quinta-feira, junho 21, 2007

Viver...


Ontem estava conversando com uma amiga sobre nossa humanidade. Não a humanidade representada pelos 6 bilhões de Homo sapiens que habitam o globo; mas, sim, a natureza que define esses 6 bilhões de seres. Eu sei que cada um é cada um. Que somos diferentes. Que cada pessoa absorve os comprimentos de onda da vida de um jeito. Cada um tem sua história de vida e sabe de si. Eu sei que é difícil lidar com gente, porque sempre enxergamos nossa humanidade no outro, e, sendo assim, lidar consigo mesmo, não é tarefa fácil. Mas, é preciso.


De repente, eu acordei certa manhã e me pus a pensar: o que realmente eu vim fazer aqui na terra? Estudar, curtir praias, baladas, reclamar da vida, dormir, acordar, procriar e morrer??? Não... eu não aceito que a minha existência possa se resumir a ações mecânicas e previsíveis.


Eu sempre penso no fim. O povo fala que eu sou pessimista e tal. Pode até ser. Mas, pensar no fim me afasta da superficialidade e da temporalidade da vida material e me faz aterrissar dentro do meu eu. Pensar no fim me faz pensar na efemeridade dessa passagem nossa aqui na terra... me aproxima do essencial e me afasta do acessório. Me leva a perceber que sou mais limitada que tudo que eu possa julgar. Em janeiro, perdi um amigo. Ele não andava comigo 24hs por dia. Porém, era um cara legal demais. Ele era irmão de uma das minhas melhores amigas. Quando a morte chega cedo, muda a ordem das coisas, a gente se assusta. Ela balança a gente porque traz à tona a certeza da nossa finitude. E o ineseperado confunde. Contudo, às vezes ela quer nos dizer alguma coisa além de "fim"... Quando recebi a notícia, fiquei parada. Na hora, a gente nunca acredita. E foi horrível. Algumas das cenas mais tristes que vi até hoje na minha vida. A dor da despedida eterna é pior do que qualquer outra dor. Eu não a senti ainda, mas pude imaginar. A minha dor não era igual à dor que estampava a cara daquela família que perdia um filho, um irmão, um pai... um esposo. Eu vi alguém que há uma semana trazia seu filhinho colo pelas ruas deitada em um caixão, e ninguém podia fazer nada. Essa sensação de impotência diante da morte também choca... No fim do dia, quando deitei na cama, a ficha caiu, e eu percebi que nunca mais o veria. Conclui o quão a vida é frágil, efêmera e singular.


Tanta gente fala, e eu mesmo rabisquei no meu caderno quando adolescente, várias vezes, o chavão tão famoso: "curta a vida, pois a vida é curta". Nossa, ela é curta demais... o que são 75 anos??? Cara, eu já tenho 25... e estou sendo muito otimista citando essa expexctativa de vida! Tem gente que vive menos que 75. Mais gente ainda vive muito, mas muito menos que isso! Tem gente que nem nasce pra saboreá-la. E tem gente que vive durante muitos anos, mas apenas biologicamente. Não passam de um amontoado de células que trabalham incessantemente para manter uma "animação" da matéria. Tem gente que vê a vida passar, escapar por entre as mãos, mas é incapaz de passar pela vida, porque está preocupado com algo muito menos importante que sua propria vida com aqueles que os amam. Preocupados com o carro novo, com a promoção no trabalho... com a poupança do filho que nem foi concebido, com a roupa da festa de formatura do neto... Quantas vezes eu, como mera expectadora, assisti a vida passar por mim, sendo que eu tinha potencial para fazer tudo diferente? Quantos momentos de crescimento eu deixei se perder no tempo? Quantos dias eu deixei de viver pra viver aqueles que nem haviam amanhecido ainda!


O tempo não dá trégua. Ele não pára pra gente descansar um pouco nem volta pra gente consertar o que foi feito. Passou? Já era! Falou o que não devia? Fez o que não era pra ser feito? Paciência... Mas, também, não vamos viver de lamentação pro resto da vida. Enquanto há vida, há esperança, há o que ser feito. Feridas existem para serem cicatrizadas, dores, para serem saradas... luzes existem para iluminar a escuridão. Não existe nada que não possa ser ajeitado, até para a morte existe a ressurreição! Entretanto, omos sempre tentados à deixar para amanhã... e se o amanhã não chegar?


Estou aprendendo a viver um dia de cada vez. Vivendo para as minhas necessidades de hoje, meus sentimentos de hoje, para as minhas dificuldades de hoje, para as pessoas que me rodeiam hoje. Às vezes eu não consigo, a ansiedade me assalta, rouba minha paz; o egoísmo me cega, eu desço ao limite da minha humanidade. Aí quando coloco a cabeça no lugar, lembro que o futuro não me pertence e eu nem sei se o alcançarei. Lembro que Pe. Fábio um dia disse que "o presente é o presente que o tempo nos entrega". E não dá para, simplesmente, negá-lo. Dádivas são dádivas. E um belo dia, sem ao menos a gente esperar, se morre. E pronto. Acabou.


Não quero um dia, olhar para trás e perceber que não fiz o suficiente para viver, apenas alimentei uma existência vã. Não seria justo nem comigo, nem com Deus. Ele me criou para a felicidade, para experimentar da vida, suas nuances, alegrias, dores e sujeições. E Ele está comigo sempre!!! Tantas vezes eu julguei a vida sem cores, sem nada... só dores! Hoje eu a percebo de outra forma. Durante o tempo adverso, procuro enxergar as "rosas que dão no inverno"... mas isso é assunto pra outro post!!! Beijoss na alma!!!
  • Com carinho, Mary.

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