quarta-feira, abril 18, 2018

Eu queria que fosse você.




Heitor,

Eu quis tanto que fosse você, Heitor. E por meses eu até cheguei a acreditar que sim, que era você. Eu cheguei a dobrar os joelhos no chão, erguer os olhos para o infinito e agradecer  pelo presente mais lindo que eu achava que o universo tinha me dado. Eu trazia um sorriso atenuado no rosto, morrendo de medo que alguém descobrisse que você tinha chegado e resolvesse fazer algo pra te arrancar de mim. "O que ninguém sabe, ninguém estraga"... não é assim que prega essa geração ridícula que delega à inveja alheia o sucesso das nossas conquistas? Eu te tinha nas minhas mãos, mas andava morta de medo de que, qual areia, você escorresse por entre meus dedos. Eu queria te gastar pro mundo todo ao mesmo tempo que queria te esconder como o que de mais sagrado havia em mim . Na minha cabeça eu não suportaria mais um nocaute. Então eu me agarrei na minha certeza mais exata: você.  


Mas não era você. Não é. Não foi. E não pode ser. Porque por mais que você repetisse devotadamente que me amava, já não dá mais pra se fiar nisso. Porque o amor não pode ser tão leviano e tão filho da puta assim. O amor não pode ser tão egoísta, tão mentiroso, tão cínico, tão sacana. O amor não passa nem perto de se resumir ao sexo que a gente fazia e que talvez você confunda com o tal amor que dizia sentir por mim. O amor marca muito além das marcas que você imprimiu em meu corpo, Heitor. Sim, ele marca muito além das nódoas que você impregnou no meu íntimo a cada palavra, olhar ou ato, e que insistem em não querer sair nunca mais. Não era amor, Heitor. Não foi. E acho que nunca será. Porque o amor não sabe usar e descartar. O amor é incapaz de se despersonificar pra descer a tão baixo nível. 

Mas eu queria que tivesse sido você. Muito. Demais. Só que eu não posso querer por nós dois. Nem Deus pode, nem o universo, nem ninguém pode te fazer comungar do meu querer. E hoje, também, nada disso mais importa. Sigo buscando avistar um atalho pra me livrar desse mar de me afogar no meu próprio amar, enquanto nele você boia todo safo. Todo lindo. Todo meu.

Com o amor de sempre, 

Helena

Nenhum comentário: