"Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente (...): preciso de todos."
(Carlos Drummond de Andrade)
quarta-feira, maio 01, 2024
Luto por um amor que não morreu.
A dor do luto de um amor que não morreu é insuportável. Às vezes termino o dia exausta, porque criar e velar um morto assim, tão de repente, cansa. Reviver, diariamente, um velório sem defunto e sem caixão requer um gasto de energia absurdo. Descer à sepultura uma pessoa viva, sobretudo quando ambos respiravam tanta vida, paixão, intensidade, plenitude e planos, machuca demais. Matar uma relação antes de qualquer desgaste, insalubridade, frieza ou toxicidade, traz o remorso natural que os assassinos culposos sentem. A gente nunca quis isso, mas aconteceu. O fato é que descobri que o nunca mais da morte é mais fácil de ser deglutido do que o nunca mais da vida. O nunca mais da morte é objetivo, definitivo e involuntário, mas o nunca mais da vida vem permeado de subjetividade e rejeição, e isso dói mais do que o próprio nunca mais.
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