domingo, outubro 30, 2011

Rompante.



Eu não decido as coisas da noite pro dia. É que eu penso à longo prazo. Rumino os fatos, analiso as circunstâncias, contabilizo os prós e os contras, reúno pequenas certezas e construo uma só... Aí, quando eu decido, todo mundo acha que é rompante. Não é. Eu apenas rompo de uma só vez com quem vai me rompendo aos poucos. Com quem irrompe sentimentos lá do fundo de mim, e depois, resolve não cuidar...

~ Mari Teixeira ~

sexta-feira, outubro 28, 2011

P.S. (Ainda amo os seus pronomes possessivos).



Então, fica assim: sem juras ou promessas. Só eu e você. E eu em você. E você em mim. Não sai mais [sinto, também, mas não tenho medo]. Isso parece nos bastar. Mas eu sinto sua falta - sua ausência física me estrangula a alma. Não tem dor. Mentira; tem sim, mas nada que atrapalhe a vida ou roube minha felicidade - ela independe de você, mas você sabe potencializá-la como ninguém. Só uns beliscõezinhos de desejo, outras pontadinhas de saudade... Sobrevivo. Fico tentando entender por que tudo tem sido tão superlativo. Por que me sinto tão perto, se os quilômetros insistem em gritar o contrário. Por que você. Existe um não-querer batendo na porta, mas a vontade se nega em abri-la. Existem sementes de eternidade que você plantou em mim, e já sinto um florescer. A possibilidade do fruto me alegra. E penso que ele tem tudo pra vir. Por fim, permito-me duas exceções. Juro: se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo; você vai comigo até o [meu] fim. Prometo: não arrancarei do seu coração o meu título de Sua, e tampouco apagarei do meu o seu título de Meu. Ainda amo seus pronomes possessivos...

Mari Teixeira

quarta-feira, outubro 26, 2011

Que eu veja.



Não confunda o avanço da oftalmologia com a obrigação de ficar sentado, observando a vida passar à distância. Ela, todos os dias, vai te distribuir cartas com vários ângulos; você escolhe por qual ótica deseja enxergá-la. Talvez você precise de óculos, mas, na maioria das vezes, não. A verdade é que vai depender muito mais da sua força de vontade do que do seu globo ocular em si. Vai depender muito mais da sua disposição em levantar da cadeira de balanço e caminhar em direção à sua própria vida, do que de algum colírio ou transplante de córneas. À priori, incomoda o dilatar das pupilas; é luminosidade demais pra quem esteve tanto tempo adormecido. Mas, passado o efeito inicial, o preço de desembaçar a visão é  inimaginável, sobretudo pra quem usou lentes erradas ou foi cego por uma vida inteira...

Mari Teixeira

segunda-feira, outubro 24, 2011

Quando o nada é tudo.



Quando não se precisa reler nada pra poder se lembrar. Nada de "efeitos-borboleta". Nada precisa acontecer pra que a gente [re]aconteça. Simplesmente porque o que cai  no tempo passa a existir pra sempre, independente da dimensão na qual resolve se arquivar.  Nas notas daquela música, nos nossos pormenores. Na saudade, no abraço apertado. No instante de tempo paralisado, no espaço que permanece intacto, na memória que congestiona. Nada, absolutamente nada precisa servir de bóia pra trazer tudo à tona. Simplesmente porque determinadas coisas não conseguem ficar inertes lá, em algum lugar do pretérito - estão vivas e são intensas demais pra se submeterem à ele. Simplesmente porque são coisas que trazem consigo a magia de se reinaugurar todos os dias. Uma vez concretizadas, são incapazes de retornarem ao estado abstrato. E transformam aquela saudade do que nunca foi em uma saudade que sempre será, mesmo quando - ou SE - deixar de ser.

Mari Teixeira

terça-feira, outubro 18, 2011

E a dúvida (de novo) faz parte.




Lembro de já ter precisado de promessas pra poder continuar. De certezas, garantias. Pra me denominar feliz, ávida, forte, íntegra e mais um bando de rótulos que só servem pra quem faz questão de andar com eles colados na cara. Eu fazia questão. Das promessas e dos rótulos.  O que não valeu de nada, já que ficar sentada "no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando as coisas chegarem" só atrofia a musculatura. É que rótulos rasgam e promessas se quebram. Hoje é a incerteza que me faz levantar todos os dias, bem cedo, desse trono. É a dúvida que me dá a certeza do que me reservaria uma desgraça chamada acomodação. É ela, a famosa imprecisão, que me leva a entender que apesar de princesa, tenho que levantar a barra do meu vestido de tule e paetês, e ir à luta. E, de novo, confirmo aquela premissa: a dúvida faz parte. Só não desço do meu salto onze. Afinal, classe é tudo. Até na guerra. Ou, principalmente, nela.

Mari Teixeira

domingo, outubro 16, 2011

Ainda bem.




É como se não tivesse ido. Só tivesse sido. Não, ainda é. É como se continuasse aqui, do lado, fora, dentro; por sobre e sob... É como se as almas tivessem colidido, em câmera lenta. É como se elas tivessem, em algum ponto, se fundido. Um susto; almas não costumam se tocar por aí, assim, em qualquer esquina; têm que atravessar a fronteira entre os corpos e o cerne do sentir pra poderem alcançarem-se.  É como se fosse um filme e o botão do play apertado pra sempre. Como se fosse uma música no repeat. Como se o ontem se negasse em deixar de ser hoje por não saber o que o amanhã lhe reserva. Como se o ontem conseguisse realizar a façanha de se reinaugurar todos os dias. Como se a mente fosse a única dimensão na qual o tempo fosse capaz de parar. E é. Ainda bem.

sexta-feira, outubro 14, 2011

Sonhos.


Eu poderia muito bem acreditar que são apenas algumas letras e duas reticências num visor iluminado de um aparelho eletrônico qualquer. E é exatamente isso que eu vou fazer. Já estou fazendo. Na parte da dúvida que me cabe, fico com o que ficou, de fato. Fico com o que é. Com o que não consegue deixar de ser. Fico com o que insiste em não entrar pela porta do pretérito. Com o que, caso um dia entre,  seja imperfeito no modo, apesar de ter sido tão perfeito na prática. Engulo um pedaço razoável da razão. Mas sem deixar de lado o sonho. Porque nós somos feitos deles... E disso [também] não esqueço mais...

quinta-feira, outubro 13, 2011

Depois.



Adaptando Biquíni Cavadão...

                "Quanto tempo será que demora
                 o depois pra passar?..." ♫

quarta-feira, outubro 12, 2011

Tão eu.



Eu fui, sem sombra de dúvidas, a melhor pessoa que conheci nos últimos tempos. Quem bem soubesse,  não hesitaria em promover o mais rápido possível esse encontro consigo. Quem bem soubesse, não teria medo de si próprio. Não há porquê ter. Não sei porque tive, durante tanto tempo. Não sei porque me ensinaram a ter, e nem porque me apliquei tanto nessa lição. Pensei que eles tivessem medo de mim, não sei. Mas depois, quando analisei com mais calma, acho que, no mínimo, essas pessoas tinham mais medo que eu me encontrasse do que eles mesmos tinham de mim.  Medo, logo de mim? Tão cabeça no lugar, tão escrupulosa, tão cautelosa, tão linda, tão do bem...! Tão pra frente, tão capaz, tão inteligente, tão sentimental... tão eu! Por que eles falam tanto de amor ao próximo e não insistem no amor-próprio? Quando a gente se ama primeiro, tudo fica menos difícil -  e mais leve. O conselho mais perfeito que ouvi nessa vida, e que ousei seguir - mesmo morrendo me medo de engasgar - veio de Caio Fernando: "Engole teu coração e se ama por dentro." Engoli. Não engasguei. Ao contrário - muita gente que engasgou comigo. Me amei. Eu me amo. E sou [altamente] correspondida...


terça-feira, outubro 11, 2011

Pra você.


"Agora é o domínio de agora.
E enquanto dura a improvisação eu nasço.
E eis que depois de uma tarde de “quem sou eu”
e de acordar à uma hora da madrugada
ainda em desespero
- eis que às três horas da madrugada acordei
e encontrei-me.
Fui ao encontro de mim.
Calma, alegre, plenitude sem fulminação.
Simplesmente eu sou eu.
E você é você.
É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um ”isto”.
Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama.
Não: tu olhas para ti e te amas.
É o que está certo.
O que te escrevo continua
e estou enfeitiçada.”

(Água Viva - Clarice Lispector)

sexta-feira, outubro 07, 2011

Protocolo.





Tenho medo do meu sorriso, quando ele te encontrar. Tenho medo que ele te toque, e que meus olhos te roubem, e que, sumindo da visão alheia, todos me acusem de não saber controlar essa minha sinestesia. Tenho medo, pois já sinto teu cheiro na tua voz e, quando sentí-lo de fato, temo o impulso de experimentar o teu gosto; temo sim, a súbita vontade de levá-lo à língua, validando o que o olfato, outrora, já me revelara.  Eu temo o indizível escondido sob a sensibilidade do teu tato. Temo o efeito de todos os teus sentidos sobre os meus. Temo o peso deles. O arrepiar dos pêlos. O rubor da face e dos meus insterstícios. O dilatar das pupilas e das cavidades. O quanto além esse dilatar pode permitir que me enxergues - se é que ainda há segredos meus ainda não desvelados a ti. Temo os desfalecer das pálpebras, o choque dos fluidos; de todos eles... Mas temo tudo isso apenas por protocolo. Porque convém temer, ao invés de tremer...

terça-feira, outubro 04, 2011

Pra poder viver.


Já fui assim. Já esperei o coma de uma vida inteira. Não dá mais. É lindo, mas doído. Sofre bem mais quem a assiste, do que o inconsciente em si. Em sua mente vaga o nada - não há o que doer, nem do que padecer; não há o que perder, se já não se tem. Não ter passado para o outro lado [ainda] lhe é lucro. Se pudesse gritar, pediria pra não morrer. Ela, no lugar dele, imploraria pra poder viver. Mas, há que se pensar nas outras possibilidades... a vida - a nossa vida - tem que continuar. Se ele acordar um dia, que tente de novo, o tanto quanto ela lutou pra trazê-lo de volta à vida. Levanta da beira da cama. É hora de viver.

domingo, outubro 02, 2011

O mundo gira. Até demais.


Mundo, mundo, mundo... você gira demais!  E a vida da gente gira com você. A gente finge que não sabe por não perceber. Se não nos ensinassem isso nas aulas de geografia, talvez nunca saberíamos. Parece  que estamos sempre estáticos, ainda que os dias, as noites e as próprias voltas que a vida dá nos demonstrem o contrário. Ninguém quer acreditar nesse jeito parafuso de ser que você escolheu pra si, e  nem que ele interfere na vida da gente muito mais do que propriamente na sua. É ilógico: a dinâmica da vida aponta pra frente. Um universo tão infinito ao seu redor, e você aí, girando em torno de si e de uma estrela que nem te dá bola. Eu te entendo; a gente costuma ter atração por quem consegue fazer nosso termômetro interior subir, e também faz parte que parte do nosso mundo gire em torno da gente mesmo - isso se chama amor-próprio. Mas, isso não te dá o direito de girar, girar e parar no ponto da nossa vida que você bem quiser. Isso  não te dá o direito de não pedir permissão pra trazer o que já foi à tona. Mas, acredite: não vou te pedir pra parar de girar. Não vou te negar à sua natureza como neguei a minha durante tanto tempo. Como neguei-a a mim. Gira, pode girar. Só toma cuidado onde você para. Tenho medo de parar com você.