terça-feira, março 09, 2010

Na estrada.


Chovia. O limpador de parabrisa trabalhando incessantemente respingava água em seu corpo parcialmente encharcado de suor e chuva. O rapaz, hipnotizado pela visão daquela mulher de corpo molhado e curvas sutis, apenas sorriu com encanto e disse:

- Entra aí, moça.

Ela entrou imediatamente, sem sequer pestanejar nem raciocinar em cima do fato de nem conhecê-lo. Estava meio que enfeitiçada pelo olhar penetrante do moço magro de musculatura torneada e sorriso tímido ao mesmo tempo que se sentia desnorteada. Talvez, inconscientemente, tenha interpretado seu convite como uma forma de saciar sua busca.

- Posso saber por que você, a essa hora da noite, anda por aí sozinha à caça de "adrenalina"? E sorriu disfarçadamente com o canto da boca sem tirar os olhos da estrada. Por um instante ela pareceu cair em si e respondeu-lhe com aspereza:

- Não me faça perguntas. Não converso com estranhos.

- Hummm... mas costuma entrar no carro deles?

Ambos se entreolharam e um silêncio tomou conta daquele espaço úmido que lentamente ia sendo preenchido pelo vapor das respirações dos dois.

- Pare o carro!

O rapaz parou e se posicionou próximo a um trilho de trem. Ela saiu do carro, mas antes que se afastasse o suficiente, ouviu ele dizer:

- Você não tem medo não, moça?

Mais uma pausa. Sim. A vida dela era feita todinha de pausas. Silêncios inoportunos. Dias muito curtos. Noites demasiadamente longas. Teve a vida toda pra sentir medo, cultivou-o durante longo tempo, mas agora havia desistido.

- Tenho sim... de não conseguir me fazer feliz...

- Pergunto se não tem medo da escuridão, da solidão, do frio, do vazio... de possíveis animais que possam vir a cruzar seu caminho... do trem...

Ela riu com desdém e uma lágrima rolando do canto do olho esquerdo.

- Como posso temer aquilo que me é tão íntimo?

Ele nada mais replicou. Ligou o carro e acelerou. Antes, porém, ainda disse:

- Não se iluda moça. Não vai encontrar o que procura em espécie. Vai correr o mundo inteiro, e talvez ache algo similar em algum hospital. Mas, ninguém vai te dar isso, a não ser que esteja à beira da morte; ou com o coração a ponto de parar.

- E quem lhe disse que já não ando assim?...

6 comentários:

Carolina Braga disse...

"Mais uma pausa. Sim. A vida dela era feita todinha de pausas. Silêncios inoportunos. Dias muito curtos. Noites demasiadamente longas. Teve a vida toda pra sentir medo, cultivou-o durante longo tempo, mas agora havia desistido."

Aff! Affff! Afffff!
Quando for famosa ainda vai falar comigo???


AMEI!

PS: É tão bonito ver você crescendo em meio aos seus belos versos.

Baci, fiore!

;*

Geórgia Cavalcante Carvalho disse...

vejo que a escritora-poeta está cada vez mais madura dentro de si. e isso é muito muito bom. caminhamos para aquela publicação, não é mesmo?

um beijo e o o desejo de uma semana leve.

*Lu* disse...

Amiga, bendita inspiração hein? rsrs Amei, amei,amei! Está perfeito esse novo estilo. Bjus!

Lari disse...

Ameiiiiiiiiiiiii mais uma vez.
concordo com elas cada dia melhor...

Ramon Luduvico disse...

Continua. Ela ainda tem o que falar...


Lindo!

Igor Mascarenhas disse...

Realmente belo texto, gostei do conto, espero mais.

Abraços