quarta-feira, maio 01, 2024

Luto por um amor que não morreu.


A dor do luto de um amor que não morreu é insuportável. 
Às vezes termino o dia exausta, porque criar e velar um morto assim, tão de repente, cansa. Reviver, diariamente, um velório sem defunto e sem caixão requer um gasto de energia absurdo. Descer à sepultura uma pessoa viva, sobretudo quando ambos respiravam tanta vida, paixão, intensidade, plenitude e planos, machuca demais. Matar uma relação antes de qualquer desgaste, insalubridade, frieza ou toxicidade, traz o remorso natural que os assassinos culposos sentem. A gente nunca quis isso, mas aconteceu. O fato é que descobri que o nunca mais da morte é mais fácil de ser deglutido do que o nunca mais da vida. O nunca mais da morte é objetivo, definitivo e involuntário, mas o nunca mais da vida vem permeado de subjetividade e rejeição, e isso dói mais do que o próprio nunca mais.


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