quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Marrom.

Cavava um motivo, um sentido pra perceber seu coração batendo. Bastava perceber ele atenuar a aceleração, arregaçava as mangas e [re]começava tudo. A cada dia amanhecia coberta de barro. Inventava sentimentos. Forjava sensações. Foi a forma que encontrou de se ressuscitar diariamente. Sonhava acordada, e aquilo se materializava dentro dela até a realidade aterrisar no cerne do seu ser e devastar tudo. A única coisa que conseguia colher era um cansaço intenso e incompreensível, mesmo depois de 8 horas ininterruptas de sono. Percebeu que precisava de tão pouco, que a mínima certeza da ilusão era motivo de satisfação, mas nem esse pouco conseguia alcançar. Seus olhos gritavam uma dor que de tão crônica se tornava por demais aguda. As pupilas constantemente dilatadas fotografavam vultos, perpassavam invisibilidades, enxergavam miragens, capturavam momentos, armazenavam tudo. Não sei pra quê. Um dia não vai caber mais tanta lembrança, tanta vontade, tantos embustes, tanta dor. É que tristeza encolhe a alma, entope os cômodos de angústia e desesperança, ocupa espaço, expulsa a paz, sobrecarrega a vida. E a gente desaba. Mesmo sem entender como o abstrato pode pesar tanto.

6 comentários:

Unknown disse...

"a mínima certeza da ilusão era motivo de satisfação" sei bem o que é isso, sou pescadora de ilusões =/

*Lu* disse...

Sem palavras porque enquanto a maioria procura o eufemismo para disfarçar a dor você consegue contá-la de forma tão poética... :/
Beijo!

Igor Mascarenhas disse...

Sim, estou atrassadissímo e confesso que não é por falta de tempo, porque estou conseguindo me organizar para começar esse ano só me dedicar as Letras e aos meus trabalhos. Só não conseguir encontrar o melhor horario para os blogs. Mas isso já estou resolvendo.

Mas enfim, amei o post, e sou suspeito a falar qualquer coisa dos seus textos e da sua sensibilidade.
Hoje saio do teu blog com tuas palavras me dizendo como é bom e urgente ser feliz.

Geórgia Cavalcante Carvalho disse...

ah... o abstrato pesa... pesa demais para uma vida só!

Ione Rocha disse...

O peso do abstrato, é o motivo da existencia da alma. Pois como diz o cientista, "o todo mecânico é diferente do todo orgÂnico". Não vivemos apenas de reflexos. Reação é emoçao!

Carolina Braga disse...

Putz! Sem palavras...

"Percebeu que precisava de tão pouco, que a mínima certeza da ilusão era motivo de satisfação..."

AMEI o texto inteiro! Lindo! LINDO!

Beijo, poesia! :)