sexta-feira, julho 20, 2012

Amor-amigo-amor.




- "A gente sabe demais um do outro."

Vira e mexe comentávamos isso um com o outro, sempre que alguma circunstância nos atentava para a desnecessariedade de sabermos tanto sobre nós dois, mas já era tarde: um cupido-bom-de-mira resolveu mudar sua rota e  sobrevoar nossas cabeças, atirando flechinhas com rêmiges em formato de coração e pontas flambadas de paixão, exatamente em nossa direção. Resultado: a tal amizade, insatisfeita com a superficialidade e a leveza daqueles toques epidérmicos, resolveu virar desejo sem sequer nos avisar e, quando nos demos conta, a cama havia se tornado mais um ítem do cenário da nossa cumplicidade. Àquela altura, já havíamos segredado sentimentos, emoções, fatos e desabafos, gargalhadas e receios, e isso também nos fazia muito mais do que amigos: éramos confidentes, ainda que, ao final de cada sessão-de-amizade-sincera, o seu olhar de homem fulminasse o meu olhar de mulher, fazendo-me derreter instantaneamente, e meu corpo já começasse a dar sinais de rendição àquela necessidade flamejada de fundi-lo ao seu. Daí em diante então, meu amor, eram os nossos corpos que segredavam um ao outro sussurros e fluidos, da mais sublime forma de entrega  que podia existir. Daí, meu amigo,  que você se tornou meu homem, meu lindo, minha paixão, meu quase-tudo e quando partiu, me deixou aqui com esse quase-nada, e por mais que eu implorasse que você desfizesse o desejo que nos assola em amizade, de nada adiantou: parece ser irreversível essa mutação: ímãs serão para sempre ímãs... e amores também.


Mari Teixeira

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