Quando você partiu de mim
Fez questão de salientar
Que além da saudade gritante
Me deixava três pontinhos em seu lugar
Por uma quantidade razoável de tempo
Confesso que neles eu me agarrei
Até que, certo dia, sem querer,
Um deles eu apaguei
E, então, já não havia mais como
Me prender àquela reticência
Ainda que não diminuísse em nada
Minha sensação de impotência
Por assistir deitada e sorridente
Ao meu coração sendo tratado por você
Com tanta negligência
Exonerada a expectativa
Veio a dúvida a calhar
Impregnada naqueles dois pontos
Que resolveram se levantar
Pra esperar agora, então
O mistério de um final tão repentino
Vir a se manifestar
Mas ao invés de usar minha energia
Procurando borracha pra apagar pessoas
Resolvi gastar cada caloria
Dentro do navio da minha vida
Enfeitando a minha proa
E ruminando nossos momentos póstumos
Ao mesmo tempo que compunha uma loa
Enquanto o tempo em forma de vento
Tratava de levar pra longe o meu lamento
E o cansaço em forma de borracha
Resistente em se colocar nas mãos dessa gente sem graça
Começei o processo de apagar mais um ponto
O ponto de cima, o ponto da rima, o ponto do porquê
O último ponto desse nosso conto
O último sinal que ainda me fazia lembrar de você
Por fim, pra terminar
E já buscando uma forma
De colocar o ponto final no seu devido lugar
Queria deixar aqui uma dica:
Talvez até exista uma borracha pra apagar pessoas
Dos papéis, das músicas, da presença,
Do mundo e do tempo, quem sabe
Ou pra extinguir qualquer tipo de característica
Mas da alma e da memória de alguém
Não adianta nada não, meu bem:
Quando a gente é especial
É bem aí que a gente fica
╰☆╮Mari Teixeira╰☆╮
2 comentários:
Gostei da mega-metáfora que você muito bem usou menina.
Cada dia mais (no geral) vejo que sua escrita vai se tornando mais verdadeira ao mesmo tempo que poética.
Saudades de você...
Beijos
Como queria que Renato Russo estivesse vivo, para nascer a melódia dessa música... Lindo demais... Verdadeiro e poético...
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