sexta-feira, maio 17, 2024

Reencontro.


Você me vem e me preenche de sorrisos e olhares, de beijos e toques, de abraços e incertezas, de pronomes possessivos e verbos subjuntivos, e eu, tonta de paixão, derreto-me desfazendo o turgor de outrora. Você me envolve de mistérios, e me mantém refém da espera, atrasa meu sono e antecipa meu despertar. Consegue me dar um dia de presente, sem sequer deter o poder sobre ele. Me transporta para outra dimensão sem tirar meus pés do chão. É presente mesmo na completa ausência. Me pede calma ao mesmo tempo que me faz perdê-la. Fomenta minha intensidade e minhas necessidades mais íntimas e sacanas. Consegue me excitar só de me olhar. Ludibria meu tédio, mesmo quando a rotina me toma. E não sabe fazer outra coisa, senão ser em mim. Apenas ser em mim.

Mas, de repente, pisco os olhos e você não está mais aqui. Sempre chega essa hora, a hora em que o vazio volta a se instalar. Tua falta retorna e se coloca, com unhas e dentes, ousadamente, a enfrentar a intensidade que cintila entre nós. Então, eu me mordo de vontade de você, de desejo de sorver teu gosto novamente. Sangro. Mas, sangro pelo avesso. Contrario o verter do fluxo num esforço descomunal e me sinto afogando por dentro, numa agonia indescritível, não como alguém que não consegue inspirar, mas como alguém que, contrariando toda a lógica da fisiologia, se asfixia por não poder expirar... 

Mas é que eu prefiro sangrar por minhas próprias mãos e também por elas me estancar, a ter que me entregar nas suas e correr o risco de você, mesmo sem intenção, terminar de romper de vez com minha hemostasia. Saudade tá rasgando tudo. Mas eu me mordo. Eu mordo cada laceração, cada retalho de mim que tua ausência corta. Mordo o travesseiro, o urso de pelúcia, e os dedos de tanta vontade de morder o lóbulo da tua orelha, a tua boca e a tua barriga. Mordo os meus próprios lábios pra tentar sentir o gosto que os teus deixaram ali. Mordo um sanduíche de queijo pra ver se essa vontade passa, mas a única coisa que resolve passar é o curta dos nossos momentos na minha mente, e um replay das nossas músicas no áudio do meu celular. Mordida e ensanguentada, levanto a cabeça e sigo em frente, levando entre os dentes essa vontade de te ver e de te ter de novo e pra sempre, sem, no entanto, nos fazer sangrar além do que nossa realidade já tem nos feito...

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