segunda-feira, abril 12, 2010

O bilhete.

"... Existem ocasiões efêmeras que justificam toda uma vida."

{Autor desconhecido}


Ela rabiscou num papel qualquer, dobrou, e sem que ele pudesse perceber, depositou-o no bolso esquerdo da sua mochila. Observou ele se distanciar pensando no quão sintonizadas suas almas estavam, ao mesmo tempo que não entendia porque ele fazia tanto esforço pra incinerar aquilo tudo. Mais cedo do que ela pensava, viu que ele, sem querer, acabara de encontrar o papelzinho amarrotado entre lápis e canetas. Ele parou, surpreso, leu e engoliu à seco; mesmo longe era visível aquele deglutir típico de quem se sente atingido de alguma forma. Em seguida, retornou o papel para o mesmo bolso da mochila. Seguiu adiante até dobrar a próxima esquina e desaparecer de sua vista. E de sua vida. Literalmente. Apesar de anônimo, o conteúdo do bilhete lhe era familiar. Ele bem sabia o que aquilo significava; ele sabia, mais do que ninguém, que ela era, ali, em suas mãos, mas acho que preferia fingir que não sabia; talvez por não suportar o peso que ela possivelmente representava, ou por não conseguir suportar o próprio peso do que ele sentia, como um dia havia confessado a ela, secretamente: andava bastante e completamente balançado, e cair na em sua graça, mais cedo ou mais tarde, seria inevitável. Não sei. Só sei que os dias se passaram e a resposta foi se revelando de mansinho: silêncio. Um silêncio ensurdecedor. Que ainda gritava ao pé do ouvido dela até um dia desses, mas que hoje é só sussurro.

2 comentários:

*Lu* disse...

Amiga, às vezes o silêncio fala muito mais alto do que as palavras que se gritam. Beijos!

Carolina Braga disse...

"mas acho que preferia fingir que não sabia; talvez por não suportar o peso que ela possivelmente representava, ou por não conseguir suportar o próprio peso do que ele sentia"

Me vi, me senti, me concebi aqui. Pqp! Inteiramente: perfeito! Você escreve com muita beleza e sensibilidade, Mari.

Parabéns!

Beijos.