quarta-feira, abril 11, 2018

Um caos.


Prezado Heitor,

Devo começar parafraseando Maria Gadu porque, hoje, nenhuma outra frase me define tão bem: a tua ausência me causou o caos

Voltei a beber depois que você me deixou, acredita? Ando trocando o dia pela noite também. Há dias que nem o Rivotril pode com a saudade. Provei até de um cigarro esses dias - e odiei. Outro dia um amigo me disse que perdi o filtro pra determinadas coisas só porque a vizinha morreu e além de eu não ficar triste eu disse que não fiquei triste. Era uma daquelas vizinhas fofoqueiras que vivia pra dar conta da minha vida, Heitor. Fiquei pensando: será que perdi mesmo? Meu cérebro não sabe responder, ele só entende que eu perdi você. Deu medo. Imagina, você bem sabe, que eu já sou sincera, e viver em sociedade sem o mínimo de censura é suicídio moral na certa. Mas acho que não é isso, não. Acho que eu estou tão ocupada com minha tristeza, minha dor, minha perda, meu luto, que não consigo enxergar o do outro. Sei lá, estágios de dor aguda sempre me maltratam muito e é justamente aí que eu extremizo e me vandalizo. Ser 8 ou 80 dói como ter uma pedra no rim. 

Voltei à terapia também e, inevitavelmente, aos medicamentos. A bagunça que você causou em mim foi geral, mas não se culpe. Fomos ambos avisados das bombas-relógios que éramos e não demos ouvido a ninguém. A diferença é que eu explodi longe de você, enquanto você e eu explodimos dentro de mim.

No táxi, a caminho do psiquiatra, eu pensava no quanto eu não consigo te odiar mas me odeio todos os dias por essa incapacidade latente. Tenho andado sempre em linha reta, olhos firmes no horizonte, pois o medo de reviver aquela cena do restaurante me assalta a cada segundo.

Entretanto, sei que a vida continua. Eu tenho muito que fazer e concluir antes que junho aponte no calendário porque, depois disso, o mundo me espera.

Com dores lancinantes no peito,

Helena

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