quarta-feira, junho 20, 2007

O anoitecer da alma


A noite é traiçoeira. Ela traz à tona tudo aquilo que a luminosidade do dia consegue esconder. Traz à tona sentimentos de incapacidade e tristeza. Tormentos, dores ocultas, incapazes de emergir quando a luz do sol resolve aparecer. São sentimentos covardes – aproveitam-se do silencio da escuridão acompanhada por pingos de luz para emergir... sofrimento que receia a própria dor que ele causa. Coisas inatas. Sem explicação. Sonhos perdidos, dúvidas que pairam onde o som não consegue alcançar. Dores da alma, do coração, rasgado por não se sabe quem.

A noite é traiçoeira. Ela até me faz crer que não existe algo que possa iluminar as trevas que dela emana. No silêncio cínico desse turno do dia, fecho-me como as flores no inverno frio e preparo-me para alcançar o sono, aquele que, temporariamente, me desliga do que sou e do que sinto.

A noite não dá trégua. Não parece ser sua intenção flagelar-me. Mas, o faz. Talvez porque não tenha noção do que significa cair em si e perceber quantas feridas a vida abriu, quantas a mesma cicatrizou, e quantas não consigo encontrá-las para submetê-las à cura.

Marianne

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