sexta-feira, maio 25, 2012

Desacontecer.


Começou a desacontecer. Coração desacelerando. Sudorese diminuindo. Sensação de paz se reinstalando. As mesmas músicas continuam na vitrola, mas, agora, me tocam em tom de saudade menor. Faz tempo que meus olhos se prestaram a chorar tua falta. Tristeza fez a mochila e se foi sem que eu percebesse. A uma altura dessas, já vai longe  - assim espero - levando a esperança à tiracolo. Já não te busco mais pelos cantos; já entendi que você não está mais aqui. Apaguei nossas marcas do espelho. Teu cheiro, escondido em outro colarinho, já não me entorpece tanto quanto outrora. Ficaram, ainda, muitas lembranças - só. Aliás, devo frisar que não imaginava usar esse advérbio tão cedo.  Me sinto mais leve: o vazio, na verdade, aumentou. Tô perdendo, pouco a pouco, cada minúcia que você havia largado em mim. Se antes você me ocupava por completo, até o interstício entre meu corpo e minha alma, hoje, anda restrito a algumas sinapses. Juro não ter feito o mínimo de esforço pra que isso acontecesse, mas já era de se esperar: o amor também não foge às leis da física e tende a se mover de onde há mais dele pra onde há menos. Cá dentro, a visão ainda é comparável à Hiroshima e Nagazaki, dias após a explosão nuclear. Você fez estrago, meu bem: a intensidade da satisfação que me trouxe foi diretamente proporcional à dor. Aliás, diga-se de passagem, eu não sabia como era doer até você resolver sumir de mim... E doeu, doeu, até necrosar e parar de doer, e começar a desacontecer. O sintomas se vão, mas a lembrança ainda fica. Não tem como nem porquê sumir assim, num piscar de olhos; você rompeu a lógica do merecimento e se faz permanecer em mim pela lógica do significado, mesmo desacontecendo, mesmo me surpreendendo, mesmo desfazendo nossos nós, aparentemente, tão cegos, mesmo me machucando, mesmo sangrando... Mas já não temos mais nós. Já não somos mais nós. Somos eu e você e mais alguém, formando um triângulo escaleno que nem a mais lógica das ciências exatas consegue explicar...

~ Mari Teixeira ~

4 comentários:

John Sanctus disse...

Confesso que aguardei por muito esse texto. E espero que esse verdo no participio "desacontecer", participe de fato de sua vida a partir de agora, em ralação a tudo o que vivera. Nesse presente mais-que-perfeito te aguarda uma vida intensamente boa, afim de lhe proporcionar acontecimentos incríveis, e eu, é óbvio, estarei sempre daqui na torcida para vc se jogar nela.

Verônica Barbosa disse...

Como Jonh também fico feliz ao ler este texto. E há de se perceber que com tudo o que passou... possa ficar em suma uma coisa de nossa vã existência: o aprendizado, e a força retrata na canção Tocando em frente.
"Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco sei...ou nada sei.
beijos Gata!

Edson Pinto disse...

A dor por mais que intensa é passageira, e você menina de tão rico coração já merecia um descanso. bjos

Ramon Luduvico disse...

John disse, Verônica também! Eu sempre esperei por isso, na verdade, eu nem queria que isso acontecesse! Nem queria, por mais belo que esteja seu texto... Não queria ter lido nunca... Mas a vida é sua, e meu papel é tentar não fazer você sofrer! Mas sofreu né? Mas tá passando, isso é bom, a semente precisa morrer pra nascer flor. Então que seu jardim seja ainda mais lindo, do que sempre achei! E que a próxima abelha do amor que for provar do seu néctar, encontre uma flor cheia de amor, mas antes de tudo amor próprio... Te amo!