quarta-feira, maio 09, 2012

Memórias.


Lembro de uma das nossas últimas conversas. Eu e você, ali, sentados na beira daquela cama que mal nos cabia - imagine o nosso amor. Achava muito lindinha aquela sua forma de argumentar e de me olhar - ainda acho. Você levantava a sobrancelha direita como quem quisesse ir além do que as palavras pudessem alcançar, e conseguia, sem esforço algum. Lembro daquele olhar nocauteador, repleto de um sentimento que a gente buscou, sem sucesso, descobrir o porquê de tanta demora em acontecer. Centenas de "ois" ao longo de uma vida toda, e, por que mesmo, meu Deus, um deles, num dia igualzinho a todos os outros, teria provocado esse furacão que teima em não passar? "Um cedo tarde", lembra? Eu me lembro. De cada detalhe - ah, como você se detinha à eles, enquanto eu me ocupava em te adorar, tal qual um deus no altar particular da minha vida. Da mistura de uma ternura incomum com um desejo pungente que transcendia nossa razão e o próprio tempo que tentávamos, em vão, subornar: ou ele parava, ou nós daríamos um jeito de parar nele, e eu era capaz de trocar a minha vida com ele por isso. Ainda sou. Parar o tempo diante da festa que nossos corpos resolviam dar cada vez que nos encontrávamos, com a participação ultra-especial das nossas almas;  fazíamos isso com uma destreza impressionante. Lembro de ter acusado o acaso, enquanto você fazia o destino sentar no banco dos réus da nossa estória. Culpados ou não, ao final das contas, eles foram absolvidos e nós, duplamente condenados: a nos perdermos um no outro e, depois, um do outro, e o pior, pelas mãos de um juízo alheio... Sentença injusta, mas que não muda nada. Estamos presos perpetuamente um ao outro, ainda que as grades da distância física queiram nos separar. A eternidade não tende a morar naquilo que costuma perecer... 

╰☆╮ Mari Teixeira ╰☆╮

5 comentários:

Mil Olhares . . . disse...

"Estamos presos perpetuamente um ao outro, ainda que as grades da distância física queiram nos separar." Certa vez ouvi dizer que o que a gente viveu ninguém tira da gente, podem tirar pessoas, nossa liberdade, ou até nossa felicidade, mas nunca nossas lembranças e quão bom isso é!

Sarah Oliveira disse...

Que texto lindo!!Lindissimo!!
Amei ^^

Maíra Machado disse...

Mariii, muito bom seu texto.
Consigo visualizar as cenas que você descreve!!!
hahahahaha..
Beijão

John Sanctus disse...

Esse final foi simplesmente esplêndido!!! Superação é seu nome!!!

Verônica Barbosa disse...

"A eternidade não tende a morar naquilo que costuma perecer... "

Mari, nem dá pra dizer nada, vc diz tudo, nem deixa palavras para nós...bjs.