quinta-feira, julho 05, 2012

Dream ends.


Um término seria muito menos difícil de digerir do que um aborto... Um corte preciso no cordão umbilical no momento exato do parto. Mas, o que eu vi foi o arrancar brusco de um sentimento que vinha sendo gestado sem a aparente iminência de morte, um cordão rasgado de qualquer forma, uma dor, agora crônica, e uma saudade gorda de ver nossa barriga elastecendo e se agigantando, pra gerar e  fazer caber a felicidade que era parida no auge dos nossos momentos, num útero com quatro câmaras, de mesma musculatura involuntária, mas estriada. Foi muito mais que uma finalização; foi um aborto. Um crime contra a potencialidade de algo que "podia dar certo". Mas ainda assim, não tem raiva, não tem mágoa, nem traumas, nem desprezo. Não tem sentimento de vingança, nem ciúme, nem pressa, nem medo, nem nada dessas coisas mesquinhas que a gente costuma cultivar dentro da gente sempre que destroem nossa felicidade, ou quando jogam um balde de água com cubos de gelos flutuantes na nossa cara, bem no meio daquele sonho cujo sonho era apenas terminar de sonhar: já que a plaquinha do 'The end' tinha que subir, que você nos desse, pelo menos, o direito de dar um fim digno ao que vivemos. No mínimo um final de sono seguido de um leve despertar. Um lento recobrar da consciência. A claridade associada à tua ausência fomentando a indecisão das minhas pálpebras medrosas em revelar-me a crueza daquela cena matinal: o berço está vazio de nós dois; você não está mais aqui... Tem sangue jorrando do meio do peito e do meio das pernas, e uma sensação que me abraça depois da única alternativa que me resta, hoje: sonhar sonhos reais, já que realizar minha realidade tão sonhada beira o talvez... ou quem sabe, o nunca mais.

2 comentários:

LUCIANO MEDRADO disse...

Leva tempo a cicatriz iniciada sem ao menos nos fazer compreender o porquê da mesma ter marcado nossa pele.

Débora disse...

Uau!