sábado, fevereiro 11, 2012

Falando sério.



Falando sério, deu fome. Fome mesmo, não aquela simples vontade de comer. Enquanto era só vontade, algumas migalhas de estrelas e pedacinhos de lua, servidos em lençóis novos na bagunça de um quarto qualquer, regados a um vinho barato e quente, apenas tragável pela presença dos cubos de gelo de água de torneira me bastavam. Enquanto era só vontade, cruzar meu olhar com o seu corpo e sentir na pele o cruzar do seu olhar com o corpo meu no meio de uma semana cheia, depois de saber que você sonhara com uma dose de Bacardi com limão, coca-cola e gelo, e de te fazer sonhar acordado na minha cama, era suficiente. Enquanto era só vontade, arrastar-me com o violão até a sala escura e cantar Roberto Carlos depois da sua partida, com o coração apertado, abraçado pela dúvida de quando mesmo você iria voltar, podia até soar piegas, mas ao mesmo tempo, era lindo de se ouvir -  ... eu não queria ter você por um programa...  - ainda que deprimente, sobretudo pra quem não tem outro colo certo pra deitar. E eu me ouvia, e tentava convencer minha voz a dar carona àquele bolo que insistia em estacionar bem em cima do esterno (pra não falar 'em cima do coração', e deixar a coisa mais piegas ainda). E eu me ouvia, e ao mesmo tempo, ouvia meu estômago contorcer-se, e seus ácidos corroerem suas paredes, e uma dorzinha distante beliscar-me por dentro. E eu te ouvia, e tentava entender tanta dualidade embutida em um coração só, tanta necessidade de encaixar as duas peças do teu quebra-cabeça no mesmo lugar do teu corpo, simultaneamente. Eu te ouvia atentamente, olhando quase que na tua retina, expirando compreensão e inspirando coragem pra me lançar naquele tornado que você acabara de me apresentar. E, embora eu não tenha medo de me jogar,  ...eu tenho cicatrizes que a vida fez... . Então, é isso; é sério. É fome. Não é qualquer vontadezinha que se resolva com  uma noite apenas e nada mais ♫ . Não é amor, não é paixão, nem nada do gênero. É fome. É função vital. É questão de sobrevida de algo que pode (ou não) definir parte das nossas vidas. Aquelas migalhas, joga-as aos pombos; eles são pequenos o suficiente para saciarem-se com tais. E embora minha baixa estatura grite insanamente por uma interpretação ao pé da letra, sou gigante demais pra tão pouco. Se queres ficar, meu bem, sirva-me um banquete, mas antes, ouve meu canto:  ... não quero seu amor por um momento, e ter a vida inteira pra me arrepender ♫ .

11 comentários:

Rogério Monstro disse...

A fome, é a pior das necessidades, dói lá no fundo. Fome de comida, fome de vida, fome de arte, fome de amor, fome de verdade. Fome que nunca é saciada com migalhas mas sim com banquete, quando se tem fome e um banquete é bem servido não existe a possibilidade de sobras.

Laylla disse...

Complexo e divino!

placco araujo disse...

Lindo menina! Sem ficar babando (embora o texto até nos sugira isto) você anda me surpreendendo pelo seu crescimento poético (e de vida também).

Aliás, só não me apaixono por você pois seria pedofilia!!!

Ah ah ah.

Bom final de semana.

André Luiz disse...

É bem melhor você parar com essas coisas
De olhar pra mim com olhos de promessas
Depois sorrir como quem nada quer


É a pior parte da vida. Desperta e depois some.

Ramon Luduvico disse...

Gigante msm... Lindo! Forte! Envolvente! Sensual! Tolo de quem tem só migalhas, não ganhará jamais o baquete que se esconde no "pequeno" prato...

Pinbelaura disse...

"E embora minha baixa estatura grite insanamente por uma interpretação ao pé da letra, sou gigante demais pra tão pouco."

Mesmo certas vezes o pouco sendo considerado muito,chega um momento em que ele não é mais suficiente.Algumas coisas parecem ter a função de nos fazer querer mais,nos cria uma dependencia...E não sai da gente,o pior de tudo é isso...A gente não quer dividir com ninguem,a gente quer ter só nosso.E ainda tem medo de desaparecer algum dia...É tudo tão incerto,e tão gostoso...

PER-FEI-TO,como sempre amiga!

Candace disse...

Incrível!! Seus textos andam com uma pegada envolvente. Adoro ler cada post novo do seu blog!! ;)

Mil Olhares . . . disse...

Muito fantástico!! Menina você envolve a gente de um jeito completamente especial...é difícil começar a ler e não chegar ao fim!!!

Sutileza disse...

Esse é o tipo de texto bom, texto que envolve e instiga a imaginação do leitor. Cada frase vira um filminho, uma lembrança, e no final a gente constrói nossa própria história. Parabéns! :)

Verônica Barbosa disse...

Fico tentando imaginar cada situação quando leio estes textos...Amei.

Lari disse...

Aiiiii... amei.