sexta-feira, outubro 30, 2009

Please to meet you. I hope we'll be a good friends!

Acho interessantíssima a forma que a vida arruma pra passar uma rasteira nos nossos rótulos e preconceitos criando situações sutis e nos colocando frente a frente com os nossos limites. Aí, ou a gente foge, paralisa, ou please to meet you, baby... e se debruça a conviver com eles. Só uma dica: correr é pior. Um dia você cansa.

10 coisas que aprendi nos últimos 10 meses.

1. Eu não posso colocar todo o peso do mundo na minha máquina de lavar, senão ela trava.





2. Tenho que esperar tudo de todo mundo. Inclusive nada.






3. Amigo é amigo. Colega é colega. E filho da puta é filho da puta.




4. Tenho vícios insolúveis que me fazem enfrentar até o sono mais ferrenho.



5. Silêncios nem sempre denotam ausência ou ignorância.


6. Moedas têm dois lados; pessoas também.




7. Quanto mais eu durmo, mais eu tenho sono.





8. Bactérias são seres mais espertos do que eu imaginava.



9. A tal política da boa vizinhança é mesmo imprescindível.



10. As pessoas são imprevisíveis. Inclusive [e principalmente] eu.


quinta-feira, outubro 29, 2009

Efeito colateral.

É uma quimioterapia. Existe um alvo, um objetivo. E também existe a droga, e ela não é nem um pouco seletiva. Agride as células doentes, mas não poupa as sãs. É o tal efeito colateral, que é mera consequência do processo de cura. Mas, também mata.

Punhado de estrelas.


"Eu quero um punhado de estrela maduras.
Eu quero a doçura do verbo viver."

(Caio F. de Abreu)

quarta-feira, outubro 28, 2009

Legado.



Acordei aqui com vontade de você. Vontade de ouvir tua voz, de te tocar e te falar que eu nem sei direito o que eu sinto, mas que é bom, é intenso, tão intenso que meu pensamento não se afasta da tua figura um segundo sequer durante o dia. Que eu sei que você me pediu em amizade, e eu aceito, mas isso não muda nada do que eu sinto quando vejo tua foto, ou quando a janelinha do msn sobe - e não é você. Que você é realmente o que eu queria pra minha vida hoje. Eu imagino você aí do outro lado lendo isso e se perguntando: "como pode"? Eu juro que também queria entender essa atração fulminante, esse desejo constante, essa vontade louca de me jogar num abismo desconhecido - você - sem asas, sem seguro de vida, sem nada, só com um pendrive no bolso, porque se eu não sair salva disso tudo, pelo menos fica salvo tudo o que eu te escrevi ao longo da minha breve vida, e meus sobrinhos [aqueles que ainda nem tive] vão poder se vangloriar da tia poetisa, doida, caçadora incessante de felicidade... É, meu amor, no mínimo isso. A gente tem que deixar legado...

terça-feira, outubro 27, 2009

Teatro.


Eram ensaios. Era uma grande peça de teatro. As cortinas se abriam e ela entrava toda linda e iluminada. As cortinas se fechavam e aquela lágrima, outrora ofuscada pelo brilho das luzes, rolava face abaixo. Saía de cena cabisbaixa e pensativa, atada por si própria. Mas ainda assim era uma atriz, em quaisquer cirscuntâncias, no palco, na rua, na lua. Um dia resolveu subir ao palco despida da personagem. Resolveu interpretar a si mesma. Sem textos decorados, sem expressões falseadas ou sentimentos fingidos. Sem nada. Sem maquiar seus limites. Sem cenário de fundo; só o branco e preto da sua existência. Sem figurino pré-determinado; só sua nudez reprimida. Deu tudo de si, como sempre. Mas dessa vez, diga-se de passagem, pela primeira vez, se permitiu ser feliz, ao invés de buscar essa permissão em outrém.

domingo, outubro 25, 2009

Tatuada.


Acho que tatuagem é um lance que denota mais significado do que qualquer outra coisa. Imputa-se ao seu corpo uma marca eterna... penso que tem que ser algo que já se eternizou em você. Por isso escolhi a MÚSICA, minha grande paixão, pra me significar... E pra os censuradores de plantão... pior é falar da vida dos outros!

quinta-feira, outubro 22, 2009

Dentro (by Ana Carolina).


"... Escolhi o pior lugar pra me esconder
Me tranquei por dentro de você
E não sei mais sair...!"

(Ana Carolina - Álbum: Nove / Música: Dentro)

quarta-feira, outubro 21, 2009

Borboletas [quase] sempre voltam.


Vez ou outra uma borboleta adentra
esse meu mundinho cinza.
E colore minha retina. Pelo menos isso.
É o mínimo que a vida pode me reportar.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Falta.


Aqui mora a falta. Coisa que mais parece um buraco. Chegou sem alarde e acampou entre os interstícios dos meus pedaços. É, eu ando em cacos. Mas as frestas são por demais estreitas. Não cabe ali tanto vazio. E eu, particularmente, não aturo vácuos.

domingo, outubro 18, 2009

Medos.

Alguns dos meus maiores medos além de bater o carro, perder quem eu amo, adoecer e morrer: Perder a leveza. Murchar. Ficar seca. Solitária. Insensível. Amarga. Fria. Insossa. Perder a sensibilidade, a musicalidade, o instinto. Perder a capacidade de me permitir ser humana. Dissolver, literalmente, no ácido da irrealização. Me perder de mim, logo agora que me encontrei, ainda que pela metade. Cansar de continuar procurando a outra metade. Não ser mãe. Engasgar com meus desejos. Sofrer de Alzheimer e abafar minhas memórias. Perder a inspiração e meu acervo de músicas do computador... Padecer do mal de não ser por medo da imaginação alheia. Acreditar que o fim é o fim, quando ele não passa de um recomeço.

sábado, outubro 17, 2009

Há.


Desce aqui. Cai em mim. Vem viver o que eu vivo. Vem enxergar com meus olhos, sentir com a minha pele, entra na minha história, e eu garanto, você desiste na hora. Porque é muito fácil solucionar o problema da humanidade inteira: fechem as torneiras, apaguem as luzes, menos lixo, mais árvores, e o aquecimento global será controlado. Mas tenta aí uma receita de felicidade pra um único ser vivente desse planeta? Não há. Há sim um futuro que pode até ser claro, mas que, enquanto não for desvelado, será sombrio sem fim. Há um tempo que passa e não faz curva; há dores que arrastam o que vêem pela frente. Há pausas de vida que não passam de tristezas, seguidas por casuais acessos de alegria. Há sentimentos, uma segunda vida escondida por trás dessa vida visível. Há um outro mundo dentro da gente, habitado pela dúvida, pela fraqueza, por uma porção de desequilíbrio... Há, sim, certezas ilusórias, erros irremediáveis, insanidades passageiras... Há uma dose cavalar de relatividade, há muita vulnerabilidade camuflada, há carência. Muita carência. Há confusão, medo, desejos... Há o que a gente deixa vir à tona, e o que a gente prefere levar pra sepultura. Há um ser humano morando dentro da gente. E há quem passeie por aí sem perceber que esses fragmentos de vida embutidos nessa tão efêmera existência não podem, nem devem, ser desconsiderados. Nunca.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Ainda sobre aquela coisa que eu não sei o que é.


Ela já sabe o caminho. Ninguém precisa apontar nada. Desconfio até que mora por aqui por perto, é vizinha, é íntima, comadre, talvez. Deve alimentar uma obsessão sem tamanho por mim, porque antigamente só se achegava em dias nublados e frios, e hoje, em pleno sol ardendo o juízo apareceu já cedinho, me arrancou da cama e desde então, teima em não me deixar. Ela me abraça, me aperta, me sufoca, faz o que quer de mim. Agora cismou em não me deixar chorar. Tem me feito engolir a seco a única coisa que podia me regar e aliviar essa outra coisa que eu ouso chamar de dor, mas acho que já deve ter mudado de nome, tamanha a proporção que tem tomado dentro de mim. Joga na minha cara minhas vírgulas, minhas reticências... Ignora os pontos finais, as interrogações... Limita-se a não falar nada, só me observa, e seu calar me destrói pouco a pouco. Eu nem olho mais pra cara dela, mas não adianta; a gente não sente com o olhar...

quinta-feira, outubro 15, 2009

Dúvida.


Não vou tirar o seu direito à dúvida.
Você não tirou o meu! Me diz.
Porque então eu o faria?

terça-feira, outubro 13, 2009

Apesar de tudo.


Eu? Deprimida? Pode ser. Mas uma deprimida diferente. Uma deprimida temporária, e ao mesmo tempo, pra frente. Assim... Quando tô deprimida, sou uma deprimida que odeia a hipótese de viver em uma casa, enclausurada em um quarto escuro, deitada numa cama, entupida de Lexotan, com vontade de morrer, chorando o dia todo pelo possível e o impossível da vida. Sou uma deprimida que abre os olhos pela manhã, e exclama: mais um dia...! Que sente vontade de não levantar da cama, sente vontade de sumir, mas a ânsia de viver engole tudo isso...! Que tem noção da sua condição, mas quer mudá-la, que deita na cama com a amiga, olha pro teto e rola de rir. Sou uma deprimida que pede forças a Deus, que pede ajuda ao terapeuta, que pede colo aos amigos, que se auto-analisa na beira da pia procurando respostas pr'aquelas perguntas que se faz desde que começou a perceber que a vida não era um carrossel, que se acha linda, sedutora e maravilhosa, que mata um leão por dia pra dar conta da casa, do trabalho, do estudo e de si própria, que até chora na frente do computador escrevendo e ouvindo música, mas que depois enxuga as lágrimas e parte pra luta de novo. Sou uma deprimida que morre de medo de morrer, que tem lutado até a última gota pra viver, que dá sangue por sua felicidade, porque sabe que cada dia a mais é um dia a menos... Que um dia achou que sabia alguma coisa sobre a vida, mas hoje concluiu que não sabe [e nem nunca soube] nada dela, que não espera mais muita coisa de muita gente, que tem aprendido mais com seus limites do que com os professores da faculdade, e que parafraseia Agatha Christie sem medo, porque "gosta de viver, mesmo já tendo se sentido ferozmente desesperada, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas ainda assim sabe, com a mais absoluta certeza, que estar viva é sensacional."

segunda-feira, outubro 12, 2009

Fora de mim.

É manhã de um feriado nublado e eu aqui, na frente do computador, ouvindo "I'll be over you" (que está no repeat, diga-se de passagem), procurando uma válvula pra o escape dessa coisa que anda atravessada na garganta da minha alma. Num ataque de tédio, digo pra mim mesma: eu quero ir embora! Quem tá do lado, se é que consegue ouvir esse clamor de alma, não entende nada. Mas é isso mesmo. Eu queria ir embora de mim, pra o Pacífico, talvez. Queria acertar as contas, parar o mundo e descer, pegar carona por aí e fazer um passeio pelo infinito. Quem sabe assim, fora de mim, eu amplie as perspectivas?... porque meu mundo, aqui, tá cada vez mais inóspito. Tá ficando menor; anda encolhendo. Não cabe mais nele tanta vontade de viver, de ser feliz, de deslanchar. Contraindo, morrendo lentamente, agonizando, vazando vida...

sábado, outubro 10, 2009

Significado.

Era tudo o que eu não precisava ouvir.
Tudo que não precisava ser dito.
Era o tal do supérfluo me perturbando mais uma vez.
E nada significaria se não fosse o simples fato de
você significar tanto pra mim...

sexta-feira, outubro 09, 2009

Meu jardim.



Meu Jardim

(Composição: Vander Lee)

"Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores

Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho

Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim."

quinta-feira, outubro 08, 2009

Da ponte.


Do nada, grita. Acena do outro lado da ponte. Atravessa e de repente some. Angelical aparição. E, porque não dizer, fantasmagórica também. Mas, o que é isso mesmo? Medo de permanecer ou prazer em ignorar?

segunda-feira, outubro 05, 2009

Dava um livro...

Jurava que iria escrever um livro. Achava que iria sobrecarregar a função sináptica e o sistema nervoso simpático de tal forma, que seus neurônios iriam estafar, do tanto que pensou, do tanto que escreveu, do tanto que bradou por dentro, sem ouvir resposta alguma. Coisa de gente exagerada, irrequieta, nada além. Coisa de criança que sobe a montanha mais alta que possa existir e espera ansiosamente o cair da tarde só pra ver por entre as nuvens alaranjadas algum sinal de eclipse. Mas, nada. Só conseguiu avistar o sol se pondo, a lua surgindo, alguma estrela caindo e até cometa apressado que voltava de um passeio pela Via-Láctea. Tentou, num salto descomunal - e talvez mortal - tocar em alguma coisa. Arriscou-se em vão. Percebeu-se há anos-luz de tudo aquilo... percebeu a proximidade ilusória do horizonte. E preferiu descer e voltar a escrever, mesmo sob o risco de surtar, de exaurir as forças, de se perder, talvez... No fim das contas, dói mais. Mas, ainda assim, sai um livro.

Puramente circunstancial.


Eu entendo. Sem fim.
É fácil entender as pessoas.
Difícil é entender as circunstâncias...
Sobretudo as que nos distanciam
do nosso próprio livre-arbítrio...

Doida e santa.


"... Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe??? Nem ela caríssimos, nem ela. Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais. Santa, mesmo, só Nossa Senhora, mas, cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou? (Não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do.) Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar louca e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos. Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra."




Martha Medeiros - Trecho da crônica "Doidas e Santas"