sexta-feira, outubro 05, 2007

Sem disfarces


Eu sou assim. Talvez um dia eu mude. Talvez um dia eu aprenda a ser diferente. Mas, por enquanto eu sou assim. Um pouco transparente. Meu terapeuta costuma me chamar de "bandeirosa" (rs). Fingir não é algo que faço facilmente. Sobretudo se o fingimento em questão diz respeito a sentimentos. Custa-me muito. Meus sentimentos não surgem pela metade, e tão pouco permanecem da mesma forma. Não sei dar abraços medianos, beijos medíocres. Não consigo amar pela metade, elogiar pela metade, nem odiar pela metade. Ou amo ou odeio. Não consigo atingir o que beira o meado desses dois extremos. O que sobrar disso tudo, dentro de mim, é indiferença. Não sei sorrir pela metade, chorar pela metade, cantar pela metade... nem sei ser pela metade. Consegui deixar de ser extremista em vários outros aspectos da minha vida, mas nesse ainda não. Sou complexa e exata naquilo que considero essencial ser inteiro dentro em mim. Confesso que sou educada na medida do possível, diante daquilo (ou daqueles) que não me são simpáticos. E, como diria minha amiga Maria Marta, isso não é falsidade, é diplomacia, afinal, vivemos em uma sociedade, e conviver é muito mais do que uma arte. É necessidade.


Você não ouvirá de mim um elogio estonteante, se eu realmente não achei você linda com aquele vestido ou se o seu corte de cabelo não estiver belíssimo. Não vou colocar uma estrelinha no orkut se eu realmente não for sua fã. Eu não vou te entregar o convite do meu aniversário se realmente eu não faço questão da sua presença. E muito menos vou mandar flores no seu sem que dentro de mim não haja um sentimento que estimule essa atitude, porque pra mim, os atos, por mais belos e heróicos que possam vir a ser, começam na intenção do coração. Não falo nada pra agradar ninguém, em troca de possíveis favores. Isso pra mim se chama "puxa-saquismo", e eu não preciso disso.


Eu sou isso aqui que você vê. Sinto fome, sede, dor, raiva, medo, saudade, paixão... tropeço e xingo um palavrão [ou às vezes xingo sem tropeçar... rs]. Posso chorar quando sinto dor, quando vejo alguém sofrendo, ou quando assisto a filmes de romance. Sinto revolta, saudade, angústia, ansiedade, vontade de dar um murro em alguém, dou risada com meus amigos, frequento barzinhos sábado à noite, bebo whisky, martini e vinho, durmo até as 11 quando posso, faço terapia, assisto a novela das 8 (qdo tenho tempo) e ouço MPB. Gosto de forró e de Legião Urbana, de sapatos e sandálias, e de ficar sem fazer nada. Tenho cá os meus momentos de fraqueza e aridez, quando não enxergo horizonte algum à minha frente, e choro novamente para satisfazer as lágrimas que teimam em rolar da minha face. Sou isso aí. Feita de pó. Frágil, mais que tudo. Pequena e sempre precisando aprender algo.


Cansei de ser o projeto daquilo que a sociedade impõe, e, principalmente: cansei de me ocultar atrás das minhas incapacidades. Não vale a pena. Requer um gasto de energia absurdo. Pelo menos comigo funciona assim. Eu prefiro assumi-las e tentar vencê-las. Durante muito tempo da minha vida eu quis ser modelo e exemplo para todos, mas eu não soube dosar o meu perfeccionismo e agora, depois de perceber que nunca poderei ser perfeita, estou tendo que aprender a lidar com as frustrações que a vida me permite experimentar. E você acredita que eu me sinto mais viva, mais livre e mais humana depois de compreender essa verdade? Hoje não tenho mais interesse de mostrar para o mundo que eu sou "boazinha" e "perfeitinha"; até porque eu sei que eu não sou. Bom e perfeito, só Deus.


Hoje eu quero viver a inteireza da minha humanidade. Viver o meu processo de feitura, mesmo habitando esse corpo perecível, que me permite tantas limitações, fraquezas e defeitos, que são materias-primas para fabricação de virtudes. Mesmo habitando nesse mundo insano, que não admite erros e imperfeições, que promove a hipocrisia e a falsidade, o culto ao corpo e ao dinheiro, eu vou ser quem eu sou. Sem disfarces ou máscaras. Sendo sincera e fiel aos meus sentimentos. Quero ser eu mesma. Você pode até olhar pra mim e interpretar as coisas às sua maneira. Mas, eu não ligo. Aprendi com o Pe. Fábio de Melo a dar ouvidos apenas a quem me ama. E se você supõe ou profere uma inverdade ao meu respeito é porque não me ama. A gente só ama quem a gente conhece. E se me conhecesse, bem saberia porque eu sigo dessa forma. Eu sei de mim, e Deus sabe muito mais. O importante é que aos poucos eu estou me encontrando, sei o que eu estou buscando, e o quanto vale a pena.
  • Com carinho, Mary.

4 comentários:

LUCIANO MEDRADO disse...

Bem verdade Mare o que tu postou, é na inteireza do ser que me mostro a quem quer que seja. Não posso ser mediano, agindo assim estou desapropriando-me de ser dom na vida de quem passa pela minha vida. Quero ser inteiro, deixar rastros, marcas positivas e também saudades. Porque fingir, se de fato não gosta? Por que sustentar uma máscara somente pela mediocridade de estar ao lado de alguém só pela utilidade que o outro confere a mim?
É minha irmã estamos a um passo da loucura humana.
Abração,
Luciano Medrado.

*Lu* disse...

Mare, a cada texto vc realmente se supera. Esse mexeu comigo, mais do que todos os outros. Provavelmente seja a situação que estou vivendo e que vc conhece. Um dia aprendemos que não podemos agir como super-heróis pq temos nossas limitações e reconhecê-las não é fraqueza.

Unknown disse...

Mare, isso tudo que vc escreveu no texto nada mais é do que a verdade pregada por Jesus, Ele disse que na vida ou sejamos frios ou quentes, pois o morno ele vomita. Semelhante ao que nos diz Pe. Fábio quando nos alerta para deixarmos de viver "mais ou menos". Outro dia ouvi uma frase que me marcou muito: "Já quis muito ser perfeita, hoje quero apenas ser possível" Acho que essa afirmação expressa bem o que vc procurou nos passar no seu texto. Não adianta queremos ser o que não somos pra agradar alguém, agradaremos sendo nós mesmo, verdadeiras, sem máscara, e assim as pessoas se sentirão mais confortáveis em dividir conosco as suas complexidades, pois sabem que em nós encontram as mesmas virtudes e limitações. Tenhamos coragem pra assumir quem somos e mudar se assim desejarmos, mas mudar por nós e não para satisfazer alguém. Penso que só assim cumpriremos o preceito máximo nos deixado por Jesus, amar ao próximo como a nós mesmos, afinal se me amo e me aceito como sou, vou amar muito melhor quem está ao meu redor.

Anônimo disse...

Hahahahaha... Se eu tivesse conversado contigo teria a certeza de que tudo o que você postou foi fruto do nosso papo. Absolutamente os questionamentos presentes em minha vida. Mais uma vez estou sendo contemplado com sua fala e suas reflexões.
Acho que estamos fazendo uma terapia em conjunto, ou melhor, estou sendo um paciente seu... rsrsrsrs...
Já disse e torno a repetir: amo o seu jeito de usar as palavras e refletir o cotidiano. Bjão e até o proximo.