. Sem nunca entendermos que ele é contínuo e cíclico. nós é que precisamos andar com ele.

John Sanctus disse...

Lindo demais!!! Esse tempo será sempre algo incompreensível e questionado!!! Mas como vc disse o que n podemos é ficar parado nele!!!!Vc é foda!!!Beijos!!!